O ano de 1976 foi histórico na quadra da Escola de Samba
Beija Flor de Nilópolis. A escola tinha como patrono o bicheiro Anísio, que
sonhava ser campeão do carnaval carioca. Até então pequena e conhecida pelos
seus sambas ufanistas, que claramente homenageava o regime militar vigente,
Anísio investiu no seu sonho. Contratou o carnavalesco Joãozinho Trinta e
lançou na avenida o samba “Sonhar com rei dá leão” – clara referência ao jogo
do bicho.
Até aquele ano os carnavais eram dominados pelas assim
chamadas “quatro grandes” – Mangueira, Portela, Império Serrano e Salgueiro.
Anísio deixou o local de apuração dos votos, no Teatro João Caetano, ainda na
metade, após se descontrolar emocionalmente por uma nota baixa. Porém ele
estava destinado a comemorar naquele dia: a Beija Flor venceu o carnaval de
1976, pela primeira vez. Anísio era o novo rei do carnaval.
Nascido Aniz Abraão David, o Anísio era um completo joão-ninguém
até meados da década de 1960. Já em meados de 1970, ele e sua família eram os
“God Father” do município de Nilópolis. Sua escalada em direção à cúpula do
crime e da contravenção recebeu um fôlego extra quando passou a apoiar os
militares e sua ditadura. Anísio contribuiu de diversas formas, seja informando
sobre perseguidos e cassados, seja com a cooptação de agentes e policiais. Vamos
começar do início...
Em 1964, o capitão José Ribamar Zamith, comandante da Vila
Militar do Rio de Janeiro, recebeu ordens expressas e límpidas do presidente
marechal Costa e Silva: “Eu quero a Baixada de cócoras!”
Os alvos identificados eram: infiltração comunista,
representada por cabos e sargentos que quebraram a estrutura hierárquica e
disciplinar nos anos de Jango; poder político local de forte cariz trabalhista,
de herança varguista; corrupção e tráfico de drogas.
Esse ambiente bélico forneceu as bases para a ascensão de
duas famílias: Sessim e Abraão David. A origem dessas duas famílias está na
chegada de dois casais de libaneses ao Rio de Janeiro, na década de 1920: Abraão
e Julia David; Sessim David e Regina Simão.
Estabeleceram-se na Baixada como pequenos comerciantes.
Anísio nasceu em 1937, irmão de mais nove filhos do casal Abraão e Julia.
A primeira geração foi a responsável pelo mergulho de cabeça
na política local. O médico ginecologista e obstreta Jorge Sessim David
elegeu-se deputado pela UDN, em 1962. Jorge e Anísio eram primos. Outro dos
irmãos, o professor Simão Sessim, também UDN, foi prefeito de Nilópolis e
deputado federal por nove mandatos em sequência.
Jorge David foi apoiador de primeira hora do golpe. Delatou
muitas pessoas, especialmente desafetos políticos. Era um grande informante do
SNI. Sede da repressão co foco na Baixada, a Vila Militar franqueava suas
dependências a Jorge. O AI-2 abriu alas para a evolução das famílias David e
Abraão na passarela de Nilópolis.
O sociólogo José Cláudio Souza Alves exemplifica como a
ingerência do regime militar trazia instabilidade política à Baixada
Fluminense. De 1963 e 1969 Nova Iguaçu teve oito prefeitos: dois interventores,
dois presidentes de Câmara, dois prefeitos eleitos e dois vices.
Em fevereiro de 1970, em depoimento na Câmara municipal,
denunciou o prefeito de Nilópolis João Cardoso, adversário político da família,
embora ambos fossem da Arena. A denuncia era acerca de cargos ocupados sem que
o titular, de fato, trabalhasse. Após
expurgos diversos, Simão Sessim assumiria como procurador-geral do município.
Em 1972, finalmente foi eleito prefeito. Miguel Abraão era o presidente da
Câmara.
Jorge David informava enquanto os “turcos” reinavam.
Em meio a essa turbulência, Anísio, jovem que parou de
estudar ainda no primário, ao lado dos irmãos Nelson e David, usaram suas
conexões com policiais e agentes do regime para se apossarem das bancas de jogo
do bicho na região. Sem concorrentes, claro.
Anísio já tinha algumas bancas, que herdara de Seu Ângelo, a
quem auxiliara. Mas o mercado era pulverizado. Diversos banqueiros do bicho
atuavam em diversos bairros, não havendo um chefão que dominasse os demais.
Com o AI-5, o bicho passaria a ser alvo da repressão.
Natalino José do Nascimento, o Natal, e Castor de Andrade, dois nomes que se
destacavam, foram presos. Anísio aproveitou o momento de dificuldades
temporárias porque passavam bicheiros como seu Ângelo e estendeu seus domínios
a toda a região.
Anísio imprimiu então o novo perfil dos donos do bicho:
proteção política e policial e alianças com poderes estadual e nacional, de
forma a manter seus negócios a salvo, embora ilegais. Ele não chegou ao nível
da impunidade – ou inimputabilidade prática -, foi preso algumas vezes, mas
nunca ficava muito tempo atrás das grades.
Nelson, irmão de Anísio, fazia um certo contorcionismo com
as palavras para defender as atividades criminosas do irmão: “Aniz não emprega
marginais; seus empregados são pessoas aposentadas, humildes, aleijados, gente
que precisa fazer alguma coisa para sobreviver dignamente. Acho que o Governo
deveria legalizar o jogo do bicho, pois só assim evitaria o envolvimento de alguns
policiais com a contravenção.”
Como veremos, o próprio SNI emitiu um relatório pelo qual aconselhava
o Governo a regulamentar o jogo do bicho, e uma das preocupações centrais eram
as pessoas empregadas nessa atividade.
O assassinato do bicheiro e presidente do Salgueiro Euclides
Pannar, mais conhecido como China Cabeça Branca, em dezembro de 1975, levou o
delegado Newton Costa, que coordenava os trabalhos de uma comissão especial da
Secretaria de Segurança Pública do Estado do RJ, a iniciar uma investigação
ampla com foco nos bicheiros: Anísio foi investigado e preso, na Academia de
Polícia, ao lado de Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã, presidente
da Portela; de Castor de Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre
Miguel; Ângelo Maria Longa, o Tio Patinhas; e de Luiz Pacheco Drumond, o
Luizinho, presidente da Imperatriz Leopoldinense; dentre outros.
O assassinato de China Cabeça Branca foi provocado por uma
entrevista à imprensa em que denunciava fraude no sorteio dos jogos. Chegou a
elaborar um relatório para o Ministério da Fazenda, em que pedia a
regulamentação do jogo do bicho. Entendia que isso resolveria todos os
problemas relacionados a essa atividade.
China foi morto no bairro do Maracanã, Rio de Janeiro, na
esquina da Avenida Maracanã com a rua Professor Eurico Rabelo, após uma série
de tiros à queima-roupa desferidos contra seu carro.
Torna-se fácil perceber quem são os únicos que repudiam veementemente
a regulamentação do jogo do bicho: os grandes bicheiros.
Anísio mofou na cadeia por longuíssimas... 24 horas! Após as
quais, estava tudo o mais esquecido e enterrado. A vitória da Beija-Flora no
carnaval de 1977 ocorreu 10 dias depois, a segunda da sequência iniciada em
1976. O tema campeão foi: “Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana”. O
carnavalesco responsável, novamente, foi o mítico Joãozinho Trinta.
Anísio e Nelson desfilaram liderando uma carreata, do centro
do Rio ao centro de Nilópolis, numa réplica de um Bugatti. Ouviam-se por toda
parte gritos de “Bi-Jaflor”.
A par de toda a festa e alegria, o império de Anísio se apoiava
nos clássicos pilares da violência, homicídio e perseguição a desafetos
políticos. Essas tarefas eram exercidas por policiais e militares, em geral
atuantes durante os anos de repressão à subversão, agora empregados na
contravenção.
Um desses membros da “guarda pretoriana” de Anísio era um
policial civil, Luiz Cláudio de Azeredo Vianna. Nas ruas de Nilópolis, era mais
comumente conhecido como Doutor Luizinho. Já na macabra Casa da Morte, centro
de tortura de presos políticos localizada em Petrópolis e da qual apenas um preso
saiu com vida, era chamado de Laurindo.
O nome da sobrevivente da Casa da Morte é Inês Etienne
Romeu, militante da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária. Ela identificou o
nome de 16 torturadores atuantes no local em relatório entregue à OAB, em 1979.
“Laurindo” também atuou num caso famoso, de perseguição e
tortura ao ex-pracinha Roberto Emílio Manes. Após uma caçada renhida, por
estradas de terra na região de Nova Iguaçu, Manes, a mulher e oito filhos
conseguiram escapar do país em direção ao Uruguai. Porém dois filhos e a noiva
de um deles foram presos e enviados à masmorra.
Sérgio Manes e Maria Célia foram levados ao DOI, na rua
Barão de Mesquita, e torturados. Maria Célia disse ter escondido que estava
grávida, mas os torturadores descobriram após uma sessão de choques, quando o
feto pulou na barriga, como se quisesse escapar pelo umbigo da mãe. Seu filho
nasceu surdo.
“Laurindo”, ou Dr. Luizinho, ou delegado Luiz passou por
diversos setores, até ocupar um cargo no Dops – Setor Sul. Após o período de
guerra franca contra grupos da esquerda armada, de 1968 a 1974, Luizinho
retornou à rotina de delegacias. Com tempo e prestígio, dedicou-se à ascensão
do amigo bicheiro que o adotara em seu clã. Sua esposa, Amélia Abdala, era
considerada membro da família de chefiada por Anísio.
Em 1978, os serviços de inteligência militar, cujo principal
órgão era o SNI, sabia dessa ligação e a expôs em relatório interno no ano de
1978. Esse ano também viu a consagração da tricampeã Beija-Flor de Nilópolis. O
tema “Criação do mundo na tradição nagô”, do mago do carnaval Joãozinho Trinta,
trouxe novidades excêntricas como um tapete de plumas a recobrir a Marquês de
Sapucaí. O samba foi cantado a plenos pulmões pelo púbico. O final do desfile ocorreu
sob gritos de “É campeã”, vindos da arquibancada.
Com o tricampeonato, a Escola fora absorvida pelo império de
seu patrono, tornando-se ambos quase uma única identidade.
A Beija-Flor do mestre Joãozinho Trinta revolucionou a forma
de fazer um desfile, criando regras que agora eram necessariamente seguidas
pelas demais: alegorias gigantescas, enredos fascinantes. Os desfiles eram
agora acompanhados festivamente por artistas e políticos. Era tudo o que os
bicheiros desejavam: ao lapidar suas imagens de gângsteres com a imagem lúdica
do samba, pretendiam se tornar pessoas aceitas pela sociedade, passando assim a
ser dignos de ocupar espaços até então vetados àqueles tipos reconhecidamente
criminosos.
O caminho mais óbvio e imediato que deveriam abrir era a
política. O controle da administração municipal não era suficiente, e as
eleições que se seguiram ao tricampeonato viram uma enxurrada de dinheiro
desaguando dos bolsos dos bicheiros. Investiram pesado na campanha de Simão
Sessim (Arena), candidato a deputado federal; e Jorge David, a deputado
estadual, também Arena. Não faltaram recursos para amigos também na oposição,
como o delegado Péricles Gonçalves, do MDB chaguista, candidato a deputado
federal.
Péricles era famoso por algumas declarações, como ter sido o
responsável por limpar a Baixada, ou o inaceitável conselho para que seus
homens atirasse “no relógio”, isto é, no coração do perseguido.
Foram todos eleitos.
Doutor Luizinho buscou ocupar espaço em diversas frentes:
filiou-se e foi líder da loja maçônica União Iguassú; tornou-se proprietário de
um haras, em Nova Iguaçu. Este haras foi suspeito de estar relacionado ao
famoso caso do assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten.
Seu filho, cujo apelido era Zabura, era gerente de bicho de
Anísio, na Baixada.
Após sua morte, o prefeito de Nilópolis Farid Abraão David –
irmão de Anísio – batizou uma praça local com seu nome.
Após ser retirado de seu retiro, em um sítio de Nova Iguaçu,
o coronel Paulo Malhães, conhecido como Pablo nos porões da repressão, prestou
um dos depoimentos mais bombásticos na Comissão Nacional da Verdade, no Rio de
Janeiro.
Seu envolvimento na repressão era óbvio e de amplo conhecimento.
Não o era, no entanto, sua ligação com Anísio. Ao ser perguntado, respondeu
apenas que o bicheiro era seu amigo. Não contou, porém, como cuidou de empregar
todas as técnicas macabras dos porões a serviço do amigo contraventor.
“Pablo”, ou coronel Malhães participou na caçada a Manes.
Lá, conheceu “Dr. Luizinho”, o delegado Luiz. Aquele convidara o novo amigo
para os principais “porões” da ditadura. Com o desmantelamento do aparelho
repressivo, o favor foi retribuído, e “Laurindo” acolheu “Pablo” no porão da
contravenção.
O oficial reclamava bastante do Exército, especialmente no
período após ter isso para a reserva, em 1985. Trocou a indiferença do Palácio
Duque de Caxias por um assento na “diretoria” da máfia do bicho.
Após Malhães, o nível de violência empregada pela quadrilha
de Anísio aumentou exponencialmente. A já violenta Baixada ocupada por grupos
de extermínio testemunhava agora Malhães percorrendo ruas de terra, a cavalo,
armado, caçando ladrões, pequenos traficantes, e quem mais entrasse em seu
radar. Vestia a fantasia do justiceiro, era apontado como chefe de milícia.
Reconhecida sua “eficiência”, Anísio apontou Malhães para
que fosse o responsável pela segurança privada das empresas de ônibus de
Nilópolis, como a Nossa Senhora Aparecida. Para tal empreitada, Malhães
convocou mais um amigo dos tempos dos porões: o oficial paraquedista Antônio
Waneir Pinheiro Lima, caseiro da Casa da Morte, torturador e conhecido naqueles
tempos como “Camarão”.
Esse também foi um dos torturadores identificado por Inês,
na Casa da Morte. Ele a violentou na ocasião.
Braço direito de Malhães na empresa de segurança, Camarão entrou
em desentendimento com o amigo após pedir dinheiro emprestado a Anísio, diretamente,
sem antes comunicar Malhães. Camarão pretendia adquirir um posto de gasolina em
Seropédica, Rio de Janeiro. A lógica hierárquica das Forças Armadas ainda impregnava
a personalidade dos neófitos do bicho.
Anísio e Malhães tornaram-se muito amigos, a ponto deste
último ter vestido a famosa fantasia de gari, especialmente confeccionada para
a diretoria da Beija-Flor no Carnaval de 1989, cujo tema do desfile foi o
histórico “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”, mais uma obra surrealista
da lavra de Joãozinho Trinta.
Aquele desfile foi marcado pelas polêmicas, envolvendo até o
Poder Judiciário – obviamente não no sentido de processar os bicheiros.
Joãozinho trabalhou o tema do lixo sendo transformado em luxo; elaborou uma
escultura de Cristo vestido de mendigo (que terminaria desfilando coberto com
um saco preto, após a Justiça proibi-la, a pedido da Igreja Católica, o que,
aliás, tenha proporcionado uma cena ainda mais forte). A campeã naquele ano foi
a Imperatriz Leopoldinense – do bicheiro Luizinho -, legando à Beija-Flor a
segunda colocação.
Mahães não foi um soldado-torturador obscuro nas fileiras de
sociopatas a serviço do regime ditatorial. Recebeu sinceros elogios do general
Milton Tavares, logo após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva; liderou
ações na guerrilha do Araguaia e foi um dos fundadores da Casa da Morte, em
Petrópolis.
No DOI da rua Barão de Mesquita, tornou-se personagem
folclórico após levar uma jibóia e cinco filhotes de jacarés para ajudar nas
sessões de tortura a presos políticos. Uma das missões a ele delegadas, nesse
caso delegada pessoalmente pelo Ministro do Exército Orlando Geisel, foi
providenciar o desaparecimento definitivo do corpo de Rubens Paiva, à época
enterrado nas areias da praia do Recreio dos Bandeirantes. Foi em 1973 e o
corpo foi lançado no mar, segundo alegou inicialmente.
No estado do Paraná, liderou a Operação Medianeira, que
exterminou um grupo de militantes argentinos e brasileiros, da VPR, numa
embiscada. Por essa ação, foi agraciado com a Medalha do Pacificador.
Em março de 2014, em entrevista até então anônima, Malhães
contou o motivo de os militares preferirem usar o desaparecimento de presos
políticos ao simples homicídio: “O desaparecimento é mais importante do que a
morte porque causa incerteza no inimigo. Quando um companheiro morre, o
guerrilheiro lamenta, mas acaba esquecendo. Não é como o desaparecimento, que
gera uma expectativa eterna.”
Após mais de 20 horas de depoimentos sigilosos concedidos à
CEV – Comissão Estadual da Verdade -, Malhães confessou que os corpos das
pessoas assassinadas dentro da Casa da Morte eram jogados em um rio perto de
Itaipava. Afirmou também que o mesmo fora feito com Rubens Paiva.
Malhães de nada se arrependia e alegava que por nada deveria
ser responsabilizado, haja vista estar apenas cumprindo ordens expressas de
seus superiores. Dizia que o uso de eletrochoques, preferidos em relação à
porrada no pau de arara, foi uma evolução, em razão de choques não deixarem marcas
e hematomas posteriores. Explicou também porque abria a barriga das pessoas que
matava, antes de atirá-los ao mar: “É um estudo de anatomia. Todo mundo que
mergulha na água, fica na água, qunado morre tende a subir. Incha e enche de
gás. Então, de qualquer maneira, você tem que abrir a barriga, quer queira,
quer não. É o primeiro princípio. Depois, o resto, é mais fácil. Vai inteiro.
Eu gosto de decapitar, mas é bandido aqui (na Baixada).”
Seguindo em sua lógica brutal, afirmou também que arcadas
dentárias e dedos eram retirados dos corpos antes de serem embrulhados em sacos
pretos e atirados na água. Visava a dificultar a identificação. Não havia exame
de DNA naquele tempo.
Em 25 de abril de 2014, um mês após seu último depoimento à
CNV, Paulo Malhães foi assassinado em seu sítio, em Nova Iguaçu.
Embora aficionado colecionador
de desafetos e inimigos, após as investigações, a hipótese de crime político
foi descartada.
O barracão da Beija-Flor tinha um chefe: Torres. Quem
conhecia sua história evitava fazer comentários. Subtenente da reserva do
Exército, Ariedisse Barbosa Torres também foi apontado como participante no
assassinato do deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971. Foi formalmente
denunciado pelo Ministério Público Militar, em 1987.
Torres também estava envolvido num outro caso: Misaque-Jatobá.
Trata-se do seqüestro e desaparecimento do pintor de paredes Misaque José
Marques e do publicitário Luiz Carlos Jatobá. Suspeita-se de que os homicídios
foram ordenados por Anísio, crendo terem eles roubado jóias da casa do bicheiro,
em Piratininga, Niterói.
Torres e Anísio eram amigos de infância.
Torres, por sua vez, levou o capitão Ronald José Motta
Baptista Leão, o inconfundível Doutor Léo, como era chamado nos porões da
repressão, para as trincheiras de Nilópolis. Após ter sua carreira militar
congelada por acusações de roubo de dinheiro de um aparelho subversivo
estourado, Doutor Léo virou queridinho de Anísio.
Antes disso, doutor Léo tentou extorquir os próprios
militares, após descobrir o paradeiro do corpo de Rubens Paiva, na época ainda
enterrado clandestinamente na praia do Recreio. Nos anos 1980, tentou vender
essa mesma informação para o Jornal do Brasil. Em 2013, finalmente, contou a
verdade publicamente num livro. Declarou que Rubens entrou no DOI pela porta
dos fundos e foi recebido por dois capitães: Freddie Perdigão e Rubens Sampaio.
Meses após, morreria no Hospital Central do Exército.
(Continua!)
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Os porões da contravenção”
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