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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

OS ÍNDIOS IANOMÂMI E A IMAGEM DISTORCIDA DO BOM SELVAGEM


Após Napoleon Chagnon se formar em Ann Arbor, Michigan, embarcou ansiosamente em direção à Floresta Amazônica, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Era 1964, e ele esperava encontrar e estudar os Ianomâmi vivendo no estado preditado por Rousseau: selvagens de bom coração e alma desprovida das maldades que os homens infundem nas pessoas.

No entanto, suas palavras revelam um testemunho mais próximo do terror: “A excitação de encontrar meu primeiro Ianomâmi foi quase insuportável, conforme eu saracoteava como um pato pela passagem baixa, adentrando a clareira da aldeia.”

Evidentemente sua reação imediata foi querer retornar a casa e tentar se recuperar do susto. Mas ele ficou, e após mais 25 visitas, ao longo de 30 anos, pôde descrever melhor aquele povo até então isolado. Assim ele expôs: “um bom número de incidentes que expressavam uma índole individual vingativa de um lado e uma belicosidade coletiva de outro... desde incidentes corriqueiros de bater na mulher e esmurrar o peito até os duelos e ataques organizados ... com a intenção de emboscar e matar homens de aldeias inimigas.”

Chagnon estimou que um quarto dos ianomâmis morriam de forma violenta e que 20% participavam de pelo menos um homicídio durante suas vidas. E mais: os homens que matavam geravam em média 3 vezes mais filhos do que os que os demais.

Evidentemente não correspondiam ao estereótipo de selvagens ocupados no seu dia a dia matando e massacrando outras pessoas. Sabe-se que mesmo as culturas mais ferozes convivem com laços de parentesco, viviam rituais de trocas de presentes e celebrações. Inclusive era assim, pacificamente, que resolviam grande parte dos conflitos surgidos. Mas o sangue ainda era o sangue o argumento mais forte na maioria dos conflitos.

Em 2008, o cientista Jared Diamond passou por uma experiência perturbadora, que ilustre bem as questões culturais que permeiam certos grupos humanos. Em uma viagem, realizando trabalhos de campo na Nova Guiné, ouviu, espantado, um relato de seu motorista, sobre sua participação em uma onda de massacres que durou 3 anos e vitimou mais de 30 pessoas.

Após revelar esse fato, o citado motorista abriu um processo contra Diamond, pedindo 10 milhões de dólares em indenização. O processo foi arquivado.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.   

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