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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

QUANDO AS CANETAS LUTARAM CONTRA BAIONETAS – A II GUERRA MUNDIAL E A GUERRA DOS LIVROS – PARTE 3


Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha declarou guerra à Polônia. A Grã-Bretanha e a França foram forçadas por meio de um tratado a declarar guerra à Alemanha.

A França e a Grã-Bretanha sabiam que seriam atacadas depois da Polônia, mas a França era mais vulnerável, por razões geográficas.

A Alemanha, então, usou-se de uma arma até então inexplorada como arma de guerra: o rádio. Os alemães contrataram locutores de origem francesa para induzir os ouvintes do país inimigo a sintonizar música popular e programas de rádio bastante atraentes.

Esses radialistas expressavam preocupação quanto à vantagem do Exército e do poder militar alemão e previam que a França não seria capaz de resistir a um ataque inimigo. A dúvida que os programas de rádio incutiam nos franceses se espalhou como rastilho.

O governo francês se decidiu por contra-atacar, emitindo mensagens que inoculassem a propaganda alemã, mas não conseguiu a mesma eficácia.

Após a invasão, a França conseguiu resistir por apenas seis semanas. Usando-se da mesma tática, Hitler derrotou a Polônia, Holanda, Finlândia, Dinamarca, Noruega, Bélgica e Luxemburgo, além da França. Tudo isso em menos de 1 ano. Agora 230 milhões de europeus viviam em países sob o jugo nazista.

Em 17 de junho de 1940, Hitler e o punhado de burocratas que representavam o governo francês assinaram um armistício. Hitler não desejava apenas a derrocada do inimigo, ele queria fazê-lo de maneira dramática, espetaculosa, fazendo remissão à derrota alemã na I Guerra Mundial.

O Fuhrer insistiu em recriar o mesmo cenário do final do conflito anterior, a bordo de um vagão particular do Marechal Ferdinand Foch, na floresta de Compiègne, na França. Este vagão se encontrava, na época, num museu francês. Hitler ordenou que fosse levado ao exato local onde, em 1918, a Alemanha firmava sua derrota.

Após a cerimônia, o vagão e um monumento dedicado à vitória da França em 1918 foram transferidos para um museu, em Berlim.

Após a ocupação de um país, os alemães  adotavam medidas visando a remodelar os conceitos de cultura, história, literatura, artes plásticas, imprensa e entretenimento. O primeiro ataque costumava ocorrer contra as bibliotecas. Foi criado um departamento especializado em confiscar livros e objetos de arte nas novas anexações.

Apenas na Europa Oriental foram queimados estonteantes 375 arquivos, 402 museus, 531 institutos/fundações e 957 bibliotecas. Após a ocupação da França, publicou-se a Liste Bernhard, arrolando 140 livros proibidos. A edição seguinte trazia 1.400 títulos. Diversas bibliotecas foram queimadas. Interessante notar que a biblioteca criada por H. G. Wells foi mantida de pé.

Os analistas concordavam que havia dois tipos de conflitos empreendidos pelos nazistas: conflitos verticais, entre nações; e conflitos horizontais, de matiz ideológico, político, social e econômico. Os inimigos a serem combatidos não eram apenas países, mas a democracia e a liberdade de pensamento. A tudo isso chamou-se Guerra Total.

Percebendo que a entrada dos EUA no conflito seria inevitável, ainda na década de 1930 os nazistas empreenderam a mesma tática de guerra psicológica a bordo das ondas de rádio contra aquele país. Locutores foram convocados dentre expatriados norte-americanos, de modo a tornar o sotaque mais palatável.

Frente a todos esses ataques, uma instituição norte-americana não apenas entendeu a gravidade do que ocorria, como foi uma das primeiras a se pôr contra o inimigo: a American Library Association (ALA). Os bibliotecários da ALA buscavam maneiras de impedir os ataques ideológicos de Hitler.

Após diversas discussões, concluíram que a melhor arma e armadura eram os livros. Ao estimular os norte-americanos a ler, a propaganda radiofônica alemã seria diluída e a queima de livros significaria um contraste marcante. Enquanto Hitler procurava fortalecer o fascismo destruindo a palavra escrita, os bibliotecários encorajavam os norte-americanos a lerem mais.

Em pouco tempo, graças aos bibliotecários norte-americanos, pilhas muito altas de livros se ergueriam nas bibliotecas, lojas de departamento, escolas e cinema não para serem queimados, mas sim doados aos soldados norte-americanos que lutavam em campos de batalha, em todo o mundo. Editaram-se dezenas de milhões de livros sobre os mais diversos assuntos e pontos de vista, especialmente para esses soldados.  

(Continua!)     
  

Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Quando os livros foram à guerra”

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