Certamente o primeiro fenômeno
natural que os seres humanos foram capazes de reproduzir por meios artificiais,
humanos, foi o fogo. Habitando as savanas africanas, observando incêndios
provocados pelos raios durante as tempestades, alguns seres humanos muito
criativos conseguiram descobrir como produzir aquela chama que afastava
predadores e permitia consumir alimentos que, crus, mostravam-se de sofrível mastigação
e digestão
.
Aquecimento por atrito e aumento
da concentração de oxigênio para melhor combustão (assoprando cuidadosamente a
chama ...) foram técnicas prontamente desenvolvidas. E os homo sapiens sapiens
nem haviam surgido. Há registro de fogueiras pré-históricas de 800.000 anos
atrás, produzidas por homo erectus, na África.
Outra tecnologia desenvolvida
ainda na pré-história é a cerâmica. Feita a partir da argila, após aquecida
esta tornava-se resistente à água. Muitos milênios mais tarde, durante a
dinastia Tang, os chineses criaram a porcelana, ao usar o caulim – um tipo de
argila.
Com a primeira grande civilização
da humanidade, os Egípcios, técnicas químicas ganharam um novo salto. Uma
característica dessa civilização era o embalsamento de múmias. Após a
descoberta das primeiras múmias, chamou atenção da qualidade da preservação. Em
algumas ainda havia cabelos. Conforme os faraós iam se sucedendo, os
embalsamadores foram melhorando suas técnicas e criaram uma classe própria de
profissionais.
Outro produto da engenhosidade
Egípcia foi o vidro, técnica aperfeiçoada pelos romanos e, séculos depois, um
dos símbolos da arte veneziana.
A cidade de Alexandria, local da
famosa biblioteca e um dos centros intelectuais mais famosos da antiguidade,
reuniu muitos desses profissionais embalsamadores. Adotaram técnicas de
metalurgia e ambas passaram a ser conhecidas como kyniâ. Foram essas técnicas
herdadas pelos gregos quando Alexandre uniu a cultura grega às suas conquistas
persas.
O desenvolvimento da metalurgia dependeu
da quantidade de energia (calor) que as técnicas existentes eram capazes de
produzir. Começando pelo cobre, em seguida foi criado o bronze, uma liga
metálica formada por cobre e estanho. Mais maleável e de bonito acabamento, foi
superado pelo ferro, quando a fabricação deste último tornou-se possível.
Os embalsamadores de corpos estiveram
em atividade até a conquista do Egito pelos romanos. Inicialmente avessos às
tradição, após a adoção do cristianismo pelo imperadores, os embalsamadores
passaram a ser perseguidos pelos romanos. Fugiram para a região da Pérsia e lá
deram início à alquimia – palavra originada de Al-Khemy, ou a química.
A expansão do islamismo durante a
Idade Média européia foi responsável por preservar os conhecimentos
desenvolvidos até então e por expandi-lo ainda mais. Suas primeiras atividades
datam do séc. III AC e se estendem até por volta do séc. XVI DC.
Marcada pelas tentativas de
transmutar chumbo e mercúrio e ouro e prata (a Pedra Filosofal) e de produção
da Panacéia (a cura de todos os males), os alquimistas fizeram muitos
progressos por isolar diversos elementos químicos. Veneravam o caráter inerte
do ouro (por não reagir com quase qualquer outro elemento, torna-se muito durável)
e fizeram elixires que prometiam a juventude eterna. Isaac Newton ficou fascinado
pelo trabalho de alquimistas, e até mesmo aventurou-se em alguns. Roger e
Francis Bacon, Santo Tomás de Aquino também. Até mesmo aventurou-se em
tentativas semelhantes.
Nesse mesmo período os chineses
também faziam experimentos químicos. Deles surfiram a pólvora – usada como
fogos de artifício –, por exemplo.
As Cruzadas ocorridas no final da
Alta Idade Média puseram em contato uma Europa marcada pelo primitivismo intelectual
e sociedade árabes, mais desenvolvida e dispondo de avanços do Oriente. Assim o
fogo grego (pólvora) passou a ser conhecido por eles. Os trabalhos com metais
levaram às fábricas de sinos. Por volta da baixa Idade Média, diversos desses
fabricantes passaram a fabricar canhões bem potentes. Por ironia, foram esses
canhões, encomendados por Maomé II que derrubaram as muralhas de Constantinopla
... que levaram à crise das cidades italianas.
A química começa a tornar-se ciência,
no sentido moderno da palavra, com Robert Boyle, no século XVII, ao adotar o
caminho da experimentação, deixando de lado as influências religiosas e espirituais
vigentes. A expressão Alquimia perde o artigo “Al” e a raiz “Quimia” torna-se Química.
Seus princípios estão descritos na obra “O Químico Cético” (The Sceptical Chymist),
de 1661.
Boyle criou a Lei de Boyle
(pressão e volume variam inversamente em amostras de gases), experimentou com
bomba de vácuo e estudou a fundo os gases. Foi também um dos fundadores da Real
Society inglesa.
Paracelso, médico suíço do séx.
XVI, pseudônimo que adotou em referência a um médico romano, levou a química moderna
que inventava para as aplicações médicas. Até então, a medicina que se praticava
usava conceitos da medicina grega, importada por Roma e estava em pleno uso na
Europa. Porém, Paracelso não conseguia aceitar idéias como a de que o
desequilíbrio dos humores do corpo causavam doenças.
Usando seus conhecimentos médicos
e de alquimia, cunhou frases como “Todas as substâncias são venenos, não existe
nada que não seja veneno. Somente a dose correta diferencia o veneno do
remédio.”
Paracelso revelou que os
elementos químicos como o zinco, ferro, manganês, poderiam estar presentes em
nosso corpo. Ao contrário do que pensavam na época, os minerais existiam na
forma orgânica e não somente na forma inorgânica (fora do organismo). Foi a
partir daí que o alquimista propôs uma interação dos minerais e metais com o
bem estar do homem, e um de seus estudos envolvia a cura da sífilis com mercúrio.
Também fez uso do éter como anestésico.
Os progressos seguintes mais
marcantes foram realizados pelo francês Lavoisier. Rico e dono da empresa que
realizava a cobrança dos impostos na França, concessão que adquiriu do governo,
Lavoisier investiu muito da sua fortuna para criar um dos laboratórios mais
famosos da história. Nele Lavoisier criou a Lei da Conservação da Energia (na
natureza nada se perde, tudo se transforma) e as descobertas acerca do
oxigênio.
As atividades na área tributária
de Lavoisier, por outro lado, renderam-lhe inúmeros inimigos. Em razão da crise
por que passava a França em fins do séc. XVIII, véspera da Revolução Francesa,
Lavoisier mandou construir um muro em volta de Paris e obrigou todos ao
pagamento de pedágio para entrar na cidade. Foi morto pelos revolucionários.
Ao longo do século XIX
desenvolveram-se anestésicos e xaropes que, utilizando técnicas mais limpas e
por isolamento de princípios ativos, criaram as indústrias farmacêuticas
modernas ... que, por sua vez, reclamaram Lei de Patentes que preservassem seus
altos investimentos para o desenvolvimento de novas drogas.
Também no século XIX, o
engenheiro inglês Henry Bessemer desenvolveu uma técnica de produção de aço em
forno aberto, usando injeção de ar. A idéia subjacente era a redução de carbono
no ferro. Esse foi o metal base da Revolução Industrial.
Também do séc. XIX foi a obtenção
do alumínio. Gerado a partir do metal bauxita, sua fabricação é tão complexa
que, inicialmente, seu preço superava o do ouro.
Em fins do séc. XIX, um químico
russo, Medeleiev, conseguiu organizar os poucos elementos químicos conhecidos
até então de uma maneira organizada e lógica, usando como índice o número de
massa dos tais elementos. Sua solução mostrou-se tão genial que permitiu até
mesmo criar espaços específicos para elementos que ainda seriam descobertos.
No início do séc. XX, Marie Curie
e outros observaram o caráter radioativo do elemento rádio. Custou-lhe a vida e
fez nascer o raio X. Outras técnicas desenvolveram a emissão de cátodos,
criando o tubo de raios catódicos e o caráter florescente do fósforo - dando
espaço para a invenção da televisão.
Interessante notar que o decaimento atômico, a perda de energia dos átomos, resultante da emissão de radiação por meio de partículas alfa, beta e gama, de certa maneira, confirmou as teses de transmutação de elementos, tão perseguidas pelos alquimistas.
Com os experimentos que levaram à
divisão do átomo, pelo cientista alemão Otto Hahn (e Lisa Meitner) na década de 1930, deu-se
início à corrida por desvendar a estrutura interna dos átomos, levando à
descoberta dos quarks e demais elementos subatômicos. Embora a idéia de um
elemento como o átomo, base da matéria, viesse da Grécia antiga – Demócrito de
Abdera propôs a tese -, sua pesquisa mostraria que um átomo é um mundo constituído
por elementos subatômicos, como os quarks, gluons, neutrinos etc. Em 1905, Einstein
provou que a luz também é transportada por elementos subatômicos chamados fótons.
Esse esforço levou à construção do
Grande Colisor de Hadrons, laboratório constituído por um imenso acelerador de
partículas ao longo da fronteira entre Suíça e Itália, metros abaixo da terra.
Sua descoberta mais recente á a
confirmação da existência do bóson de Higgs, partícula prevista há décadas pelo
cientista Peter Higgs. É o 12ª elemento subatômico e o responsável pela massa
das matérias.
Rubem L. de F. Auto
Fonte:
http://escola.britannica.com.br/article/480940/porcelana
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