Com a conquista de Constantinopla
pelos turcos de Mehmed (Maomé II), em 1453, as cidades italianas que faziam o
comércio de mercadorias no Mediterrâneo entraram em declínio. Como conseqüência,
muitos navegadores que dependiam daquela atividade comercial buscaram outros
lugares em que pudessem trabalhar. Nesse caminho muitos morreram afogados ou
atacados por corsários.
Um desses navegadores, Cristóvão
Colombo, que tinha um irmão morando em Lisboa e que trabalhava com cartografia,
arriscou-se na promissora cidade. Embora analfabeto e sem muitas provas de que
tivesse alguma experiência relevante no mar, Colombo tinha curiosidade e inteligência
primorosas.
Lisboa nessa época, décadas de
1460 a 1470, era um misto de cidade portuária e entreposto comercial. Com a
chegada de mercadorias e escravos africanos, Lisboa era povoada por pessoas as
mais diversas: de negros africanos a brancos escandinavos. Em qualquer lugar
era possível conversar com um navegante de algum lugar, possuindo informações
sobre mares os mais distantes.
Tendo contato com os mapas mais
recentes e confiáveis, além da bagagem de informações que trazia consigo da
Itália, Colombo pensou em uma maneira de se aproveitar do ambiente empreendedor
criado pelo governo Português em sua busca de uma rota comercial com o Oriente.
Ao juntar o livro Geografia, de
Ptolomeu, com os relatos de viagens de Marco Polo, somando-se aos cálculos mais
diversos de matemáticos sobre o tamanho da Terra, distâncias interoceânicas e muitas
especulações, Colombo elaborou o seu Plano de Negócios: a Empresa das Índias.
Não faltou nem um “parecer técnico” de um nome respeitável: Paolo Toscanelli,
comerciante italiano que explorou, por muitos anos, rotas comerciais com o
Oriente. Este não apenas confiava que Colombo chegaria a Cipango (atual Japão e
extremo leste do Oriente), às Índias e à China, como achava a rota factível.
Desejou-lhe boa sorte.
De posse de todos os dados de que
necessitava, foi em busca de quem poderia investir recursos nessa empreitada, no
ano de 1484. Como pagamento por seus esforços, exigia uma recompensa, títulos
nobiliárquicos, participação de 10% sobre toda a atividade comercial das novas
terras e o cargo de Vice-Rei das terras Orientais a serem conquistadas.
O empreendimento que buscava a
rota para o Oriente era totalmente suportado pelo estado Português. O rei João
II supervisionava e presidia pessoalmente esses esforços. O aconselhamento
técnico era realizado pelo Conselho de Matemáticos, órgão criado pela Coroa
Portuguesa que contava com os melhores e mais experientes estudiosos da Europa.
O desafio do proponente era
convencer esses experimentados teóricos sobre a viabilidade do negócio. Colombo
adulterou dados, escolheu interessadamente aqueles que lhe davam alguma
vantagem, usou as imagens fantásticas de Marco Polo ... fez tudo o que pode
para impressionar o rei e seus conselheiros. E o fez !
Embora tendo notado todas as
adulterações nas distâncias exibidas, tentando assim fazer com que a viagem
parecesse mais curta do que era, os conselheiros do rei acreditavam realmente que
a proposta não era tão ruim. Poderia realmente ser possível. Afinal, as
distâncias que os portugueses percorriam até a África já eram bem extensas.
Contudo, esses conselheiros
levantaram diversos outros argumentos importantes: o monopólio português
garantido pelo Papa só incluía a África – portanto essa nova rota poderia ser
objeto de concorrência com outras nações; o esforço português parecia já estar
próximo do desfecho; as distâncias poderiam ser muito grandes, a ponto de ser
inviável estabelecer uma rota; o custo era alto e poderia prejudicar o
planejamento que Portugal já seguia.
Assim, a resposta dada a Colombo
foi negativa. Porém, o rei fez questão de dizer que a razão era o fato de que
não se coadunava com o plano africano. Colombo não se sentiu tão desanimado e
achou que poderia procurar outros interessados.
João II não apenas creu ser
possível a Empresa das Índias como incentivou navegadores portugueses a
tentarem essa viagem, embora sem aportar recursos estatais. Os poucos que
aceitaram o desafio foram mal sucedidos, pois os ventos favoráveis àquela rota
não passavam por Portugal ou Açores, local de onde saiam os navegantes.
Endividado e tendo empenhado tudo
o que juntara nessa Empresa, com um filho pequeno e tendo a esposa falecido no
parto, Colombo fugiu de Portugal (e dos credores) em direção à recém criada
Espanha. Havia poucos anos que o casamento entre Fernando e Isabel e o Tratado
do Alcáçova (que estabeleceu a paz entre Portugal e Castela e aceitou o domínio
Espanhol sobre as Ilhas Canárias) permitiu a criação de um país grande e pacífico.
Apesar dos anos de Guerra Civil, os novos reis direcionaram o espírito
guerreiro dos espanhóis em direção ao Reino de Granada, último baluarte mouro
na Península Ibérica.
Após deixar seu filho na casa de
parentes da sua primeira esposa, Colombo entra em contato com monges, que o
apresentam a aristocratas, que o levam a uma audiência com os reis (nessa
época, o corte era itinerante, sem um palácio fixo).
Os reis o receberam – estamos em
1487 - e Colombo refaz a apresentação que fizera ao rei Português. Ao final, diz
que João II se interessara e achara possível, porém recusou por causa do
esforço de dar a volta na África. Isabel, que parecia ser mais astuta que
Fernando, ouviu tudo e interessou-se – especialmente quando Colombo falou do
interesse despertado em João II. A Espanha não tinha a experiência e muito
menos especialistas em navegação no mesmo patamar que os portugueses. Mesmo
assim a rainha reuniu um grupo de especialistas para avaliar a proposta do
italiano.
Como não tinham especialistas com
a capacidade daqueles que havia enfrentado em Portugal, Colombo conseguiu
causar mais impacto nessa segunda tentativa. Porém a Espanha estava em uma guerra
muito feroz contra Granada, que já durava e duraria ainda alguns anos. Essa
guerra e a colonização das Canárias consumiam muitos recursos estatais e este
foi o maior obstáculo no caminho do navegante. Em princípio da resposta do
Conselho foi negativa. Após discordância de um dos membros, a palavra final foi:
após a conquista de Granada, acreditamos ser viável investir nessa proposta. A
rainha pediu-lhe que esperasse e reapresentasse a proposta após a queda de
Granada.
Colombo tinha por volta de 35
anos e estava muito ansioso por tornar sua idéia realidade. Então tentou uma
outra tática. Escreveu ao Rei João II pedindo uma segunda audiência e um salvo
conduto para que pudesse voltar a Portugal sem ser preso por seus credores.
Conseguiu.
O rei ainda não havia contornado
a África – ele havia despachado Bartolomeu Dias há anos e até então este não
havia voltado. Poderia ter morrido. Além disso, a idéia de Colombo ainda
maquinava em sua consciência. Colombo voltou a Portugal feliz e esperançoso e poucos dias antes da segunda
audiência ... Bartolomeu Dias aponta no Tejo. O sucesso da empreitada de Dias,
contornando o Cabo da Boa Esperança foi um banho de água fria. Agora não
restava mais qualquer chance de Portugal fomentar seus planos.
Colombo retorna à Espanha e
exercita sua paciência. Inscreve-se na armada espanhola para garantir alguma
féria (salário) e aguarda o fim dos conflitos. No início de 1492 Granada cai
aos pés da Espanha e Colombo reapresenta sua proposta. Por volta de agosto, parte
com suas três caravelas do porto de Palos. Param em Granada, de onde partem de
vez para Oeste.
Após dois meses fraudando os
relatórios de viagem, tentando fazer parecer a seus homens que havia percorrido
distâncias menores do que haviam de fato percorrido, para que não se sentissem
tão distantes de terra quanto estavam, Colombo chegou a enfrentar um motim
feito por seus marinheiro, exigindo voltar para casa quando o desespero de não
encontrar ventos contrários começou a preocupá-los.
Porém, naquela madrugada, espumas
de ondas batendo nas pedras anunciavam a chegada a terra. Provavelmente foi uma
das ilhas do Caribe, não se sabe bem qual. Fizeram contato na manhã seguinte
com índios locais. Viram alguns pequenos enfeites de ouro. Percorreram diversas
ilhas em busca da fonte daquele metal. Após algumas tentativas mal sucedidas,
conseguiram conhecer tribos de povos mais evoluídos, que praticavam a
agricultura (e que fumavam cachimbo de tabaco enrolado ...). Com os restos do
afundamento da caravela Santa Maria, construíram um forte. Era Hispaniola,
atual Cuba.
Lá eles receberam diversos
enfeites e presentes de ouro.
E assim se iniciava a história de
sucesso dessa empresa multinacional que mudou o curso da história.
Rubem L. de F. Auto
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