Pesquisar as postagens

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

NÃO HÁ NADA COMO UM BOM CAFÉ DA MANHÃ PARA GARANTIR UM BOM DIA – PARTE 2


Alimentar soldados e marinheiros sempre foi um desafio de logística. São milhares de homens esfomeados, a quilômetros da costa ou de cidades aliadas, necessitados de muitos alimentos energéticos que os mantenham em ação.

Antes da invenção de métodos eficientes de conservação os alimentos se estragavam com muita facilidade. Caso os soldados não tivessem acesso a campos próximos, com muitos alimentos prontos para a colheita, a estratégia para resolver esse enigma era digna de um jogo de xadrez.

Em 1795, o governo francês ofereceu um prêmio de 12 mil francos a quem trouxesse uma solução. Em 1810, quinze anos após a instituição de tal premiação, um cozinheiro apareceu exigindo sua recompensa. Chamava-se Nicholas Appert.

Em 1809, um comitê oficial foi reunido para experimentar os alimentos em conserva de Appert. Ficaram impressionados: não havia larvas. O prêmio foi entregue junto com um pedido: publique seu trabalho, mas não o patenteie.

Em 1810, foi o publicado “A arte de conservar todas as substâncias animais e vegetais durante vários anos”. Foi um sucesso.

No entanto, Appert era cozinheiro e confeiteiro. Tinha, portanto, uma mente prática. Ele conseguiu criar um método inovador, porém não sabia explicá-lo cientificamente. Essa descoberta precedeu a Teoria Germinal e a descoberta das bactérias.

A lata que conhecemos foi inventada por Phillipe de Girard. Este pretendia fazer dinheiro com sua invenção, e buscou o mercado britânico com essa intenção. Apesar de França e Reino Unido estarem em guerra, sua invenção inovadora conseguiu se sobrepor às rusgas dos inimigos cíclicos

Um detalhe que pode ser esclarecedor: o abridor de latas foi inventado em 1870! Portanto o interregno de 48 anos deve ter sido pontuado por desesperados e esfomeados consumidores tentando abrir as latas à base de martelos e pregos.

É curioso descrever os rumos e as trajetórias seguidas pelos alimentos ao longo da história. Desde os tempos de Roma antiga os capitães mercantes do Mediterrâneo já seguiam desde Alexandria até a Índia. Comercializavam-se especiarias de luxo, pimenta-do-reino, canela, gengibre, cravo-da-índia, noz-moscada, açafrão, cúrcuma, e outros.

Os indianos consomem arroz com curry desde 4 mil anos atrás. Os romanos adoraram o prato. Resultado: 120 navios por ano eram enviados à Índia para trazer a delícia acondimentada. Além das finalidades próprias da mesa, as especiarias cumpriam funções medicinais também.

Esse intercâmbio, no final da Idade Média europeia levou às grandes expedições, Colombo, descoberta da América et cetera  e tal.

Interessante notar que Colombo voltou de sua primeira viagem com pimenta a bordo. No entanto era vermelha (a indiana era escura) e recebeu o nome de Chilli.

Assim como o tomate, as batatas são originárias da América do Sul. Os incas as plantavam em terras muito elevadas, onde geadas noturnas as transformavam em amido desidratado – ou batatas congeladas.

A chegada das batatas à Europa foi um desastre. As informações médicas a tratavam como causa desde flatulências incontroláveis à lepra. Até em períodos de fome as pessoas evitavam comê-las.

No entanto, certa feita, um francês havia sido feito prisioneiro de guerra na Prússia. Na prisão foi alimentado com comida para cavalo: batatas. Após três anos, surpresa, sua saúde estava perfeita. Suas conclusões levaram-no a promover as batatas como alimento saudável. Dentre suas estratégias, serviu pratos à base de batata a Benjamin Franklin e Maria Antonieta.

Em sua homenagem, vários pratos foram batizados com seu nome.

Outra fonte importante de alimento para o corpo são os ovos. Antes da agricultura, nós roubávamos ovos de ninhos. As primeiras aves domesticadas, as galinhas, surgiram na Tailândia, China e Índia. A produção de ovos é praticada desde 1.400 a.C., no Egito.

Os romanos adoravam ovos de pavão. Os chineses, de pomba. Os gregos, de codorna. Os fenícios, de avestruz. Consumiam-se ovos de tartaruga, crocodilo etc.

O modo de preparo também seguiu influências culturais. Os egípcios os cozinhavam, fritavam, transformavam em suflê ou os comiam com pão. Os gastrônomo romano Apício escreveu diversas receitas à base de ovos.

De todos os alimentos, talvez o mais importante, especialmente na Europa e no Oriente Médio, foi o pão. Era o alimento de base da sociedade e o que mantinha civilizações numerosas em relativa paz interna. Em Roma, 200 mil cidadãos recebiam do Estado sua cota mensal de grãos. Isso equivalia a aproximadamente 8 milhões de quilos por mês. Apenas as terras localizadas na atual Itália eram insuficientes para fornecer essa quantidade astronômica de grãos. Daí a conquista incessante de novas terras empreendida pelo império.

O Egito e o norte da África eram as regiões de que Roma necessitava desesperadamente. Não apenas o Estado, mas particulares que controlassem grandes produções de trigo necessariamente dominavam as massas e alcançavam poder político relevante.

Na França do século XVIII, a produção de pães e a própria profissão de padeiro eram regulados pelo Estado. Tratava-se de serviço público e grande relevância. Entretanto, em 1787, um trabalhador comum já despendia metade de seu salário com pães. Após isso, os preços ainda dispararam 88% em razão de uma quebra de safra. Resultou na Revolução francesa.

A Mesopotâmia também era apaixonados por pães. A região dispunha de grandes padarias estatais operando incessantemente, e alimentando soldados, funcionários estatais etc.

O consumo de grãos e cereais por humanos acorre desde 30 mil anos atrás, embora fossem plantas nascidas na natureza ao acaso, não fazendas neolíticas. Fresavam-se os grãos (trigo ou cevada) até transformá-los em farinha, com um moinho de mão: uma pedra de basalto rolando sobre os grãos. O pão feito a partir desse processo poderia ser o pão plano, que fermentava apenas pelo vapor interno; poderia ser fermentado por levedura orgânica; ou poderiam usar a levedura da cevada, geradora de gás, produzindo pães com buraquinhos no miolo. Evidentemente este último era mais caro.

O brioche das cortes francesas levava manteiga e açúcar na massa. Era mais branco que os demais e chamava-se “le pain à la mode”.

Mais tarde, no século XVIII, a geração mais preocupada com a saúde criou o pão de centeio, melhor para digerir.  

As classes ais “diferenciadas” também passaram a se deliciar com os crepes e os blini russos – esses últimos ainda hoje, servidos com salmão defumado e Prosecco.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Um milhão de anos em um dia...”

  

NÃO HÁ NADA COMO UM BOM CAFÉ DA MANHÃ PARA GARANTIR UM BOM DIA – PARTE 1


Inicialmente cabe cumprir que fazer três refeições diárias não um hábito que temos desde sempre. Surgiu na Grã Bretanha no século XVIII, após a invenção da luz elétrica, que deu maior duração ao dia útil.

Na Roma antiga, fazia-se apenas uma refeição, que chamavam de cena. Após, faziam pequenos lanches, que chamavam de prandium. Na IdadeMédia, comia-se duas vezes ao dia: breakfast pela manhã (o quebra jejum), e o dinner, que era servido ao meio dia.

A geladeira como a conhecemos foi inventada em 1870. Na verdade era um pouquinho diferente. Era movida a manivela. Mas sua popularização somente ocorreu após a II Guerra Mundial. Sem geladeira, a alimentação dependia de alimentos frescos ou preservados em sal, vinagre e manteiga.

A ausência de métodos de preservação dos alimentos por longos períodos deixava a população sempre à beira de uma onde de fome. E a história está repleta desses tempos de desespero. Na Idade Média, fazendeiros vendiam seus filhos e troca de alimentos. Outros se submetiam à escravidão.

Algumas pessoas viam no suicídio a solução para o problema da fome que lhes afligia. Um monge inglês contou sobre um episódio arrepiante: “40 ou 50 homens, completamente famintos, foram juntos a algum precipício ou costa, onde, juntos no sofrimento, deram as mãos e saltaram para o mar...”. Ocorreu em Sussex, durante uma onda de fome.

A Grande Fome da Bata Irlandesa foi um dos mais dramáticos. Ocorrida entre 1844 e 1849, matou um milhão de pessoas na Irlanda e forçou outro milhão a migrar para os EUA – hoje há sete vezes mais americanos descendentes de irlandeses do que irlandeses na Irlanda.

No México, no século XVI pessoas comiam, em períodos de fome, alimentos como: aranha, ovos de formiga, esterco de cervo e terra. Na China medieval, havia pelo menos quatrocentos “alimentos para ondas de fome”: cascas de árvores e gramíneas estavam entre eles.

Nos EUA, em Michigan, no final do século XIX, existia um médico chamado John Harvey Kellogg. Ele defendia algumas teorias bastante polêmicas acerca dos alimentos e de sua influência sobre a saúde. Ele tinha um irmão, Will Keith Kellogg, que era contador no mesmo hospital em que o irmão era chefe-geral. Em um dia do ano de 1894, Will começou a fazer alguns experimentos alimentares, com trigo, usando ideias defendidas pelo irmão médico.

Will fervia trigo, tentando descobrir um substituto para o pão. Por distração, o trigo ficou fervendo tempo demais, transformando-se em um grude horrível. Tentando evitar jogar tudo fora, espremeu o grude com um rolo... E obteve flocos de trigo.

Serviram aos pacientes e obtiveram aprovação. Tentaram outros cereais e descobriram que o milho era mais adequado. Nasceu assim o “corn flakes”. Com o acréscimo do açúcar, os negócios viraram um sucesso.

Os habitantes das Américas somente passaram a beber leite após a chegada dos Europeus e Africanos. No entanto, em pouco tempo Wisconsin e Minnesota se grandes produtores de leite. A expansão de Nova York levou a um aumento exponencial da demanda por leite.

Mas não havia ainda uma maneira de preservar o produto quando transportado a longas distâncias.  Bactérias, fungos e outros perigos à saúde eram parte integrante do leite. Só mudou com a reforma sanitária dos EUA, no século XIX.

A humanidade consome carne há milhões de anos. Quando descobrimos o fogo – a data exata é muito divergente, entre 1,9 e 0,4 milhão de anos atrás -, passamos a cozinhar alimentos. Os benefícios são vários: mais saudável, consome menos energia na digestão, libera mais energia, gera cérebros maiores.

Comíamos todas as partes dos animais: miúdos, estômago, cérebro. Esses animais eram caçados por nômades, até que a Revolução Neolítica substituiu o arco e flecha pelo cercadinho.

No que se refere à agricultura, cabe alertar sobre os tais alimentos manipulados. A agricultura é uma invenção dos homens; os alimentos que cultivamos são todos manipulados, em certa medida. O milho que comemos foi manipulado por mexicanos há 3.500 anos.

Também nessa época surgiram os animais de granjas. Os porcos foram domesticados por chineses há 6 mil anos. Fora ótimos em função de engordarem 900 gramas por dia. Outros animais eram importantes por também fornecerem leite, lã etc.

Com a proximidade com esses animais surgiram doenças. Apesar de todas as utilidades descobertas, eles são conhecidos vetores de doenças como sarampo, caxumba, gripe, varíola, malária, resfriado.

Apesar de os egípcios não terem sido fanáticos por carne de porco, descobriram que defumá-la a preservava por mais tempo. Os romanos consumiam bacon que chamavam de petaso servido com figos, vinho e pimenta. Como opção para os mais carnívoros, havia as linguiças de porco lucanianas, apimentadas, do sul da Itália.

Durou até que a Igreja Católica considerasse esse alimento impróprio para um cristão, era um alimento bárbaro e blá blá blá. E assim as linguiças “do pecado” foram banidas de Roma.

A moralidade religiosa fez com que a carne vermelha fosse proibida em grande parte da Europa por cerca de metade do ano, em razão dos dias santos.

Como uma última lembrança antes de longos 40 dias sem carne, na véspera da Quaresma os cristãos ingleses se deleitavam com o collops: à base de bacon e ovos fritos. Ao fim da Quaresma, nova sessão de carne de porco naveia. Exceto muçulmanos e judeus que nunca poderiam consumi-la. No islamismo, presunto é pecado, que chamam de Haram. Essa tradição foi herdada dos judaísmo: não se comem animais terrestres de casco fendido (formando um tipo de dedo) ou não ruminantes.

Continua...


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Um milhão de anos em um dia...”

OPERAÇÃO LAVA JATO – COMO NUM FILME DE HOLLYWWOD, A VERDADE SURGE NO FIM!


Os EUA são o país do cinema, especialmente dos filmes de ação e thrillers. É bem raro achar algum clássico nesse estilo realizado por cineastas de fora do universo de Hollywood. Com a operação lava jato não foi diferente.

Ontem, após as notícias sobre os pagamentos de multas e indenizações, o enredo foi finalmente desvendado. E a verdade é bem menos romântica do que se poderia supor inicialmente.

Fica bastante claro o que, de fato, motivou tudo o que pudemos acompanhar. As empresas Odebrecht e Brasken, em escala mundial, e outras construtoras, como Camargo Correa, infringiram leis anticorrupção de diversos países do mundo. Pagaram propinas a autoridades americanas para obter contratos lucrativos, pagaram propinas a autoridades de países africanos para obter concessões de exploração de petróleo, pagaram propinas a muitas e muitas autoridades brasileiras, como de costume, e por meio dessas concessões e obséquios se tornaram algumas das maiores empresas do mundo. Lavaram dinheiro em bancos suíços e norte americanos. A maior parte dessas infrações ocorreu no período de maior crescimento da economia Brasileia, quando também ocorreu um grande movimento de internacionalização das grandes empresas nacionais.

Pois bem. Tais operações ilegais não passaram despercebidas pelo radar das autoridades dos países onde ocorreram. Especialmente EUA e Suíça organizaram uma operação global para investigar e traçar o modus operandi dos tupiniquins. Por meio dos instrumentos de cooperação jurídica e policial internacional envolveram, necessariamente, autoridades locais da Polícia Federal e do Judiciário nessas investigações.

Como não poderia deixar de ser, do lado deles o resultado foi espetacular:

1 – Destruíram a saúde financeira das maiores companhias brasileiras, abrindo o mercado nacional para suas contrapartes – e concorrentes.
2 – Arrecadaram uma fortuna entre multas e indenizações. Bilhões de dólares arrecadados quase que sem custo algum. E sem ter empresas nacionais deles envolvidas em maracutaias quaisquer.
3 – Recolonizaram um país que parecia adquirir um papel muito relevante no cenário internacional.


Por outro lado, o que ocorreu no Brasil foi uma tragédia digna de um filme pastelão. Senão, vejamos:

1 – Do lado dos empresários e executivos, reais infratores e beneficiários de todo “propinário” a que deram origem, as únicas penas passaram por penalidades pecuniárias (vão desembolsar uma graninha ao longo de algumas décadas), além das prisões temporárias. No caso de Emílio Odebrecht, pela segunda vez. Outros também já sabiam o que esperar, na cela.
2 – O Ministério Público, por meio de procuradores-políticos, e o Poder Judiciário, por meio de juízes-politiqueiros, usaram todo o alvoroço causado pela investigação promovida “de fora” para alcançar ambições no campo político. Usaram a imprensa e a opinião pública, a segunda adestrada pela primeira, para promover uma campanha contra o governo de então. Toneladas de mentiras, anabolizadas por falsos currículos e por méritos que nunca existiram, foram carreadas para derrubar a administração contemporânea dessas mesmas investigações.
3 – A paralisação das empreiteiras, que levou à paralisação dos investimentos e, por conseguinte, do país, levou consigo milhões de empregos e qualquer possibilidade de retomada do crescimento econômico de maneira relevante por algum tempo.
4 – O momento poderia te sido usado para modernizar a legislação brasileira anticorrupção, ou qualquer outra medida que deixasse alguma herança positiva. Nada disso. Apenas se tentou passar uma lei que geraria um órgão descontrolado e soberbo num país de botocudos.
5 – Difícil saber quem, de fato, dirigia dentro do país essa colaboração internacional. Com certeza diversos delegados, procuradores, talvez até juízes, não estavam envolvidos realmente. Apenas usaram um nome notório na imprensa, e seus empregos públicos, para entornar o caldo da política me favor de seus interesses.
6 – Caju, Botafogo e quetais estão livres. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe...
7 – O deadline de dezembro de 2016 foi decidido “abroad”. Provavelmente em algum gabinete em Washington.


Por fim, mas não menos importante, nada muda. Ficará tudo como antes em terra de Abranches. Caso não tenha relação com alguma investigação internacional, podemos esperar um cenário pós lava jato exatamente nos moldes do que preexistiu a essa. Isto é, propina e roubalheira em volume máximo.



Rubem L. de F. Auto

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

DE PORQUINHOS A LIMPINHOS: COMO INVENTAMOS O BANHO


Assim como os chimpanzés, temos piolhos. Porém, os nossos são mais bem adaptados a corpos sem pelos. Existem em dois tipos, capilares e púbicos.

No entanto, há cerca de 70 mil anos, os piolhos capilares evoluíram para um terceiro tipo, adaptado a tecidos. Por isso eles servem como marcadores do momento em que passamos a usar roupas.
Portanto as pessoas da Idade das Pedras tomavam banhos regularmente e muitos dos sítios arqueológicos descobertos ficam a curtas distâncias de fontes termais.

O passo seguinte ocorreu na Idade do Bronze. As regiões onde hoje se localizam o Paquistão e a Índia era habita por um povo conhecido como harappianos, reconhecidos pela higiene. As cidades que eles construíram possuíam sistemas de esgoto feitos de tijolos e gesso. Calhas nas margens das ruas direcionavam a água para o sistema de canos subterrâneos. Construções de vários andares também tinham encanamento ligando todos os pisos.

Como a região é notória pela falta de chuvas, a água que eles pensavam em canalizar vinha do subsolo. Mohenjo-Daro tinha mais de 700 poços revestidos de tijolos que forneciam água à vontade e a todos. Construíram até uma piscina enorme: a Grande Banheira, de 12 X 7 metros quadrados. Ficava dentro de um Templo, no alto de uma montanha.

Os sacerdotes egípcios tinham horror a piolhos. Para evitá-los, raspavam todos os pelos do corpo. Também se banhavam 5 vezes por dia. Mas isso não refletia um hábito arraigado, pois o resto da população não tinha tanto asseio assim com sua higiene.

Os ricos, como costuma ocorrer em todas as civilizações, buscavam se diferenciar. Possuíam banheiros residenciais, de chão de pedra impermeável e escoamento da água por canais subterrâneos. Pela manhã lavavam o rosto e as mãos rapidamente. À noite tomavam um banho completo, com baldes. Os pobres se levavam no Nilo. Ambos usavam sabonete à base de gordura animal e vegetal.

Ao norte da ilha de Creta, no Mediterrâneo, fica as ruínas de Cnossos. A cidade antiga possuía aquedutos vindos das colinas próximas. Como o encanamento descoberto é duplo, deveria servir para água fria e quente.

Em Olinto, ainda na Grécia antiga, arqueólogos descobriram casas equipadas com banheiras de terracota, provavelmente aquecidas pelos fogareiros das cozinhas. Essas instalavam também pias na parede, chamadas delouter.

Para uma limpeza completa, usavam-se os banhos públicos – balaneion, bastante comuns em Atenas. Possuíam assentos individuais instalados em círculos, facilitando a socialização. Empregados lavavam os visitantes com sabonetes chamados rhymma. Havia também saunas com uma piscina gelada, para um mergulho posterior ao suadouro.

Os banhos romanos também eram quentes: chamavam-se thermae. Os sistemas de aquecimento se chamava hypocaust: uma vapor superaquecido subia por entre pilares, vindo da fornalha operada por escravos. Aquecia salas e piscinhas localizadas acima.

Homens e mulheres se banhavam separadamente, embora na mesma instalação. Os horários de visitação também eram diferenciados: mulheres, escravos e criados pela manhã; homens, à tarde.

O uso seguia o seguinte roteiro: entrava-se pelo pátio de exercício, a palaestra. Lá, ele ficava suado. De lá, seguia para a sala de troca, o apodyterium – o visitante deveria constratar um escravo para cuidar de sua toga, prevenindo-se contra ladrões. O cômodo seguinte era o átrio principal, aquecido: o tepidarium. Adiante, se alinhavam os cômodos menos aquecidos.

Caso desejasse, o visitante poderia seguir em direção à sala de vapor: a sudatoria. Se quisesse mergulhar numa pi9scina quente, deveria ir ao caldarium. Escravos espalhavam óleo no corpo do visitante e raspavam a sujeira com um estilete chamado strigil.

Se optasse por um banho frio antes de outra aplicação de óleo e raspagem, havia o frigidarium à disposição.
A escala dessas construções poderia impressionar. OS Banhos de Caracalla, do século III, tinha lotação superior a 1.600 pessoas e a casa principal equivalia a dois campos de futebol americano. Ah! Possuíam duas bibliotecas, também.

O acesso à água era um direito essencial de todos os romanos, cidadão ou escravo. Os banhos romanos eram um símbolo da civilização. Eram até mesmo usados para atrair os bárbaros recém-conquistados. Mas a água que abastecia Roma não era distribuída equanimemente: 10% pertenciam ao Imperador; 40% para os contribuintes – quem poderia pagar impostos; 50% seguiam para as casas de banho comunitárias e fontes públicas. Ou seja, os pobres não tinham abastecimento de água residencial.

Algo mudou após a ascensão do cristianismo a religião oficial. Os primeiros pensadores cristãos viam os banhos como locais de depravação, perdição e de muitos pecados. Clemente de Alexandria via quatro motivos para ir a uma casa de banho: calor, prazer, saúde e limpeza. Os cristãos somente poderiam ir a um local daqueles pelas duas últimas razões. Os banhos nunca deveriam vir acompanhados de prazer... nem gente estranha pelada.

Na visão de São Jerônimo – grande opositor das casas de banho e, possivelmente, do banho em si –, tradutor da Bíblia para o latim, a água quente excitava a região da virilha e estimulava especialmente as virgens. Sua famosa frase denotava um típico porquinho que espalharia seus péssimos hábitos por toda a Idade Média: “Aquele que foi banhado em Cristo não precisa de um segundo banho”. Inspirou-se em outra avessa ao banho, Santa Paula de Roma: “Um corpo limpo e um vestido limpo são o mesmo que uma alma suja”. Frase de efeito direcionada às virgens – talvez ela quisesse que elas assim permanecessem...

Nos mosteiros, códigos de conduta regulavam todos os aspectos do dia a dia,  inclusive o banho. São Benedito, fundador da Ordem Beneditina tolerava banhos ocasionais: “Que os banhos sejam permitidos aos doentes, sempre que necessário; mas que sejam apenas raramente permitidos aos sadios, e especialmente aos jovens”. Enfim,banho só na Páscoa, Natal e Pentecostes.

O islamismo pensava de maneira totalmente distinta. A limpeza equivale a “metade da fé”, conforme Maomé. A limpeza segue rituais inflexíveis. O dia começa com abluções – wudhu -, que precedem as cinco orações diárias. Repete-se o mesmo após ir ao banheiro.

Outra contribuição dos islâmicos em nome da higiene foi a ampliação dos banhos públicos: os hammams, que se tornaram os banhos turcos a vapor. O banho de corpo todo era o ghusl. No século IX, Bagdá possuía 1.500 casas de banho. O banho era gratuito a todos.

Os vikings eram especialmente atraídos por saunas ferventes. Os homens saíam aos sábados para tomar um bom banho – era o laudag, ou dia de lavar-se. Membros do povo Rus sueco, fundadores da Rússia, eram ainda mais asseados: lavavam rosto e cabelo diariamente, trabalho executado por jovens criadas.

Um holandês, David de Vries, no século XVII descreveu o pesapunck, banho a vapor de tribos localizadas na costa do Atlântico, pré-colombianas. Era uma cabana, com um pequeno forno de madeira coberto de argila. Construídas perto de lagos e rios permitiam um banho frio após o suadouro.

Mercadores holandeses também forneceram testemunhos da limpeza e do asseio japoneses. Banhavam-se nas fontes termais localizadas nas montanhas vulcânicas. Chamavam-nas de onsen. Também usavam essa água nos banhos públicos: os sento.

A união entre a limpeza praticada no Oriente Médio e a sujeira orgulhosa europeia, por ocasião das Cruzadas, ajudou a mudar os hábitos de higiene na Europa.

Tomás de Aquino, teólogo do século XIII, era um forte defensor do uso do incenso de purificação, comum no Oriente Médio. Não demoraram a chegar versões europeias dos Hammams islâmicos. Em 1290, Paris contava com 26 delas. Nada comparável a Bagdá, mas demonstravam progressos.

Mas o pregresso não durou muito. A Peste Negra levou à total repressão aos banhos públicos.

No século XVI, Elizabeth I instalou uma banheira em seu palácio e declarou orgulhosamente tomar banho uma vez por mês. Mas era exceção. O rei Jaime lavava apenas os dedos, numa bacia. Essa prática foi impactada pelo linho. A descoberta do tecido e a criação de uma técnica que procurava isolar o corpo da sujeira levaram muitos a abandonarem de vez o banho. Enrolavam as pessoas em linho e apenas trocavam os trapos, posteriormente.

Francis Bacon foi um dos adeptos do linho, em vez do banho. Criou até um método de “impermeabilização” de humanos.

Reis e rainhas com cheiro e gambá eram muito comuns. Lady Mary Wortley Montagu era uma notória imunda. Quando comentavam sobre suas mãos imundas, replicava dizendo: “O que você diria vendo meus pés?”.

Tendo a medicina derrubado teses absurdas que encantavam os porquinhos, a postura diante do banho também mudou. As próprias linhas de pensamento científicas levaram à noção de que a água, parte do mundo natural, não poderia ser prejudicial à saúde.

As conquistas de terras no Egito e além, por Napoleão, o levaram a adotar o hábito de passar longas horas na banheira.

Ah! Após descobrir os banhos turcos, Lady Mary Wortley ficou fascinada com a ideia do banho que chegou a adotar até o xampu.

A adoção de banho, banheira, sabonete dentre outros itens de higiene pela nobreza levou à sua adoção por endinheirados. Banheiras de madeira ou estanho passaram a ter vez dentro de residências sofisticadas. Os banheiros contavam agora com banheira, ducha, torneiras de água fria e quente, vasos sanitários, tudo alimentado por água em cisterna.

As banheiras vinham com um fogareiro abaixo, para aquecer a água. Outras residências instalavam caldeiras no andar térreo das residências.

Os sabonetes são um capítulo à parte. Inicialmente, na Idade do Bronze, era apenas ervas, alguns usando cinzas e gordura animal. Os gregos preferiram óleos corporais e raspagem. Os árabes islâmicos inventaram o sabonete feito de oliva. Entrou na Europa pela Espanha.

Na exposição de 1851, Londres testemunhou uma profusão de sabonetes de todo tipo – muitos deles perfumados. A marca mais antiga já estava presente por lá: sabonetes Pears, feitos com glicerina e óleos naturais.

Mas o sucesso de mercado era feito de óleo de Palma e azeite de Oliva: Palmolive.
Em 1880 surgiram os desodorantes. Eram à base de cera. O desodorante à base de cloreto de alumínio surgiu em 1907.

Resumindo: banho é água mais extratos de frutas e plantas. E é uma questão de higiene, apenas.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Um milhão de anos em um dia”


terça-feira, 20 de dezembro de 2016

VOU LARGAR UM BARRO! A HISTÓRIA DA HUMANIDADE E DE SEU COCÔ – PARTE 2


A queda do Império Romano do Ocidente significou também uma queda drástica da qualidade da rede de esgoto. Não havia mais fontes de água corrente, nem banheiros públicos, nem esponjas de limpar a bunda...
Os padrões de outros povos europeus da época não ajudavam: os vikings defecavam nos quintais e se limpavam com pedaços de algodão, folhas, musgos e algas marinhas.

Quem de destacava em aspectos de limpeza e higiene eram os islâmicos. A questão da limpeza era especialmente importante após ir ao banheiro. Diz-se que Maomé afirmava: “Se o ânus for limpo com seixos, deveria ser usado em número ímpar”.

O papel pode ter sido usado desde o século II a.C. A história clássica fala em um eunuco da corte chinesa chamado Ts`ai Lun, que o teria inventado em 105 d.C. Seu papel higiênico era feito a partir de cascas de amoreira, redes de pesca e trapos.

O papel higiênico era levado da China para o Japão no século VII, embora seu uso não fosse tão difundido ainda. Aparentemente os japoneses ainda preferiam usar folhas, algas etc. Nos castelos, foram encontrados assentos em formato de U, posicionados sobre buracos que levavam a fossos por onde passava água corrente.

Já na Inglaterra, bem, no fim da Idade Média a Ponte de Londres eram uma espécie de vaso sanitário suspenso. Contava com banheiros públicos em toda sua extensão. Quando alguém soltava o barro, ouvia-se o barulho na água... a menos que tivesse parado na cabeça de algum barqueiro. Era nojento mas a água do Tâmisa levava o mau odor consigo.

Jogar o esgoto num rio corrente, em locais com baixa concentração populacional, não é de todo insensato. Mas cheias sazonais poderiam levá-las de volta para as casas.

Havia também os limpadores de fossas: os gongfermes. Auferiam bons recursos com seu trabalho, mas era tão nojento que só se fazia à noite. No caso das famílias reais, havia também o orgulhoso “limpador de penico”. O rei poderia solicitar que ele cheirasse seu peido também, em busca de problemas de saúde eventuais. Ah, claro. Recebiam bem e tinham prestígio.

Atualmente, nossas privadas possuem descarga. Muitos poderiam supor que se trata de algo bastante moderno, mas seu protótipo é velho de 4 séculos. Elizabeth I, filha de Henrique VIII, tinha um afilhado de mente criativa: Sir John Harington. Ele construiu para o tia um vaso sanitário com descarga. Foi instalado no palácio de Richmond.

Este rapaz também tentou mudar os padrões sanitário de Londres, mas isso causou irritação nas autoridades e foi exilado.

Muitos gostam de ler no banheiro. Martinho Lutero também. Por sofrer de constipação de último grau, passava horas a foi no troninho. Quando angustiado pelas fezes infernais, ele tentava relaxar escrevendo reflexões a seus amigos, como: “Mas se isso não for suficiente para ti, Demônio, já caguei e mijei; agora limpe tua boca nisso e dê uma boa mordida!”

O rei Luís XIV se aliviava protegido apenas por uma cortina vermelha, atrás da qual abaixava suas calças e sentava no penico. Esse ritual poderia acontecer em qualquer lugar do palácio de Versalhes, e inclusive o rei poderia manter longos diálogos a partir de seu “troninho”. O penico era encaixado num suporte de madeira. Ele achou um desperdício de recursos construir um cômodo apenas para banheiro... Como se o palácio inteiro não pudesse ser classificado como um imenso desperdício.

O resultado dessa libertinagem sanitária era um chão imundo, com uma película de excrementos, especialmente nas áreas públicas do palácio. No auge da podridão, em decreto mandava limpar o chão do palácio uma vez por semana... A mãe do rei foi flagrada fazendo xixi num canto do palácio, visitantes deixavam suas “lembranças” pelo chão, etc. O hábito de defecar nas escadas levou o rei Henrique IV a instituir multas a quem o fizesse. Surge a súvida: mas e se o autor fosse o rei?

O Palácio de Fontainebleau somente dispunha de locais a céu aberto para evacuar. A cena de lordes e damas se agachando atrás de um arbusto era recorrente.

Nas casas que não dispunham de penico, usava-se o urinol, como em Roma antiga. Ficava ao lado da cama e era muito comum na Europa até o século XVIII. O problema ocorria quando alguém se esquecia de pô-lo no local correto. Acordar apertado numa casa sem energia elétrica e não achar o penico imediatamente levava a xixi no chão do quarto com frequência... Em jantares de nobres, era comum um empregado pegar o urinol para o que o nobre urinasse no corredor, enquanto a conversa continuava na mesa de jantar.
No século XVIII, a ideia de um cômodo para fazer cocô perdeu o ar de desperdício e passou a merecer maiores reflexões. Inicialmente pareceu lógico posicioná-lo do lado externo das residências. Embaixo dos mesmos, punha-se a fossa.

Em Londres, no século XVIII, os ingleses usaram a criatividade largamente para batizá-los: “necessary house”, “house of office” e “bog house”. Costumava-se instalá-los no porão.

Evidentemente os problemas de projeto não paravam de surgir: o buraco do cocô deveria ser grande o suficiente para um adulto sentar confortavelmente, mas uma criança não poderia cair lá dentro; a fossa deveria ser revestida, para evitar infiltração, mas isso fazia com que devesse ser limpa frequentemente )e os profissionais que o faziam cobravam caro).

Em 1691, Augustin-Charles d`Aviler era um construtor de mansões. Todos os seu projetos contemplavam encanamento para banheiros. Em 1728, Clarles-Etienne Briseux declarou que o penico era um “objeto do passado”. Dez anos depois, Jean-Françoise Blondel aprimorou a descarga. Agora estava ao alcance de todas as pessoas “elegantes”.

Evidentemente os franceses não perderiam a oportunidade. Batizaram o banheiro de “Lieu à l`anglaise” (lugar inglês). Os mesmos percalços, no entanto, surgiram: as pessoas deveriam se acostumar a usar os mesmos. No início muitos chegavam a cagar no chão, ao lado do vaso.

Lorde Chesterfield usava os momentos em companhia do sanitários para um ritual bastante interessante: ia ao banheiro com algumas páginas de poesia em latim, de Horácio; depois de terminar suas “tarefas”, limpava-se com aquelas poesias,  em sacrifício a Cloacina, a deusa do esgoto.

Em 1775, Alexander Cumming criou o deslizador mecânico: era uma válcula posta abaixo do sanitário: após acionada, a água levava a merda consigo cano abaixo. Em 1778, essa válcula foi substituída por uma outra com mola – mais higiênica, pois a própria água a limpa antes de a válvula fechar.

A higiene e a privacidade ao cagar, na era vitoriana, deu lugar a uma moralidade que chegava a ser sufocante. Agora, as pessoas não poderiam sequer mencionar suas necessidades fisiológicas – em público, nunca.

Mas os pobres ainda não tinham acesso a banheiros residenciais da mesma forma que os ricos.
Em 1851, ocorreu a Grande Exposição de Londres. Foi realizada no Palácio de Cristal no Hyde Park. Receberam-se 50 mil pessoas por dia. Foram 6 milhões os pagantes. Muito merda, não?

O encanador Josiah George Jennings foi contratado para descobrir um jeito de dar conta das toneladas de fezes e urina pelos banheiros públicos instalados no local. Para os homens comuns, havia mictóprios gratuitos. Os mais afortunados pagavam 1 penny usavam modernos sanitários com descarga. 827 mil pessoas fizeram uso deles. Ah! Em inglês, “to spend a penny” ainda é sinônimo de ir ao banheiro.

Uma descoberta muito importante ocorreu por volta de 1850, quando a Teoria Germinal descobriu que os suportes e partes de madeira eram focos de doenças. Em 1884, a empresa de Jennings criou um vaso de porcelana, sobre um pedestal, com encanamento em “S” para não liberar o odor, e uma cisterna suspensa chumbada na parede. Ah! Havia também um assento articulado que servia de mictório: as mulheres não reclamavam do estado do chão do banheiro após uma visita do marido.

No entanto, o progresso é como um parto: tem suas dores. A quantidade de casas em Londres que passaram a contar com banheiros, jogando toneladas de esgoto in natura no Tâmisa, deu origem ao Grande Fedor, por volta de 1860. Além do fedor nauseante por toda a cidade, doenças como cólera e tifoide se alastraram: a água suja se infiltrava nos poços de abastecimento de água espalhados pela cidade.

De fato, o perigo que isso representava havia sido avisado anteriormente. Mas a resposta dos políticos era a mesma: reformar a rede de esgoto de Londres seria excessivamente caro. Bom, após a tragédia em termos de saúde pública, milagrosamente, o dinheiro apareceu!

Lembra das pessoas que ganhavam dinheiro dando finalidade ao cocô e ao xixi, vendendo-os como fertilizantes? Muitos perceberam que essa atividade havia sido extinta pelo sistema de jogar esgoto na água. O reverendo Henry Moule criou uma privada ecológica, que vendia inclusive como antídoto para o Grande Fedor. Eram as privadas antigas adaptadas; ogava-se terra e cinzas sobre o cocô. O recolhimento era feito por homens que se moviam pela cidade, retirando o recipiente sujo e entregando um limpo. Mas só seduziu os mais preocupados com o meio ambiente – e quem não podia pagar pelo sanitário moderno.

Ah! O papel higiênico começoui a ser produzido em 1857 por Joseph Gayetty, perfumado com Aloe Vera. O picote para arrancar folhas surgiu em 1870 e a folha dupla, em 1940.

Parece que os desenvolvimentos mais modernos surgiram na Ásia, com os assentos-robô, como o modelo da Washlet: lança água e jatos de ar quente.

Alguém inventa uma que dá um beijinho?


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Um milhão de anos em um dia...”

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

VOU LARGAR UM BARRO! A HISTÓRIA DA HUMANIDADE E DE SEU COCÔ – PARTE 1


Çatalhoyuk é um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo. Um vilarejo fundado há, talvez, 9.500 anos, na atual Turquia. Data do tempo em que a humanidade estava começando a se estabilizar em números. Deve ter abrigado algo em torno de 10 mil pessoas, enquanto que nas demais agregações de humanos o número mal chegava a 150 pessoas.

Bom. Embora 10 mil pessoas não seja um número que nos impressione atualmente, imagine a quantidade de fezes produzida. Em um dia apenas, que seja!

Evidentemente a política sanitária de 10 mil anos atrás não poderia ser algo que nos impressionasse, hoje. Certamente faziam uma pilha de cocô num terreno relativamente distante – dos olhos, pelo menos. De tempos em tempos, profissionais bastante necessários faziam o nivelamento da pilha de cocô.

Se essa situação sanitária já não era muito elogiável, após Revolução Neolítica e a invenção da agricultura o quadro ficou ainda pior. A proximidade entre as pessoas, a convivência recente com animais e o empobrecimento da variedade alimentar levaram a uma piora. Mas a agricultura não se conteve. Por volta de 3.100 a.C. chegou à atual Escócia.

Naquela região, foi descoberto o vilarejo de Skara Brae, em que se encontraram evidências de banheiros fechados, localizados em cantos de casas, sobre canais de drenagem, que escoavam o cocô junto com a água corrente. Apesar desse pequeno progresso, limpar a bunda ainda era uma tarefa um tanto fétida: usavam-se musgos, algas marinhas e folhas.

Às margens do Rio Indo, na Índia, foram descobertas cidades da antiga civilização harappiana, de cerca de 2600a.C. Os harappianos era pessoas neuróticas por limpeza – ao menos naqueles padrões da época. Eles construíram uma rede de tubos que ligavam as casas a fossas. As casas dos cidadãos mais ricos tinham também lavabos separados do banheiro. Um assento era posicionado sobre um tubo, ligado ao esgoto. A água usada no banho era descartada pelo tubo. Mesmo os mais pobres, certamente usuários de penicos, podiam descartar a água suja em direção à fossa. Não tinham uma pilha de cocô no jardim...

Uma observação interessante são os assentos no banheiro – em forma de U. Ninguém tinha que se agachar mais.

O historiador grego Heródoto provavelmente esteve no Egito por volta do século V a.C. Ele sugeriu em seus testemunhos que as mulheres egípcias urinavam em pé. ÇPor seu turno, os homens se sentavam. Heródoto estendeu suas observações ao “número 2” dos egípcios, também: “Eles defecam dentro de suas casas, mas comem nas ruas. Isso é feito sob o princípio de que o que é embaraçoso, faz-se em casa; as demais, faz-se na rua, em público.”

Como muitos sabem, é proibido para judeus ortodoxos refletir sobre o que está escrito na Torá, ou proferir a oração sagrada de Shema enquanto no banheiro. Sugere-se que pensem em dinheiro... exceto no Shabbath, quando isso também é proibido.

A politica sanitária era aquela descrita no Deuteronômio 23:12-14: “Determinem um local fora do acampamento onde se possa evacuar. Como parte do seu equipamento, tenham algo com o que cavar, e, quando evacuarem, façam um buraco e cubram as fezes.”

A justificativa? “Pois o Senhor, se Deus, anda pelo acampamento para protegê-los e...”. Portanto, nada de sujar o pé de Deus com cocô dos outros.

Na Idade Média, A Velha Jerusalém tinha um ponto de entrada e de saída chamado Sha`ar Ha`ashpot, ou Portão do Estrume, por onde o cocô era retirado da cidade.

Na Grécia antiga, diversas peças fazia troças de cagões e de episódios cômicos envolvendo cagões “da madrugada”, surpreendidos por vizinhos em situações “difíceis”. A menção mais próxima do local de defecação dos gregos foi feita por Teofrasto, que envolve um cagão que atravessa a cerca do vizinho e tropeça no cachorro bravo.

Mas o dia a dia dos gregos tinha um companheiro bem conhecido: o penico. Os homens usavam o noamis para o número 1. As mulheres usavam o skaphion. Também havia assentos para bebês, como local para as pernas e um buraco em direção ao skaphion. A fossa dos gregos era o kopron, manuseado pelos profissionais chamados koprologoi, aonde se destinavam as fezes. Por sua vez, os koprologoi eram remunerados pela venda do cocô como fertilizante, para fazendeiros.
Os poetas Êupolis e Epícrates de Ambrácia falam de garotos escravos, equipados com penicos, que corriam de vez em quando em direção a uma multidão, para atender as necessidades fisiológicas de aristocratas beberrões.

Quanto a Roma, essa merece um pouco mais de linhas. Os banheiros públicos chamavam-se forica. Era cômodos abertos, com assentos lado a lado, onde pessoas de ambos os sexos se sentavam e fofocavam enquanto se “aliviavam”. Só a cidade de Roma possuía 144 desses locais.

Havia obras mais impressionantes. Na Síria, Apameia tinha uma “superlatrina” que recebia mais de 80 pessoas por vez.

As foricas também tinham pias e água corrente, garantindo a higiene. As paredes eram recobertas com adornos e desenhos artísticos. Alguns escreviam legendas dignas e adolescentes no banheiro da escola: “O sagaz Quilião ensinou a como peidar sem que ninguém percebesse”. Outra legenda: “ Tales recomendava que aqueles com dificuldade para defecar fizessem força”.

E quanto ao material de limpeza? Esses também eram compartilhados. Colocava-se uma esponja no fim de uma vareta – xylospongion, que passava de mão em mão.

A grande Cloaca Máxima – enorme rede de esgoto que atendia Roma – sofreu com suicídio de trabalhadores. O trabalho era terrivelmente árduo. O rei Tarquínio respondia com ameaças e crucificação. Era por volta de 500a.C.

O império de César Augusto ( e seu engenheiro, Agripa) estendeu mais a Cloaca, criando sete ramificações afluentes. As inspeções eram feitas de barco, pelo canal subterrâneo.

No ambiente doméstico, no entanto, o penico ainda era a resposta mais prática. Limpava-se atirando as fezes e o xixi janela afora.

Assim como na Grécia, também havia profissionais que faziam dinheiro comercializando cocô e xixi para fazendeiros e tintureiros de tecidos.

Aliás, o Imperador Vespasiano fez o império explorar esse mercado, mandando recolhendo os excrementos dos banhos públicos.

Continua...   


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Um milhão de anos em um dia”

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

QUEM FOI O DONO DO PRIMEIRO RELÓGIO DA HUMANIDADE?


O Vale do Makapansgat, na Província de Limpopo, na África do Sul, é uma desses lugares com uma paisagem de tirar o fôlego. Essa região abriga um conjunto de cavernas antigas, formadas pela erosão da água.

Nessas cavernas, pesquisadores encontraram alguns vestígios pré-históricos extraordinários, entre os quais um osso de Homo Australopitecus, um dos nossos mais antigos ancestrais. Embora fossem hominídeos, obviamente nesse momento eles eram capazes de pequenas observações celestes. Certamente perceberam o ciclo diário do Sol e sua alternância com a Lua, talvez tenham percebido a variação da inclinação das sombras conforme o Sol se desloca para o Oeste. Mas não devem ter evoluído muito, além disso.

Entretanto, se avançarmos o filme até 30 mil anos atrás, quando ainda convivíamso com Neandertais, poderemos ver um objeto escuro, encontrado em Le Placard, na França. É um osso de águia com diversos entalhes horizontais. Assemelha-se a um gráfico acompanhando as fases da Lua ao longo de 14 dias. Da lua nova à lua cheia.

Não são poucos os que não resistem a vê-lo como o primeiro calendário concebido pelo homem.
Bom, surge imediatamente uma dúvida: esse calendário foi feito por Homo Sapiens ou por Neandertais? Os Neandertais não eram intelectualmente medíocres se comparados aos Sapiens, mas os arqueólogos vêm com muita dificuldade a capacidade deles produzirem algo do tipo. Provavelmente um Homo foi o criador da peça.

Certamente esse ser criativo também foi o autor da primeira pergunta acerca do funcionamento do nosso Cosmos.

Por outro lado, se as suspeitas não se confirmarem, esses traços no osso não significavam nada em especial.  

Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Um milhão de anos em um dia: da idade da pedra à era do smartphone”

P&D NAZISTA – AVIÕES A JATO CONTRA OS ALIADOS


Cientistas alemães também trabalharam em diversas pesquisas envolvendo aviões e aerodinâmica, durante os anos de guerra, esperando criar projetos capazes de pôr um fim aos conflitos, em favor do III Reich.
Enquanto que os Aliados eram capazes de produzir alguns excelentes aviões a hélice, como os Mustang P-51, Lightning P-38 e Spitfires Supermarine, os alemães lideraram em projetos relacionados a aviões a jato e bombardeios “planadores”.

Segundo os cientistas da RAE – British Royal Air Establishment -, após verem aviões a jato do III Reich que conseguiram capturar: “Percebemos em poucos minutos que nosso programa inteiro de desenvolvimento de aviões já estava ultrapassado.”

Nos estertores da guerra, o esforço dos alemães para desenvolverem aviões melhores levou ao desenvolvimento de projetos excelentes. Isso foi atestado após o conflito, quando as instalações foram ocupadas e os projetos se tornaram conhecidos pelos inimigos. A compreensão foi de que esse programa representava um perigo muito grande para os inimigos. Possuindo aviões rápidos e mortais, equipados com jatos, um pequeno atraso na vitória aliada poderia ter levado a uma derrota dos aliados.

Os alemães desenvolveram uma profusão de desenhos, alguns intrigantemente bizarros, mas que eram, no entanto, os antecessores de praticamente todos os aviões avançados fabricados após a II Guerra Mundial.

Enquanto os motivos para tais avanços pareçam opacos à primeira vista, as vantagens científicas dos alemães sobre os americanos, ingleses e russos resultaram, na verdade, de causas bastante claras. As outras nações gastaram bem menos em seus programas científicos, e em alguns casos os negligenciaram completamente, como mostrado pelo caso de Robert Goddard e seu foguete pioneiro. Além de perseguirem objetivos muito mais modestos do que a contraparte alemã.

O III Reich também possuía um programa de armas nucleares, mas a Alemanha proveu muito poucos recursos para tanto. Como resultado, nunca foi além do amadorismo, algo inútil frente aos demais, fomentados e promovidos com sucesso, como o programa aeronáutico e o de foguetes.

De fato, o Projeto Manhattan foi bem sucedido ao dar à América a primeira bomba atômica devido ao fato de que o governo dos EUA retirou todos os obstáculos que eventualmente poderiam ser postos em seu caminho.

Voltando ao programa aeronáutico. Os cientistas do III Reich cultivavam antes de tudo o amor pelo que faziam. Mesmo com a destruição de instalações do governo, eles permaneciam submetendo novos projetos e desenhos às autoridades. Um dos últimos projetos submetidos à Luftwaffe (força aérea alemã) foi produto da equipe do professor Heinrich Hertel. O modelo, semelhante a um aeroplano, utilizava quatro turbinas e 168 pés de eixo das asas. A velocidade máxima era de 640 milhas por hora e atingia distâncias de 11 mil milhas. Poderia transportar até 17.632 lbs de bombas dentro.

Ciente de que a derrota alemã era algo iminente, e, por outro lado, igualmente ciente da importância que tais feitos poderiam ter para a humanidade, Hertel também incluiu uma versão civil de tais aviões, capazes de realizar viagens transatlânticas.

Algo útil para quando a guerra acabasse, e os ânimos se restabelecessem após os desentendimentos passageiros que afligem as relações humanas...
             

Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”


P&D NAZISTA – UM TESTEMUNHO DOS BENEFÍCIOS BÉLICOS QUE A CIÊNCIA PODE TRAZER


Tanto Winston Churchill quanto Adolf Hitler dividiam a mesma paixão por ciência, tecnologia e, vez ou outra, “armas fantásticas”. No entanto, os alemães fizeram avançados cruciais, como o primeiro caça a jato, mira infravermelha para rifles de snipers, planos para aviões do tipo aeroplano, pesquisas em bombas atômicas, e tecnologias de foguetes V-1 e V-2.

Embora algumas armas desenvolvidas pela Alemanha nesse período tenham infligido prejuízos nos Aliados, algumas eram contraprodutivas. Eles utilizavam grandes quantidades de dinheiro, materiais e know-how, os quais, ao contrário, poderiam ter produzido grande quantidade de armas comuns, porém eficientes, sejam aviões ou veículos.

Os foguetes V-2 tiveram consequências negativas na Alemanha, como uma crise alimentar: cada foguete consumia 30 toneladas de batatas para que se produzisse álcool para fabricar seu combustível.
A construção dos foguetes alemães foi produto também de um ambiente bastante favorável. Em 1929, estreou o filme “Woman in the Moon”, de Fritz Lang. Max Valier, um escritor austríaco, também explorou voos espaciais, viagens exploratórias interplanetárias e tornou de conhecimento do público o potencial oferecido pelos combustíveis líquidos de foguetes.

Assim, a ciência de foguetes tornou-se popular.

Por outro lado, cientistas de foguetes russos e norte-americanos encontraram um ambiente completamente diverso. Robert Goddard fez o primeiro lançamento de um foguete a combustível líquido em 1926, nos EUA, mas só recebeu piadas da imprensa e foi ignorado.

Konstantin Tsiolkovsky escreveu extensamente sobre o assunto, mas não comoveu ninguém.

Ironicamente, americanos e russos – após ignorarem conquistas de compatriotas – abraçaram as contrapartes alemães, depois de serem expostos aos produtos da mesma ciência bélica.

A ciência de foguetes alemã continuou a se desenvolver na década de 1930, em grande parte dirigida pelo entusiasmo de Hermann Oberth, quem recrutou o jovem Wernher Von Braun, um amigo também entusiasmado pelo assunto. Eles é outros jovens engenheiros, cientistas e admiradores se juntaram e fundaram a “Raketenflugplatz”, ou “Praça dos Foguetes Voadores”. Foi o primeiro local dedicado à construção e teste de foguetes no mundo.

Eventualmente, as conquistas do grupo trouxeram o interesse  e a atenção das Forças Armadas, que passaram a fornecer recursos. Nesse momento, o charme e a personalidade cativante de Von Braun foram decisivos.

Os nazistas construíram suas instalações dedicadas aos foguetes em Peenemude.

Construir um foguete pode se revelar uma tarefa desanimadora. Nas palavras de Von Braun, sobre o primeiro A-1: “Levou um ano e meio para ser construído e meio segundo para explodir”.

O último dessa série foi o A-4, embora metade de um A-5 já estivesse construída e em linha de testes.

A instalação de Peenemunde chegou a empregar 3 mil pessoas: cientistas, engenheiros, trabalhadores manuais e numerosos trabalhadores escravos. O brilhante químico e cientista de foguetes Walter Thiel teve papel preponderante, desenvolvendo um motor a oxigênio líquido altamente eficiente para os foguetes A-4 (rebatizados para V-2), uma câmara de combustão melhorada, melhores injetores de combustível que produziam grande aceleração com máxima eficiência de consumo.

Von Braun, simultaneamente, chefiava pesquisas no sistema de direcionamento do voo. Outros deram contribuições importantes também. Moritz Pohlmann criou um filme de proteção contra calor excessivo para a câmara de combustão, usando um filme à base de álcool para proteger as paredes metálicas e evitar que derretessem. Equipes de engenheiros produziram conectores e ventoinhas de grafite para os foguetes e calibraram precisamente as turbinas para controlar os fluxos de exaustão.

Em 1942, iniciou-se o segundo programa de foguetes, dando forma aos primeiros mísseis de cruzeiro. Os V-2 demandavam gastos imensos para produzir, mas eles se moviam tão rapidamente que nenhum mecanismo de defesa aérea da época poderia abatê-los.

Os engenheiros de Peenemunde até delinearam um primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM), apelidado de “America Bomb”, ou A-10. Mas a tecnologia da época não permitia construí-lo. Faltou tempo para Von Braun e sua equipe projetarem e testarem a novidade.

Em 1940, Heinrich Himmler forçou Wernher Von Braun e se juntar às SS, apesar da ausência de espírito político no cientista.

Em 1942, Arthur Rudolph e outras figuras eminentes de Peenemunde começaram a usar trabalhadores forçados nas instalações. Embora alegassem, anos depois, que não ficaram contentes com o uso desse tipo de mão de obra, nenhuma correspondência da época indica desânimo pela presença de escravos soviéticos, poloneses e franceses.

A trajetória balística de um V-2 tinha apogeu de 58 milhas de altura e distância de alcance de 200 milhas. Um foguete encontrava o alvo a 2.500 milhas por hora – mais rápido que qualquer avião ou míssil de interceptação.

Caindo sem solo, um V-2 abria uma cratera de 50 pés de diâmetro, enquanto que sua massa e velocidade permitiam-no perfurar um prédio inteiro até alcançar o porão, antes de detonar, demolindo até construções bastante sólidas.

Os alemães construíram, segundo as estimativas mais altas, 6.915 foguetes V-2, um feito fantástico, dados a alta complexidade e o imenso tamanho (46 pés) de cada um.

Cerca de 3.225 foguetes que alcançaram seu alvo mataram 2.700 cidadãos britânicos. Seu efeito em Antuérpia, entretanto, alcançou resultados avassaladores. Cerca de 30 mil civis e soldados morreram em ataques V-2, incluindo 591 pessoas mortas dentro de um cinema, em um ataque V-2, em dezembro de 1944.

Os foguetes também afundaram 150 navios e, aproximadamente, 15.000 trabalhadores escravos morreram nas instalações, construindo-os.

Havia temores de que os mísseis balísticos pudessem carregar bombas nucleares, como temiam alguns espiões e especialistas Aliados. No entanto, o programa nuclear alemão permanecia incipiente e incapaz de tal feito.

Nesse ponto, o Projeto Manhattan foi o equivalente Aliado às armas fantásticas da Alemanha.
        

Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

OPERAÇÃO PAPERCLIP – APRENDAR A FAZER UM BELO CV COM OS CIENTISTAS NAZISTAS


“Por ordem do Governo Militar da Coalizão, você entrará em contato com sua família e receberá suas bagagens, tantas quantas puder levar consigo, amanhã às 13:00h (Sexta, 22 de junho de 1945) na praça da cidade, em Bitterfeld. Não é necessário levar roupas de frio. Objetos pessoas facilmente transportáveis, como documentos pessoais e da família, joias, e quetais devem ser levados. Vocês serão transportados por veículos motorizados para a estação ferroviária mais próxima. De lá, vocês viajarão em direção ao Oeste. Por favor, diga a quem lhes entregar esta carta quantos membros há em suas famílias.”

Acima estão as instruções encaminhadas aos cientistas nazistas no âmbito da Operação Paperclip.

Logo após os últimos tiros foram disparados na II Guerra Mundial e o processo de reconstrução da Alemanha e da Europa se iniciou, os Aliados Ocidentais e a URSS tentaram obter os serviços dos melhores cientistas do Terceiro Reich, especialmente aqueles envolvidos em ciência de foguetes, tecnologias de mísseis e pesquisas aeroespaciais.

Tanto os soviéticos quanto os Aliados ocidentais sabiam dos foguetes V-2 alemães, os cavalos de corrida dos mísseis balísticos e da corrida espacial. Era claro para eles o imenso valor estratégico dessas tecnologias e desejavam assegurar para si os benefícios eventualmente advindos.

Também era bem claro o iminente confronto entre dois recentes aliados: EUA e URSS. Os homens que possuíam o conhecimento dos foguetes V-2 e de outros programas tecnológicos do III Reich tornaram-se peças cruciais no embate entre a incipiente NATO e o Pacto de Varsóvia.

O resultado no lado Ocidental foi a Operação Paperclip, que levou cientistas alemães a pôr sua expertise à disposição dos EUA e de outros membros da NATO – Organização do Tratado do Atlântico Norte.

A resposta soviética à movimentação americana foi a Operação Osoaviakhim.
Dentre os cientistas mais desejados estava Wener Heisenberg, vencedor do Prêmio Nobel de Física em 1932 e fundador da mecânica quântica. Segundo o general Leslie Grove, dos EUA, ele era mais valioso para os EUA do que 10 divisões alemães.

O exemplo mais famoso que denote o sucesso dessa Operação foi Wernher Von Braun. Antigo membro das SS, envolvido no Holocausto, tornou-se o “pai da ciência de foguetes” e fascinou o mundo com visões de foguetes com asas e estações espaciais, como um novo Projeto Manhattan, que a Nasa adotaria em breve.

Na continuidade do aumento de poder dos mísseis balísticos, o que ocorreu durante toda a Guerra Fria, a expertise de Von Braun foi usada nas missões espaciais mais importantes dos EUA. Os foguetes de que a Nasa precisava deveriam ser bastante potentes, o suficiente para pôr um objeto orbitando a Terra. 

Eventualmente, potentes o suficiente para alcançar a Lua. O grande projeto de Von Braun foram os foguetes da série Saturn V.

Esse ainda é o melhor foguete da história da Nasa...


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Operation Paperclip: the history of the secret program to bring nazi scientists...”


RITOS EM DATAS MÓVEIS: UM PROBLEMA DE CONVERSÃO


Algumas pessoas percebem algumas curiosidades no que se refere a festas religiosas. Aprendemos que o Natal comemora o nascimento de Jesus Cristo, enquanto que a Páscoa comemora sua morte e ressurreição. 
Mas, por que o Natal tem uma data fixa (sempre comemorado em 25 de dezembro), mas a Páscoa sempre tem sua data diferente do ano anterior? Sabe-se em que dia ele nasceu com certeza, mas não se sabe quando morreu? Não é isso.

Partindo das tradições católicas, Jesus Cristo era judeu, viveu na Palestina, que na época era uma Província do Império Romano. Era uma região ocupada por um Estado bem mais forte, mas que mantinha muito de suas tradições, entre elas um calendário próprio.

O calendário lunissolar judaico (obedecia aos movimentos da Lua e do Sol) era diferente do calendário solar romano. Portanto, se quiser mos fazer uma interface entre ambos, devemos descobrir um método de conversão.

A Última Ceia teria sido um evento em comemoração ao Pessach. Essa cerimônia é comumente chamada de “Páscoa Judaica”, nome completamente inapropriado, haja vista ser um evento muito mais antigo que a “Páscoa Cristã”.

O Pessach comemora a fuga dos judeus (ou hebreus, se esquecermos a religião e nos concentrarmos na nação) do Egito, onde eram mantidos como escravos – às vezes referido como cativeiro, o que revelaria uma razão mais criminal do que apenas a execução de trabalhos forçados...

A saída do Egito, em direção ao deserto e à liberdade, é conhecida como Êxodo.

No calendário judaico, o Pessach cai sempre em 14 de Nisan – este é o primeiro mês seu calendário. A conversão para o calendário gregoriano faz com que a data no nosso calendário varie.

Uma solução engenhosa seria converter a data da Última Ceia para o calendário solar da época (Juliano). Costumamos admitir que Jesus Cristo morreu no ano 33 d.C. (o que é incorreto, pois já se sabe que houve um erro de cálculo de 4 anos para menos;  e esquizofrênica, pois diz que Jesus Cristo morreu 33 anos após o nascimento de Jesus Cristo... Daí o uso de 33 EC, Era Comum). Esse ano corresponde ao ano 3793 no calendário judaico – esse calendário supõe se iniciar na criação do Mundo – como quase todas as religiões supõem fazê-lo.

O dia 14 de Nisan de 3793 corresponde a 3 de abril de 33, no juliano – que caiu numa sexta-feira, anterior ao domingo de Páscoa. O problema é que a Sexta-Feira Santa raramente cairia numa sexta-feira.
Desde o Concílio de Nicéia, em 325, o cálculo para determinar o domingo de Páscoa é: o primeiro domingo após a primeira lua cheia, após o primeiro equinócio do ano (21 de março).

Outra data móvel no calendário cristão é a do Corpus Christi: sempre celebrado 60 dias após o domingo de Páscoa. Por isso sempre será numa quinta-feira (60/7, dá resto 4; domingo + 4 dias = quinta-feira).

Embora não seja feriado cristão, o Carnaval também ocorre em data móvel. A terça-feira antes do Carnaval, conhecida como terça-feira gorda, ocorre 47 dias antes do domingo de Páscoa. A maioria dos historiadores acredita que a origem da festa esteja relacionada com o último dia em que era permitido consumir carne, antes da quaresma. Carnaval seria festa da carne.

As festas em data móvel se opõem às festas em datas específicas, como o Natal.

Sabemos que o Natal comemora o nascimento de Cristo. Sabemos que Cristo era judeu, e seu povo respeitava um calendário próprio. Portanto Cristo também teria nascido em uma data específica do calendário judaico, cuja conversão para o calendário cristão resultaria em uma data móvel. Portanto o Natal, se corretamente definido, também deveria seguir a lógica de cair em data móvel.

Pelo acima exposto, a data de 25 de dezembro tem valor simbólico, não representando o nascimento do filho de Deus. Essa data, de fato, é tomada de empréstimo de outras culturas e da própria astronomia.

No dia do solstício de dezembro, diz-se que se inicia o verão no hemisfério sul e, por conseguinte, o inverno no hemisfério norte. Para quem mora no hemisfério norte, esse dia tem o dia mais curto do ano e, claro, a noite mais longa.

Os povos da antiguidade que habitavam as altas latitudes do hemisfério norte comemoravam nessa data o dia do “Sol invencível”. Por que? Porque sabiam que a partir daquele dia o Sol voltaria a ficar cada vez mais quente, até atingir seu auge no verão (solstício de verão).

Essas festas ocorriam em torno de uma fogueira, havia troca de presentes.

A data de 25 de dezembro é incorreta para a comemoração do solstício de inverno (no hemisfério norte). No nosso calendário gregoriano ocorre em 21 de dezembro, ou 22 se ano bissexto. Mas a tradição já se estabelecera no dia 25.

A Igreja católica, em sua expansão europeia, incorporou tradições locais. Uma dessas foi a comemoração de 25 de dezembro, celebrando o nascimento do Sol, após um sofrido inverno. Faltava muito pouco para comemorarem o nascimento de Cristo.

Por fim, o dia do nascimento de São João Batista ocorre em junho – que é verão no hemisfério norte. João Batista é considerado o precursor de Cristo. Portanto sua comemoração ocorre seis meses (meio ano) antes do nascimento de Cristo: 24 de junho.

Essa data também não coincide mais com o solstício de verão (no norte), que ocorre em 21 ou 22 de junho, se bissexto.

That`s all folks!


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”

A SEMANA – SUAS ORIGENS


Talvez você não acredite, mas a semana também tem origem astronômica, embora de maneira indireta.
Uma semana é o tempo aproximado entre uma fase da lua e outra.

Os astrônomos da antiguidade já conheciam sete objetos no céu que mudavam de posição em relação às estrelas: os planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, ao lado de Sol e Lua. Os babilônios batizaram os dias da semana em homenagem a esses astros. Essa prática se espalhou para os romanos e por outros povos.

Os romanos rebatizaram este período para “sete manhãs”, ou Septmana, em latim.

A origem comum desses nomes e ideias pode ser percebido na proximidade linguística:

Latim
Espanhol
Francês
Saxão
Inglês
Alemão
Solis dies
Domingo
Dimanche
Sun`s Day
Sunday
Sonntag
Lunae dies
Lunes
Lundi
Moon`s Day
Monday
Montag
Martis dies
Martes
Mardi
Tiw`s Day
Tuesday
Dienstag
Mercurie dies
Miercoles
Mercredi
Wonden`s Day
Wednesday
Wittwoch
Jovis dies
Jueves
Jeudi
Thor`s Day
Thurday
Donnestag
Veneris dies
Viernes
Vendredi
Friga`s Day
Friday
Freitag
Saturni dies
Sábado
Samedi
Saterne`s Day
Saturday
Samstag

A ordem é sempre a mesma: dia do Sol, dia da Lua, dia de Mercúrio, dia de Júpiter, dia de Vênus e dia de Saturno.

Na língua portuguesa, os nomes seguiram a tradição da Páscoa. Nos seus primeiros anos, a Páscoa durava uma semana, e era um feriado – “feriaes”, em latim.

A enumeração dos “feriaes” se iniciou pelo sábado, tradição que se iniciou com os hebreus. A origem do nome é “shabbath”, dia de descanso hebreu. O dia seguinte era a “feria-prima”, ou domingo. Depois vinha a “segunda-feriae”. E assim por diante.

Após a sua conversão, o imperador Flávio Constantino substituiu a denominação de Dies Solis – ou feria-prima – para Dominica – Dia do Senhor.  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades...”