Os mercados decidem os preços dos limões. E o fazem com o
mínimo de dados a priori, já que todos sabem escolher bons limões. Não se pode
dizer o mesmo sobre títulos ou, pior, de instrumentos financeiros artificiais.
Consumidores não podem provar o produto, apertá-lo, sentir o cheiro. Eles
avaliam segundo informações externas ou institucionais e em regras bem
definidas, desenhadas e fiscalizadas por autoridades desapaixonadas e
incorruptíveis.
Este era supostamente o papel das agências de crédito e das
agências reguladoras estatais. Quando, por exemplo, uma CDO (Obrigação de Dívida
Garantida), um ativo de papel combinando uma multitude de fatias de muitos
tipos diferentes de dívidas, exibe uma nota triplo A e retorno 1% acima dos
títulos do Tesouro Americano, a importância é dupla: o comprador pode ficar
confiante de que a compra não é uma furada e, se o comprador for um banco, ele
poderia tratar esse pedaço de papel do mesmo modo como trata dinheiro em papel,
moeda, como aquelas com as quais ele comprou o papel. Esse procedimento
garantiu lucros extraordinários.
Os incentivos para adquiri-las eram indecentes: o triplo A
era valorado como o dólar; os bancos os vendiam ao FED e emprestavam a
clientes, a outros bancos ou para comprar mais CDOs.
Não foi à toa que Warren Buffet chamou essas infames CDOs de
Armas de Destruição em Massa. Era a materialização do sonho do caixa eletrônico
no meio da sala.
Esse cenário rendeu poderes sobre-humanos aos profissionais
do setor financeiro, como se fossem feiticeiros pós-modernos, com promessas imbatíveis
e encantadoras de riquezas.
Somando-se a isso, os bancos pagaram as agências para que
estendessem a nota de crédito triplo A às CDOs que eles mesmos emitiam. As autoridades
regulatórias (além dos bancos centrais) ouviram com regozijo, como se kosher
fosse; e os jovens que conseguiram um emprego mau remunerado no setor público,
passaram a sonhar com carreiras em “bancões” como Lehman Brothers ou Moody`s
(ao menos até 2008, no caso do Lehman).
Supervisionar o funcionamento dessa máquina complexa era
tarefa de ex-funcionários do Goldman Sachs, Bear Sterns etc – ou de pessoas que
desejavam profundamente um dia cerrer fileiras por aquelas bandas.
Com o som tilitante das moedas vertendo em seus bolsos
incessantemente em montantes crescentes exponencialmente, não havia um ambiente
propício a alguém perguntar qual era o real fundamento para a nota concedida
pelas agências, ou a razão para crer que aqueles títulos carregavam risco zero
consigo.
O resultado foi uma explosão de recursos que inflou os
preços dos imóveis nas principais cidades do planeta.
Dessa forma, títulos sem real fundamento econômico,
valorados por grandes agências de risco em notas alarmantemente altas, e
inconsistentes, foram coniventes com a inundação do planeta por moedas que
poderiam “evaporar” a qualquer momento.
E foi o que ocorreu: trilhões de dólares deixaram de existir
assim que a inadimplência atingiu um valor relevante.
Desde então, o dinheiro real, isto é, aquele saído dos
tributos extorquidos da população, passou a ser direcionado a bancos e demais
instituições atingidas pela queda vertiginosa de seus Balanços, após perceberem
que grande parte daquele quase-dinheiro em caixa, agora, não valia mais nada.
Mas a culpa é dos refugiados...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “O Minotauro Global”
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