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terça-feira, 25 de outubro de 2016

WEB OF DEBT – COMO A ALEMANHA NAZISTA HUMILHOU A TEORIA ECONÔMICA CLÁSSICA E O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL


“Não somos estúpidos o bastante para tentar fazer uma moeda [lastreada por] ouro, que não temos. Para cada Marco que emitirmos requisitamos o valor equivalente em bens ou serviços ... nós rimos da cara dos banqueiros que financiam nosso país quando dizem que o valor de uma moeda é regulado pelo ouro e pelos títulos existentes nos cofres de um Estado.”
Adolf Hitler, citado em “Sistema Monetário de Hitler,” e Citadels of Chaos (Meador, 1949)

Resolver os problemas de uma Nação por meio de emissões monetárias não é algo raro na história. Um modelo bastante conhecido foi fundado após a I Guerra Mundial , na Alemanha. Quando Hitler chegou ao poder, o país estava completa e quase irreversivelmente destruído.

O Tratado de Versailles tinha imposto pagamentos avassaladores de indenizações sobre o povo alemão, de quem se esperava reembolso dos custos da guerra, sofridos por todos os participantes – tais custos representavam o triplo de toda a riqueza da Alemanha.

Especulações sobre o Marco alemão causaram sua depreciação, precipitando uma das piores inflações dos tempos modernos. No seu pico, um barril cheio com 100 bilhões de notas de Marcos não poderia comprar um pão doce.

O Tesouro Nacional estava vazio, e um grande número de casas e fazendas foram confiscadas pelos bancos e especuladores. Pessoas moravam em barracos e passavam fome. Nada assim acontecera antes – a destruição total da moeda nacional, levando embora a poupança das pessoas, seus negócios, e a economia, por fim. Para piorar ainda mais, no fim da década, a grande depressão chegou.

A Alemanha não tinha mais opções, a não ser sucumbir à escravidão da dívida dos credores internacionais.
Ao menos é o que parecia. Hitler e os Nazistas, chegando ao poder em 1933, derrotaram o cartel dos bancos internacionais ao emitirem seu próprio dinheiro. Para tanto, usaram como inspiração Abraham Lincoln, que financiou a Guerra Civil Americana com papel-moeda emitido pelo governo, chamados “Greenbacks”.

Hitler iniciou seu programa nacional de crédito desenvolvendo um plano de investimentos públicos. Projetos objeto de financiamentos públicos incluíam: controle de enchentes, manutenção de prédios públicos e de residências privadas, construção de novos edifícios, estradas, pontes, canais e instalações portuárias. O custo projetado dos diversos programas foi estabelecido em 1 bilhão de unidades da moeda nacional.

Um bilhão de meios de troca não-inflacionários, chamados Certificados Trabalhistas do Tesouro, foram então emitidos em suporte ao custo dos projetos. Milhões de pessoas foram empregadas nesses projetos e eram pagos com Certificados. Este dinheiro emitido pelo governo não era lastreado em ouro, mas por algo com valor real. Era essencialmente um recibo ao trabalhador e de materiais entregues ao governo. Hitler disse, “para cada Marco que emitido, requisita-se a emissão de valor equivalente em bens ou serviços.” O trabalhador, então, gasta os Certificados em outros bens ou serviços, criando mais trabalho para mais pessoas.

Em dois anos, o problema do desemprego foi  resolvido e o país voltava a crescer. Havia uma moeda sólida e estável, sem dívidas, sem inflação, num momento em que milhões de pessoas nos EUA e em outros países ocidentais estavam ainda desempregadas ou vivendo de auxílio do Estado. A Alemanha até conseguiu recuperar o comércio internacional, embora fosse lhe negado crédito externo e ainda vivesse sob um boicote internacional.

Ela conseguiu fazer isso usando um sistema de escambo: equipamentos e commodities eram trocados diretamente com outros países, dispensando bancos internacionais. Este sistema de trocas diretas ocorria sem criar dívidas e sem déficits comerciais. A experiência econômica alemã, assim como a de Lincoln, teve vida curta; mas deixou alguns monumentos a seu sucesso, incluindo as famosas Autobahn, as primeiras super-rodovias de alta velocidade do mundo.

Hjalmar Schacht, que era o então presidente do Banco Central alemão, é citado com um pouco de humor que resume a versão alemã do milagre das Greenbacks. Um banqueiro americano comentou: “Dr. Schacht, o senhor deveria vir à América. Temos muito dinheiro e isso é um sistema bancário de verdade.” Schacht respondeu: “O senhor deveria vir a Berlin. Não temos dinheiro. E isso é um sistema bancário de verdade.”

Embora Hitler tenha entrada rápida e diretamente para a infâmia nos livros de história, ele era bastante popular entre o povo alemão, ao menos por algum tempo. Stephen Zarlenga sugere em “The Lost Science of Money” que isso se deveu ao fato de que ele temporariamente resgatou a Alemanha da Teoria Econômica inglesa – a teoria de que o dinheiro deve ser emprestado contra uma reserva de ouro de um cartel de bancos privados em vez de ser emitido diretamente pelo governo.

De acordo com o pesquisador canadense Dr. Henry Makow, esta pode ter sido a razão principal pela qual Hitler deveria ser impedido: ele havia deixado de lado os banqueiros internacionais e criou seu próprio dinheiro. Makow citou Rakovsky, um dos fundadores do Bolshevismo soviético e amigo íntimo de Trotsky, e que sofreu um dos julgamentos-show de Stalin.  

De acordo com Rakovsky, Hitler foi realmente financiado pelos banqueiros internacionais, por meio de seu agente Hjalmar Schacht, de maneira a controlar Stalin, que usurpou poderes de seu agente Trotsky. Mas Hitler tornou-se uma ameaça ainda maior do que Stalin quando tomou a decisão de imprimir sua própria moeda. Rakovsky disse:
“Hitler tomou para si o priovilégio de fabricar sua própria moeda e não apenas dinheiro físico, mas também escritural; ele tomou a intocada máquina de falsificação e a pôs a serviço do benefício do Estado ... Você é capaz de imaginar o que aconteceria ... se ele tivesse infectado outros Estados ... se consegue, tente imaginar a resposta contrarrevolucionária.”

O economista Henry C. K. Liu escreveu sobre as transformações marcantes da Alemanha:
“Os Nazis chegaram ao poder na Alemanha em 1933, quando sua economia estava em total colapso, sofrendo reparações de guerra ruinosas e perspectivas zeradas de investimentos ou crédito externos. Ainda assim, por meio de uma política monetária independente de crédito soberano e de um programa de investimentos públicos para geração de empregos, o Terceiro Reich conseguiu transformar uma Alemanha quebrada, destituída de colônias além-mar que pudesse explorar, na economia mais forte da Europa por quatro anos, antes mesmo de iniciar seu programa de rearmamento.”    

Em “Billion for the bankers, Debts for the People”, Sheldom Emry comenta:
“A Alemanha emitiu dinheiro, livre de dívidas e de juros, de 1935 em diante, levando, desde seu sucesso inicial, quando da grande depressão, até se tornar uma potência mundial, 5 anos. A Alemanha financiou suas operações governamentais e de guerra, de 1935 a 1945, sem ouro e sem dívidas, e isso levou o mundo capitalista e o mundo comunista a destruí-la e assim por a Europa de volta no colo dos Banqueiros. Essa história do dinheiro nem mesmo aparece nos livros das escolas públicas, hoje.”

A única coisa que aparece nos livros de hoje é o desastre da hiperinflação sofrida em 1923 pela República de Weimar (governou a Alemanha de 1919 a 1933). A desvalorização radical do Marco alemão é citada com o exemplo textual do que pode dar errado quando ao governo é dado o poder ilimitado de imprimir dinheiro.

Por isso é citado; mas no mundo complexo das economias, as coisas são nem sempre são o que parecem. A crise financeira de Weimar começou com os pagamentos impossíveis das reparações, impostas pelo Tratado de Versailles. Schacht, que era comissário da moeda na República, reclamou:
“O Tratado de Versailles é um modelo de medida genial para a destruição da economia alemã ... O Reich não pode achar um jeito de manter sua cabeça acima da água que não seja a maneira inflacionária de imprimir dinheiro.”

Isso foi o que ele disse inicialmente. Mas Schacht revelou que era o Reichsbank privado, não o governo alemão, quem estava imprimindo as novas moedas. Assim como o Federal Reserve americano, o Reichsbank era supervisionado por burocratas nomeados pelo governo, mas era operado visando a ganhos privados. O que transformou a inflação dos anos de guerra em hiperinflação foi a especulação feita por investidores estrangeiros, que vendiam o Marco em curtíssimo prazo, apostando na sua perda de valor.

Os movimentos especulativos eram alimentados pela injeção freqüente de Marcos, emitidos tanto pelo Reichsbank quanto por outros bancos privados. Dinheiro era criado do nada e emprestado com lucro.

De acordo com Schacht, portanto, não apenas não foi o governo o causador da hiperinflação, mas foi o governo quem resolveu esse problema. O Reichsbank foi posto sob normas estritas de regulação do governo e medidas corretivas imediatas foram tomadas para eliminar a especulação internacional, por meio do impedimento do acesso a empréstimos de dinheiro criado pelos bancos. Depois disso, Hitler pôs o país sob controle ao emitir seus Certificados do Tesouro, no estilo das Greenbacks americanas.

Schacht realmente desaprovou a emissão desses Certificados e foi demitido da chefia do Reichsbank quando se recusou a emiti-las (e isso pode tê-lo salvado no Tribunal de Nuremberg). Mas reconheceu em suas memórias que permitir ao governo emitir todo o dinheiro de que necessitava não havia produzido a inflação de preços prevista pela teoria econômica clássica. Ele supôs que isso se devia ao baixo nível de produção das fábricas e às pessoas desempregadas. Nesse ponto ele concordava com John Maynard Keynes: quando recursos estão disponíveis para aumentar a produtividade, adicionar dinheiro novo à economia não leva a aumento de preços; e se aumenta a oferta de bens e serviços. Oferta e demanda aumentam conjuntamente, não afetando preços.   



Rubem L. de F. Auto








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