Duas questões, talvez as mais
intrigantes da humanidade, são: do que é constituída a matéria e como ela se tornou
consciente de si mesma?
A filosofia nasceu em Mileto, no
século VII a.C.: naquele momento, tentavam os filósofos responder a primeira
pergunta. Os 25 séculos seguintes viram a humanidade tentar responder a
segunda.
A Grécia clássica teve seu iluminismo,
por volta do século V a.C. Foi naquele período que Hipócrates defendeu que o
cérebro é local de elaboração da mente. Fundou assim o problema mente-cérebro. Esse
problema tem a seguinte formulação: como o cérebro, uma realidade objetiva e
material, se liga às experiências subjetivas da nossa vida mental?
Pensadores como Leucipo e
Demócrito, ainda no século das luzes grego, formularam suas reflexões em torno
de partículas fundamentais, ou átomos: viam a atividade cerebral como
consequência de átomos em movimento (atividade cerebral). A consciência é
efeito, não causa. Essa é a concepção fisicalista – ou materialista.
Já Sócrates via coloca a mente
como causa primária. A mente precede e determina a atividade cerebral. Essa é a
concepção mentalista.
O mentalismo sobrepujou o
fisicalismo até séculos mais recentes. A revolução científica do século XVII
deu novo ímpeto ao fisicalismo. O entendimento acerca da natureza enfraqueceu
teses relacionadas à imaterialidade da alma. Voltou-se à natureza, onde nos
integramos. Dados experimentais, de fato, mostram atividade neural anterior a uma
tomada de decisão ou a uma ação motora.
Vemos há muito tempo a
consciência como o mistério da existência. Segundo excerto tirado de peça de
Eça de Queiroz: “... Sou anterior aos deus transitórios: ele dentro de mim
nascem; dentro de mim duram; dentro de mim se transformam; dentro de mim se
dissolvem; e eternamente permaneço em torno deles e superior a eles,
concebendo-os e desfazendo-os, no perpétuo esforço de realizar fora de mim o Deus
absoluto que em mim sinto. Chamo-o a Consciência; sou neste instante a tua
própria consciência.”
Precisamos de alguma coisa que
traga sentido ao nosso mundo, que preencha as lacunas. Buscamos de qualquer
jeito alguma sensação de controle.
É aí que aparecem as explicações
mágicas. Surgem os deuses e os heróis, os demômios e os fantasmas. Uma boa
versão deles pode dar certo, dominar nossa angústia. Pode até encantar. Se
convincente, pode sobreviver longo tempo. Entretanto, mais cedo ou mais tarde,
será balançada por algum esforço da razão.
Assim, o misticismo da
antiguidade reinou até surgirem os pensadores da Grécia Antiga. As chamadas
trevas da Idade Média persistiram por mil anos e só acabaram na fertilidade do
Renascimento. As restrições da Inquisição não se dissolveram até que se
despertasse a criatividade no Iluminismo.
A ciência – física, química e
biologia – resolviam um problema atrás do outro.
No entanto, algumas incógnitas teimaram
em ficar fora do alcance das investigações modernas, mantendo o status em que
se arvoravam os grandes mistérios. Um grupo delas foi considerado até mesmo
indecifrável.
A maior de todas as incógnitas
era a origem do Universo. Ou seja, a resposta para a milenar pergunta: como
surgiu o tudo a partir do nada?
Havia outro questionamento: como
surgiu a vida a partir de substâncias não vivas?
Por fim: como um corpo vivo pode
se tornar consciente de si mesmo?
O século XX trouxe a ousadia para
responder a esses questionamentos. Se ainda não há respostas definitivas, pelo
menos já temos boas pistas.
A Cosmologia desenvolveu a Teoria
do Big Bang. A biologia saiu-se com a Teoria da Evolução. Por seu turno, a
Neurociência animou alguns pesquisadores a se lançarem ao mistério da
Consciência.
Tudo agora se resume a questões
científicas.
Mas a origem dos questionamentos se
encontra em Sócrates.
O legado de Sócrates foi decisivo,
embora ele não tivesse escrito nada. Ensinava por meio de diálogos com seus
discípulos pelas ruas de Atenas. Tomamos conhecimento de suas reflexões através
dos escritos de Platão.
A frase de maior efeito proferida
por Sócrates foi: “Só sei que nada sei.” Embora pareça, não é confissão de
ignorância ou ceticismo em último grau. Traçava apenas uma rota para o
conhecimento. Implicava trabalho árduo e reconhecimento das próprias
limitações. Sócrates era mestre em fazer questionamentos embaraçosos,
destruidores de certezas preconcebidas.
Sócrates teorizou sobre virtude,
ética, amor e conhecimento. Também traçou um método para chegar à verdade. Uma
frase que deixou para a posteridade (embora não fosse de sua autoria) foi: “Conhece-te
a ti mesmo”. Por essa sentença, a verdade estava dentro de nós mesmos; nem no Céu
nem na Terra.
Mais recentemente, o estudo da
consciência tem passado pela observação do corpo humano, do cérebro em
especial. Cientistas desenvolveram métodos e aparelhos capazes de captar informações
do sistema nervoso – em tese, o responsável pelos estados mentais. Este é o
método indutivo, caracterizado por observações rigorosas.
Ironicamente, o método indutivo é
um retorno à ciência praticada na era pré-socrática. Platão criticava tais
cientistas e defendia que a verdade não estava nas observações, mas nas ideias
dos cientistas. Até então, os pré-socráticos viviam fazendo observações em
busca de padrões. Após milênios, a ciência moderna reabilitou aqueles antigos
cientistas.
Tales de Mileto (624-556 a.C.) é
considerado por muitos o fundador da ciência. Tales defendia que o mundo
evoluía por processos naturais. Seus princípios metodológicos deram impulso ao
desenvolvimento da filosofia e da ciência, em busca de causas e efeitos.
Sabemos o que é a consciência,
convivemos ininterruptamente com ela, mas compreendê-la é um desafio sem par. A
consciência permite um amplo contato com o meio, iluminando o ambiente em que
estamos submersos, definindo o momento e o local. É a ciência de estar vivo e
de não ser fulano, nem beltrano, mas “eu” – com nome, passado etc. É o estar
consciente de si.
O que diferencia o ser humano dos
demais animais da natureza não e a força, velocidade, competência sexual com o
sexo oposto... O que nos diferencia é a inteligência, a capacidade de usar
plenamente nossa consciência.
A dopamina é a substância
cerebral do prazer, parte do sistema de recompensa, que age estimulando
atividades que tragam benefício ao ser. Esse mecanismo garante prazer nas
atividades de se alimentar ou praticar sexo. Sensação semelhante pode nos
acometer ao praticar atividades criativas, apoiadas em livre fluxo de
pensamentos livres. No entanto, essa última sensação somente acomete humanos.
O desenvolvimento de seres vivos
depende muito da quantidade de estímulos que os cercam. Animais são curiosos e
atentos ao ambiente em que estão inseridos. O mesmo ocorre com bebês, curiosos
desde o nascimento. Cada estímulo novo chama-lhe a atenção. Querem saber sobre
as coisas, sobre as novidades. Assim, desenvolvem cada vez mais habilidades.
Essas características os acompanharão ao longo de toda a vida, quando
desenvolverem prazer por viagens, costumes novos.
A curiosidade leva a mais
perguntas, a dopamina traz o prazer pelas respostas. Esse foi o mecanismo que
nos levou a produzir ferramentas. Criamos lanças, machados, o fogo. Depois de
criar a linguagem, esse processo sofreu uma tremenda inflexão.
Não demorou muito para que
procurássemos explicações acerca do funcionamento das coisas. O viver não
demanda maiores explicações, mas as explicações mudam nosso viver...
Nas palavras de Mário Quintana: “A
alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.”
A consciência é a experiência
geral do mundo. É a mistura de sensações qualitativas como luzes, sons,
cheiros, gostos e texturas à nossa volta. Compõe-se de pensamentos, memórias e
emoções. Ela nos traz uma sensação de indivíduo diferenciando-nos dos demais.
Descartes duvidou de tudo, exceto
de sua consciência, quando expressou: Penso, logo existo.
Consciência não é sinônimo de
mente. É englobada por esta, que abrange todas as funções desempenhadas pelo
cérebro (conscientes e inconscientes). A mente é o todo, a consciência é parte.
Alma e espírito são termos transcendentais
e, hoje, restritos ao contexto religioso.
A consciência é fenômeno pessoal
e representa uma propriedade do cérebro. Ela flutua no tempo: podemos ficar
quase inconscientes, despertos, concentrados, distraídos etc. São os diferentes
níveis de consciência.
Nos seres primitivos podem ter
surgido fenômenos de cônscia bem primitiva.
Com a seleção natural, novas propriedades mais sofisticadas podem ter surgido.
Por essa teoria, animais menos evoluídos têm um nível de consciência semelhante
àquele de nossa sonolência. Outros animais podem ir além, experimentando
sensações próximas à de quando estamos acordados.
Apenas primatas e parentes
próximos têm a autoconsciência. Essa é a consciência superior, responsável por
pensarmos “sou um ser humano consciente”. Supervisiona as demais consciências: básica (geral)
e focal (direcionadora da atenção).
Esse desenvolvimento hierárquico ocorre
ao longo de nossas vidas, desde bebês até seres com consciência desenvolvida.
Outras funções da consciência
levaram ao surgimento de símbolos e sua utilização. Seu surgimento liberou
pensamentos, imaginação. Esta evolução fez surgir a linguagem.
Nas palavras de Descartes: “Eu
sou uma coisa que pensa. Eu não sou essa reunião de membros que se chama corpo
humano.”
Os bravos filósofos e cientistas
da consciência se lançaram a responder um outro questionamento: “Como, afinal,
surgiu a experiência consciente? De onde provém tal sensação?
Surgiram dois grupos principais. Primeiro,
os dualistas. Eles veem duas coisas: corpo e alma. O dualismo se dividiu. O
dualismo de substância é diferente do dualismo de propriedade.
Depois, vieram os monistas, que
somente admitem uma coisa: do corpo surge o espírito. O monismo deu surgimento
ao materialismo. Esta vê uma coisa, o cérebro é a mente. É tudo físico.
Sinais de consciência são as evidências
de sepultamento praticado por Neandertais: indicam ideias de sobrevivência além
da morte. Pinturas rupestres representam lutas entre serpentes e águias. Há
evidências de que a Terra era a serpente, enquanto a águia representava o
espírito. O dragão (serpente alada) pode ter nascido da união entre essas duas
representações.
Os egípcios possuíam os
hieróglifos “ka”, para corpo, e “ba”, para alma. “Ba” sobrevive à morte do
corpo.
As pirâmides tinham como objetivo
facilitar a passagem da “ba” dos reis ao local destinado aos mortos.
Gregos criaram as palavras “nous”,
para mente, e “psy-khé”, para espírito, ou mente.
Nas palavras de Anaxímenes de
Mileto: “o espírito é um sopro”.
Os hebreus usavam “néfesh” para
alma, ou vida; e “ruakh”, para fôlego.
A concepção dualista foi criada
por Platão, na sua famosa alegoria da caverna: o mundo concreto, percebido
pelos sentidos, é apenas uma reprodução inferior do mundo das ideias
(verdadeiras e imutáveis). Platão também concebia o homem em duas substâncias:
corpo e alma. A alma seria o equivalente às ideias: incorpórea e imortal.
Aristóteles discordava. Para ele
não havia uma dicotomia tão pronunciada. Aristóteles via a alma como a primeira
realidade do corpo. Essa concepção tendia para o monismo.
A impressão que fica patente é de
que o dualismo de Platão era mais lógico. Avicena, médico islâmico, disse: “A
imortalidade da alma é consequência de sua natureza.” O hinduísmo chama alma de
“atman”.
No entanto, o budismo pensava de
maneira discordante: “A vida humana é uma série ininterrupta de processos
mentais e físicos que alteram o homem momento a momento”.
Um dos grandes defensores do
dualismo foi René Descartes. Em “Meditações”, defendia que cada pessoa se
identifica com sua alma, que é não física. A alma é um “eu” que tem um corpo, e
o manipula. O “eu” tem poder de pensar e agir, que se diferencia do corpo e o
possui. Para o francês, o ser humana é uma alma incorporada: res cogitans.
Já o filósofo holandês Espinosa
via o mental e o físico atributos da mesma substância . O segredo da
consciência, portanto, poderia estar no corpo. Foi apoiado por Pascal e
quebrava o dualismo platônico já milenar à época.
O dualismo deu origem, também, ao
dualismo de propriedade, que afirma que a mente é apenas propriedade da
matéria. Não seriam duas substâncias, mas a mente ainda se diferencia da
matéria.O estado mental apenas se sobrepõe à base física: é a superveniência.
Com o fortalecimento da concepção
monista, o dualismo passou a ser atacado como uma complicação de algo que tem
uma explicação simples. Típico exemplo, portanto, da “navalha de Ockham”.
Atualmente, diga-se, a ciência já
dispõe sobre o cérebro e sobre a origem evolução das espécies. Esse fato pôs os
dualistas em cheque. Descartes propôs que a pineal seria o ponto de interação
entre alma e corpo. Contudo, a ciência provou ser inadequada tal teoria. Na
verdade, o dualismo passou a ser objeto de metáforas jocosas envolvendo um “homenzinho”
nos controlando por dentro.
Outras hipóteses foram pulularam:
o idealismo de Berkley via a realidade como o produto da apreensão pela mente,
isto é, o mundo era produto da mente. O grande nome do idealismo foi Kant.
Hegel considerou que o espírito
constituía a existência. O conhecimento de si mesmo dependeria da dissolução
entre o “eu” e o mundo objetivo.
Husserl inaugurou a
fenomenologia. Interessa-se pela estudo dos objetos puros da experiência consciente:
os fenômenos. Procura a maneira de apreender os fenômenos sem interferência de
teorias e prática anteriores. A consciência seria definida como um ato de intuir
essências e de dar sentido ao mundo. Em razão do poder que temos sobre essa
consciência, chama-se também intencionalidade.
Nesse ínterim surgiu um livro que
abalaria para sempre essas concepções: “A origem das espécies”, de Charles
Darwin. Após explicar de maneira quase irrefutável a origem física para
diversos fenômenos da natureza, tornou-se quase impossível desvincular a
consciência da matéria.
No fim do século XIX, após uma
sequência de descobertas científicas de tirar o fôlego, o materialismo estava
mais forte do que nunca. A consciência deveria apenas ser estudada de acordo
com as leis da física, química e biologia. A palavra era “reduzir” as coisas a
seus mecanismos físicos.
Na Europa, a psicologia se
desenvolveu como braço da ciência voltado para o estudo das atividades mentais
e do comportamento. Wilhelm Wundt criou a psicologia fisiológica. Sigmund Freud
descreveu o papel importantíssimo do inconsciente, tirando a preocupação
exclusivamente sobre o consciente. Na América, William James unia consciência e
poder de atenção.
Watson e Skinner viam o estudo da
consciência como produto de estudo do comportamento, exclusivamente. Fundaram o
behaviorismo – ou psicologia comportamental. O que está entre o estímulo e a resposta
é uma caixa preta inescrutável.
O funcionalismo, baseado em
William James, acrescentava que eram fulcral entender o que há entre estímulo e
comportamento. Daí a frase: “o espírito é um processo”. Estuda-se as funções da
mente, não suas estruturas.
O funcionalismo também é produto
da revolução cognitiva, método de estudo das funções mentais. A mente era agora
um sistema de processamento de informações; o cérebro era um imenso processador
de informações em paralelo. A consciência agora se aproximava da computação.
O entendimento acima guiou um
grupo de pesquisadores franceses. Construíram em computador uma espécie de
consciência. Modelos de redes neurais, simulando processos cerebrais, no qual
módulos cognitivos foram conectados a um componente central constituído por neurônios
artificiais. Os módulos processavam informações relacionadas a percepção,
movimento, memória e valorização.
As tarefas realizadas com o
equipamento seguiram uma gradação de complexidade. Perceberam os pesquisadores
que a rede neural procurava, sem qualquer interferência, o módulo central,
solicitando auxílio na resolução das tarefas.
O mesmo teste foi realizado em
humanos, sendo os resultados acompanhados em exames de neuroimagens. A
experiência anterior com redes neurais, concluíram, permitiu predizer padrões
em áreas específicas do cérebro, conforme previa o modelo.
Por outro lado, o filósofo John
Searle argumentou que a atividade de um computador não pode jamais ser
comparada a uma mente. Uma máquina, explicava, seria capaz de processar apenas
símbolos (sintaxe); ao passo que a mente processa também significados
(semântica). O computador usa um software para processar os impulsos que
recebe, recombinando-os ao final. Isso significa que os símbolos processados
pelo computador, na verdade, são processados pelo homem, pelo programador ou
usuário. Estes sabem o significado (semântica) do que está sendo processador
pela máquina.
A outra dificuldade passa pela
questão das sensações: a máquina não será capaz de se sentir como um humano,
mas apenas realizar as tarefas propostas por esse.
Já o físico inglês Roger Penrose
defendia que os processos mentais não são computáveis. Baseou-se em Godel e
suas proposições indecidíveis. São as afirmações que não podem ser provadas ou
refutadas utilizando-se axiomas existentes no próprio sistema, apenas.
Pouco antes da virada do século
XIX para o XX, o histologista espanhol Santiago Ramón y Cajal estudou a célula
nervosa ao microscópio. Utilizou as técnicas de coloração criadas pelo italiano
Camillo Golgi. Ambos ganharam o Prêmio Nobel de 1906. Descobriram o papel
dessas células como sinalizadores, sua polaridade e ligações específicas.
Pouco depois, Charles Sherrington
progrediu, descrevendo a forma de comunicação entre os neurônios, a sinapse,
além dos seus dois tipos existentes: excitatória ou inibitória. A primeira aumenta
a concentração de elementos químicos que transportam as informações; o segundo
tipo reduz essa concentração. Isso significa que os neurônios ponderam os
estímulos.
Conclusão: os neurônios, o sistema
nervoso é a integração entre o organismo e o meio ambiente. Sherrington ganhou
o Nobel de 1932.
Surgiu assim um grupo de biólogos
e clínicos que identificam os estados mentais aos estados físicos e desejam
explicá-los por meio das estruturas anatômicas e dos mecanismos fisiológicos.
Este é o atual pé em que se encontra o materialismo reducionista. Foca-se na
explicação da consciência por meio das estruturas físicas do cérebro.
A análise das partes faz uso dos
níveis de conhecimento em estrutura hierárquica, criada por Popper. Sua tabela
segue uma lógica de baixo para cima: os níveis superiores têm sua explicação a
partir dos níveis inferiores. O nível mais alto é o de “ecossistemas”, abaixo
há “populações”, “indivíduos”, “órgãos”, “células”, “moléculas”, “átomos”, até “partículas”.
As certezas científicas levaram à
afirmação: fenômenos conscientes e estados cerebrais são a mesma coisa. Essa é
a chamada teoria da identidade.
Outros, menos contundentes,
afirmam que estados mentais têm localização anatômica e estados do cérebro têm
propriedades semânticas. Não há uma identidade total, mas uma relação íntima
entre os dois conceitos.
Um grupo de pesquisadores tentou
o auxílio da física quântica na tarefa árdua de definir a consciência. Até o
momento existem apenas especulações, sem maior relevância. Alguns buscaram no funcionamento
do citoesqueleto dos neurônios (microtúbulos internos nos axônios) uma relação com
a consciência. Na verdade, suas afirmações são mesmo insondáveis.
O fato é: cada vez mais as
pesquisas apontam uma eventual resposta no campo da biologia. A própria palavra
consciência vem angariando fama de obscurantista, quase algo místico. Ganha
espaço, portanto, a neurobiologia clássica.
Conforme Karl Popper: “Se o universo
é feito de átomos e partículas, os eventos devem ser explicáveis em termos de
estrutura e interação dos mesmos.”
Ainda assim, filósofos não param
de impor objeções aos entendimentos mais recentes. Thomas Nagel rejeitou a
possibilidade de um reducionismo a um nível subjetivo, a partir do nível
objetivo da fenomenologia, com o exemplo do morcego: podemos saber tudo sobre
seu sistema neurofisiológico e também sobre o mecanismo físico de
ecolocalização utilizados por eles. No entanto, jamais saberemos como um
morcego se sente. Seu ensaio “What is like to be a bat” foi um sucesso.
O que seria “Ser você mesmo?”.
Talvez seja o grande alvo na busca pela consciência...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “A consciência: uma
viagem pelo cérebro”
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