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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A HISTÓRIA DA QUÍMICA E DOS MEDICAMENTOS


Certamente o primeiro fenômeno natural que os seres humanos foram capazes de reproduzir por meios artificiais, humanos, foi o fogo. Habitando as savanas africanas, observando incêndios provocados pelos raios durante as tempestades, alguns seres humanos muito criativos conseguiram descobrir como produzir aquela chama que afastava predadores e permitia consumir alimentos que, crus, mostravam-se de sofrível mastigação e digestão
.
Aquecimento por atrito e aumento da concentração de oxigênio para melhor combustão (assoprando cuidadosamente a chama ...) foram técnicas prontamente desenvolvidas. E os homo sapiens sapiens nem haviam surgido. Há registro de fogueiras pré-históricas de 800.000 anos atrás, produzidas por homo erectus, na África.

Outra tecnologia desenvolvida ainda na pré-história é a cerâmica. Feita a partir da argila, após aquecida esta tornava-se resistente à água. Muitos milênios mais tarde, durante a dinastia Tang, os chineses criaram a porcelana, ao usar o caulim – um tipo de argila.

Com a primeira grande civilização da humanidade, os Egípcios, técnicas químicas ganharam um novo salto. Uma característica dessa civilização era o embalsamento de múmias. Após a descoberta das primeiras múmias, chamou atenção da qualidade da preservação. Em algumas ainda havia cabelos. Conforme os faraós iam se sucedendo, os embalsamadores foram melhorando suas técnicas e criaram uma classe própria de profissionais.

Outro produto da engenhosidade Egípcia foi o vidro, técnica aperfeiçoada pelos romanos e, séculos depois, um dos símbolos da arte veneziana.

A cidade de Alexandria, local da famosa biblioteca e um dos centros intelectuais mais famosos da antiguidade, reuniu muitos desses profissionais embalsamadores. Adotaram técnicas de metalurgia e ambas passaram a ser conhecidas como kyniâ. Foram essas técnicas herdadas pelos gregos quando Alexandre uniu a cultura grega às suas conquistas persas.

O desenvolvimento da metalurgia dependeu da quantidade de energia (calor) que as técnicas existentes eram capazes de produzir. Começando pelo cobre, em seguida foi criado o bronze, uma liga metálica formada por cobre e estanho. Mais maleável e de bonito acabamento, foi superado pelo ferro, quando a fabricação deste último tornou-se possível.

Os embalsamadores de corpos estiveram em atividade até a conquista do Egito pelos romanos. Inicialmente avessos às tradição, após a adoção do cristianismo pelo imperadores, os embalsamadores passaram a ser perseguidos pelos romanos. Fugiram para a região da Pérsia e lá deram início à alquimia – palavra originada de Al-Khemy, ou a química.

A expansão do islamismo durante a Idade Média européia foi responsável por preservar os conhecimentos desenvolvidos até então e por expandi-lo ainda mais. Suas primeiras atividades datam do séc. III AC e se estendem até por volta do séc. XVI DC.

Marcada pelas tentativas de transmutar chumbo e mercúrio e ouro e prata (a Pedra Filosofal) e de produção da Panacéia (a cura de todos os males), os alquimistas fizeram muitos progressos por isolar diversos elementos químicos. Veneravam o caráter inerte do ouro (por não reagir com quase qualquer outro elemento, torna-se muito durável) e fizeram elixires que prometiam a juventude eterna. Isaac Newton ficou fascinado pelo trabalho de alquimistas, e até mesmo aventurou-se em alguns. Roger e Francis Bacon, Santo Tomás de Aquino também. Até mesmo aventurou-se em tentativas semelhantes.

Nesse mesmo período os chineses também faziam experimentos químicos. Deles surfiram a pólvora – usada como fogos de artifício –, por exemplo.

As Cruzadas ocorridas no final da Alta Idade Média puseram em contato uma Europa marcada pelo primitivismo intelectual e sociedade árabes, mais desenvolvida e dispondo de avanços do Oriente. Assim o fogo grego (pólvora) passou a ser conhecido por eles. Os trabalhos com metais levaram às fábricas de sinos. Por volta da baixa Idade Média, diversos desses fabricantes passaram a fabricar canhões bem potentes. Por ironia, foram esses canhões, encomendados por Maomé II que derrubaram as muralhas de Constantinopla ... que levaram à crise das cidades italianas.

A química começa a tornar-se ciência, no sentido moderno da palavra, com Robert Boyle, no século XVII, ao adotar o caminho da experimentação, deixando de lado as influências religiosas e espirituais vigentes. A expressão Alquimia perde o artigo “Al” e a raiz “Quimia” torna-se Química. Seus princípios estão descritos na obra “O Químico Cético” (The Sceptical Chymist), de 1661.  

Boyle criou a Lei de Boyle (pressão e volume variam inversamente em amostras de gases), experimentou com bomba de vácuo e estudou a fundo os gases. Foi também um dos fundadores da Real Society inglesa.
Paracelso, médico suíço do séx. XVI, pseudônimo que adotou em referência a um médico romano, levou a química moderna que inventava para as aplicações médicas. Até então, a medicina que se praticava usava conceitos da medicina grega, importada por Roma e estava em pleno uso na Europa. Porém, Paracelso não conseguia aceitar idéias como a de que o desequilíbrio dos humores do corpo causavam doenças.

Usando seus conhecimentos médicos e de alquimia, cunhou frases como “Todas as substâncias são venenos, não existe nada que não seja veneno. Somente a dose correta diferencia o veneno do remédio.”
Paracelso revelou que os elementos químicos como o zinco, ferro, manganês, poderiam estar presentes em nosso corpo. Ao contrário do que pensavam na época, os minerais existiam na forma orgânica e não somente na forma inorgânica (fora do organismo). Foi a partir daí que o alquimista propôs uma interação dos minerais e metais com o bem estar do homem, e um de seus estudos envolvia a cura da sífilis com mercúrio. Também fez uso do éter como anestésico.
   
Os progressos seguintes mais marcantes foram realizados pelo francês Lavoisier. Rico e dono da empresa que realizava a cobrança dos impostos na França, concessão que adquiriu do governo, Lavoisier investiu muito da sua fortuna para criar um dos laboratórios mais famosos da história. Nele Lavoisier criou a Lei da Conservação da Energia (na natureza nada se perde, tudo se transforma) e as descobertas acerca do oxigênio.

As atividades na área tributária de Lavoisier, por outro lado, renderam-lhe inúmeros inimigos. Em razão da crise por que passava a França em fins do séc. XVIII, véspera da Revolução Francesa, Lavoisier mandou construir um muro em volta de Paris e obrigou todos ao pagamento de pedágio para entrar na cidade. Foi morto pelos revolucionários.

Ao longo do século XIX desenvolveram-se anestésicos e xaropes que, utilizando técnicas mais limpas e por isolamento de princípios ativos, criaram as indústrias farmacêuticas modernas ... que, por sua vez, reclamaram Lei de Patentes que preservassem seus altos investimentos para o desenvolvimento de novas drogas.

Também no século XIX, o engenheiro inglês Henry Bessemer desenvolveu uma técnica de produção de aço em forno aberto, usando injeção de ar. A idéia subjacente era a redução de carbono no ferro. Esse foi o metal base da Revolução Industrial.

Também do séc. XIX foi a obtenção do alumínio. Gerado a partir do metal bauxita, sua fabricação é tão complexa que, inicialmente, seu preço superava o do ouro.

Em fins do séc. XIX, um químico russo, Medeleiev, conseguiu organizar os poucos elementos químicos conhecidos até então de uma maneira organizada e lógica, usando como índice o número de massa dos tais elementos. Sua solução mostrou-se tão genial que permitiu até mesmo criar espaços específicos para elementos que ainda seriam descobertos.

No início do séc. XX, Marie Curie e outros observaram o caráter radioativo do elemento rádio. Custou-lhe a vida e fez nascer o raio X. Outras técnicas desenvolveram a emissão de cátodos, criando o tubo de raios catódicos e o caráter florescente do fósforo - dando espaço para a invenção da televisão.

Interessante notar que o decaimento atômico, a perda de energia dos átomos, resultante da emissão de radiação por meio de partículas alfa, beta e gama, de certa maneira, confirmou as teses de transmutação de elementos, tão perseguidas pelos alquimistas.

Com os experimentos que levaram à divisão do átomo, pelo cientista alemão Otto Hahn (e Lisa Meitner) na década de 1930, deu-se início à corrida por desvendar a estrutura interna dos átomos, levando à descoberta dos quarks e demais elementos subatômicos. Embora a idéia de um elemento como o átomo, base da matéria, viesse da Grécia antiga – Demócrito de Abdera propôs a tese -, sua pesquisa mostraria que um átomo é um mundo constituído por elementos subatômicos, como os quarks, gluons, neutrinos etc. Em 1905, Einstein provou que a luz também é transportada por elementos subatômicos chamados fótons.

Esse esforço levou à construção do Grande Colisor de Hadrons, laboratório constituído por um imenso acelerador de partículas ao longo da fronteira entre Suíça e Itália, metros abaixo da terra.

Sua descoberta mais recente á a confirmação da existência do bóson de Higgs, partícula prevista há décadas pelo cientista Peter Higgs. É o 12ª elemento subatômico e o responsável pela massa das matérias.


Rubem L. de F. Auto


Fonte:
http://escola.britannica.com.br/article/480940/porcelana






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