Sempre surge uma pesquisa sobre
qual cidade as pessoas consideram mais agradável, melhores em que se viver, as
respostas não costumam variar muito. Cidades antigas e famosas, como Florença,
Copenhagen, Viena, Genebra etc.
Embora haja exceções, se formos
analisar as características que unem essas cidades é o fato de terem sido
projetadas para as pessoas, pensando exclusivamente nas pessoas. Evidentemente
alguns fatores contribuíram, como a própria inexistência de automóveis e de
fábricas, à época.
A existência moderna (após a alta
Idade Média) das cidades europeias surge com o renascimento italiano, por volta
do século XII. As comunas conseguem sua independência dos feudos e surgem os
burgos, que evoluem para se tornarem cidades.
A cidade medieval era
caracterizada pelos muros, que as tornavam limitadas quando a população tendia
a crescer muito, e pela Igreja central, em geral o maior prédio. Todo o resto
se distribuía a seu redor, de maneira anárquica.
Com o enriquecimento dos
burgueses, que passam a formar uma classe social específica nas cidades em
ebulição, diversas obras de arte passam a ser financiada por membros dessa
classe. Pintura, escultura são algumas das atividades beneficiadas por eles.
Com o passar dos anos, atividades
ligadas ao urbanismo passam a ser beneficiadas, com os arquitetos ocupando-se
de projetar equipamentos urbanos voltados para o benefício do público. Tais
iniciativas eram impregnadas dos princípios que regiam o próprio renascimento:
o homem no centro; racionalidade e beleza.
Urbanistas do Quattrocento usam a
geometria para planejar cidades, tendo ou não saído do papel tais ideias. Sobrou
preocupação até mesmo com a abordagem às diferentes classes sociais que vivem
nessas cidades.
Nas cidades italianas como
Florença, Pisa, Ferrara percebe-se uma preocupação voltada aos locais de
concentração pública, como praças. Em geral, construía-se uma fonte que, além
de atender a motivos estéticos, com uma ornamentação artística, atendia a
exigências prática como ponto de distribuição de água.
Os prédios ao redor, normalmente,
eram projetados para não ficarem nem muito longe do centro da praça, nem muito
perto que pudesse atrapalhara circulação das pessoas. Os prédios residências deveriam
ficar afastados o suficiente para não atrapalharem as pessoas, cavalos e carroças,
mas pertos o suficiente para garantir vizinhança, vida social.
Os anos de Napoleão III, na
França, viram o nascimento da arquitetura moderna largamente utilizada na América
Latina. Visando evitar os conflitos civis que se multiplicaram por Paris, cujo
combate era dificultado pelas vielas estreitas e mal iluminadas da cidade, o
novo imperador nomeou como prefeito de Paris Georges-Eugène Haussmann.
Este criou a Paris nova, com grandes
ruas, avenidas e bulevares, geometricamente dispostos.
“O plano criado
para o centro da cidade, previa a reformulação da área em um dos extremos dos
Champs-Elysées (Campos Elíseos). Haussmann criou uma estrela de 12 avenidas
amplas em volta do Arco do Triunfo, onde grandes mansões foram erguidas entre
1860 e 1868 sobre os escombros da antiga cidade.
Além da Place
de l'Opéra, foi projetada também pelo Barão a Place de l’Étoile, um dos
cruzamentos mais complicados de Paris. L’Opéra de Paris foi projetado pelo
arquitecto Charles Garnier a pedido do imperador Napoleão III e levou treze
anos para ser concluído, de 1862 a 1875. O prédio é suntuoso e singular, uma
mistura de materiais como pedra, bronze, mármore e outros, bem como de estilos
que vão do clássico ao barroco, tido como o "estilo do 2º Império."” (Wikipedia)
Deixou a cidade à beira da
falência, mas ajudou a criar um novo tipo de arquitetura urbana. Agora o
embelezamento urbano passava a ser desejado. Isso encareceu diversos bairros
centrais e expulsou a classe trabalhadora para os subúrbios. A cidade convívio
passa a cidade fábrica.
Entre 1919 e 1933, funcionou em
Weimar, Alemanha, a Bauhaus (Staatliches-Bauhaus). Essa escola de design, artes
plásticas e arquitetura causou uma revolução silenciosa. Caracterizada por
exigir conhecimento holístico de seus alunos, por serem incentivados a
aprenderem carpintaria, pintura, solda e outras habilidades, tinha um lema:
Less is more (Menos é mais). Tentava sempre agregar design e funcionalidade,
tendo como alvo a simplicidade.
Seu fim foi precipitado pela
chegada dos nazistas ao poder, o que iniciou um período de perseguição a alguns
de seus membros e à própria ideia subjacente à Bauhaus.
Um dos grandes nomes saídos da
Bauhaus foi Ludwig Mies van der Rohe. Este grande arquiteto foi quem mais
influenciou outro grande nome da arquitetura, posteriormente, Le Corbusier (Charles-Edouard
Jeanneret-Gris).
Le Corbusier aplicou todo o
frenesi modernista a seus projetos, criando cidade centradas em grandes
construções que, embora cheias de gente, procuravam seu espaço individual,
interagiam pouco, se movimentavam por vias expressas em veículos individuais.
Embora modernas e visualmente
apelativas, são cidades com pouca vibração, faltam humanos nas paisagens. São
cidades como Miami ou Los Angeles. Dificilmente seriam citadas como melhores
para se viver se comparadas a New York ou San Francisco.
Os projetos das cidades do futuro
buscam resgatar um pouco dos dois mundos, com vistas a criar um melhor. Trazem preocupações
antigas, como espaços de convivência e agregação de pessoas; preocupações
atuais, como existência de espaços e áreas verdes; ao lado de transportes
públicos, que resolvam os problemas criados pelos transportes individuais do
século XX.
O fenômeno da gentrificação
(encarecimento de bairros pobres, após obras públicas de melhorias, que termina
por expulsar pessoas mais pobres e que lá já moravam) tem sido alvo de alguns
debates. Melhorias nos meios de transporte, com redução drástica do tempo de
deslocamento diário, já traria muitas melhorias de vida para as pessoas que
precisam morar em bairros mais distantes.
Vejamos o que o futuro nos
reserva ...
Rubem L. de F. Auto
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