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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

QUANDO AS CANETAS LUTARAM CONTRA BAIONETAS – A II GUERRA MUNDIAL E A GUERRA DOS LIVROS – PARTE 4


Até meados de 1940, a grande maioria dos norte-americanos era contra a entrada do país na II Guerra Mundial (apenas 7% se diziam a favor da entrada imediata, contra a Alemanha). Apesar disso, grandes jornais, como The New York Times, endossavam o discurso de que o país deveria adotar imediatamente um sistema nacional de treinamento militar obrigatório.

O Exército norte-americano possuía apenas 174 mil soldados. O serviço militar obrigatório se fazia premente.

Em setembro de 1940 o Congresso fez passar a Lei de Treinamento e Serviço Seletivo. Cerca de 16,5 milhões de homens entre 21 e 35 anos eram obrigados a se alistar para o serviço militar. Mas a convocação, com alterações posteriores, alcançou homens com 50 anos de idade.

Surpreendentemente, Roosevelt não sofreu problemas na sua campanha pela reeleição.

Hitler, há muito, considerava os EUA inimigo. Esperava até um enfrentamento franco entre os dois exércitos.
Em dezembro de 1940, num discurso proferido numa fábrica bélica, Hitler se referiu a EUA, Grã Bretanha e França com os “ricos”; enquanto a Alemanha seria o “pobre”.

A dimensão que alcançou a preparação norte-americana, com cronograma apertadíssimo e ausência de estrutura prévia, foi monumental. Construíram-se campos de treinamento em todo o país.

Apenas a construção dos acampamentos exigiu 400 mil operários, 908 mil galões de tinta, 3.500 carregamentos de pregos e quase 1 milhão de metros quadrados de placas de gesso para paredes.

A intendência do Exército planejava fornecer aos soldados de infantaria “um uniforme de campo, com capacete de aço, camisa, calça, perneiras, sapatos, cuecas e, dependendo do clima, capa de chuva ou casaco e sobretudo; um bornal para o kit refeição; copo e cantil; estojo de primeiros socorros; mochila contendo cobertor, barraca de abrigo, estacas, alfinetes, artigos de banho e máscaras contra gases; pá para cavar trincheiras; mantimentos de reserva; arma e munição.” Uma revista ironizou: “cerca de 85 dólares em roupas, mas sem pijamas.”

Após o treinamento-relâmpago a que os soldados eram submetidos, quando havia munição disponível, os soldados realizavam exames escritos. O treinamento milityar era exaustivo física e intelectualmente.
Rapidamente tornou-se claro que a transição da vida civil para a militar não seria fácil. Embora jornais e revistas se esforçassem para estimular os jovens a se submeterem àquele sacrifício, a realidade era que os homens se sentiam isolados e se sentiam infelizes, melancólicos.

Os comandantes militares sabiam que era fundamental treinar o moral e a garantir a mínima qualidade de vida possível aos seus homens. A resposta estava no entretenimento. Passaram então a instalar mesas de bilhar, baralhos e jogos, instrumentos musicais, bibliotecas e um cinema para 200 espectadores nos centros de treinamento mais recentes, em total contraste com os primeiros campos construídos.

No entanto esses equipamentos eram muito caros. Era necessário achar um bom meio de distrair os homens após as sessões exaustivas de treinos, mas que fosse possível sua extensão aos demais centros. Era necessário recreação simples, popular e barata. Precisavam, portanto, de livros.

(Continua!)


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Quando os livros foram à guerra”

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