Após a morte de Lenin em 1924, Joseph Stalin, Secretário do Comitê
do Partido Comunista, habilmente afastou a ameaça que representava o líder do
Exército Vermelho, Lev Trotsky, de chegar à liderança da URSS. Stalin, depois
disso, expulsou Trotsky do Partido e, então, da própria URSS. Finalmente, seu
adversário marxista teve seu cérebro atravessado por um machado, no México, por
um agente soviético.
Para Trotsky, a revolução mundial era seu objetivo primário e
imediato. Stalin, por sua vez, pôs adiante uma teoria conhecida como “Socialismo
em um país”. Essa política derivava do fato de que as revoluções comunistas
ocorridas na Europa entre 1917 e 1921, com exceção da russa, todas foram
derrotadas. Deveria-se fortalecer o cenário interno primeiro. Stalin, portanto,
encontrava-se em campo oposto ao de Trotsky e sua teoria das revoluções permanentes. Trotsky era
um globalista comunista, ao passo que Stalin era um nacionalista comunista.
De tempos em tempos, Stalin “expurgou” muitos de seus
camaradas comunistas, assim como ex-esposas. Ele expulsou sua primeira esposa, e
levou a segunda – e um de seus filhos – ao suicídio.
Como parte de seu “plano quinquenal”, os pequenos
fazendeiros da URSS foram empurrados para um esquema de coletivização. O
governo controlava a produção e os preços. Terras, estoques de alimentos, além
de equipamentos tornaram-se estatais. Fazendeiros relutantes (kulaks) eram
descritos na imprensa soviética como “capitalistas ambiciosos”. Quem resistia
era enviado a um Gulag.
Um episódio igualmente insano e trágico foi encenado nessa
época. A Catedral de Cristo, o Salvador, em Moscou, de 340 pés de altura,
construída por ordem de Alexandre I, cuja construção se estendeu por mais de 40
anos, decorada com mármores, ouro, prata, granito etc., resistiu até 1931.
Nesse ano, os soviéticos anti-cristianismo decidiram que o local da Catedral
seria ocupado por um monumento a Lenin e ao comunismo, que batizaram de Palácio
dos Soviéticos. Em 5 de dezembro de 1931, ordenado pelo ministro Lazar
Kaganovich, a Catedral foi dinamitada. Ironicamente, em razão de péssimo
planejamento e falta de recursos, não construíram o Palácio dos Soviéticos.
Fizeram então uma enorme piscina...
Em 1932, o mesmo insano Kaganovich ordenou o início do que
seria conhecido como Holodomor – palavra ucraniana para “morrer de fome”,
literalmente -, que vitimou mais de 8 milhões de pessoas, sendo 5 milhões
ucranianos. O genocídio, praticado por meio de inanição deliberada, visava a matar
camponeses anti-comunistas na Ucrânia, Bielorrúsia, Kazaquistão e até mesmo na Rússia.
Em 1928, HG Wells, famoso escritor britânico, escreveu um
livro sobre o assunto chamado “The open conspiracy: pistas para uma revolução
mundial”. Em 1939, escreveu outra obra não-ficional “The new world order”. Nesta
última se lê:
“Esta nova e completa revolução que contemplamos pode ser
definida em umas poucas palavras. É uma mostra de um mundo socialista;
cientificamente planejado e dirigido.
O termo “Internacionalismo” foi popularizado em anos
recentes para cobrir um conjunto de forças mundiais de natureza financeira,
política e econômica com o propósito de estabelecer um Governo Mundial.”
Declarações desse tipo, dadas por personagens importantes da
época, pululavam nos meios de comunicação.
O grande problema dessa Nova Ordem Mundial é que ela
trabalha em direção a uma intensa centralização global do poder financeiro,
político, cultural e militar que, no fim, reduz todas as pessoas a uma massa de
proletários sem raízes, sem cultura, alienados e escravos de dívidas.
Por volta de agosto
de 1939, Alemanha e Polônia se encaminhavam para um conflito por conta de
disputas de território retirado da Alemanha após a I Guerra Mundial. O líder da
Alemanha, Adolf Hitler, estava ciente de que Grã Bretanha e França fariam
intrigas de modo a forçar a Alemanha a uma guerra em duas frentes, ao envolver
a URSS no conflito. Como precaução, os Ministros do Exterior da Alemanha e da
URSS assinaram um Pacto de Não-Agressão.
Conforme a Alemanha derrubava o exército polonês a oeste, Stalin
inteligentemente quebrou o Pacto de Não-Agressão, de 1932, firmado com a
Polônia. A partir de então, a Polônia tinha dois adversários, a leste e a
oeste. Alguns massacres foram registrados, sendo o pior deles conhecido como
Massacre da Floresta Katyn, vitimando 10 mil soldados poloneses.
Dois meses após engolir sua fatia da Polônia, Stalin iniciou
a invasão da Finlândia. Para tanto, ele quebrou mais um Pacto de Não-Agressão,
também de 1932. Foram empregadas 21 Divisões Soviéticas com 450 mil tropas. Ele
só não esperava enfrentar alguns dos soldados mais resistentes e competentes já
vistos. Após a resistência heroica, foi firmado um Tratado de paz, mas os
finlandeses foram forçados a abrir mão de 10% de seu território.
Na sequência, foram invadidos: Letônia, Lituânia, Estônia e
Romênia oriental.
Do lado Ocidental do planeta, a irritação contra Stalin se
devia a sua recusa em juntar-se à Grã Bretanha e à França contra a Alemanha.
Parecia que o velho russo tinha outros e muito maiores planos. Segundo alguns,
ele desejava mesmo era invadir a Europa inteira e levar o comunismo a uma
escala verdadeiramente global.
Em 1941, Stalin parou seu Exército Vermelho junto à
fronteira oriental da Alemanha naquele momento, próximo dos campos de petróleo
da Romênia, que abasteciam a Alemanha. Deve-se ter em mente que estava
ocorrendo então a guerra entre Grã Bretanha e Alemanha na Europa, consumindo
recursos básicos de ambos os lados.
Hitler ficou em estado de alerta ao ver o movimento das
tropas soviéticas. Lembrou-se da quebra em sequência de Pactos de Não-Agressão
firmados por Stalin, pensou no Pacto que assinara pouco antes... E ordenou a
Operação Barbarossa: a invasão da URSS.
Por certo Stalin não esperava a tempestade que o Exército
alemão fez cair sobre a URSS.
Em semanas, milhões de tropas soviéticas foram feitas
prisioneiras, e uma perda devastadora de equipamentos e armamentos deixou o
Exército Vermelho completamente neutralizado. A Alemanha destruiu 65% de todos
os tanques, revólveres, metralhadoras e armentos anti-tanques soviéticos. Os
alemães fizeram os Vermelhos retornarem a Moscou, liberando a Ucrânia e países às
margens do Báltico.
Contudo, esse movimento ficou literalmente congelado com a
chegada do inverno na Rússia. Nas palavras de Hitler:
“Já em 1940, tornou-se crescentemente mais óbvio, mês a mês,
que os planos dos homens no Kremlin eram direcionados à dominação, e portanto
destruição, de toda a Europa. Eu avisei anteriormente à nação sobre o
crescimento militar soviético, no leste, durante o período em que a Alemanha
contava apenas com umas puçás divisões nas províncias fronteiras com a URSS. Só
um cego não conseguiria ver que uma construção de poderio militar de dimensões
históricas estava sendo carreada. E não estava programado para proteger algo
que não estava sendo ameaçado, mas para atacar o que não poderia se defender...
Eu poderia dizer hoje: Da onda de mais do que 20 mil tanques, centenas de
divisões, dezenas de milhares de peças de
artilharia, alinhados com 10 mil aviões, não tivesse sido mantida defesa de
invadir o Reich, a Europa teria perdido.”
O Presidente Franklin D. Roosevelt moveu-se rapidamente em
socorro de Stalin. FDR liberou ativos soviéticos nos EUA que estavam congelados
desde a invasão soviética à Finlândia. Com isso, os soviéticos adquiriram
imediatamente 59 aviões acaçá. O programa de empréstimo-financiamento, que
supriu as necessidades de armas pela Grã Bretanha, foi expandido para a URSS
também.
Por meio desse programa, os soviéticos adquiriram: 11 mil
aviões, 4 mil bombardeios, 400 mil caminhões, 12 mil tanques, 32 mil
motocicletas, 13 mil locomotivas, 8 mil canhões anti-aéreo, 135
submetralhadoras, 300 mil toneladas de explosivos, 40 mil rádios de campo, 400
sistemas de radares etc etc etc. Daí
dizer-se que a II Guerra Mundial recuperou a economia mundial.
Sem essa ajuda externa, a URSS teria sido derrotada ainda em
1942. Além disso, Stalin beneficiou-se enormemente da entrada dos EUA no
conflito, após o ataque a Pearl Harbor pelo Japão.
O fim da II GM deu-se pela captura de Berlim, pelos
soviéticos, em maio de 1945.
A batalha do Pacífico terminou logo após duas bombas
atômicas serem lançadas sobre o Japão em agosto de 1945. Ainda no dia em que a
segunda dessas bombas foi lançada sobre Nagasaki, Stalin encontrou tempo para
quebrar mais um Pacto de Não-Agressão, desta feita firmado com os japoneses, em
1941. Invadiu a Manchúria e reclamou a posse do território. Os soviéticos ainda
ocuparam o norte da Coréia, simultaneamente à marcha dos EUA a partir do sul, levando
à Guerra da Coréia poucos anos depois.
Na Rússia, essa guerra contra a Alemanha é conhecida como “A
Grande Guerra Patriótica”, a exemplo daquela contra Napoleão, no século XIX.
Durante as conferências de guerra, ocorridas nos estertores
da II GM, discutiu-se o mundo pós-Guerra. EUA, Grã Bretanha e URSS discutiam de
maneira a tentarem dar sinais de colaboração mútua. Ainda hoje surpreende a
quantidade de concessões que Stalin arrancou dos Aliados.
Aparentemente a grande preocupação dos aliados se
relacionava à reconstrução futura da Europa: o famoso Plano Marshall. A solução
aventada com mais vigor era a preparação do continente para se tornar uma
Federação, no futuro: a atual União Europeia nasceu aí, ainda.
Também nesse período nasceu a CIA, nos EUA. Ficava completo
o conjunto de atores que criariam toda sorte de intriga na Europa, por meio da
inversão de ajuda externa e intervenção de agentes secretos.
No leste, por seu turno, acordou-se que as nações sob o jugo
soviético naquele momento – Alemanha oriental, Polônia, República Tcheca,
Bulgaria, Romênia, Albânia, Iugoslávia e Hungria – iriam, a seu tempo, realizar
eleições e, eventualmente, tornarem-se membros da comunidade europeia de
nações, também.
No entanto, uma a uma, sob a orientação de Stalin, nações da
Europa oriental tornaram-se ditaduras comunistas; estados vassalos de Moscou.
E assim teve início a fatídica Guerra Fria: uma rivalidade
internacional entre dois competidores, igualmente imperialistas.
Nesse cenário nasceu uma estratégia que vigorou por décadas,
conhecida como “contenção”. George Kenna, do Conselho de Relações Exteriores
britânico, em 1947, elaborou esse plano. Ele pretendia enfrentar a URSS por meio
de “aplicações diretas e vigilantes de contraforça em uma série de mudanças
constantes de pontos geográficos e políticos, correspondendo às mudanças e
manobras da política soviética.” O que se pretendia com isso? “Promover
tendências nas quais deve-se eventualmente encontrar suas metas tanto na queda
do poder soviético quanto no derretimento gradual do mesmo.”
Em 1949, os soviéticos detonaram sua primeira bomba atômica.
Resultado: uma guerra contra eles foi imediatamente descartada.
Em abril de 1949, a aliança militar ocidental criou a OTAN.
Lord Ismay, o primeiro Secretário Geral da OTAN, deixou patente a que se propunha
tal organismo: “manter os russos fora, os americanos dentro, e os alemães
quietos.”
Em dezembro de 1949, Mao Tsé-Tung derrubou finalmente o
governo nacionalista chinês. No ano seguinte, a Coréia do Norte atacou o sul. A
primeira estava sob jugo soviético, e a segunda, sob jugo americano. A Guerra
da Coréia se estendeu pelos 3 anos seguintes e vitimou 50 mil norte americanos.
Joseph Stalin morreu em 1953.
Foi substituído por Nikita Hrushchev foi nomeado o primeiro
Secretário do Partido Comunista. Depois, Premier. Foi responsável pela por
limpar o país do passado stalinista. Iniciou uma série de reformas liberais na
política interna.
Em 1954, Krushchev tomou uma decisão que traria
consequências muitas décadas depois: transferiu a península da Criméia da
República Russa Soviética para a República Ukraniana Soviética. Porém a
importância da região permaneceu a mesma: a Criméia é o lar histórico da Frota
Russa no Mar Negro; era e ainda é predominantemente russo.
Na década de 1950, o senador Joe McCarthy lançou sua cruzada
anti-Comunista. Ele pretendia expor a infiltração comunista dentro dos EUA,
especialmente no governo. Foi seguido tanto por republicanos quanto por
democratas.
Próximo do fim do governo Eisenhower, um avião espião
americano, U2, foi abatido no espaço aéreo russo, em 1960. O piloto, Francis
Gary Powers, foi preso. Foi libertado dois anos depois, numa troca mútua de
espiões americanos e soviéticos.
Os piores anos da Guerra Fria foram marcados pela Crise dos
Mísseis em Cuba, em 1962, com o despacho de mísseis nucleares russos para a ilha
de Cuba. A resposta americana foi o decreto, por John Kennedy, do bloqueio
naval da ilha, que se estenderia, também, décadas.
A resolução da crise se deu por canais diplomáticos, após os
EUA concordarem com a retirada de seus mísseis da Turquia – que estavam apontados
para Moscou.
A Guerra Fria progrediu pelos anos 1960 adentro, com a
inútil Guerra do Vietnã.
Os anos 1970 testemunharam o xadrez CIA-KGB de guerras por
procuração, campanhas de desinformação, assassinatos e estados-fantoches. A
batalha pela supremacia global teve como palco: África, América do Sul e Ásia.
Enquanto isso, Brezhnev continuava conversando e fazendo
negócios com Nixon, Ford e Carter.
Continua!
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “The war against
Putin: what the government ...”
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