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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL OU DIAGNÓSTICO PRÉ-IMPLANTAÇÃO


O diagnóstico pré-natal permite a detecção de um grande número de malformações de doenças genéticas, ainda durante a gravidez.

Pesquisas realizadas em países onde o aborto é permitido, muitos casais decididos a interromper a gravidez caso seja detectada algum problema desse tipo, decidiram-se por ter o filho quando o diagnóstico excluiu a possibilidade daquela doença que temiam.

Situações como essas reforçam a necessidade de discussões sobre a ética na interrupção da gestação, ao menos nos casos de doenças graves e incuráveis. Mesmo mulheres que deram à luz filhos com doenças genéticas graves, quando ainda não havia a possibilidade de descobri-las em um diagnóstico, foram ouvidas reforçando argumentos a favor de uma legislação que permita esse procedimento.

Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados. A detecção de mutações genéticas pode ser possível, mas o prognóstico é impossível de ser traçado com certeza. Um exemplo é a ataxia epinocerebelar, uma doença progressiva. O risco de ser portador é de 50%. O risco de contaminar o feto é de 25% (50% X 50%).

Interessante que a doença é transmitida por um cromossomo sexual X. A mulher tem dois desses. Caso tenha dois filhos e cada um tenha herdado um X diferente, e ambos tenham nascido saudáveis, exclui-se a possibilidade de que a mãe tenha essa doença.

Mas a situação revelou um questionamento: é justo que a mãe tenha um diagnóstico a respeito da sua saúde, por meio de diagnósticos – bem mais invasivos, aliás – realizados diretamente em seus filhos?

E quanto a revelar doenças no feto que somente se manifestarão quando atingirem a idade adulta? É justo submeter alguém a um sofrimento imediato por conta de fatos que somente ocorrerão no futuro, muitas vezes apenas após os quarenta anos? E quanto a saber antecipadamente que esposa, marido ou filhos serão submetidos a esse sofrimento?

E diante do diagnóstico positivo realizado no feto? Abortar ou seguir em frente? Seria mais interessante adotar uma criança ... ou espermatozóides/óvulos de terceiros?

Há algum tempo surgiu a alternativa do diagnóstico pré-implantação (DPI). O diagnóstico pré-natal é feito durante a gestação (entre 10 e 12 semanas). Já o DPI é realizado nos embriões in vitro, no laboratório.

Quando o embrião conta de oito a dezesseis células, retiram-se uma ou duas células. Faz-se o diagnóstico nessas células, buscando mutações que levem a dada doença genética. Importante notar que a mutação deve ser previamente definida. Existem milhares de mutações e é impossível fazer uma “varredura” em busca de alguma delas.

De posse do diagnóstico realizado nas células, selecionam-se aquelas livres da mutação, implantam-se-nas no útero e garante-se assim a gestão de um bebê saudável.

Imediatamente surge um questionamento: seria esse um mecanismo para praticar eugenia? Essa provocação tem como pano de fundo ações violentas e repressivas contra minorias, na tentativa de gerar uma sociedade de pessoas com certo perfil físico específico. Contudo, em tempos recentes surgiu o conceito de “prática eugênica responsável”: elas devem mesclar liberdade reprodutiva individual com educação e discussão pública sobre procriação de maneira responsável. Não se pode selecionar características como cor dos olhos, da pele, do cabelo, preferência sexual etc. Deve-se manter no campo das doenças e malformações.
Mas mesmo nesses limites estritos é difícil avaliar a ética: pais surdos podem decidir por ter filhos apenas se surdos; pais com nanismo podem desejar um filho com a mesma doença. Seria eugenia algo que não é exatamente “eu”?

E quanto a selecionar de acordo com as habilidades esportivas ou intelectuais? O livro “The genius factory: the curious history os the Nobel Prize sperm bank” conta a história de um experimento, que pretendia concentrar material genético de pessoas geniais – matemáticos, físicos, grandes empresários, atletas, vencedores do Prêmio Nobel etc. Após investigar os filhos desses doadores, descobriram-se pessoas ... normais. Tratava-se de nada mais que racismo.

Ambiente e educação ainda são as reais responsáveis por muita coisa nessa vida ...


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “GenÉtica: escolhas que nossos avós não faziam”  

  

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