Durante os séculos XIX e início
do XX, a Grã Bretanha tinha domínio sobre uma parte tão grande do Planeta que era
famosa a frase: “o Sol nunca se põe no Império Britânico.” Desde o fim da II
GM, contudo, o Sol não tem se mostrado no horizonte.
O Império Britânico trouxe
mudanças profundas a todo o mundo – mas nas décadas desde seu rápido declínio,
após a II GM, tornou-se uma espécie de piada histórica, algumas vezes de mau
gosto. De tão mau gosto quanto a publicação, pela embaixada britânica em
Washington, da foto do incêndio que os britânicos iniciaram na Casa Branca, em
1812, como represália à invasão americana ao Canadá.
Nos anos que se seguiram ao fim
da I GM, a Grã Bretanha experimentou um downsizing econômico. As relações
comerciais com suas colônias, que fez dela a maior potência do Globo, caíram
nas mãos dos EUA e de outros países mais jovens. Além disso, os mercados
preferidos das colônias estavam agora produzindo seus próprios bens, deprimindo
assim a economia britânica. Sem os mercados para os quais exportar, a GB não
podia nem mesmo gerar empregos para sua própria população.
As causas da mudança incluíam inflação
interna galopante, a qual aumenta o custo de bens britânicos, relativos aos de
outros países, e a descentralização da indústria, quando a produção econômica
da Europa foi realocada para o esforço de guerra.
Desde o início da Guerra Fria, a
América tomou a parte do leão do antigo Império. A Grã Bretanha, que colonizou a
América, tornou-se de certa forma colônia.
O processo de downsizing foi
longo e difícil. No seu auge, o Império compreendia 57 colônias, domínios,
territórios ou protetorados da Austrália, Candá e Índia a Fiji, Samoa ocidental
e Tonga. A partir de Londres, os britânicos governavam 20% da população mundial
e aproximadamente 25% da área do planeta.
O aumento da influência
britânica, incluindo a língua inglesa, deu origem aos EUA, a única
superpotência global; a maior democracia do globo, a Índia; e, talvez
inadvertidamente, disseminou os conceitos de liberdade, democracia e Estado de
Direito ao redor do mundo.
Do lado negativo, a GB corrompeu
toda uma nação, a China, com ópio, puramente para extrair recursos; e sua
maneira altiva, racista de dominar e subjugar pessoas, que deixou gerações de ódio
em seu rastro, em muitos países (alguns inclusive são seus vizinhos, como a
Irlanda).
Como um banco não oficial do
mundo, o papel da Grã Bretanha como financiadora da I GM eventualmente sofreu de
depreciação de suas riquezas, desvalorização monetária e inflação. Conforme
David French, a estratégia básica da I GM foi fazer um cerco à Alemanha por
muitos anos. França, Rússia e o resto da aliança manteriam operações militares
em ambos os lados da Alemanha, já que estavam lá de qualquer maneira, e a GB
supriria-os com comida, roupas, armas e outros mantimentos.
Haveria menos derramamento de
sangue se a Alemanha não fosse invadida diretamente, e a GB tinha as rotas
necessárias para executar esse plano. Só deveriam esperar os alemães começassem
a passar fome.
Infelizmente, eles subestimaram
seriamente a força do exército alemão. Havendo abandonado as regras de honradez
do séc. XIX, os alemães empregaram armas biológicas, gás tóxico, e tanques.
Assim, tropas russas e alemães caíram muito mais rápido do que se imaginava. Os
aliados passaram a demandar pessoas, aos britânicos, também.
Além disso, os submarinos U-Boat
alemães afundaram muitos mais navios de suprimentos que se esperava. Tornou-se
muito mais caro suprir tropas como planejado e as conseqüências da escassez de
alimentos começaram a ser sentidas também na GB.
Hoje, aquele império está
reduzido a 14 ilhas espalhadas, como as Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, e
Ilhas Pitcairn, no Pacífico Sul. A Commonwealth of Nations, fundada antes a II
GM e revivida após esta, compreende 54 ex-territórios britânicos mas significa
pouco mais que um monumento ao passado.
De fato, há muitos anos a GB não
age como um império, embora algumas ex-províncias ainda experimentem uma “pegada
colonial” ao som do inglês britânico high-society. O império com sede em
Londres começa a ruir durante a II GM, após o exército japonês marchar em
direção à Índia e às praias da Austrália, quebrando a espinha dorsal do sistema
colonial ocidental, antes que o Japão fosse derrotado em 1945. O surgimento do
nacionalismo põe um fim na era colonial, o que se dá com a retirada da Índia e
do Paquistão.
Alguns dirão que o império
terminou oficialmente em fevereiro daquele ano quando – finalmente drenada por
duas guerras mundiais – os britânicos enviaram telegrama a Washington dizendo
que eles não tinham mais recursos e tropas para proteger Grécia e Turquia,
conforme a União Soviética ameaçava estender sua influência durante a Guerra
Fria.
“A Grã Bretanha chegou ao fim,”,
Dean Acheson, que logo seria Secretário de Estado de Harry Truman, teria dito
após ler a mensagem. Os EUA logo substituíram a GB como a potência
estabilizadora no Ocidente.
O declínio do poder britânico não
veio sem lutas. Em 1942, Winston Churchill disse e seria largamente citado por
dizer: “Nós temos que resistir. Eu não fui escolhido primeiro-ministro do rei
para presidir a liquidação do Império britânico.” Mas foi o que seus sucessores
fizeram. Por décadas, a GB se retirou do leste de Suez e de suas colônias na
África; Hong Kong, a cidade-estado que foi devolvida à China e 1997, que foi a
última a ir embora.
Houve uma exceção: em 1982, em um
esforço desesperado de permanecer com a minúscula Ilhas Falkland, no Atlântico
Sul, o RU lutou uma guerra relâmpago contra a Argentina – venceu, como uma
espécie de prêmio de consolação imperial.
Outra herança, ainda viva dos
tempos daquele Império, é a presença da GB no Conselho de Segurança da ONU.
Apenas a posse de armas nucleares não pode ser uma resposta eternamente.
Rubem L. de F. Auto
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