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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

BANQUEIROS DAS GRANDES DESCOBERTAS – A CASA DOS FUGGER


A trajetória da família Fugger, em Augsburg, data do início do séc. XIV. O progenitor da linhagem, aquele que iniciou a colossal fortuna da família, foi o tecelão Hans Fugger. Em 1367, mudou-se para a Cidade Imperial Livre de Augsburg. Em razão de sua sagacidade para os negócios, cresceu no âmbito da associação de tecelões. Ele fornecia algodão e linho para as tecelagens locais e muitas vezes usava os produtos prontos como garantia.

Após sua morte, em 1408, a história familiar de sucesso continuou, quando sua segunda viúva, Elisabeth Gfattermann, deu continuidade, sozinha, aos negócios, até que a ela se juntassem seus filhos Anton e Jakob, o Velho. Em 1466, este último era o sétimo mai9or  contribuinte em Augsburg.  

Em 1455, os irmãos dividiram os negócios e, mais tarde, o próprio nome da família. Existem evidências, em carta de 1462, da constituição do brasão familiar dos “Fugger vom Reh” – de Andreas Fugger – e, em 1473, da constituição dos “Fugger von der Lilie” – de Ulrich Fugger e seus irmãos.

Após alguns sucessos, os Fugger vom Reh cindiram suas atividades econômicas em razão da crise por que passaram no final do séc. XV.

A linhagem dos Fugger Von der Lilie, iniciada por Jakob, o Velho, segue inalterada até hoje. Fizeram parte deste ramo familiar seus filhos Ulrich, Georg e Jakob, o Rico. Criaram uma Fundação, o legado mais duradouro dos seus anos gloriosos. No auge, sua fortuna foi avaliada em 400 bilhões de euros, em valores atuais. Certamente foi o homem mais rico da história.

O ramo dos Fugger Von der Lilie está relacionado diretamente à região da Swabia, onde seu brasão poder ser visto em vários locais. Suas propriedades inicialmente foram adquiridas no período feudal, quando apenas nobres tinham direitos de propriedade. Assim, foram agraciados com o título nobiliárquico de Conde. Ao longo do tempo foram adquirindo outros palácios e castelos, onde também fixaram residência, algumas ainda habitadas.

Diversos membros da família ocuparam cargos de conselheiros, acadêmicos, burocratas etc. São atualmente locais de residência dos três ramos familiares, em Swabia: Schloss Oberkirchberg, Schloss Kirchheim e Schloss Babenhausen e Schloss Wellenburg.

O ápice do sucesso dos Fugger ocorreu sob Jakob Fugger, o Rico, que viveu de 1459 a 1525. Por meio dos diversos negócios com metais preciosos, comércio e finanças, tornou-se o maior comerciante e banqueiro de seu tempo. É o membro mais famoso da família. Seu retrato com um chapéu dourado, de Albert Durer, foi pintado no auge de seu poder.

O nome Jakob Fugger ainda se conecta a uma imagem de grande riqueza e influência. Ele, contudo, procurava aparentar estar distante do poder político. Não tinha qualquer escritório na Cidade Imperial Livre de Augsburg. Seus objetivos eram: sucesso duradouro em suas empresas, reconhecimento social para si e sua família e a perenização de sua Fundação.

Jakob manteve relacionamento especial com o Imperador Maximiliano I. Seus negócios com os Habsburg foram a base para o crescimento dos negócios. Ele realizou mudanças na forma de conduzi-los: criou o “Regierer”, ou “Governor” – administrador, gestor – da família; limitou a participação nos negócios a membros do sexo masculino, apenas. Seus representantes em outros países, como Fernão de Magalhães, em Portugal, eram dirigentes de sucursais, totalmente submetidos às decisões de Jakob.

Entre 1472 e 1486, a riqueza da família dobrou. Os negócios giravam em torno de companhias de tecelagem em Veneza e Nuremberg. Nessa época também realizou seu primeiro empréstimo à Curia Romana e iniciou conexões comerciais com a Casa dos Habsburg.

Em 1473, Ulrich Fugger patrocinou o Imperador Frederico ajudando-o a arranjar um casamento para o seu filho, Maximiliano. Assim inicou-se o relacionamento entre os Fugger e os Habsburg.

Em 1493, O rei João II solicitou que os Fugger tomam-se parte em uma expedição ao Catai, no Oriente. Essa expedição, contudo, não se realizou. Após o retorno de Vasco da Gama, porém, com seu carregamento de especiarias, o interesse dos Fugger pelas expedições portuguesas aumentou. Em 1503 eles iniciaram o financiamento da exploração do pau-brasil em terras brasileiras.

A crise que se seguiu à questão das Molucas suspendeu as relações entre Portugal e os Fugger. Entretanto, após a União Ibérica esses negócios passaram a ser realizados junto à Coroa espanhola.

Jakob Fugger, o Rico, viveu em Veneza desde seus 14 anos para ser educado como um mercador – aprendeu contabilidade, por exemplo. Por volta de 1486 retornou para Augsburg, onde logo se provou muito habilidoso comercialmente. Por meio de negócios envolvendo pedras preciosas, bens e empréstimos bancários, tornou-se o maior empresário de seu tempo. Os negócios de Jakob Fugger estavam sediados em Tirol, Caríntia e na atual Eslováquia.

Realizando empréstimos a senhores feudais, como o arquiduque Sigismundo, ele conseguiu o monopólio da exploração dos depósitos de cobre e da prata da região do Tirol. Os recursos que empenhou para a eleição de Carlos V como Sacro Imperador Romano lhe renderam os direitos exploratórios dos depósitos de mercúrio da Espanha, que foi o negócio mais lucrativo da firma familiar por décadas.

Em paralelo às suas atividades empresariais, Jakob, o Rico, investiu em terras e propriedades feudais. Suas empresas, ao financiarem papas, imperadores e reis, ganharam o direito de cunhar moedas e comerciar mercadorias por todo o continente, de cobre a jornais (foram grandes impulsionadores da imprensa).

Investimentos em mineração e siderurgia, contudo, sempre foram fonte de riscos, por serem intensivos em capital. As muitas operações de empréstimos a imperadores e reis para suas campanhas militares levaram a débitos insustentáveis, muitas vezes não honrados. Após sua morte, 1525, o sobrinho e sucessor de Jakob Fugger, Anton transferiu a maior parte de seus negócios para a Espanha e investiu na aquisição de terras e de propriedades de senhores feudais. Nas décadas que se seguiram, os investimentos de Anton garantiram a viabilidade econômica das empresas. A despeito de serem tempos de guerras, os ativos das empresas dos Fugger tiveram seu ápice em 1546. Anton também tinha conexões pessoais com o imperador Carlos V.

Em 1548, os Fugger foram obrigados a se retirar da Hungria. Em 1557, a Espanha entrou pela primeira vez em bancarrota. Após a morte de Anton, seu filho, Marx procurou consolidar seus negócios pela diversificação, desfazendo-se daquilo que não se mostrava mais lucrativo, e pela aquisição de terras em Swabia. Em 1607, a Coroa espanhola suspendeu todos os pagamentos que tinham contra os Fugger. Até 1647, a firma terminou a liquidação de todas as operações com a Espanha. Em 1657, transferiu de volta todas as operações com minas para os senhores feudais. Em 1658, após quase 300 anos, os Fugger liquidaram seu empreendimento familiar.


Rubem L. de F. Auto

Fontes:


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