Em 1922, O Império do Japão se
tornou uma grande potência. Já havia vencido guerras contra a China, o país
mais populoso do mundo, em 1895 e contra a Rússia, o país mais extenso do
mundo, em 1905. Também esteve do lado vitorioso na I Guerra Mundial.
Por tudo isso, foi-lhe reservado
um assento na Conferência de Paz de Paris, em Versailles, ao lado de Grã
Bretanha, França, Itália e EUA. O Japão foi a primeira nação não-européia a
firmar aliança com a GB, tornar-se uma potência colonial e a primeira asiática
a se industrializar.
A entrada do Japão no clube das
potências imperiais deu-se com a assinatura do Tratado Naval de Washington, em
1922. Este Tratado buscava classificar as potências de acordo com o limite de
tonelagem permitido a cada signatário. A taxa estabelecida foi 5:5:3:1,75:1,75
entre Grã Bretanha, EUA, Japão, França e Itália, respectivamente.Portanto o
Japão foi classificado como a terceira potência naval mundial e poderia
fabricar navios com o dobro da tonelagem dos franceses e italianos.
Ainda em 1853, o Japão ainda era
uma sociedade agrária governada por senhores feudais militares, a quem o
Ocidente impôs tratados desiguais. Em apenas 70 anos, a nação pode reverter
esses tratados desiguais, sofreu uma transformação política, militar e
econômica completa. Estudiosos
contemporâneos normalmente atribuem essa ascensão a uma combinação de
ocidentalização, modernização, industrialização e militarização.
Contudo, esse sucesso também pode
ser atribuído à criação dos zaibatsu: grupos de grandes conglomerados familiares.
Eles contribuíram com a industrialização japonesa por causa de certos
princípios microeconômicos e estratégias de expansão. Trata-se de fenômeno
distinto na história japonesa.
O propósito da ocidentalização
era preencher que o separava dos imperialistas ocidentais.
Os oligarcas Meiji buscavam a
igualdade diplomática necessária para anular os tratados desiguais, que
permitiriam erguer barreiras tarifárias protecionistas, essenciais para o
desenvolvimento industrial.
Em 1868, o Shogunato – espécie de
regime militar que governou o país por quase 600 anos – foi derrubado e substituído
pelo Imperador do Japão. A este episódio denomina-se Restauração Meiji. Este
governo foi responsável por industrializar o Japão.
A estratégia foi oferecer apoio
estatal a negócios privados que mostrassem capacidade de alcançar sucesso
econômico. Os japoneses recusaram seguir a estratégia sugerida pelas demais
potências, de esperar que investimentos externos criassem um bom ambiente de
negócios. Este foi o caminho seguido pela China, que se viu sendo fatiada em
poucos anos. Também rejeitaram a estratégia de crescimento baseado em
companhias estatais, à maneira socialista.
No tempo dos Shoguns, o Estado
estava no controle de várias indústrias espalhados por todo o país. Algumas
eram grandes, mas a grande maioria eram pequenos negócios. Portanto os Meiji
herdaram diversos negócios ao chegarem ao poder. Esse fato levou à tentação de
adotar um modelo de industrialização estatal, à moda soviética e com planos qüinqüenais,
provavelmente.
Contudo essa trilha foi rejeitada
por um motivo menos ideológico do que prático: a nova burocracia japonesa não
tinha qualquer experiência em administração industrial. E essa conclusão foi
expressa pelos resultados medíocres obtidos em menos de cinco anos de controle
estatal.
O modelo de industrialização
japonês foi desenhado após a denominada Missão Iwakura, de 1871. Essa jornada
ao Hemisfério ocidental convenceu-os da importância da industrialização
liderada pela iniciativa privada.
Entretanto a iniciativa privada
japonesa estava muito aquém do requerido para confrontar as firmas ocidentais
dominantes. A maneira encontrada para superar essa desvantagem – tecnológica e
financeira, especialmente – foi uma política de incentivo à acumulação
primitiva, que resultou na criação dos zaibatsu. Essa estratégia eliminou a
necessidade do período de gestação, necessário para acumular o capital a ser
investido no período de expansão futura.
De novo, impunha-se um obstáculo:
ausência de pessoas com capacidade empresarial para tanto. Havia, contudo, um
grupo de pessoas que traficavam influência política, ainda no período dos
Shoguns. Eles obtinham favores comerciais e financeiros por meio de
relacionamentos com políticos. Nos anos de 1870, percebeu-se que essas pessoas
poderiam liderar a industrialização, pois tinham alguma experiência à frente de
negócios de grande vulto.
O apoio governamental consistia em
oferecer posições monopolísticas ou de massivos subsídios. Deste momento até
1922, o Japão pavimentou o caminho para o sucesso industrial saindo-se
vitorioso em três guerras.
Podem-se dividir os zaibatsu em
dois grupos: os Big Four da Mitsui, Mitsubishi, Sumitomo e Yasuda; e no grupo composto
por Okura, Fujita, Asano e Furukawa. Existem outros, como a Nissan, zaibatsu
mais recente. A expansão desses conglomerados utilizou-se de subsidiárias,
muitas com posição oligárquica em seus setores. Não são raros aqueles que controlam
bancos.
Algumas características são
comuns aos zaibatsu. Uma delas são os benefícios advindos das economias de
escala e de escopo. Na economia de escala, há redução de custos de produção conforme
os níveis de produção aumentam, no que se refere a um único produto. Na
economia de escopo, as reduções de custos são alcançadas lançando-se mão de
produtos relacionados. Com sinergias e operações comuns a mais de um produto, a
firma consegue tornar seus custos mais atraentes.
Todos os zaibatsu se iniciaram
como negócios pequenos que alcançaram o status de grandes conglomerados, com operações
bastante diversificadas, por meio dessas duas estratégias.
Um exemplo muito citado é o da
Furukawa. O Sr. Furukawa, a partir dos lucros da exploração de duas pequenas
minas, adquiriu a Ashio Copper Mine, em 1877. Por meio de empréstimos bastante
favorecidos do governo, adquiriu o maquinário necessário para tornar suas coesações
crescentemente lucrativas. Torna-se evidente que o fato de que firmas
estrangeiras ainda não terem ocupado o mercado, abriu espaço para que novos
entrantes japoneses ocupassem o mercado com se se tratasse de um “Green market”
– afinal, fora do Japão, grandes firmas já faziam tudo o que as novas firmas
japonesas estavam fazendo, embora as japonesas amealhassem lucros típicos de “first
movers”.
Este processo descrito acima
levou à imagem que os zaibatsu amealharam ao longo dos anos, como ambientes
propícios para o desenvolvimento de novas tecnologias. De fato, o papel delas
foi o de utilizar-se de seus massivos recursos para trazer processos de produção
modernos, como Sistema Bessemer de derretimento de metais. A Furukawa levou a produção
de fios de cobre ao Japão.
O caso da Mitsubishi e do mercado
de navegação no Japão é emblemático. Nos anos do Shogunato, as frotas de navios
japoneses estavam limitadas a 75 pés – ou 150 toneladas. Quando o Sr. Iwasaki
adquiriu alguns navios a vapor, em 1871, e iniciou uma companhia de nome
Mitsubishi, essa proibição tinha acabado de ser revogada. Utilizou-se de sua
iniciativa inédita no seu país para começar um novo zaibatsu. Após seu apoio ao
exército japonês, quando da invasão das ilhas Formosa, o próprio governo ajudou
a pavimentar seu caminho em direção ao monopólio de diversas linhas costeiras e
internacionais de transporte.
De fato, todos os problemas
causados pelo monopólio foram notados no Japão. A qualidade dos serviços e os
preços cobrados pela Mitsubishi foram alvo de protestos, mesmo nos jornais.
Isso levou o governo a criar a Companhia Cooperativa de Transporte (somente o
Estado tinha recursos suficientes para encarar os altíssimos custos de
oportunidade), que faliu antes que pudesse abrir o mercado da Mitsubishi. Nesse
momento, a estratégia de diversificação havia garantido diversas fontes de
receita à Mitsubishi, permitindo que ela sobrevivesse ao período de forte
concorrência em seu negócio principal.
As estratégias de diversificação
dos zaibatsu ocorrem de três maneiras: concêntrica, horizontal ou lateral (ou por
conglomeração). Quando a Mitsubishi expandiu suas operações de seguro, de
seguro contra incêndio e marítimo para o seguro de vida e mutual, adotou-se a
expansão concêntrica. Quando a companhia evoluiu de minas de carvão para minas
de cobre, tratou-se de diversificação horizontal. Já a expansão da Mitsubishi
indo de transporte marítimo para negócios bancários, exemplifica a
diversificação por conglomeração. Todos os zaibatsu adotaram estratégias de diversificação,
em algum momento.
As vantagens apontadas ao adotar
as estratégias acima descritas são: redução de riscos, criação de fontes internas
de acumulação de capital (as quais são agora independentes de favores
governamentais ou de criação de campeões nacionais), sinergias, desenvolvimento
de novos mercados e o serviço prestado no âmbito de uma política nacional.
Importante notar que a reconstrução
do Japão, após a II GM, adotou muitas das estratégias desenhadas no período aqui
citado.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Japan, The Great
Power”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário