A pedido de alguns amigos, como
Einstein, em 1915 Sigmund Freud escreveu uma se suas obras-primas: O mal-estar
da Civilização. Nessa obra, ele tentava entender a psicologia que estava por
trás do conflito estúpido, irracional, que era a I Guerra Mundial.
Um conflito que logo se caracterizou
por linhas fixas, entrincheiradas, espaçadas de 80 em 80 metros, nas quais soldados
com metralhadoras se matavam aos milhões. Como uma civilização no seu auge,
como era a europeia, vivendo um período de descobertas e invenções fantásticas,
chegou a esse ponto? Era visível que estavam pondo todo aquele esforço de
construir uma civilização avançada, por água abaixo. Em nome de quê?
Freud argumentou que o motivo era
estranho, porém bastante compreensível: aqueles homens (e mulheres) estavam
cansados de serem civilizados! Somos homens (no sentido de espécie), gostamos
de conflitos, procuramos a dominação, precisamos de válvulas de escape.
Precisamos de exercitar nosso lado irracional.
Nas suas obras, e nessa, Freud
faz muita menção à sexualidade, às neuroses sexuais, fantasias indizíveis. Ele
viveu em uma sociedade bastante puritana, na qual a repressão sexual era uma regra.
Como psiquiatra, que acompanhou diversos pacientes ao longo dos anos, Freud pode
aprender como as pessoas davam vazão a suas neuroses, muitas de fundo sexual.
A sociedade alemã, e a própria
Europa, estava no limite do que poderia suportar por viver naquela sociedade
regrada, com seus códigos e etiquetas. Faz lembra daquelas pessoas que tanto
reclamam do “politicamente correto”?
Freud diz que ser civilizado,
para os homens, é um grande fardo. Não era ilícito que a sociedade tenha
apoiado aquela guerra num momento de euforia, de fazer algo excitante e
diferente. Era evidente também, para Freud, que por volta de 1915 essa euforia
tenha se esvaído quase completamente, deixando um sentimento arrependimento
nessas pessoas. Estava claro que aquilo não poderia ter acontecido. Mas já era
tarde.
Embora alegue-se, muitas vezes, que
o crescimento econômico vertiginoso da Alemanha no século XIX, somado ao fato
de que não dispunham de colônias na proporção que considerariam justa, mesmo
após as negociações no âmbito da Conferência de Berlin, criou uma espécie de
justificativa para o início do conflito. Mas não deixa de parecer uma derrapada
do Kaizer Guilherme II.
Uma observação bastante acurada
que Freud fez, foi quando disse ter notado um problema muito preocupante na
sociedade alemão, em que as pessoas abriam mão excessivamente de seus direitos
individuais, em benefício do Estado, motivadas pela sensação de insegurança. Direitos
sociais acima dos direitos individuais é numa característica própria dos
regimes autoritários. Eu creio em exceções, mas a realidade tem sido pródiga que
a regra é o caminho dos regimes de exceção. Nesse quadro, do embate liberdade versus igualdade, o último prevalece.
Os tempos atuais têm mostrado que
os detentores do Poder tendem a usar discursos baseados em perigos sociais, e a
própria violência que costuma reinar em sociedades muito desiguais, para
avançar sobre direitos individuais. No caso de sociedades bastante ignorantes,
em média, como a brasileira, os fatos veem acompanhados até mesmo de discursos
religiosos ou moral-religiosos, todos cristãos, católicos ou protestantes, claro.
Por exemplo, as leis e
determinações infralegais, quando avançam sobre os direitos individuais,
motivam entrar em residências sem mandado judicial, ou quando fazem o tráfico
de drogas ser classificado como crime de matiz constitucional e hediondo.
Enfim, basta ligar a TV e qualquer pessoa terá a sensação de que as drogas são
o grande gerador de desgraças nas sociedades.
Pois bem. Seria de se esperar que
o número de mortes relacionadas ao uso de drogas fosse alarmante.
Transcrevo abaixo
trecho do livro Uma breve história do Conhecimento, de Van Doren (os números estão desatualizados, mas a proporção deve ser a mesma):
“(...) viciado era alguém “transferido
legalmente para” ou “preso a” outra pessoa ou coisa. O conceito tem as raízes
na lei romana. A ligação poderia ser estuada por outros, ou pela própria
pessoa. Um homem pode ficar viciado em bebida, disse Shakespeare, ou seja, pode
tender normalmente a tomar bebidas alcoólicas. (...)
“Speed” (velocidade) é o nome comum
de uma droga legal, quando receitada por um médico. Caso contrário, não é
legal. (...)
Pode até existir uma correlação
entre a velocidade crescente da vida moderna, na qual a humanidade, como um
todo, parece estar viciada, e o uso crescente de drogas psicotrópicas viciantes
que prometem uma fuga à correria do cotidiano (...).
O vício da nicotina é muito
perigoso. Mais de meio milhão de pessoas morre todos os anos vítima de doenças
causadas pelo tabaco (...)
O álcool é também um assassino poderoso
(...) pelo menos metade de todos os acidentes de carro parecem ser causados por
condutores embriagados. (...)
Qual é o número de mortes, a
nível mundial, causadas por todas a outras drogas psicotrópicas viciantes:
cocaína, heroína, ópio e as restantes ?
Alguém sabe ? Provavelmente será de 1 milhão de mortes por ano, ou mais. (...)
(...) Um número redondo, por
excesso (contabilizando todos os familiares, amigos etc.), é 5 milhões. Cinco
milhões de homens, mulheres, e crianças que morrem todos os anos devido aos
efeitos do álcool, da nicotina, da cocaína e de todas as outras substâncias do
mesmo gênero. (...)
Comparativamente, contudo, todos
os vícios químicos combinados estão longe de ser a dependência mais dispendiosa
de que a humanidade é vítima. Cinco milhões é um número pequeno quando
comparado com a quantidade de seres humanos vivos hoje em dia. É menos de uma
milésima parte do total, menos de um décimo de 1%. Pelo menos um vício é
incomparavelmente mais terrível, mais mortal. O vício da guerra.”
Há cerca de 35.000 anos, existiam
duas raças de seres humanos razoavelmente bem definidas. Uma espécie, o Homo
Sapiens, encontrava-se dividida em duas raças: o Homem de Neandertal e o Homem
de Cro-Magnon. Aparentemente o Homem de Neandertal eram mais pacífico. Houve um
conflito entre ambos e o Homem de Cro-Magnon saiu-se vitorioso, e os Homens de
Neandertal foram extintos.
Por volta de 5.000 aC a guerra
tornara-se endêmica em quase todas as sociedades humanas. E tem sido assim nos
últimos 7.000 anos ...
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