O Exército romano gastava grande parte do seu dinheiro
comprando comida, que era despachado por barcos, a partir de regiões
mediterrâneas mais produtivas, em direção às menos produtivas, localizadas nas
fronteiras, onde se perfilavam as tropas.
Esse intercâmbio garantia maiores lucros aos comerciantes
que enviavam as mercadorias, que eram taxadas em valores superiores, o que
rendia mais recursos, que seriam gastos pelo exército. E assim era gerado o
círculo virtuoso que girava as rodas da fortuna.
O volume era sempre crescente, o que exigia embarcações cada
vez maiores, que reduziam os custos unitários do frete. A atividade comercial
crescente empurrou mais pessoas em direção às cidades, locais estes
destinatários de grande parte das despesas do Império não relacionadas ao
Exército.
Nos primeiros séculos da Era Cristã, Roma contava com mais
de 1 milhão de habitantes – naqueles anos, a maior cidade do mundo e cuja
população é muito superior à de Roma atualmente.
As grandes cidades do período eram amontoados de gente,
fedidos e barulhentos, porém pomposas, centros de poder, regalos festivos de
aristocratas, tinham prédios de mármore reluzente e muito mais. Exigiam-se,
portanto, mais mão de obra, mais comida, mais tijolos, pregos, vinho, pão. Para
fazer frente a essas despesas, mais impostos, mais comércio e mais crescimento
econômico.
O impacto econômico foi notável. Nos primeiros séculos do
império, estima-se que o consumo per capita aumentou cerca de 50%. Como não
havia políticas distributivas, o enriquecimento foi maior nas classes
superiores.
As complexidades decorrentes do crescimento, as dores do
parto, levaram à criação de soluções inovadoras: a liberdade dos coletores de
impostos foi tolhida, pois não se desejava a cobrança de valores tão extorsivos
que pudesse empobrecer os contribuintes a ponto de estes não mais poderem
contribuir futuramente; os moradores mais produtivos não poderiam ter problemas
nutricionais, o que levou à construção de abrigos e à distribuição gratuita de
alimentos. Tudo isso levou à construção de uma sociedade mais rica e segura.
Mais uma vez, o paradoxo da guerra se fez presente. Homens
violentos construíram reinos, mas tiveram de se tornar administradores, para
que pudessem governá-los.
Júlio César, por exemplo, o autor da famosa frase “Veni, vidi,
vici”, depois de vencer diversas batalhas, tornou-se icônico por adotar o
calendário Juliano, ainda hoje em pleno uso.
O impacto da estrutura administrativa pode ser testemunhada
ainda hoje em lápides, onde homens registraram, orgulhosamente, os cargos e
honrarias com que foram agraciados em vida. Conselheiros, coletores de
impostos, altos postos burocráticos, vê-se de tudo.
Um bem sucedido norte africano, que começara sua vida na
lida do campo, assim deixou anotado: “Eu, até mesmo eu, fui acolhido entre os senadores
da cidade, que me permitiram tomar assento nessa instituição... Passei os anos
sendo reconhecido pelos méritos da minha carreira – anos que as más-línguas
nunca conseguiram ferir com uma acusação... E assim mereci morrer da forma que
vivi, honestamente.”
E suas palavras ainda ressoam pelas bandas daqui...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a
humanidade”.
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