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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

QUANDO AS CANETAS LUTARAM CONTRA BAIONETAS – A II GUERRA MUNDIAL E A GUERRA DOS LIVROS – PARTE 5


Em razão dos conflitos anteriores nos quais tomou parte, especialmente a I GM, o Exército norte-americano criou, em 1921, o Army Library Service (Serviço de Biblioteca do Exército), responsável por 228 bibliotecas então existentes em instalações militares. Eles buscavam a melhor forma de distribuir publicações aos soldados em campo de batalha ou em treinamento.

Conforme o coronel Edward Munson, chefe do Departamento do Moral do Exército na época, os livros eram considerados não só “um meio valioso de recreação e um agente fundamental de educação e instrução”, além de “canal para a melhora do caráter e do comportamento”. A guerra era “mais um choque de vontades do que de armas”. Por meio dos livros, os soldados fortaleceriam suas mentes.

Contudo, o Army Library Service foi extinto após alguns anos de sua criação. Os livros foram distribuídos a bibliotecas públicas. Por conseguinte, em 1940, com a preparação para entrada no conflito, quase não havia títulos que pudessem atrair a atenção dos soldados. Assim, deu-se início a uma operação de proporções hercúleas para renovar e aumentar exponencialmente o acervo de livros direcionados soldados.

Bibliotecários em todo o país abriram centros de recolhimento de livros doados pela população. Eram solicitados livros de ficção, histórias em quadrinhos, humor, contos, livros didáticos e obras técnicas.

Conforme Althea Warren, a bibliotecária que comandou as maiores operações de doação de livros: “A partir de suas próprias experiências, os bibliotecários sabem que algumas páginas impressas são emplastros para tirar a dor, outras são passagens para aventuras emocionantes para turistas entediados ou solitários, e outras ainda são diplomas para conseguir promoções e sondar idéias rapidamente.”

Para estimular a solidariedade nos norte-americanos, foram espalhados 20 mil cartazes em trens, passagens de ônibus traziam mensagens nesse sentido, espaços para recolhimento foram instalados em supermercados etc.

Quando a campanha estava nos eu auge, o Japão desferiu seu ataque a Pearl Harbor, em dezembro de 1941. O Congresso declarou guerra imediatamente ao Japão. Em razão dos compromissos inerentes ao Eixo, a Alemanha se viu obrigada a declarar guerra contra os EUA.  

Após esses eventos, muitos norte-americanos se perguntavam, confusos, por que deveriam combater a Alemanha se fora o Japão quem atacou o território dos EUA. Os bibliotecários entenderam a missão que tinham: distribuir livros que esclarecessem os motivos do conflito que agora lutavam.

Quando das campanhas de recolhimento de livros, diversos artistas foram convocados para dar mais visibilidade ao evento. Artistas como Benny Goldman, Kate Smith, Raymond Massey, Wendell Willkie, Katharine Hepburn, Chico Marx e Kitty Carlisle se fizeram presentes.

Conforme observou o escritor Cristopher Morley, a Alemanha atacou com a publicação de Mein Kampf e as fogueiras de livros. Mas os norte-americanos poderiam utilizar livros também em seu benefício, difundindo as idéias abordadas entre a capa e a contracapa. “As guerras são ganhas na mente antes de poderem ser ganhas no campo de batalha”, afirmou o escritor.

Um dos obstáculos enfrentados era o formato dos livros. Até 1940, os livros eram geralmente grandes, de capa dura. Era um desafio convencer um soldado carregando uma mochila extremamente pesada, além de fuzil e munição, a enfiar um romance pesado lá dentro.

Essa dificuldade levou as editoras a investir pesadamente em livros de bolso. O próprio mercado editorial renasceu após as campanhas de doações de livros para o front. Os livros de bolso foram os grandes responsáveis por isso, além de terem viabilizado o descanso e o conforto mental tão necessários aos soldados em campanha.

A meta da campanha de doação era ambiciosa: superar o acervo das maiores bibliotecas das cinco maiores cidades do mundo.

Milhões de livros foram doados e todas as metas, superadas largamente.

(Continua!) 


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Quando os livros foram à guerra”

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