Até meados de 1940, a grande maioria dos norte-americanos
era contra a entrada do país na II Guerra Mundial (apenas 7% se diziam a favor
da entrada imediata, contra a Alemanha). Apesar disso, grandes jornais, como
The New York Times, endossavam o discurso de que o país deveria adotar
imediatamente um sistema nacional de treinamento militar obrigatório.
O Exército norte-americano possuía apenas 174 mil soldados.
O serviço militar obrigatório se fazia premente.
Em setembro de 1940 o Congresso fez passar a Lei de
Treinamento e Serviço Seletivo. Cerca de 16,5 milhões de homens entre 21 e 35
anos eram obrigados a se alistar para o serviço militar. Mas a convocação, com
alterações posteriores, alcançou homens com 50 anos de idade.
Surpreendentemente, Roosevelt não sofreu problemas na sua campanha
pela reeleição.
Hitler, há muito, considerava os EUA inimigo. Esperava até
um enfrentamento franco entre os dois exércitos.
Em dezembro de 1940, num discurso proferido numa fábrica
bélica, Hitler se referiu a EUA, Grã Bretanha e França com os “ricos”; enquanto
a Alemanha seria o “pobre”.
A dimensão que alcançou a preparação norte-americana, com
cronograma apertadíssimo e ausência de estrutura prévia, foi monumental.
Construíram-se campos de treinamento em todo o país.
Apenas a construção dos acampamentos exigiu 400 mil
operários, 908 mil galões de tinta, 3.500 carregamentos de pregos e quase 1
milhão de metros quadrados de placas de gesso para paredes.
A intendência do Exército planejava fornecer aos soldados de
infantaria “um uniforme de campo, com capacete de aço, camisa, calça,
perneiras, sapatos, cuecas e, dependendo do clima, capa de chuva ou casaco e
sobretudo; um bornal para o kit refeição; copo e cantil; estojo de primeiros
socorros; mochila contendo cobertor, barraca de abrigo, estacas, alfinetes,
artigos de banho e máscaras contra gases; pá para cavar trincheiras;
mantimentos de reserva; arma e munição.” Uma revista ironizou: “cerca de 85
dólares em roupas, mas sem pijamas.”
Após o treinamento-relâmpago a que os soldados eram
submetidos, quando havia munição disponível, os soldados realizavam exames escritos.
O treinamento milityar era exaustivo física e intelectualmente.
Rapidamente tornou-se claro que a transição da vida civil
para a militar não seria fácil. Embora jornais e revistas se esforçassem para estimular
os jovens a se submeterem àquele sacrifício, a realidade era que os homens se
sentiam isolados e se sentiam infelizes, melancólicos.
Os comandantes militares sabiam que era fundamental treinar
o moral e a garantir a mínima qualidade de vida possível aos seus homens. A
resposta estava no entretenimento. Passaram então a instalar mesas de bilhar,
baralhos e jogos, instrumentos musicais, bibliotecas e um cinema para 200
espectadores nos centros de treinamento mais recentes, em total contraste com
os primeiros campos construídos.
No entanto esses equipamentos eram muito caros. Era
necessário achar um bom meio de distrair os homens após as sessões exaustivas
de treinos, mas que fosse possível sua extensão aos demais centros. Era
necessário recreação simples, popular e barata. Precisavam, portanto, de livros.
(Continua!)
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Quando os livros foram à guerra”
Nenhum comentário:
Postar um comentário