O cientista político Joseph Nye criou o conceito do soft Power,
ou poder suave: “usar fatores intangíveis, como instituições, idéias, valores,
cultura e a percepção de legitimidade das políticas” para “convencer” as
pessoas. Fazia oposição ao hard Power, ou poder duro da guerra e da economia.
Contudo, Nye tinha consciência de que tal poder somente teria
efeito se viesse na esteira do poder duro. Os norte-americanos ilustraram bem
essa política, no Vietnã: “Agarre-os pelos culhões, e seus corações e mentes
virão na sequência.”
Para erigir seu soft Power, Roma usou sistemas de pensamento
que nasceram em seus domínios e que atraíram milhares de seguidores: o
estoicismo e o cristianismo. Não nasceram como sistemas de pensamento imperial;
na verdade, os fundadores de tais ideologias eram bastante críticos do poder
constituído. Afinal, tratava-se de um filósofo grego paupérrimo e de um carpinteiro
judeu, marginalizados geográfica e socialmente. A partir de tal condição, é que
diziam as verdades que julgavam cabíveis.
Após algumas gerações, os dirigentes do Império, temendo
perder seu poder, fizeram algo que se tornou bastante comum ao longo da história:
subverteram a contracultura a seu favor.
Em vez de combaterem as idéias que emergiam, cooptaram seus líderes
mais brilhantes e os trouxeram para o establishment. Depois disso, selecionaram
de maneira bastante interessada as idéias que mais lhes aprouveram, rejeitando
aquelas que poderiam eventualmente lhes prejudicar.
Com isso, antigas críticas ao império ganharam uma roupagem
nova, que de certa forma justificava o Poder, tirando-o da berlinda.
Assim, disse Jesus: “Daí, pois, a César o que é de César”.
Ao que foi complementado por São Paulo: “pois não há autoridade que não venha
de Deus, e as que existem foram ordenadas por Deus.”
Tanto o estoicismo quanto o cristianismo vedavam a violência
não autorizada, o que agradava o Império. Daí, empreendeu-se um esforço monumental
para propagandear essas idéias aos vizinhos.
Dificilmente uma ideologia que justificasse a oposição
violenta diante de uma agressão externa, ou que defendesse o direito de
resistência diante de desmandos estatais teria a mesma sorte...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Guerra: o horror da guerra e seu legado para a
humanidade”.
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