Conta-se que Plantão teve problemas com seus alunos por
conta de atrasos frequentes, o que irritava o grande mestre, como sói ocorrer
até hoje. No entanto o grande pedagogo grego resolveu que poderia encontrar uma
solução, e se lançou à invenção do primeiro despertador da história! Esse fato
teria ocorrido em 427 a.C. O testemunho foi dado por Ateneu: “Platão criou um
despertador.” Os relógios de água gregos se chamavam “clepsydra”.
O mecanismo deve ter sido algo como três recipientes empilhados,
por onde descia água, até que se enchesse e o último recipiente passava a
receber a água do recipiente superior, tudo ligado por funis bem estreitos. Quando
este último tinha água pela metade, o ar era expulso por uma abertura estreita,
quando emitia um som de apito.
Diz-se que Aristóteles incrementou o funcionamento do
despertador do seu mestre. Substituiu o apito por esferas de cobre que caíam
sobre um prato de metal: talvez seu sono fosse mais pesado e precisasse de mais
barulho para despertar.
No século XIX da Grã Bretanha, uma atividade profissional
interessante se desenvolveu: os knocker-uppers, ou despertadores humanos. Era
profissionais pagos para percorrer as ruas acordando as pessoas no horário
desejado, batendo um bastão contra a porta das residências, até que o
dorminhoco confirmasse ter levantado de fato. O horário de despertar poderia
ser escrito com giz, na porta ou na janela.
O “acordador” poderia também ser um funcionário da empresa,
no caso daqueles que moravam em casas construídas pelas próprias companhias.
Nesse caso, o horário de despertar era às 3:00 A.M.
Interessante que os “acordadores” também deveriam ser
despertados na hora de trabalhar. Para tanto existiam os “knocker-uppers`
knocker-uppers”.
Apenas em 1870 surgiram os primeiros relógios mecânicos de
corda com função de alarme – esses de arremessar longe.
A história de medir tempo por meio de relógios tem início no
Egito antigo. Durante o reinado do faraó Amenófis I – 1.500 a.C. – um sacerdote
decidiu medir a duração do dia e da noite com um relógio de água definido para
24 horas.
O relógio de água mais famoso, por sua vez, era grego e está
ainda hoje na ágora de Atenas. A estrutura em que está instalado chama-se A
Torre dos Ventos e remonta ao século II a.C. Ele usava sol, cata-vento e
relógio de água. Os gregos o usavam precipuamente para medir a duração de
discursos – um tipo de cronômetro.
A região do Egeu recebe bastante insolação, o que fazia a
água dos relógios evaporarem. Daí surgirem as ampulhetas, que deveriam ser invertidas
de hora em hora.
Certa feita, o sultão Harun AL-Rashid enviou uma série de
presentes a Carlos Magno. Harun era o quinto califa Abbasid. Dentre os
presentes, havia seda, candelabros, perfumes, um elefante vivo... E um relógio
de água construído em bronze. Era semelhante ao relógio de Aristóteles, porém
com diversos upgrades. A cada hora, pequenas esferas caíam e se chocavam com um
címbalo; um cavaleiro esculpido saía por uma das 12 portinhas. Magno
simplesmente não sabia reagir a tamanha sofisticação.
Alfredo da Inglaterra inventou um relógio a vela, cerca de
70 anos após o episódio acima descrito. Após garantir uma queima bastante
uniforme, a hora transcorria conforme queimava.
Dois séculos após, os chineses atualizaram o relógio a vela:
substituíram as velas por incensos. Queimavam em incensários ornamentados. Após
a queima completa, sinos caíam do suporte sobre um prato de metal, gerando um
toque harmônico. Como o cheiro do incenso dependia da hora do dia, acompanhar
esse relógio também poderia ser pelo cheiro.
Também foram os chineses que substituíram a água pelo
mercúrio (mais estável) nos relógios de água.
Em 1088, um gênio da engenharia e da cosmologia chamado Su
Song, realizou um feito extraordinário: construiu um relógio de água com
funções de acompanhamento de fenômenos cósmicos. Seu relógio tinha dez metros
de altura, três andares, diagramas de tempo, dispositivos astronômicos para
acompanhar estrelas, além de manequins que anunciavam a hora acionando sinos.
Tudo se movia conforme uma roda hidráulica girava independente.
Após sua morte, e por ter escondido alguns desenhos, a reconstrução
do relógio se mostrou tarefa impossível até hoje.
O nome “clock”, utilizado para relógio em inglês, deriva de “clocca”,
ou sino em latim. Isso porque os relógios que se disseminaram pelo Europa eram
os sinos das igrejas, no século XIV. Não apenas eram imensos e dificílimos de
construir, mas eram tecnologicamente bastante complexos. Os sinos chegavam a
pesar 4 toneladas, eram sustentados por barras que pesavam o mesmo que um
carro. As torres tinham 15 metros de altura. A construção e montagem duravam
anos, envolviam ferreiros, carpinteiros, pedreiros, fabricantes de sinos etc.
Além de especialistas em relógios. Sua manutenção era ininterrupta.
Ainda no século XIV surgiu a possibilidade de soarem um
número de batidas correspondente à hora marcada.
O passo seguinte na história dos relógios surgiu com o
pêndulo. Estudado inicialmente por Galileu Galilei, ele descobriu que dois
pêndulos de mesmo comprimento balançam no mesmo ritmo, ainda que inicialmente o
ritmo fosse diferente em cada qual. Em 1657, o cientista holandês Christiaan
Huygens instalou um pêndulo num relógio.
No entanto se mostrou ineficiente, pois atrasava um segundo por dia.
Foi o francês Marin Mersenne quem descobriu que um pêndulo
de 99,3 centímetros balançava por exato um segundo. Mas ainda era impraticável
pendurar um pêndulo deses no relógio de Huygens, por falta de espaço mesmo – o arco
desenhado pelo pêndulo era de 80 graus.
O inglês Robert Hooke inventou uma barra metálica que
proporcionava um pêndulo de um segundo, porém desenhando um arco de apenas
quatro graus. Agora seria possível usar o pêndulo no relógio da época.
O artesão William Clement, em 1670, deu à luz o relógio,
feito de madeira e bronze.
Em 1929, foi descoberta a oscilação do quartzo, ocorrida
quando instalado num circuito eletrônico. Após 40 anos, os cristais de quartzo
eram a tecnologia preponderante nos relógios populares, para as massas.
Mas a corrida para descobrir qual tecnologia seria prevalente
nos relógios elétricos se estendeu pelos 150 anos anteriores. O relógio
eletrostático surgiu ainda em 1815. Duas baterias com cargas opostos eram
instaladas de cada lado do pêndulo, fazendo-o balançar na frequência desejada.
Dizia-se que as baterias duravam 50 anos.
Mas a tecnologia que obteve mais popularidade foi o relógio
eletromagnético, também do século XIX: usavam ímãs eletrificados para mover o
pêndulo.
Na década de 1930, com a eletricidade distribuída para as
residências, o relógio elétrico síncrono se estabeleceu. Usava a frequência da
rede - 50 ou 60 hertz – para o ajuste. E assim os pêndulos perderam sua
utilidade nos relógios, 300 anos após sua invenção.
Bom, após os relógios de quartzo, os mostradores também
mudaram. Agora eram digitais, substituindo aquele famoso de Clement.
E após os Smartwatches, o que virá?
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Um milhão de anos em um dia”.
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