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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

KEYNESIANISMO MILITAR DO IMPÉRIO ROMANO: COMO AS LEGIÕES ENRIQUECERAM O IMPÉRIO


O Exército romano gastava grande parte do seu dinheiro comprando comida, que era despachado por barcos, a partir de regiões mediterrâneas mais produtivas, em direção às menos produtivas, localizadas nas fronteiras, onde se perfilavam as tropas.

Esse intercâmbio garantia maiores lucros aos comerciantes que enviavam as mercadorias, que eram taxadas em valores superiores, o que rendia mais recursos, que seriam gastos pelo exército. E assim era gerado o círculo virtuoso que girava as rodas da fortuna.

O volume era sempre crescente, o que exigia embarcações cada vez maiores, que reduziam os custos unitários do frete. A atividade comercial crescente empurrou mais pessoas em direção às cidades, locais estes destinatários de grande parte das despesas do Império não relacionadas ao Exército.

Nos primeiros séculos da Era Cristã, Roma contava com mais de 1 milhão de habitantes – naqueles anos, a maior cidade do mundo e cuja população é muito superior à de Roma atualmente.

As grandes cidades do período eram amontoados de gente, fedidos e barulhentos, porém pomposas, centros de poder, regalos festivos de aristocratas, tinham prédios de mármore reluzente e muito mais. Exigiam-se, portanto, mais mão de obra, mais comida, mais tijolos, pregos, vinho, pão. Para fazer frente a essas despesas, mais impostos, mais comércio e mais crescimento econômico.

O impacto econômico foi notável. Nos primeiros séculos do império, estima-se que o consumo per capita aumentou cerca de 50%. Como não havia políticas distributivas, o enriquecimento foi maior nas classes superiores.

As complexidades decorrentes do crescimento, as dores do parto, levaram à criação de soluções inovadoras: a liberdade dos coletores de impostos foi tolhida, pois não se desejava a cobrança de valores tão extorsivos que pudesse empobrecer os contribuintes a ponto de estes não mais poderem contribuir futuramente; os moradores mais produtivos não poderiam ter problemas nutricionais, o que levou à construção de abrigos e à distribuição gratuita de alimentos. Tudo isso levou à construção de uma sociedade mais rica e segura.

Mais uma vez, o paradoxo da guerra se fez presente. Homens violentos construíram reinos, mas tiveram de se tornar administradores, para que pudessem governá-los.

Júlio César, por exemplo, o autor da famosa frase “Veni, vidi, vici”, depois de vencer diversas batalhas, tornou-se icônico por adotar o calendário Juliano, ainda hoje em pleno uso.

O impacto da estrutura administrativa pode ser testemunhada ainda hoje em lápides, onde homens registraram, orgulhosamente, os cargos e honrarias com que foram agraciados em vida. Conselheiros, coletores de impostos, altos postos burocráticos, vê-se de tudo.

Um bem sucedido norte africano, que começara sua vida na lida do campo, assim deixou anotado: “Eu, até mesmo eu, fui acolhido entre os senadores da cidade, que me permitiram tomar assento nessa instituição... Passei os anos sendo reconhecido pelos méritos da minha carreira – anos que as más-línguas nunca conseguiram ferir com uma acusação... E assim mereci morrer da forma que vivi, honestamente.”

E suas palavras ainda ressoam pelas bandas daqui...
    

Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.   

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