Em 1997, o Prêmio Nobel de Economia foi concedido a Robert
Merton e Myron Scholes pelo desenvolvimento de “uma fórmula pioneira para
avaliação de opções de ações”. “Sua metodologia”, anunciou o comitê na
conferência de imprensa, “pavimentou o caminho para avaliações econômicas em
muitas áreas. Isso gerou novos tipos de instrumentos financeiros e facilitou o
gerenciamento de riscos de maneira mais eficiente, pela sociedade.”
Se o infeliz comitê soubesse que, em poucos meses, a
trompeteada “fórmula pioneira” iria provocar uma débâcle espetacular
multi-bilionária, o colapso de um enorme fundo de hedge (o LTCM, nos quais
Merton e Scholes haviam apostado seus recursos) e, naturalmente, um empréstimo
dos confiáveis contribuintes americanos.
A causa verdadeira da falência do LTCM, que provou ser
apenas um teste prévio da Crise de 2008, era bem simples: investimentos
volumosos que se fiavam na condição não comprovada de que alguém poderia
estimar a probabilidade de que eventos que são denunciados por seus próprios
modelos não apenas como improváveis, mas, de fato, não teorizáveis.
Adotar a lógica incoerente de outrem é muito ruim. Mas
apostar fortunas de todo o mundo em tais teorias é algo próximo de um ato
criminoso. Então, como os economistas lidam com isso? Como se convence o mundo, e o comitê do
Prêmio Nobel, de que eles podem estimar a probabilidade de eventos (tais como o
tamanho da inadimplência dos devedores), quando seu próprio modelo diz que são
inestimáveis?
A resposta habita mais o campo da psicologia do que o da
economia: economistas renomearam a ignorância e a negociaram com sucesso como “uma
forma de conhecimento temporário”. Os financistas então construíram novas
formas de dívidas sobre essa ignorância rebatizada e erigiram pirâmides
assumindo que o risco foi removido. Quanto mais investidores eram convencidos,
mais dinheiro as pessoas envolvidas faziam e melhores posicionados estariam os
economistas para calarem vozes discordantes.
Copiando a estratégia dos financistas de disfarçar “ignorância”
como “conhecimento temporário” e “incerteza” como “risco sem risco”, os
economistas renomearam o desemprego inexplicado (por exemplo, uma taxa de 5%
que se recusa a cair) como “taxa natural de desemprego”. De repente, o desemprego
parecia natural, portanto não necessitava de explicação.
O esquema de trabalho desenvolvido pelos economistas, era portanto:
sempre que não conseguiam explicar desvios observados no comportamento das
pessoas, diferente do que previram, eles ou rotulavam tais comportamentos como “fora
de equilíbrio”, e então assumiam que eram aleatórios e seriam melhor explicados
dessa forma.
Quando os desvios eram pequenos os modelos funcionavam e os
financistas faziam fortunas. Mas, quando o pânico se instalou, e a corrida
bancária se iniciou, os “desvios” se provaram ser qualquer coisa, menos
aleatórios. Naturalmente, os modelos derreteram, assim como os mercados que
ajudaram a criar.
Qualquer pessoa honesta que se debruce sobre o episódio
deve, crê-se, concluir que as teorias econômicas que dominaram o pensamento de
pessoas influentes (no setor bancário, nos fundos de hedge, o FED, o Banco
Central Europeu, e muitos outros) eram nada mais que formas veladas de fraude
intelectual, as quais proveram sombras de alguma base científica, atrás das quais
Wall Street tentou esconder a verdade
sobre suas “inovações” financeiras.
Surgiam com nomes marcantes, como Efficient Market
Hypothesis, Rational Expectations Hypothesis e Real Business Cycle Theory.
Percebeu-se com o tempo que a longa duração de tais entulhos
reinando no pensamento econômico se deveu apenas à sua complexidade matemática
quase indecifrável. E isso escondia sua fraqueza científica.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “O Minotauro Global”
Nenhum comentário:
Postar um comentário