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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

DO BICHO À MÁFIA: COMO TORTURADORES E BICHEIROS MOLDARAM O CRIME ORGANIZADO NO RIO DE JANEIRO – PARTE 3


O ano de 1976 foi histórico na quadra da Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis. A escola tinha como patrono o bicheiro Anísio, que sonhava ser campeão do carnaval carioca. Até então pequena e conhecida pelos seus sambas ufanistas, que claramente homenageava o regime militar vigente, Anísio investiu no seu sonho. Contratou o carnavalesco Joãozinho Trinta e lançou na avenida o samba “Sonhar com rei dá leão” – clara referência ao jogo do bicho.

Até aquele ano os carnavais eram dominados pelas assim chamadas “quatro grandes” – Mangueira, Portela, Império Serrano e Salgueiro. Anísio deixou o local de apuração dos votos, no Teatro João Caetano, ainda na metade, após se descontrolar emocionalmente por uma nota baixa. Porém ele estava destinado a comemorar naquele dia: a Beija Flor venceu o carnaval de 1976, pela primeira vez. Anísio era o novo rei do carnaval.

Nascido Aniz Abraão David, o Anísio era um completo joão-ninguém até meados da década de 1960. Já em meados de 1970, ele e sua família eram os “God Father” do município de Nilópolis. Sua escalada em direção à cúpula do crime e da contravenção recebeu um fôlego extra quando passou a apoiar os militares e sua ditadura. Anísio contribuiu de diversas formas, seja informando sobre perseguidos e cassados, seja com a cooptação de agentes e policiais. Vamos começar do início...

Em 1964, o capitão José Ribamar Zamith, comandante da Vila Militar do Rio de Janeiro, recebeu ordens expressas e límpidas do presidente marechal Costa e Silva: “Eu quero a Baixada de cócoras!”
Os alvos identificados eram: infiltração comunista, representada por cabos e sargentos que quebraram a estrutura hierárquica e disciplinar nos anos de Jango; poder político local de forte cariz trabalhista, de herança varguista; corrupção e tráfico de drogas.

Esse ambiente bélico forneceu as bases para a ascensão de duas famílias: Sessim e Abraão David. A origem dessas duas famílias está na chegada de dois casais de libaneses ao Rio de Janeiro, na década de 1920: Abraão e Julia David; Sessim David e Regina Simão.

Estabeleceram-se na Baixada como pequenos comerciantes. Anísio nasceu em 1937, irmão de mais nove filhos do casal Abraão e Julia.

A primeira geração foi a responsável pelo mergulho de cabeça na política local. O médico ginecologista e obstreta Jorge Sessim David elegeu-se deputado pela UDN, em 1962. Jorge e Anísio eram primos. Outro dos irmãos, o professor Simão Sessim, também UDN, foi prefeito de Nilópolis e deputado federal por nove mandatos em sequência.

Jorge David foi apoiador de primeira hora do golpe. Delatou muitas pessoas, especialmente desafetos políticos. Era um grande informante do SNI. Sede da repressão co foco na Baixada, a Vila Militar franqueava suas dependências a Jorge. O AI-2 abriu alas para a evolução das famílias David e Abraão na passarela de Nilópolis.

O sociólogo José Cláudio Souza Alves exemplifica como a ingerência do regime militar trazia instabilidade política à Baixada Fluminense. De 1963 e 1969 Nova Iguaçu teve oito prefeitos: dois interventores, dois presidentes de Câmara, dois prefeitos eleitos e dois vices.

Em fevereiro de 1970, em depoimento na Câmara municipal, denunciou o prefeito de Nilópolis João Cardoso, adversário político da família, embora ambos fossem da Arena. A denuncia era acerca de cargos ocupados sem que o titular, de fato, trabalhasse.   Após expurgos diversos, Simão Sessim assumiria como procurador-geral do município. Em 1972, finalmente foi eleito prefeito. Miguel Abraão era o presidente da Câmara.

Jorge David informava enquanto os “turcos” reinavam.

Em meio a essa turbulência, Anísio, jovem que parou de estudar ainda no primário, ao lado dos irmãos Nelson e David, usaram suas conexões com policiais e agentes do regime para se apossarem das bancas de jogo do bicho na região. Sem concorrentes, claro.

Anísio já tinha algumas bancas, que herdara de Seu Ângelo, a quem auxiliara. Mas o mercado era pulverizado. Diversos banqueiros do bicho atuavam em diversos bairros, não havendo um chefão que dominasse os demais.

Com o AI-5, o bicho passaria a ser alvo da repressão. Natalino José do Nascimento, o Natal, e Castor de Andrade, dois nomes que se destacavam, foram presos. Anísio aproveitou o momento de dificuldades temporárias porque passavam bicheiros como seu Ângelo e estendeu seus domínios a toda a região.
Anísio imprimiu então o novo perfil dos donos do bicho: proteção política e policial e alianças com poderes estadual e nacional, de forma a manter seus negócios a salvo, embora ilegais. Ele não chegou ao nível da impunidade – ou inimputabilidade prática -, foi preso algumas vezes, mas nunca ficava muito tempo atrás das grades.

Nelson, irmão de Anísio, fazia um certo contorcionismo com as palavras para defender as atividades criminosas do irmão: “Aniz não emprega marginais; seus empregados são pessoas aposentadas, humildes, aleijados, gente que precisa fazer alguma coisa para sobreviver dignamente. Acho que o Governo deveria legalizar o jogo do bicho, pois só assim evitaria o envolvimento de alguns policiais com a contravenção.”
Como veremos, o próprio SNI emitiu um relatório pelo qual aconselhava o Governo a regulamentar o jogo do bicho, e uma das preocupações centrais eram as pessoas empregadas nessa atividade.

O assassinato do bicheiro e presidente do Salgueiro Euclides Pannar, mais conhecido como China Cabeça Branca, em dezembro de 1975, levou o delegado Newton Costa, que coordenava os trabalhos de uma comissão especial da Secretaria de Segurança Pública do Estado do RJ, a iniciar uma investigação ampla com foco nos bicheiros: Anísio foi investigado e preso, na Academia de Polícia, ao lado de Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã, presidente da Portela; de Castor de Andrade, patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel; Ângelo Maria Longa, o Tio Patinhas; e de Luiz Pacheco Drumond, o Luizinho, presidente da Imperatriz Leopoldinense; dentre outros.   

O assassinato de China Cabeça Branca foi provocado por uma entrevista à imprensa em que denunciava fraude no sorteio dos jogos. Chegou a elaborar um relatório para o Ministério da Fazenda, em que pedia a regulamentação do jogo do bicho. Entendia que isso resolveria todos os problemas relacionados a essa atividade.

China foi morto no bairro do Maracanã, Rio de Janeiro, na esquina da Avenida Maracanã com a rua Professor Eurico Rabelo, após uma série de tiros à queima-roupa desferidos contra seu carro.
Torna-se fácil perceber quem são os únicos que repudiam veementemente a regulamentação do jogo do bicho: os grandes bicheiros.

Anísio mofou na cadeia por longuíssimas... 24 horas! Após as quais, estava tudo o mais esquecido e enterrado. A vitória da Beija-Flora no carnaval de 1977 ocorreu 10 dias depois, a segunda da sequência iniciada em 1976. O tema campeão foi: “Vovó e o Rei da Saturnália na Corte Egipciana”. O carnavalesco responsável, novamente, foi o mítico Joãozinho Trinta.

Anísio e Nelson desfilaram liderando uma carreata, do centro do Rio ao centro de Nilópolis, numa réplica de um Bugatti. Ouviam-se por toda parte gritos de “Bi-Jaflor”.

A par de toda a festa e alegria, o império de Anísio se apoiava nos clássicos pilares da violência, homicídio e perseguição a desafetos políticos. Essas tarefas eram exercidas por policiais e militares, em geral atuantes durante os anos de repressão à subversão, agora empregados na contravenção.

Um desses membros da “guarda pretoriana” de Anísio era um policial civil, Luiz Cláudio de Azeredo Vianna. Nas ruas de Nilópolis, era mais comumente conhecido como Doutor Luizinho. Já na macabra Casa da Morte, centro de tortura de presos políticos localizada em Petrópolis e da qual apenas um preso saiu com vida, era chamado de Laurindo.

O nome da sobrevivente da Casa da Morte é Inês Etienne Romeu, militante da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária. Ela identificou o nome de 16 torturadores atuantes no local em relatório entregue à OAB, em 1979.

“Laurindo” também atuou num caso famoso, de perseguição e tortura ao ex-pracinha Roberto Emílio Manes. Após uma caçada renhida, por estradas de terra na região de Nova Iguaçu, Manes, a mulher e oito filhos conseguiram escapar do país em direção ao Uruguai. Porém dois filhos e a noiva de um deles foram presos e enviados à masmorra.

Sérgio Manes e Maria Célia foram levados ao DOI, na rua Barão de Mesquita, e torturados. Maria Célia disse ter escondido que estava grávida, mas os torturadores descobriram após uma sessão de choques, quando o feto pulou na barriga, como se quisesse escapar pelo umbigo da mãe. Seu filho nasceu surdo.
“Laurindo”, ou Dr. Luizinho, ou delegado Luiz passou por diversos setores, até ocupar um cargo no Dops – Setor Sul. Após o período de guerra franca contra grupos da esquerda armada, de 1968 a 1974, Luizinho retornou à rotina de delegacias. Com tempo e prestígio, dedicou-se à ascensão do amigo bicheiro que o adotara em seu clã. Sua esposa, Amélia Abdala, era considerada membro da família de chefiada por Anísio.
Em 1978, os serviços de inteligência militar, cujo principal órgão era o SNI, sabia dessa ligação e a expôs em relatório interno no ano de 1978. Esse ano também viu a consagração da tricampeã Beija-Flor de Nilópolis. O tema “Criação do mundo na tradição nagô”, do mago do carnaval Joãozinho Trinta, trouxe novidades excêntricas como um tapete de plumas a recobrir a Marquês de Sapucaí. O samba foi cantado a plenos pulmões pelo púbico. O final do desfile ocorreu sob gritos de “É campeã”, vindos da arquibancada.
Com o tricampeonato, a Escola fora absorvida pelo império de seu patrono, tornando-se ambos quase uma única identidade.

A Beija-Flor do mestre Joãozinho Trinta revolucionou a forma de fazer um desfile, criando regras que agora eram necessariamente seguidas pelas demais: alegorias gigantescas, enredos fascinantes. Os desfiles eram agora acompanhados festivamente por artistas e políticos. Era tudo o que os bicheiros desejavam: ao lapidar suas imagens de gângsteres com a imagem lúdica do samba, pretendiam se tornar pessoas aceitas pela sociedade, passando assim a ser dignos de ocupar espaços até então vetados àqueles tipos reconhecidamente criminosos.

O caminho mais óbvio e imediato que deveriam abrir era a política. O controle da administração municipal não era suficiente, e as eleições que se seguiram ao tricampeonato viram uma enxurrada de dinheiro desaguando dos bolsos dos bicheiros. Investiram pesado na campanha de Simão Sessim (Arena), candidato a deputado federal; e Jorge David, a deputado estadual, também Arena. Não faltaram recursos para amigos também na oposição, como o delegado Péricles Gonçalves, do MDB chaguista, candidato a deputado federal.

Péricles era famoso por algumas declarações, como ter sido o responsável por limpar a Baixada, ou o inaceitável conselho para que seus homens atirasse “no relógio”, isto é, no coração do perseguido.
Foram todos eleitos.

Doutor Luizinho buscou ocupar espaço em diversas frentes: filiou-se e foi líder da loja maçônica União Iguassú; tornou-se proprietário de um haras, em Nova Iguaçu. Este haras foi suspeito de estar relacionado ao famoso caso do assassinato do jornalista Alexandre Von Baumgarten.

Seu filho, cujo apelido era Zabura, era gerente de bicho de Anísio, na Baixada.

Após sua morte, o prefeito de Nilópolis Farid Abraão David – irmão de Anísio – batizou uma praça local com seu nome.

Após ser retirado de seu retiro, em um sítio de Nova Iguaçu, o coronel Paulo Malhães, conhecido como Pablo nos porões da repressão, prestou um dos depoimentos mais bombásticos na Comissão Nacional da Verdade, no Rio de Janeiro.

Seu envolvimento na repressão era óbvio e de amplo conhecimento. Não o era, no entanto, sua ligação com Anísio. Ao ser perguntado, respondeu apenas que o bicheiro era seu amigo. Não contou, porém, como cuidou de empregar todas as técnicas macabras dos porões a serviço do amigo contraventor.

“Pablo”, ou coronel Malhães participou na caçada a Manes. Lá, conheceu “Dr. Luizinho”, o delegado Luiz. Aquele convidara o novo amigo para os principais “porões” da ditadura. Com o desmantelamento do aparelho repressivo, o favor foi retribuído, e “Laurindo” acolheu “Pablo” no porão da contravenção.
O oficial reclamava bastante do Exército, especialmente no período após ter isso para a reserva, em 1985. Trocou a indiferença do Palácio Duque de Caxias por um assento na “diretoria” da máfia do bicho.
Após Malhães, o nível de violência empregada pela quadrilha de Anísio aumentou exponencialmente. A já violenta Baixada ocupada por grupos de extermínio testemunhava agora Malhães percorrendo ruas de terra, a cavalo, armado, caçando ladrões, pequenos traficantes, e quem mais entrasse em seu radar. Vestia a fantasia do justiceiro, era apontado como chefe de milícia.

Reconhecida sua “eficiência”, Anísio apontou Malhães para que fosse o responsável pela segurança privada das empresas de ônibus de Nilópolis, como a Nossa Senhora Aparecida. Para tal empreitada, Malhães convocou mais um amigo dos tempos dos porões: o oficial paraquedista Antônio Waneir Pinheiro Lima, caseiro da Casa da Morte, torturador e conhecido naqueles tempos como “Camarão”.

Esse também foi um dos torturadores identificado por Inês, na Casa da Morte. Ele a violentou na ocasião.
Braço direito de Malhães na empresa de segurança, Camarão entrou em desentendimento com o amigo após pedir dinheiro emprestado a Anísio, diretamente, sem antes comunicar Malhães. Camarão pretendia adquirir um posto de gasolina em Seropédica, Rio de Janeiro. A lógica hierárquica das Forças Armadas ainda impregnava a personalidade dos neófitos do bicho.

Anísio e Malhães tornaram-se muito amigos, a ponto deste último ter vestido a famosa fantasia de gari, especialmente confeccionada para a diretoria da Beija-Flor no Carnaval de 1989, cujo tema do desfile foi o histórico “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”, mais uma obra surrealista da lavra de Joãozinho Trinta.
Aquele desfile foi marcado pelas polêmicas, envolvendo até o Poder Judiciário – obviamente não no sentido de processar os bicheiros. Joãozinho trabalhou o tema do lixo sendo transformado em luxo; elaborou uma escultura de Cristo vestido de mendigo (que terminaria desfilando coberto com um saco preto, após a Justiça proibi-la, a pedido da Igreja Católica, o que, aliás, tenha proporcionado uma cena ainda mais forte). A campeã naquele ano foi a Imperatriz Leopoldinense – do bicheiro Luizinho -, legando à Beija-Flor a segunda colocação.

Mahães não foi um soldado-torturador obscuro nas fileiras de sociopatas a serviço do regime ditatorial. Recebeu sinceros elogios do general Milton Tavares, logo após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva; liderou ações na guerrilha do Araguaia e foi um dos fundadores da Casa da Morte, em Petrópolis.
No DOI da rua Barão de Mesquita, tornou-se personagem folclórico após levar uma jibóia e cinco filhotes de jacarés para ajudar nas sessões de tortura a presos políticos. Uma das missões a ele delegadas, nesse caso delegada pessoalmente pelo Ministro do Exército Orlando Geisel, foi providenciar o desaparecimento definitivo do corpo de Rubens Paiva, à época enterrado nas areias da praia do Recreio dos Bandeirantes. Foi em 1973 e o corpo foi lançado no mar, segundo alegou inicialmente.

No estado do Paraná, liderou a Operação Medianeira, que exterminou um grupo de militantes argentinos e brasileiros, da VPR, numa embiscada. Por essa ação, foi agraciado com a Medalha do Pacificador.
Em março de 2014, em entrevista até então anônima, Malhães contou o motivo de os militares preferirem usar o desaparecimento de presos políticos ao simples homicídio: “O desaparecimento é mais importante do que a morte porque causa incerteza no inimigo. Quando um companheiro morre, o guerrilheiro lamenta, mas acaba esquecendo. Não é como o desaparecimento, que gera uma expectativa eterna.”

Após mais de 20 horas de depoimentos sigilosos concedidos à CEV – Comissão Estadual da Verdade -, Malhães confessou que os corpos das pessoas assassinadas dentro da Casa da Morte eram jogados em um rio perto de Itaipava. Afirmou também que o mesmo fora feito com Rubens Paiva.

Malhães de nada se arrependia e alegava que por nada deveria ser responsabilizado, haja vista estar apenas cumprindo ordens expressas de seus superiores. Dizia que o uso de eletrochoques, preferidos em relação à porrada no pau de arara, foi uma evolução, em razão de choques não deixarem marcas e hematomas posteriores. Explicou também porque abria a barriga das pessoas que matava, antes de atirá-los ao mar: “É um estudo de anatomia. Todo mundo que mergulha na água, fica na água, qunado morre tende a subir. Incha e enche de gás. Então, de qualquer maneira, você tem que abrir a barriga, quer queira, quer não. É o primeiro princípio. Depois, o resto, é mais fácil. Vai inteiro. Eu gosto de decapitar, mas é bandido aqui (na Baixada).”

Seguindo em sua lógica brutal, afirmou também que arcadas dentárias e dedos eram retirados dos corpos antes de serem embrulhados em sacos pretos e atirados na água. Visava a dificultar a identificação. Não havia exame de DNA naquele tempo.

Em 25 de abril de 2014, um mês após seu último depoimento à CNV, Paulo Malhães foi assassinado em seu sítio, em Nova Iguaçu.

Embora aficionado colecionador de desafetos e inimigos, após as investigações, a hipótese de crime político foi descartada.

O barracão da Beija-Flor tinha um chefe: Torres. Quem conhecia sua história evitava fazer comentários. Subtenente da reserva do Exército, Ariedisse Barbosa Torres também foi apontado como participante no assassinato do deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971. Foi formalmente denunciado pelo Ministério Público Militar, em 1987.

Torres também estava envolvido num outro caso: Misaque-Jatobá. Trata-se do seqüestro e desaparecimento do pintor de paredes Misaque José Marques e do publicitário Luiz Carlos Jatobá. Suspeita-se de que os homicídios foram ordenados por Anísio, crendo terem eles roubado jóias da casa do bicheiro, em Piratininga, Niterói.

Torres e Anísio eram amigos de infância.

Torres, por sua vez, levou o capitão Ronald José Motta Baptista Leão, o inconfundível Doutor Léo, como era chamado nos porões da repressão, para as trincheiras de Nilópolis. Após ter sua carreira militar congelada por acusações de roubo de dinheiro de um aparelho subversivo estourado, Doutor Léo virou queridinho de Anísio.

Antes disso, doutor Léo tentou extorquir os próprios militares, após descobrir o paradeiro do corpo de Rubens Paiva, na época ainda enterrado clandestinamente na praia do Recreio. Nos anos 1980, tentou vender essa mesma informação para o Jornal do Brasil. Em 2013, finalmente, contou a verdade publicamente num livro. Declarou que Rubens entrou no DOI pela porta dos fundos e foi recebido por dois capitães: Freddie Perdigão e Rubens Sampaio. Meses após, morreria no Hospital Central do Exército.

(Continua!)


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Os porões da contravenção”

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