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domingo, 2 de outubro de 2016

ARQUITETURA URBANA DA RENASCENÇA X CIDADES MODERNAS: ONDE ERRAMOS?


Sempre surge uma pesquisa sobre qual cidade as pessoas consideram mais agradável, melhores em que se viver, as respostas não costumam variar muito. Cidades antigas e famosas, como Florença, Copenhagen, Viena, Genebra etc.

Embora haja exceções, se formos analisar as características que unem essas cidades é o fato de terem sido projetadas para as pessoas, pensando exclusivamente nas pessoas. Evidentemente alguns fatores contribuíram, como a própria inexistência de automóveis e de fábricas, à época.

A existência moderna (após a alta Idade Média) das cidades europeias surge com o renascimento italiano, por volta do século XII. As comunas conseguem sua independência dos feudos e surgem os burgos, que evoluem para se tornarem cidades.

A cidade medieval era caracterizada pelos muros, que as tornavam limitadas quando a população tendia a crescer muito, e pela Igreja central, em geral o maior prédio. Todo o resto se distribuía a seu redor, de maneira anárquica.

Com o enriquecimento dos burgueses, que passam a formar uma classe social específica nas cidades em ebulição, diversas obras de arte passam a ser financiada por membros dessa classe. Pintura, escultura são algumas das atividades beneficiadas por eles.

Com o passar dos anos, atividades ligadas ao urbanismo passam a ser beneficiadas, com os arquitetos ocupando-se de projetar equipamentos urbanos voltados para o benefício do público. Tais iniciativas eram impregnadas dos princípios que regiam o próprio renascimento: o homem no centro; racionalidade e beleza.

Urbanistas do Quattrocento usam a geometria para planejar cidades, tendo ou não saído do papel tais ideias. Sobrou preocupação até mesmo com a abordagem às diferentes classes sociais que vivem nessas cidades.

Nas cidades italianas como Florença, Pisa, Ferrara percebe-se uma preocupação voltada aos locais de concentração pública, como praças. Em geral, construía-se uma fonte que, além de atender a motivos estéticos, com uma ornamentação artística, atendia a exigências prática como ponto de distribuição de água.

Os prédios ao redor, normalmente, eram projetados para não ficarem nem muito longe do centro da praça, nem muito perto que pudesse atrapalhara circulação das pessoas. Os prédios residências deveriam ficar afastados o suficiente para não atrapalharem as pessoas, cavalos e carroças, mas pertos o suficiente para garantir vizinhança, vida social.

Os anos de Napoleão III, na França, viram o nascimento da arquitetura moderna largamente utilizada na América Latina. Visando evitar os conflitos civis que se multiplicaram por Paris, cujo combate era dificultado pelas vielas estreitas e mal iluminadas da cidade, o novo imperador nomeou como prefeito de Paris Georges-Eugène Haussmann.

Este criou a Paris nova, com grandes ruas, avenidas e bulevares, geometricamente dispostos.
“O plano criado para o centro da cidade, previa a reformulação da área em um dos extremos dos Champs-Elysées (Campos Elíseos). Haussmann criou uma estrela de 12 avenidas amplas em volta do Arco do Triunfo, onde grandes mansões foram erguidas entre 1860 e 1868 sobre os escombros da antiga cidade.

Além da Place de l'Opéra, foi projetada também pelo Barão a Place de l’Étoile, um dos cruzamentos mais complicados de Paris. L’Opéra de Paris foi projetado pelo arquitecto Charles Garnier a pedido do imperador Napoleão III e levou treze anos para ser concluído, de 1862 a 1875. O prédio é suntuoso e singular, uma mistura de materiais como pedra, bronze, mármore e outros, bem como de estilos que vão do clássico ao barroco, tido como o "estilo do 2º Império."” (Wikipedia)

Deixou a cidade à beira da falência, mas ajudou a criar um novo tipo de arquitetura urbana. Agora o embelezamento urbano passava a ser desejado. Isso encareceu diversos bairros centrais e expulsou a classe trabalhadora para os subúrbios. A cidade convívio passa a cidade fábrica.

Entre 1919 e 1933, funcionou em Weimar, Alemanha, a Bauhaus (Staatliches-Bauhaus). Essa escola de design, artes plásticas e arquitetura causou uma revolução silenciosa. Caracterizada por exigir conhecimento holístico de seus alunos, por serem incentivados a aprenderem carpintaria, pintura, solda e outras habilidades, tinha um lema: Less is more (Menos é mais). Tentava sempre agregar design e funcionalidade, tendo como alvo a simplicidade.

Seu fim foi precipitado pela chegada dos nazistas ao poder, o que iniciou um período de perseguição a alguns de seus membros e à própria ideia subjacente à Bauhaus.

Um dos grandes nomes saídos da Bauhaus foi Ludwig Mies van der Rohe. Este grande arquiteto foi quem mais influenciou outro grande nome da arquitetura, posteriormente, Le Corbusier (Charles-Edouard Jeanneret-Gris).

Le Corbusier aplicou todo o frenesi modernista a seus projetos, criando cidade centradas em grandes construções que, embora cheias de gente, procuravam seu espaço individual, interagiam pouco, se movimentavam por vias expressas em veículos individuais.

Embora modernas e visualmente apelativas, são cidades com pouca vibração, faltam humanos nas paisagens. São cidades como Miami ou Los Angeles. Dificilmente seriam citadas como melhores para se viver se comparadas a New York ou San Francisco.  

Os projetos das cidades do futuro buscam resgatar um pouco dos dois mundos, com vistas a criar um melhor. Trazem preocupações antigas, como espaços de convivência e agregação de pessoas; preocupações atuais, como existência de espaços e áreas verdes; ao lado de transportes públicos, que resolvam os problemas criados pelos transportes individuais do século XX.
O fenômeno da gentrificação (encarecimento de bairros pobres, após obras públicas de melhorias, que termina por expulsar pessoas mais pobres e que lá já moravam) tem sido alvo de alguns debates. Melhorias nos meios de transporte, com redução drástica do tempo de deslocamento diário, já traria muitas melhorias de vida para as pessoas que precisam morar em bairros mais distantes.

Vejamos o que o futuro nos reserva ...



Rubem L. de F. Auto



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