De fato, a política externa dos
EUA que levou à derrota da URSS operou independentemente de quem ocupasse a
Casa Branca. Presidentes veem e vão a cada quatro ou oito anos. Mas operadores
como Kennan, Kissinger, Rumsfeld, Brzinski, Schultz, Baker etc. permanecem por
décadas no serviço público.
Foi durante o mandato presidencial
de 1977-1981, de Jimmy Carter, que um desses poderosos conselheiros lançou uma
das muitas armadilhas usadas contra a URSS. O grande projeto do conselheiro de
Carter para assuntos de segurança nacional, Zbigniew Brzinski, era a
ressurreição do Grande Jogo do séc. XIX, no Afeganistão. O vizinho do sul tinha
uma boa relação com a URSS. Fomentou um golpe de Estado no Afeganistão,
forçando a entrada de tropas soviéticas.
Para enfrentar os soldados,
montou-se um exército de mercenários islâmicos, recrutados, financiados e
armados até os dentes pelos EUA, Reino Unido e Arábia Saudita.
Nas palavras do próprio Brzinski,
em entrevista À revista Le Nouvel Observateur:
“Pergunta: O ex-diretor da CIA,
Robert Gates, disse em suas memórias (From the Shadows), que a inteligência
americana começou a ajudar os Mujahadeen no Afeganistão seis meses antes da
intervenção soviética. Nesse período, você era o conselheiro de segurança
nacional do presidente Carter. Está
correto?
Resposta: Sim. De acordo com a versão official
da história, a ajuda da CIA aos Mujahadeen começou durante os anos 1980,
diga-se, após a invasão soviética ao Afeganistão, em 24 de dezembro de 1979.
Mas a realidade, secretamente guardada até agora, é completamente outra: De
fato, em 3 de julho de 1979, o presidente Carter assinou a primeira diretiva de
ajuda secreta aos oponentes do regime pró-soviético em Kabul. E naquele mesmo
dia, eu escrevi uma nota ao presidente na qual explicava a ele que em minha
opinião, essa ajuda induziria uma intervenção militar soviética.
Pergunta: A despeito do risco,
você era um incentivador desta ação secreta. Mas você mesmo desejava esta
entrada soviética na guerra e pretendia provocá-la?
Resposta: Não é bem assim. Nós
não empurramos os russos em direção à intervenção. Apenas aumentamos muito a
probabilidade de que tal fato ocorresse.
Pergunta: Quando os soviéticos
justificaram sua intervenção afirmando que eles pretendiam lutar contra um
envolvimento secreto os EUA no Afeganistão, as pessoas não acreditaram neles.
Entretanto, havia uma base real. Você não se arrepende de nada, hoje?
Resposta: Arrepender-me de quê? Aquela
operação secreta foi uma ideia excelente. Teve o efeito de afogar os russos no
atoleiro afegão e você quer que eu me arrependa? O dia em que os soviéticos
atravessaram oficialmente a fronteira, eu escrevi ao presidente Carter: nós
agora temos a oportunidade de dar à URSS seu próprio Vietnã. De fato, por quase
10 anos, Moscou teve que levar adiante uma guerra insuportável pelo governo, um
conflito que trouxe a desmoralização e finalmente a queda do império soviético.
Pergunta: E você tampouco se
arrepende de ter apoiado os fundamentalistas islâmicos, tendo aos terroristas armas
e aconselhamento estratégico?
Resposta: O que é mais importante
para a história do mundo? Os talibãs, ou o colapso do império soviético? “.
Enquanto a URSS estava sendo
atacada por uma guerra de procuração no Afeganistão, seus aliados do Pacto de
Varsóvia (Europa Oriental Comunista) e mesmo a Rússia por si mesma estava sendo
internamente subvertida por movimentos dissidentes.
A “Radio Free Europe” da CIA era
também usada para atacar os comunistas.
Sabendo o quão melhor era a vida
no ocidente, e desejando independência de Moscou, não era muito difícil atrair
as boas pessoas da Europa Oriental para os movimentos pela liberdade.
Em 1980, Carter (ou melhor,
Brzinski) tomou a decisão de boicotar os Jogos Olímpicos de Moscou.
E, finalmente, o Democrata
Carter, com forte apoio Republicano, começou a aumentar o orçamento para as
Forças Armadas dos EUA. Nos anos seguintes, isto levaria os soviéticos a outra
armadilha: uma caríssima corrida armamentista, que não poderiam bancar.
Continua!
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “The war against
Putin: what the government ...”
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