Em razão dos conflitos anteriores nos quais tomou parte,
especialmente a I GM, o Exército norte-americano criou, em 1921, o Army Library
Service (Serviço de Biblioteca do Exército), responsável por 228 bibliotecas
então existentes em instalações militares. Eles buscavam a melhor forma de
distribuir publicações aos soldados em campo de batalha ou em treinamento.
Conforme o coronel Edward Munson, chefe do Departamento do
Moral do Exército na época, os livros eram considerados não só “um meio valioso
de recreação e um agente fundamental de educação e instrução”, além de “canal
para a melhora do caráter e do comportamento”. A guerra era “mais um choque de
vontades do que de armas”. Por meio dos livros, os soldados fortaleceriam suas
mentes.
Contudo, o Army Library Service foi extinto após alguns anos
de sua criação. Os livros foram distribuídos a bibliotecas públicas. Por
conseguinte, em 1940, com a preparação para entrada no conflito, quase não
havia títulos que pudessem atrair a atenção dos soldados. Assim, deu-se início
a uma operação de proporções hercúleas para renovar e aumentar exponencialmente
o acervo de livros direcionados soldados.
Bibliotecários em todo o país abriram centros de
recolhimento de livros doados pela população. Eram solicitados livros de
ficção, histórias em quadrinhos, humor, contos, livros didáticos e obras técnicas.
Conforme Althea Warren, a bibliotecária que comandou as
maiores operações de doação de livros: “A partir de suas próprias experiências,
os bibliotecários sabem que algumas páginas impressas são emplastros para tirar
a dor, outras são passagens para aventuras emocionantes para turistas
entediados ou solitários, e outras ainda são diplomas para conseguir promoções
e sondar idéias rapidamente.”
Para estimular a solidariedade nos norte-americanos, foram
espalhados 20 mil cartazes em trens, passagens de ônibus traziam mensagens
nesse sentido, espaços para recolhimento foram instalados em supermercados etc.
Quando a campanha estava nos eu auge, o Japão desferiu seu
ataque a Pearl Harbor, em dezembro de 1941. O Congresso declarou guerra
imediatamente ao Japão. Em razão dos compromissos inerentes ao Eixo, a Alemanha
se viu obrigada a declarar guerra contra os EUA.
Após esses eventos, muitos norte-americanos se perguntavam,
confusos, por que deveriam combater a Alemanha se fora o Japão quem atacou o
território dos EUA. Os bibliotecários entenderam a missão que tinham:
distribuir livros que esclarecessem os motivos do conflito que agora lutavam.
Quando das campanhas de recolhimento de livros, diversos
artistas foram convocados para dar mais visibilidade ao evento. Artistas como
Benny Goldman, Kate Smith, Raymond Massey, Wendell Willkie, Katharine Hepburn,
Chico Marx e Kitty Carlisle se fizeram presentes.
Conforme observou o escritor Cristopher Morley, a Alemanha
atacou com a publicação de Mein Kampf e as fogueiras de livros. Mas os
norte-americanos poderiam utilizar livros também em seu benefício, difundindo
as idéias abordadas entre a capa e a contracapa. “As guerras são ganhas na
mente antes de poderem ser ganhas no campo de batalha”, afirmou o escritor.
Um dos obstáculos enfrentados era o formato dos livros. Até
1940, os livros eram geralmente grandes, de capa dura. Era um desafio convencer
um soldado carregando uma mochila extremamente pesada, além de fuzil e munição,
a enfiar um romance pesado lá dentro.
Essa dificuldade levou as editoras a investir pesadamente em
livros de bolso. O próprio mercado editorial renasceu após as campanhas de
doações de livros para o front. Os livros de bolso foram os grandes responsáveis
por isso, além de terem viabilizado o descanso e o conforto mental tão
necessários aos soldados em campanha.
A meta da campanha de doação era ambiciosa: superar o acervo
das maiores bibliotecas das cinco maiores cidades do mundo.
Milhões de livros foram doados e todas as metas, superadas largamente.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Quando os livros foram à guerra”
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