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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

COMO SE DEU O DOWNSIZING DO IMPÉRIO BRITÂNICO


Durante os séculos XIX e início do XX, a Grã Bretanha tinha domínio sobre uma parte tão grande do Planeta que era famosa a frase: “o Sol nunca se põe no Império Britânico.” Desde o fim da II GM, contudo, o Sol não tem se mostrado no horizonte.

O Império Britânico trouxe mudanças profundas a todo o mundo – mas nas décadas desde seu rápido declínio, após a II GM, tornou-se uma espécie de piada histórica, algumas vezes de mau gosto. De tão mau gosto quanto a publicação, pela embaixada britânica em Washington, da foto do incêndio que os britânicos iniciaram na Casa Branca, em 1812, como represália à invasão americana ao Canadá.

Nos anos que se seguiram ao fim da I GM, a Grã Bretanha experimentou um downsizing econômico. As relações comerciais com suas colônias, que fez dela a maior potência do Globo, caíram nas mãos dos EUA e de outros países mais jovens. Além disso, os mercados preferidos das colônias estavam agora produzindo seus próprios bens, deprimindo assim a economia britânica. Sem os mercados para os quais exportar, a GB não podia nem mesmo gerar empregos para sua própria população.

As causas da mudança incluíam inflação interna galopante, a qual aumenta o custo de bens britânicos, relativos aos de outros países, e a descentralização da indústria, quando a produção econômica da Europa foi realocada para o esforço de guerra.

Desde o início da Guerra Fria, a América tomou a parte do leão do antigo Império. A Grã Bretanha, que colonizou a América, tornou-se de certa forma colônia.

O processo de downsizing foi longo e difícil. No seu auge, o Império compreendia 57 colônias, domínios, territórios ou protetorados da Austrália, Candá e Índia a Fiji, Samoa ocidental e Tonga. A partir de Londres, os britânicos governavam 20% da população mundial e aproximadamente 25% da área do planeta.

O aumento da influência britânica, incluindo a língua inglesa, deu origem aos EUA, a única superpotência global; a maior democracia do globo, a Índia; e, talvez inadvertidamente, disseminou os conceitos de liberdade, democracia e Estado de Direito ao redor do mundo.

Do lado negativo, a GB corrompeu toda uma nação, a China, com ópio, puramente para extrair recursos; e sua maneira altiva, racista de dominar e subjugar pessoas, que deixou gerações de ódio em seu rastro, em muitos países (alguns inclusive são seus vizinhos, como a Irlanda).

Como um banco não oficial do mundo, o papel da Grã Bretanha como financiadora da I GM eventualmente sofreu de depreciação de suas riquezas, desvalorização monetária e inflação. Conforme David French, a estratégia básica da I GM foi fazer um cerco à Alemanha por muitos anos. França, Rússia e o resto da aliança manteriam operações militares em ambos os lados da Alemanha, já que estavam lá de qualquer maneira, e a GB supriria-os com comida, roupas, armas e outros mantimentos.

Haveria menos derramamento de sangue se a Alemanha não fosse invadida diretamente, e a GB tinha as rotas necessárias para executar esse plano. Só deveriam esperar os alemães começassem a passar fome.
Infelizmente, eles subestimaram seriamente a força do exército alemão. Havendo abandonado as regras de honradez do séc. XIX, os alemães empregaram armas biológicas, gás tóxico, e tanques. Assim, tropas russas e alemães caíram muito mais rápido do que se imaginava. Os aliados passaram a demandar pessoas, aos britânicos, também.

Além disso, os submarinos U-Boat alemães afundaram muitos mais navios de suprimentos que se esperava. Tornou-se muito mais caro suprir tropas como planejado e as conseqüências da escassez de alimentos começaram a ser sentidas também na GB.

Hoje, aquele império está reduzido a 14 ilhas espalhadas, como as Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, e Ilhas Pitcairn, no Pacífico Sul. A Commonwealth of Nations, fundada antes a II GM e revivida após esta, compreende 54 ex-territórios britânicos mas significa pouco mais que um monumento ao passado.

De fato, há muitos anos a GB não age como um império, embora algumas ex-províncias ainda experimentem uma “pegada colonial” ao som do inglês britânico high-society. O império com sede em Londres começa a ruir durante a II GM, após o exército japonês marchar em direção à Índia e às praias da Austrália, quebrando a espinha dorsal do sistema colonial ocidental, antes que o Japão fosse derrotado em 1945. O surgimento do nacionalismo põe um fim na era colonial, o que se dá com a retirada da Índia e do Paquistão.
Alguns dirão que o império terminou oficialmente em fevereiro daquele ano quando – finalmente drenada por duas guerras mundiais – os britânicos enviaram telegrama a Washington dizendo que eles não tinham mais recursos e tropas para proteger Grécia e Turquia, conforme a União Soviética ameaçava estender sua influência durante a Guerra Fria.

“A Grã Bretanha chegou ao fim,”, Dean Acheson, que logo seria Secretário de Estado de Harry Truman, teria dito após ler a mensagem. Os EUA logo substituíram a GB como a potência estabilizadora no Ocidente.

O declínio do poder britânico não veio sem lutas. Em 1942, Winston Churchill disse e seria largamente citado por dizer: “Nós temos que resistir. Eu não fui escolhido primeiro-ministro do rei para presidir a liquidação do Império britânico.” Mas foi o que seus sucessores fizeram. Por décadas, a GB se retirou do leste de Suez e de suas colônias na África; Hong Kong, a cidade-estado que foi devolvida à China e 1997, que foi a última a ir embora.

Houve uma exceção: em 1982, em um esforço desesperado de permanecer com a minúscula Ilhas Falkland, no Atlântico Sul, o RU lutou uma guerra relâmpago contra a Argentina – venceu, como uma espécie de prêmio de consolação imperial.

Outra herança, ainda viva dos tempos daquele Império, é a presença da GB no Conselho de Segurança da ONU. Apenas a posse de armas nucleares não pode ser uma resposta eternamente.


Rubem L. de F. Auto




       

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