Em agosto de 2012, o Tesouro dos EUA acusou oficialmente o
Hezbollah de “dar suporte ao governo da Síria”. O Secretário David Cohen
explicou que o “Hezbollah treinou diretamente pessoas do governo sírio na Síria
e facilitou o treinamento de forças sírias por meio do Corpo da Guarda Revolucionária
Islâmica do Irã, Qods Force” desde o início de 2011.
Este reconhecimento em público serviu para legitimar alegações
anteriores de que forças do Hezbollah estavam operando ao lado das Forças da
Síria, a despeito de negativas emitidas por Hassan Nasrallah, o secretário-geral do grupo.
Este suporte deve ser encarado sob a perspectiva do “Eixo de
Resistência” e na importância da preservação do regime de Assad, incluindo a
manutenção de rotas de suprimento por onde se transportam armas, equipamentos e
dinheiro para dentro de áreas controladas pelo Hezbollah, no Líbano e na Síria.
A intervenção no Iraque, liderada pelos EUA, transformou um
eventual inimigo do Irã em estado amigo, sob sua influência, e Teerã não queria
perder influência na Síria, apesar do sucesso no Iraque.
Em junho de 2011, O Tesouro americano acusou as Forças
Aéreas do Irã de “enviar equipamentos militares à IRGC desde 2006”. Inclusive à
Síria, onde “voos comerciais da Iran Air têm também sido usadas para transporte
de mísseis e de peças de foguetes.”
Entretanto, Irã e Hezbollah aumentariam a carga de ajudas
quando perceberam o enfraquecimento do regime.
Estimativas, apontaram o número de soldados como
aproximadamente metade dos 300 mil que se dizia haver antes do início dos
conflitos. A participação de combatentes estrangeiros tornou-se ainda mais
essencial conforme a oposição ganhava ex-combatentes de Assad, que recusavam o
alistamento. Em algumas instâncias, homens desertaram, por causa de propinas,
até emigraram para evitar serem conscritos. Conforme o conflito evoluía, forças
do regime se deixaram de ser principalmente sírias, com apoio bem restrito do
Hezbollah e do Irã, para ser compostas por libaneses, iranianos, iraquianos e
afegãos.
Regionalmente, o Hezbollah, em face das necessidades cada
vez maiores de recursos para o conflito, mudou seu foco de atuação de Israel, o
inimigo histórico, em direção ao suporte a Assad.
Mesmo com o apoio extensivo de forças estrangeiras, o
governo sírio continuou a enfrentar pressões no campo de batalha. Isto,
eventualmente, levou a uma expansão da intervenção externa com a entrada da
Rússia, em setembro de 2015. Embora calçada em termos de combater a expansão do
ISIS, a Rússia entrou na Síria com três estratégias principais, de acordo com
Michael Horowitz: proteger suas propriedades navais em Tartus e expandir a
presença militar russa no país, incluindo a redução do tempo para envio de
tropas, em qualquer operação futura; garantir a viabilidade do regime de Assad,
inclusive no sentido de prevenir sua substituição por um governo pró-Ocidente;
aumentar seu poder de dissuasão por meio da demonstração de eficácia e alto
desempenho em campo de batalha. A ação da Rússia não apenas fortaleceu as
tropas de chão, como suplementou a atuação dos caças sírios.
A Rússia alterou completamente a trajetória do conflito em
favor de Assad. Mudou também a perspectiva pós-conflito do Irã, haja vista seus
interesses não serem mais nem únicos nem os mais importantes.
Continua!
Rubem L. de
F. Auto
Fonte:
livro “The Syrian Civil War: The History of the 21th Century Deadliest
Conflict”
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