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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A MATEMÁTICA DOS DERIVATIVOS TÓXICOS


Em 1997, o Prêmio Nobel de Economia foi concedido a Robert Merton e Myron Scholes pelo desenvolvimento de “uma fórmula pioneira para avaliação de opções de ações”. “Sua metodologia”, anunciou o comitê na conferência de imprensa, “pavimentou o caminho para avaliações econômicas em muitas áreas. Isso gerou novos tipos de instrumentos financeiros e facilitou o gerenciamento de riscos de maneira mais eficiente, pela sociedade.”

Se o infeliz comitê soubesse que, em poucos meses, a trompeteada “fórmula pioneira” iria provocar uma débâcle espetacular multi-bilionária, o colapso de um enorme fundo de hedge (o LTCM, nos quais Merton e Scholes haviam apostado seus recursos) e, naturalmente, um empréstimo dos confiáveis contribuintes americanos.

A causa verdadeira da falência do LTCM, que provou ser apenas um teste prévio da Crise de 2008, era bem simples: investimentos volumosos que se fiavam na condição não comprovada de que alguém poderia estimar a probabilidade de que eventos que são denunciados por seus próprios modelos não apenas como improváveis, mas, de fato, não teorizáveis.

Adotar a lógica incoerente de outrem é muito ruim. Mas apostar fortunas de todo o mundo em tais teorias é algo próximo de um ato criminoso. Então, como os economistas lidam com isso?  Como se convence o mundo, e o comitê do Prêmio Nobel, de que eles podem estimar a probabilidade de eventos (tais como o tamanho da inadimplência dos devedores), quando seu próprio modelo diz que são inestimáveis?

A resposta habita mais o campo da psicologia do que o da economia: economistas renomearam a ignorância e a negociaram com sucesso como “uma forma de conhecimento temporário”. Os financistas então construíram novas formas de dívidas sobre essa ignorância rebatizada e erigiram pirâmides assumindo que o risco foi removido. Quanto mais investidores eram convencidos, mais dinheiro as pessoas envolvidas faziam e melhores posicionados estariam os economistas para calarem vozes discordantes.    

Copiando a estratégia dos financistas de disfarçar “ignorância” como “conhecimento temporário” e “incerteza” como “risco sem risco”, os economistas renomearam o desemprego inexplicado (por exemplo, uma taxa de 5% que se recusa a cair) como “taxa natural de desemprego”. De repente, o desemprego parecia natural, portanto não necessitava de explicação.

O esquema de trabalho desenvolvido pelos economistas, era portanto: sempre que não conseguiam explicar desvios observados no comportamento das pessoas, diferente do que previram, eles ou rotulavam tais comportamentos como “fora de equilíbrio”, e então assumiam que eram aleatórios e seriam melhor explicados dessa forma.

Quando os desvios eram pequenos os modelos funcionavam e os financistas faziam fortunas. Mas, quando o pânico se instalou, e a corrida bancária se iniciou, os “desvios” se provaram ser qualquer coisa, menos aleatórios. Naturalmente, os modelos derreteram, assim como os mercados que ajudaram a criar.

Qualquer pessoa honesta que se debruce sobre o episódio deve, crê-se, concluir que as teorias econômicas que dominaram o pensamento de pessoas influentes (no setor bancário, nos fundos de hedge, o FED, o Banco Central Europeu, e muitos outros) eram nada mais que formas veladas de fraude intelectual, as quais proveram sombras de alguma base científica, atrás das quais Wall Street  tentou esconder a verdade sobre suas “inovações” financeiras.

Surgiam com nomes marcantes, como Efficient Market Hypothesis, Rational Expectations Hypothesis e Real Business Cycle Theory.

Percebeu-se com o tempo que a longa duração de tais entulhos reinando no pensamento econômico se deveu apenas à sua complexidade matemática quase indecifrável. E isso escondia sua fraqueza científica.      


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “O Minotauro Global”

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