Manhattan é a espinha dorsal de
New York City. Séculos antes de NY City tornar-se uma floresta de arranha-céus
de aço, vidro e concreto, essa região era habitada por índios Lenni-Lenape.
Esses índios caçadores coletores ocupavam ainda as regiões de New Jersey e
Pennsylvania, por pelos menos 1.500 anos.
O primeiro europeu a avistar a
ilha, ao menos de que se tem notícia, foi o italiano Giovanni Verrazzano, em
1524. Em 1526, o explorador português negro Estaban Gomez também esteve na
região. Em 1609, o navegador inglês, a serviços a Companhia das Índias
Orientais, Henry Hudson, navegou por Manhattan e trouxe boas e más notícias. A
má foi que não pôde achar uma passagem para o Oriente. A boa, representada por
peles de castor que conseguira trazer, era a possibilidade de conseguir
produtos para comércializar, além de ser terra promissora para colonização. O
mapa que produzira foi confiscado por ingleses.
A baía que avistara tomaria seu
nome e seria ponto de embate entre ingleses e holandeses.
Em 1614, outro navegante da Cia
das Índias Orientais holandesa, Adriaen Block, ultrapassou o estreito do East
River, entre Queens e Randall`s Islands, a que Block nomeou Helllegat – ou
Hell`s Gate, por ser muito perigosa. No mapa que produziu e trouxe de volta
para a Holanda, Block denominara a ilha como Manhates – após, seria conhecida
como Manhattan.
O passo seguinte, foram os assentamentos
holandeses que se multiplicavam pelo sul da ilha: a colônia de Nova Amsterdam.
Por volta de 1626, o comércio tanto entre nativos e colonos, quanto entre
colonos e metrópole já era intenso. Também nesse ano ocorreu a famosa “compra”
de Manhattan, embora não haja registro. O diretor geral de Nova Amsterdam,
Peter Minuit, pagou o equivalente a 60 guilders em mercadorias, como roupas,
colares e ferramentas – passou à história com o valor de 24 dólares. Embora
ridiculamente baixo, contadores especulam que, aplicado à taxa de 10%, ao longo
dos séculos, os Lenni-Lenapes teriam hoje 117 quadrilhões de dólares ...
Conceitos bastante distintos
acerca de propriedade levou a guerras como a Guerra dos Porcos, em 1640 e a
Guerra dos Pessegueiros, em 1655. Alegou-se o roubo desses bens como motivador.
O comércio mais lucrativo era o
de peles, realizado com os ameríndios. Contudo a ganância despertada passou a
ser motivo para escaramuças entre os índios, nas quais os holandeses volta e
meia viam-se envolvidos.
Em 1640 os holandeses ocupavam a
ilha principal, Staten Island, Long Island e Bronx, nome em homenagem a seu
primeiro colono, Jonas Bronck. Quando os colonos passaram a exigir o pagamento
de tributos pelos índios, as guerras tornaram-se ainda mais intensas. Acusações
de roubos levaram a guerras com direito a instrumentos de tortura usados contra
os índios. Queriam mostrar quem manda ...
Em 1652, Inglaterra e Holanda
estavam em guerra. O reflexo no novo mundo foi Nova Inglaterra versus Nova
Amsterdam. Chegou a Nova Amsterdam que havia planos de invasão à ilha.
Iniciaram os preparativos. Construíram um muro que atravessava todo o norte da
ilha, de um lado a outro. O custo foi de 5.000 guilders, com direito a canhões.
Parte dele é a atual Wall Street. Um dos portões ficava no atual cruzamento com
a Pearl St. o outro na Broadway St.
Diz-se que essa área já era uma
fortificação contra índios, após om episódio em que, após assinar um tratado de
paz com índios locais, holandeses atravessaram o canal à noite, em direção à aldeia,
e mataram quase toda a tribo. Os que sobreviveram contaram a história a outras
tribos. O horror foi tamanho que todas as demais tribos se uniram contra os
colonos brancos.
Quando Peter Stuyvesant, diretor
de Nova Amsterdam, recebeu uma carta de Richard Niccolls, coronel enviado pelo
Duque de York para conquistar Nova Amsterdam, ameaçando a invasão, cidadão
ricos locais perceberam que seria inútil resistir e baixaram guarda. Eram agora
colônia inglesa: New York.
Após do que restara do muro, em
fins do século XVI fez-se uma praça de comércio (marketplace) no local. Este local
é hoje um dos mais importantes centros financeiros globais.
Inicialmente, o local para transacionar ações
era a sombra de uma árvore, na Wall St. As ações era de bancos e mineradoras,
com comissões de 0,25% por cada venda efetuada. Depois de algum tempo, as
sessões foram transferidas para o Tontine Coffee House, duas vezes por dia.
Após a independência americana,
houve a mudança para o número 40 da Wall St. Ainda em 1863, quando passou a se
chamar NYSE, Wall St. era conhecida por seu grande mercado de escravos,
vendidos em leilões humilhantes.
Após um incêndio, a NYSE mudou-se
para o 10-12 Street, em 1835. Em 1901, o arquiteto George B. Post foi
contratado para construir um novo prédio. Após 4 milhões de dólares e dois
anos, o novo prédio foi inaugurado em 1903. Um ar condicionado, inventado no
ano anterior, foi instalado pela primeira vez, nele.
O telégrafo, utilizado pela NYSE desde 1837,
mostrou a sede que o mercado financeiro tem por novas tecnologias. Em 1889 era
impressa a primeira edição do Wall Street Jounal, da Dow Jones & Company.
Nele começou a circular o famoso Dow-Jones Industrial Average.
Em 1920, um atentado a bomba fez
vítimas em frente à NYSE. Embora diversas possibilidades tenham sido
levantadas, ainda resta como não solucionado. Ao longo dos anos seguintes, a
economia e o preço dos ativos não paravam de subir, até a grande crise bancária
de 1929.
Em junho de 1934, sob a
administração Roosevelt, é criada a SEC – Securities and Exchange Commission,
com o fim de pôr ordem nos mercados financeiro e de capital, à vista e futuros.
Sob Joseph Kennedy como chairman, abriu inquéritos contra 300 pessoas
envolvidas em especulações e condenou uma, o ex-presidente da NYSE, Whitney.
Após a II GM, os mercados
tornaram-se mais racionais, menos especulativos e a estratégia dominante,
criada por Harry Markowitz, era diversificar.
O aumento astronômico do número
de transações levou, nos anos 1960, ao
famoso Paperwork Panic. O número de pessoas dedicadas a processar as ordens de
compra e venda não parava de crescer, o regime de trabalho tornava-se
extenuante, o número de erros deixava de ser insignificante. Processavam-se 11
milhões de transações por dia.
A solução veio nos anos 1970, com
a adoção do computador. A NASDAQ – National Association of Securities Dealers
Automated Quotations – foi fundada em 1971, como o primeiro mercado eletrônico
de ações do mundo. As casas de câmbio tornaram-se globais.
Com os mercados operados por
computadores, vieram outros riscos, desconhecidos. Ao chegar a certo número, os
programas são designados a vender ações. Quando isso ocorre em todas as
corretoras, simultaneamente, a queda de preços torna-se crise sistemática. Foi
o que ocorreu na segunda-feira negra de 19 de outubro de 1987.
Após dois anos depois, o artista
siciliano Arturo DiModica criou o famoso touro de carga. Com 7.000 libras, foi
um presente ao povo da América. Foi aceito pelas autoridades de Wall St. e
reside atualmente no Bowling Green Park.
Não foi vítima direta, mas Wall
St. sofreu os impactos do 11 de setembro.
Sobreviveu aos efeitos da crise
financeira de 2008, provocadas pelo colapso no preço de hipotecas sub-prime. Esses
produtos, incluídos em pacotes de ações e títulos que passam pelo processo de
securitização (pool), sustentavam o preço de diversos outros que se
alavancavam. Tudo somado à ganância que levava a estratégias de mercado
predatórias (e injustas) a longo prazo, levou a uma crise cuja taxa de emprego
só se recuperou em 2014, nos EUA. Swaps, espécies de derivativos
comercializados com base em hipotecas se desvalorizaram e derrubaram o valor de
ativos de companhias até então confiáveis – como AIG.
A resposta popular veio na forma
do movimento Occupy – ou OccuPie, como uma pizzaria batizou um de seus sabores.
Até videogame em homenagem foi lançado.
Em última análise, o futuro
parece bastante promissor. De acordo com pesquisa do psiquiatra Robert Hare, 1%
das pessoas é psicopata. Deste 1%, 10% trabalham no mercado financeiro ...
Rubem L. de F. Auto
Fonte:
Wall Street: The History of the
New York City block that became America`s Finantial Center
Nenhum comentário:
Postar um comentário