Há 9 mil anos, em Mehrgarh, no atual
Paquistão, foram achadas evidências de um dentista em pleno ofício. Nos dentes
de esqueletos desencavados existem pequenos orifícios de menos de meio
milímetro. Seu formato uniforme evidencia sinais de perfuração em meio a um
tratamento bucal.
Esse dentista usou uma broca de
arco com ponta de pedra, perfurou o esmalte e removeu uma cárie de seu berrante
paciente. Dos 11 dentes pesquisados, 4 possuíam cáries inflamadas.
Ainda da pré-história, uma equipe
italiana comprovou que um esqueleto achado na Eslovênia – morto há 6.500 anos –
apresentava uma obturação. Foi realizada com resina feita de cera de abelha,
inserida num dente rachado. Assim, cobriu-se e se protegeu um nervo exposto.
O grande destruidor de dentições no
Neolítico eram grãos de pedra que se mordiam como resíduos do fabrico de pães
em moinhos de pedra.
Os gregos, por meio do Pai da
Medicina, Hipócrates de Cos, dera uma contribuição à odontologia: o fórceps
odontológico, ou odontagogon.
A primeira ponte dentária da
história foi registrada em 700 a.C. Feita pelos etruscos usavam faixas de ouro
planas como aparelhos ortodônticos, apoiava-se sobre os dentes saudáveis
vizinhos para substituir o dente quebrado.
Séculos depois, os fenícios
usaram fios de ouro em lugar dos suportes planos. Um exemplar de uma mandíbula
dourada da época está no Museu da Universidade Americana de Beirute. Este
esqueleto é de uma pessoa que sofria de periodontite.
O romano Aulo Cornélio Celso já
recomendava limpar regularmente os dentes. Os aristocratas tinham uma escovação
própria: um escravo pegava um ramo macio, aplicava um pouco de pó de polimento
e esfragava nos dentes e na gengiva de seu senhor. O pó podia ser feito de
diversas matérias primas. Uma delas era chifre de veado – que também era
afrodisíaco.
A invenção da escova de dentes...
Chinesa. Prendiam pelos de porcos em um osso.
No islamismo, registra-se que
Maomé usava uma escova feita chamada “miswak”. Era feita com gravetos de uma
árvore: Salvatora Persica.
A Idade Média europeia tinha
alguns hábitos de higiene bucal. Existiam equivalentes da época a fio dental,
escova de dente, líquidos de enxágue bucal etc. No entanto, a chegada de açúcar
em quantidades cada vez maiores, do Novo Mundo e do Oriente, levou a uma crise
dentária, especialmente entre os aristocratas e nobres europeus. Uma das
grandes vítimas foi a rainha Elizabeth I.
No século XVIII, surgiu uma
tendência de cultivar dentes fortes e saudáveis. No entanto, o início dessa
moda não poderia deixar de ser acompanhado de experiências dramáticas. Dentes
se viram esfolados por pós abrasivos, giz, sal, soda, cinzas. Aplicações de
ácido nítrico destruíram o esmalte de dentes de muitas pessoas.
Com o barateamento do açúcar, consumido
agora em quantidades cada vez mais homéricas, a odontologia teve de realizar
alguns progressos, e elas vieram da França.
Pierre Fauchard iniciou sua
carreira na marinha da França e terminou em Paris, reconhecido como o “Pai da
Odontologia”. Foi o primeiro a fazer uso clínico de microscópios, por volta de
1790. Criou diversos tratamentos, comuns até hoje. Correção de dentaduras de
crianças, obturações de amálgamas, criação da dentadura (no caso, de marfim),
incrementou o fórceps (agora se chamava Pelicano), criação de brocas, cadeira
de dentista... Tudo isso saiu da cabeça brilhante do francês.
Como ponto negativo: manteve a
crença de que urina ainda era o melhor enxaguante bucal que existia... Crença
ainda da época dos romanos antigos.
Impossível pensar em tratamento
dentário mas não pensar em dor. O primeiro anestésico experimentado foi o gás
do riso – abandonado após a descoberta de seus efeitos narcóticos. Em 1846,
introduziu-se o éter, seguido pela cocaína e pelo clorofórmio. E pôde-se sentir
um alívio.
A escova de dente produzida na
China não conseguiu se tornar um produto global. No entanto, em 1780, um inglês
preso por incitar um motim, William Addis, perfurou um osso de porco e fixou
cerdas de vassoura. Ficou feliz com o resultado, promoveu seu produto e nos
possibilitou a todos escovar os dentes com escova apropriada. Sua empresa
funciona até hoje.
Contudo, até por volta de 1850,
não havia um enxaguante bucal melhor do que a urina de portugueses recomendada
pelos romanos. Até que o cirurgião escocês Joseph Lister criou o Listerine.
Usando fenol, era recomendado para tratar de infecções orais. Mas a publicidade
o transformou em mais um imenso sucesso comercial. Em sete anos o lucros
aumentaram 7.000%.
Anos depois, finda a II GM, o
plástico entra em cena e subsitituiu a seda do fio dental e as cerdas animais
das escovas. O nylon era agora o ator protagonista da escovação e da limpeza
bucal.
Por fim, o fluoreto passou a ser
usado no tratamento de água potável, a partir de 1909.
E os dentes agradecem.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Um milhão de anos
em um dia”.
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