O surgimento do movimento
libertarianista pode ser retrocedido até o início do declínio do liberalismo.
Por toda a Era Progressista – que se estende da I Guerra Mundial até a II
Guerra Mundial, atravessando o New Deal -, houve um entusiasmo muito grande por
governos grandes entre os intelectuais americanos. Herbert Croly, o primeiro
editor de “The New Republic”, escreveu “The Promise of American Life”, no qual
disse que a promessa seria cumprida “não por... liberdade econômica, mas por
uma certa medida de disciplina; não pela satisfação abundante de desejos
individuais, mas por uma grande medida de subordinação individual e
auto-negação.”
Mesmo o coletivismo excêntrico
que se iniciava na Europa não era repugnante para muitos jornalistas “progressistas”
e intelectuais americanos. Anne O`Hare McCormick relatou no New York Times nos
primeiros meses do New Deal de Franklin Roosevelt:
“A atmosfera (em Washington) é
estranhamente parecida com a de Roma, nas primeiras semanas após a marcha dos
Camisas Negras; de Moscou, no início do Plano Quinquenal ...
Alguma coisa muito mais relevante
que a legitimidade reveste o Presidente com a autoridade de um ditador. Esta
autoridade é uma livre concessão, um tipo de procuração concedida por unanimidade...
A América, hoje, literalmente,
pede que alguém mande ...
Não apenas o atual ocupante da
Casa Branca possui mais autoridade que qualquer de seus predecessores, mas ele
também preside um governo que tem mais controle sobre um número maior de
atividades privadas que qualquer outro que já existiu nos EUA ...
(O governo Roosevelt) planeja uma
federação de indústrias, trabalhadores e governo, seguindo a moda do Estado
corporativo, como na Itália.”
Uns poucos liberais – como o
jornalista Mencken – mantiveram-se calados. Havia de fato um conhecimento
intelectual e popular naquela tendência em direção ao governo grande. O sucesso
aparente do governo em pôr fim à Grande Depressão e à II GM deu ímpeto à noção
de que o governo poderia resolver todos os problemas.
Cerca de 25 anos após o fim da II
GM, um sentimento popular começou uma mudança gradual contra o megaestado.
Não muito tempo após a publicação
de “Atlas Shrugged”, de Ayn Rand, em 1957, o economista Milton Friedman
publicou “Capitalism and Freedom”, no qual argumenta que liberdade política não
pode existir sem propriedade privada e liberdade econômica. Seu trabalho foi
inspirado em economia monetária e lhe rendeu um Prêmio Nobel em 1976.
Por meio de sua obra, sua coluna
na revista Newsweek, que durou muitos anos, e de seu livro e série de televisão
“Free to Choose”, Friedman se tornou o mais proeminente libertário americano da
geração passada.
Murray Rothbard, outro
economista, alcançou menos fama, mas teve importante papel na construção de uma
estrutura teórica para o pensamento libertário moderno e para o movimento
político devotado a essas idéias. Rothbard escreveu um tratado econômico
importante “Man, Economy and State”; uma história em quatro volumes da
Revolução Americana, Conceived in Liberty; um guia conciso para a teoria dos
direitos naturais e suas implicações, The Ethics of Liberty; um manifesto
libertário bem popular, For a New Liberty; e um sem número de panfletos e
artigos em revistas e jornais. Libertários comparavam-no tanto a Marx, o
construtor de uma teoria político-econômica integral, e Lenin, o infatigável
organizador de um movimento radical.
O libertarianismo teve sucesso e
respeito acadêmico em 1974, com a publicação de “Anarchy, State and Utopia”,
pelo filósofo de Harvard, Robert Nozick. Com inteligência e lógica, Nozick
descreveu um caso, que chegava à seguinte conclusão:
“um estado mínimo, limitado às
suas funções básicas de proteção contra agressões, roubos, (e) fraudes, que
fortalece regras contratuais, e assim por diante, é justificável; que estados mais
extensos violam direitos das pessoas, forçando-as a fazerem certas coisas, e
isso é injustificável; e que estados mínimos são tanto inspirados quanto
corretos;”
Por fim, defende a legalização de
“atos capitalistas realizados entre pessoas adultas conscientes”. Nozick e
Roehbard definiram o núcleo essencial do libertarianismo – basicamente uma reedição
das leis de Spencer da liberdade com igualdade: indivíduos têm o direito de
fazerem o que desejarem, desde que respeitem os direitos das outras pessoas, que
são iguais aos seus. O papel do governo é proteger os direitos individuais de
agressões externas e de vizinhos que matem, estuprem, roubem, assaltem, ou
defraude outras pessoas.
E se o governo desejar fazer mais
que isso, privará a todos de alguns de seus direitos e liberdades.
Rubem L. de F. Auto
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