Pesquisar as postagens

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

O SOFT POWER DO CRISTIANISMO: COMO SUBMETER AQUELES QUE SE SUBVERTEM


O cientista político Joseph Nye criou o conceito do soft Power, ou poder suave: “usar fatores intangíveis, como instituições, idéias, valores, cultura e a percepção de legitimidade das políticas” para “convencer” as pessoas. Fazia oposição ao hard Power, ou poder duro da guerra e da economia.

Contudo, Nye tinha consciência de que tal poder somente teria efeito se viesse na esteira do poder duro. Os norte-americanos ilustraram bem essa política, no Vietnã: “Agarre-os pelos culhões, e seus corações e mentes virão na sequência.”

Para erigir seu soft Power, Roma usou sistemas de pensamento que nasceram em seus domínios e que atraíram milhares de seguidores: o estoicismo e o cristianismo. Não nasceram como sistemas de pensamento imperial; na verdade, os fundadores de tais ideologias eram bastante críticos do poder constituído. Afinal, tratava-se de um filósofo grego paupérrimo e de um carpinteiro judeu, marginalizados geográfica e socialmente. A partir de tal condição, é que diziam as verdades que julgavam cabíveis.

Após algumas gerações, os dirigentes do Império, temendo perder seu poder, fizeram algo que se tornou bastante comum ao longo da história: subverteram a contracultura a seu favor.

Em vez de combaterem as idéias que emergiam, cooptaram seus líderes mais brilhantes e os trouxeram para o establishment. Depois disso, selecionaram de maneira bastante interessada as idéias que mais lhes aprouveram, rejeitando aquelas que poderiam eventualmente lhes prejudicar.    

Com isso, antigas críticas ao império ganharam uma roupagem nova, que de certa forma justificava o Poder, tirando-o da berlinda.

Assim, disse Jesus: “Daí, pois, a César o que é de César”. Ao que foi complementado por São Paulo: “pois não há autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram ordenadas por Deus.”

Tanto o estoicismo quanto o cristianismo vedavam a violência não autorizada, o que agradava o Império. Daí, empreendeu-se um esforço monumental para propagandear essas idéias aos vizinhos.

Dificilmente uma ideologia que justificasse a oposição violenta diante de uma agressão externa, ou que defendesse o direito de resistência diante de desmandos estatais teria a mesma sorte...


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a humanidade”.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário