O sistema de drenagem na Holanda
começou a ser construído do séc. XII em diante, quando as pessoas iniciaram a utilização de terras aráveis por drenagem de pântanos, em deltas de rios localizados nas
redondezas.
Por séculos os agricultores
adaptaram sua agricultura para solos cujo nível se reduz ao longo dos anos e para inundações
periódicas. Inventaram também novas formas de manter as águas dos rios e do mar à
distância – resultando na construção
de centenas de moinhos de vento para drenagem e, mais tarde, em estações de
bombeamento, para levar a água das áreas de drenagem de volta para os rios e
para o mar.
Desse processo, resultou a criação
das atuais áreas drenadas, caracterizadas por pastagens em áreas de turfas, com canais
de drenagem, economicamente sustentados por fazendas de laticínios, abrigando
flora e fauna riquíssimas.
Esses sistemas funcionam em um
contexto de (entre outros) nível do mar crescente, rebaixamento do solo, uso
crescentemente multifuncional do solo (urbanização, recreação e turismo,
conservação da natureza, conservação da cultura), interferência de políticas agrícolas,
e outros. Um conjunto enorme de atores governamentais, não governamentais e
organizações privadas assumiram ações de governança nas áreas drenadas.
Os mais tradicionais são os “conselhos
de águas”, com responsabilidade de prover segurança aos cidadãos. A cultura de
drenar áreas alagadas e expandir suas áreas em direção ao mar é um aspecto
crucial da cultura holandesa.
A Holanda é um país localizado no
delta de três rios europeus. O maior deles é o Rhine, que corre dos Alpes, pelo
oeste da Alemanha, até a Holanda. O Meuse corre da França, passa pela Bélgica, até
o sul da Holanda. O rio Schelde forma uma área a sudoeste do país. O contato
dessas áreas banhadas por rios com o Mar do Norte formou enormes pântanos e
areais. Grande parte só foi ocupada após o a II GM, e em áreas de terreno
argiloso.
Alguns dos sistemas de drenagem são modernos
(pós II GM), mas há os tradicionais. O mais famoso é conhecido como “coração
verde da Holanda”. Situa-se entre as cidades de Rottedam, The Hague, Amsterdam
e Utrecht, constituída de diferentes diques. Trata-se de área conservada e
protegida do mar, não é área tomada do mar.
A Holanda é ameaçada pelas águas
do mar ou dos rios. Ao longo dos séculos, as áreas que fazem contato com rios melhoraram o sistema de drenagem, tanto urbano quanto rural. Como conseqüência,
nas estações chuvosas o nível desses rios varia muito, criando um desafio para
os diques localizados no seu curso. Depois de uma série de quase-alagamentos,
nos anos 1990, o país decidiu-se por um programa de rebaixamento do leito dos
rios e de alargamento de suas margens, criando áreas de alagamento – projeto nomeado
“Espaço para o rio”. Criaram, assim, áreas para prática de uma agricultura mais
tradicional.
O mar impõe perigo mais relevante. Com o aquecimento global, tanto o gelo polar derrete quanto o nível do mar sobe, resultando no seu crescimento contínuo. Isso tem implicações sérias para áreas às margens dos rios, porque nível do mar mais elevado implica nível de rios também elevados – áreas há muito desabitadas podem ser alagadas, e a água irá escoar pelos diques, em direção às terras mais baixas. A questão é: até que ponto a elevação do nível das águas é uma novidade? Como os holandeses têm lidado com a água ao longo de sua história? Bom, já se encontraram projetos de diques e de canais de drenagem construídos há mais de mil anos.
A drenagem dos pântanos ocorre em
direção aos rios. Assim, fazendeiros deram forma à geografia atual. Um conjunto
complicado de canais, de pequenos drenos até grandes canais. Assim, pôde-se
permitir a plantação de diversas culturas.
O solo do país é à base de
turfas. Essas, quando em contato com o ar, oxidam-se. Esse processo levou ao
rebaixamento do solo. Em poucos anos, após as drenagens iniciais, o solo já
estava rebaixado ao nível dos rios. Precisava-se bombear água. Inicialmente a
energia utilizada era a humana. Contudo, deram início à construção de sistemas
de bombeamento por moinhos de vento. A água era levada para os canais, mas
apenas próximos ao local onde desembocam para o mar.
Ao mesmo tempo, as pessoas
precisavam construir diques para manter as águas dos rios fora de suas terras.
Originalmente, esses diques eram construídos por fazendeiros, individualmente, ou
por pequenas comunidades. Entretanto, caso o dique da fazenda vizinha
quebrasse, sua fazenda também seria alagada. Era necessária alguma coordenação.
Alguns se organizaram em “conselhos de águas”, que criaram normas de responsabilidade
e multas, que eram impostas em caso de culpa de algum indivíduo. A primeira área totalmente drenada
chamava-se Alblasserwaard, no séc. XII, onde a gestão das águas era realizada
por diferentes conselhos. Ordenado pelo Conde de Floris V, criou-se um anel de
diques em torno da área.
Após alguns alagamentos no séc.
XVIII, percebeu-se que o sistema não era suficiente para manter a água fora de
suas terras. Um passo extra foi a construção de um complexo de 19 diques movidos a vento para bombear água, próximos à cidade de Kinderdjik.
Durante a II GM, o país ficou sem
combustível, sendo portanto os moinhos a única fonte de energia disponível.
Após a guerra novos sistemas foram instalados, desativando-se assim o sistema
de bombeamentos de água por força dos ventos. Após, foram reconstruídos com
propósitos turísticos. Cerca de 1.100 foram recuperados com recursos do governo
ou de particulares. Muitos são usados.
O sistema funciona mais ou menos
assim: a água é drenada dos terrenos alagados; bombeada para um canal; de lá,
seguem para um reservatório; quando a maré desce, a água segue para o rio e, de
lá, para o mar. Interessante notar que os moinhos de vento podem ser totalmente
redirecionados, para acompanhar a direção dos ventos.
Após 1970, uma nova geração de
fazendeiros procuraram alcançar produtividade e conservação da natureza, simultaneamente. Além de áreas de reserva natural, biótipos preservados por
fazendas são motivo de preocupação. Pessoas procuram clubes de fazendeiros para
ver como eles têm mantido sua produtividade, ao mesmo tempo em que preservam a
variedade de pássaros locais.
Em geral, campos com nível de
água mais elevado são mais apropriados para criar vacas leiteiras do que para
plantações. Devido à saída de pessoas em direção a cidades como Schiedan,
Rotterdam e Dordrecht, criou-se um bom mercado para laticínios. Como a produção
das vacas era irregular, e o leite tinha de viajar de 40 a 50 km, portanto mais
de um dia, precisava-se criar métodos de conservação do produto. Até que
descobriram que o coalho do estômago das vacas fornecia esse método. Esse ainda
é o método básico utilizado na indústria de laticínios até hoje.
Por volta de 1890, a primeira
cooperativa adotou esse processo e com ele produzia toda sorte de queijo.
Muitas dessas fábricas floresceram na forma de um setor de laticínios que
exporta até 60% da produção e fatura em torno de 600 milhões de euros.
Recentemente, o queijo de cabra
foi adicionado à lista de queijos tradicionais holandeses. Por volta de 3.000
atacadistas e 6.000 varejistas estão envolvidos no setor de laticínios, na
Holanda.
São 62.000 empregos, gerados por um mercado que ajuda a manter as terras holandesas
devidamente drenadas ...
Rubem L. de F. Auto
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