A notícia de que a Alemanha se rendera chegou ao centro de
desenvolvimento do projeto Manhattan, conhecido como Trinity Site -, pouco antes
da detonação da bomba de testes Trinity. Terminava assim, um tanto broxante, a
corrida nuclear contra a Alemanha.
Ao contrário do que esperava, Oppie foi informado de que
nada, essencialmente, mudara. O presidente era outro, o alvo era outro (agora
era o Japão), mas para os cientistas nada mudara.
Niels Bohr, desde que tomara conhecimento do sucesso da
fissão nuclear, mostrara-se apreensivo quanto às consquências de alguma nação
possuir uma arma dessa envergadura. Em 1944 escrevera a Roosevelt, tentando induzi-lo
a compartilhar o segredo da bomba com os Aliados, inclusive com os russos.
Churchill retorquiu pedindo que prendessem Bohr imediatamente!
Em 1945, Szilard enviou uma petição também a Roosevelt,
exigindo controles internacionais sobre as armas atômicas. Ele já previa uma
corrida nuclear com a URSS.
Dia 6 de agosto, às 9h14min, um bombardeio lançava a Little
Boy, bomba de urânio, sobre Hiroshima. Incineraram-se 6 km quadrados da cidade.
66.000 pessoas morreram, 69.000 ficaram feridas. Três dias após, Fat Man, bomba
de plutônio, era lançada sobre Nagasaki. No dia seguinte o Japão se rendia.
Em outubro, Oppie pediu as contas de Los Alamos a fim de
retomar sua vida. Despediu-se com a seguinte frase: “Se as bombas atômicas
forem acrescentadas ao arsenal d um mundo em guerra, a humanidade amaldiçoará o
nome de Los Alamos”.
Mais tarde, em plena guerra fria, Oppie fazia parte do
Conselho que desaconselhou a Comissão de Energia Atômica dos EUA a desenvolverem
uma bomba de hidrogênio – centenas de vezes mais poderosa que a bomba atômica.
Em pleno início da era McCarthy de caça aos comunistas, tal
decisão lançou os mais diversos inimigos no encalço de Oppie. O chefe miliar da
Comissão, contra-almirante Strauss, que desejava ser reconhecido como o pai da
bomba H, mandou investigar Oppie. A partir daí, correu o filme de sempre:
telefone grampeado, correspondências devassadas, policiais de terno e óculos
escuros do outro lado da rua ou o seguindo pelas ruas...
Em 1953, foi chamado a prestar depoimento perante a Comissão
de Energia Atômica. Já era um homem castigado pela política de Washington. Usou
sua ironia como defesa. Ao ser perguntado sobre a importância defensiva dos
isótopos, respondeu: “São muito mais importantes do que, digamos, as vitaminas”.
Em 1954, Strauss voltou à carga e submeteu Oppie a outro
interrogatório, acusado de se associar a comunistas (no caso, seu irmão). Como
punição, teve seu certificado de liberação cassado, o que teve por consequência
a parda do cargo que ocupava no governo. Passou a se dedicar apenas ao
Instituto que dirigia.
Mais uma vez, intrigas levaram Strauss ao Instituto de
Pesquisas Avançadas do Oppie. Agora os ataques eram ainda mais intensos,
levando ao ponto de Oppie ser proibido de entrar na entidade que dirigia. Não
foi demitido desse cargo também porque seus amigos – Einstein, Godel, Von Neumann
e outros assinaram uma petição pública com termos bastante fortes contra tal
decisão.
Psicologicamente, o homem que já era tabagista empedernido,
tornou-se alcoólatra compulsivo. Porém, em 1963, justiça começou a feita com
seu nome, repondo as coisas em seu devido lugar. O presidente John Kennedy
indicou-o, tardiamente diga-se, ao prêmio Enrico Fermi. Nesse mesmo dia,
Kennedy foi assassinado. No entanto seu vice, Lindon B. Johnson deu seguimento
ao compromisso.
Contudo, seu certificado de liberação não foi devolvido.
Quatro anos após, morreu Robert Oppenheimer, aos 62 anos.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Oppenheimer e a bomba atômica”.
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