Após Napoleon Chagnon se formar em Ann Arbor, Michigan,
embarcou ansiosamente em direção à Floresta Amazônica, na fronteira entre o Brasil
e a Venezuela. Era 1964, e ele esperava encontrar e estudar os Ianomâmi vivendo
no estado preditado por Rousseau: selvagens de bom coração e alma desprovida
das maldades que os homens infundem nas pessoas.
No entanto, suas palavras revelam um testemunho mais próximo
do terror: “A excitação de encontrar meu primeiro Ianomâmi foi quase
insuportável, conforme eu saracoteava como um pato pela passagem baixa,
adentrando a clareira da aldeia.”
Evidentemente sua reação imediata foi querer retornar a casa
e tentar se recuperar do susto. Mas ele ficou, e após mais 25 visitas, ao longo
de 30 anos, pôde descrever melhor aquele povo até então isolado. Assim ele
expôs: “um bom número de incidentes que expressavam uma índole individual
vingativa de um lado e uma belicosidade coletiva de outro... desde incidentes
corriqueiros de bater na mulher e esmurrar o peito até os duelos e ataques
organizados ... com a intenção de emboscar e matar homens de aldeias inimigas.”
Chagnon estimou que um quarto dos ianomâmis morriam de forma
violenta e que 20% participavam de pelo menos um homicídio durante suas vidas.
E mais: os homens que matavam geravam em média 3 vezes mais filhos do que os
que os demais.
Evidentemente não correspondiam ao estereótipo de selvagens
ocupados no seu dia a dia matando e massacrando outras pessoas. Sabe-se que
mesmo as culturas mais ferozes convivem com laços de parentesco, viviam rituais
de trocas de presentes e celebrações. Inclusive era assim, pacificamente, que
resolviam grande parte dos conflitos surgidos. Mas o sangue ainda era o sangue
o argumento mais forte na maioria dos conflitos.
Em 2008, o cientista Jared Diamond passou por uma
experiência perturbadora, que ilustre bem as questões culturais que permeiam
certos grupos humanos. Em uma viagem, realizando trabalhos de campo na Nova
Guiné, ouviu, espantado, um relato de seu motorista, sobre sua participação em
uma onda de massacres que durou 3 anos e vitimou mais de 30 pessoas.
Após revelar esse fato, o citado motorista abriu um processo
contra Diamond, pedindo 10 milhões de dólares em indenização. O processo foi
arquivado.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a
humanidade”.
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