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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

RISCO REGULAT´ÓRIO: COMO CAPTURAR AGÊNCIAS E MANIPULÁ-LAS


Os mercados decidem os preços dos limões. E o fazem com o mínimo de dados a priori, já que todos sabem escolher bons limões. Não se pode dizer o mesmo sobre títulos ou, pior, de instrumentos financeiros artificiais. Consumidores não podem provar o produto, apertá-lo, sentir o cheiro. Eles avaliam segundo informações externas ou institucionais e em regras bem definidas, desenhadas e fiscalizadas por autoridades desapaixonadas e incorruptíveis.

Este era supostamente o papel das agências de crédito e das agências reguladoras estatais. Quando, por exemplo, uma CDO (Obrigação de Dívida Garantida), um ativo de papel combinando uma multitude de fatias de muitos tipos diferentes de dívidas, exibe uma nota triplo A e retorno 1% acima dos títulos do Tesouro Americano, a importância é dupla: o comprador pode ficar confiante de que a compra não é uma furada e, se o comprador for um banco, ele poderia tratar esse pedaço de papel do mesmo modo como trata dinheiro em papel, moeda, como aquelas com as quais ele comprou o papel. Esse procedimento garantiu lucros extraordinários.

Os incentivos para adquiri-las eram indecentes: o triplo A era valorado como o dólar; os bancos os vendiam ao FED e emprestavam a clientes, a outros bancos ou para comprar mais CDOs.

Não foi à toa que Warren Buffet chamou essas infames CDOs de Armas de Destruição em Massa. Era a materialização do sonho do caixa eletrônico no meio da sala.

Esse cenário rendeu poderes sobre-humanos aos profissionais do setor financeiro, como se fossem feiticeiros pós-modernos, com promessas imbatíveis e encantadoras de riquezas.

Somando-se a isso, os bancos pagaram as agências para que estendessem a nota de crédito triplo A às CDOs que eles mesmos emitiam. As autoridades regulatórias (além dos bancos centrais) ouviram com regozijo, como se kosher fosse; e os jovens que conseguiram um emprego mau remunerado no setor público, passaram a sonhar com carreiras em “bancões” como Lehman Brothers ou Moody`s (ao menos até 2008, no caso do Lehman).

Supervisionar o funcionamento dessa máquina complexa era tarefa de ex-funcionários do Goldman Sachs, Bear Sterns etc – ou de pessoas que desejavam profundamente um dia cerrer fileiras por aquelas bandas.
Com o som tilitante das moedas vertendo em seus bolsos incessantemente em montantes crescentes exponencialmente, não havia um ambiente propício a alguém perguntar qual era o real fundamento para a nota concedida pelas agências, ou a razão para crer que aqueles títulos carregavam risco zero consigo.

O resultado foi uma explosão de recursos que inflou os preços dos imóveis nas principais cidades do planeta.

Dessa forma, títulos sem real fundamento econômico, valorados por grandes agências de risco em notas alarmantemente altas, e inconsistentes, foram coniventes com a inundação do planeta por moedas que poderiam “evaporar” a qualquer momento.

E foi o que ocorreu: trilhões de dólares deixaram de existir assim que a inadimplência atingiu um valor relevante.

Desde então, o dinheiro real, isto é, aquele saído dos tributos extorquidos da população, passou a ser direcionado a bancos e demais instituições atingidas pela queda vertiginosa de seus Balanços, após perceberem que grande parte daquele quase-dinheiro em caixa, agora, não valia mais nada.

Mas a culpa é dos refugiados...   


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O Minotauro Global”

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