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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

SÓ SEI QUE NADA SEI – AH! TAMBÉM SEI QUE VOCÊS NADA SABEM SOBRE AQUILO QUE DECIDEM


O filósofo Sócrates viveu de 470 a 399 a.C. Quando o ano de 400 a.C. chegava ao fim, um cidadão de nome Meletos apresentou em Atenas uma acusação contra Sócrates. A acusação apresentava pouca densidade probatória e a pena solicitada soava absurda. A acusação dizia que Sócrates, aos seus 70 anos, não respeitava os deuses e, inclusive, tentava introduzir novos deuses. Acusava-o também de corromper a juventude. Por isso, deveria morrer.

Sócrates era o filósofo mais famoso de Atenas. Mas não era unanimidade. Sua aparência e seus hábitos chocavam alguns concidadãos. Normalmente ele abordava pessoas aleatoriamente e indagava-lhes perguntas filosóficas que, não raro, levavam o interlocutor a se sentir humilhado após algumas respostas.

A ágora era uma preça triangular, dedicada ao comércio e cercada por prédios públicos e templos. Quem fosse lá à tarde fazer compras poderia ser interrompido por um homem sujo, maltrapilho, de narigudo, de cabeça grande, cabelo ralo e testa alta e pronunciada e que poderia perguntar-lhe: o que é a sabedoria? O que é você considera justo ou injusto? Diante da resposta dada, Sócrates logo fazia outra pergunta, que tornava a resposta anterior débil. E não parava, a ponto de muito pensarem que seu objetivo era ridicularizar as pessoas. Não era: ele queria adquirir conhecimento. Ele punha constantemente idéias e conclusões em dúvida.

A esse método de fazer perguntas e estimular a meditação denomina-se método socrático. Buscava-se com este adquirir a verdadeira sabedoria.

Nos anos da acusação contra Sócrates, Atenas apenas retornara à democracia, após a derrota na Guerra do Peloponeso, contra Esparta, depois de 27 anos. O general espartano Lisandro nomeou 30 generais que devastaram a cidade de Atenas: os Trinta Tiranos. Algum tempo depois, a cidade conseguiu afastá-los do poder. Porém, Sócrates, com seus questionamentos e dúvidas, corporificava a incerteza que seus concidadãos tanto desejavam afastar. Queriam, agora, respostas claras, certezas. Os anos de conflitos levaram-nos a sonhar com estabilidade. Sócrates representava agora um perturbador da ordem pública.

O caso foi julgado em Atenas, perante um júri composto por 500 cidadãos. Sócrates fez sua própria defesa. Baseava-se na máxima: “Só sei que nada sei.”

Ele fez três discursos, conforme o texto Apologia de Sócrates, de Platão. No primeiro, Sócrates argumentava que todos aqueles que estudavam sobre todos os assuntos, como ele, questionavam tudo, mesmo a existência dos deuses. A sua sabedoria era a prova de seu método.

Sócrates foi questionado sobre como havia conquistado a fama de sábio. Respondeu que Xenofonte perguntou ao Oráculo de Delfos quem era o mais sábio de Atenas, ao que ouviu como resposta: “Sábio é Sófocles, mais sábio é Eurípedes, mas, dentre todos, o mais sábio é Sócrates.” Insatisfeito com a resposta, Sócrates decidiu rebater o Oráculo e perguntou a políticos, poetas e artesãos quem era mais sábio e percebeu que todos se consideravam muito sábios por dominarem seus ofícios, suas profissões. Assim, Sócrates deduziu que era de fato o mais sábio de todos, por um motivo: ele mesmo não se considerava ser sábio! Daí: “Só sei que nada sei”, sua célebre frase.

Uma explicação possível para a frase seria, após eliminar a carga irônica, seria que Sócrates suspeitava saber de algumas coisas, mas não seriam suficientes para dizer-se sábio.

Após os discursos de Sócrates, iniciou-se a votação. 280 juízes votaram para que fosse culpado e 220 votaram pela absolvição. Após, iniciou-se a fase de propositura e votação de penas, em que participavam tanto acusação como defesa. A acusação novamente solicitou a pena de morte. Sócrates fez sua proposta: converter-se em benfeitor público e solicitou hospedagem gratuita, por toda a vida, no mercado municipal. Evidentemente essa proposta foi considerada uma ofensa e tal ironia custaria caro a Sócrates. Mesmo fazendo uma segunda proposta, pela qual seria imposta uma sanção econômica, a condenação foi inevitável. Só para ter-se uma dimensão de como o velho filósofo irritou sua audiência: 360 votaram pela condenação à morte, 140 foram contra. Pelos menos 80 votos se voltaram contra ele após a provocação.

O terceiro discurso de Sócrates, iniciava-se direcionado àqueles que o condenavam: advertiu-os de que não se livrariam das perguntas incômodas após a morte dele, pois seus sucessores seriam ainda mais incômodos do que ele próprio. Aos amigos, disse que não temia a morte. Se fosse como dormir sem sonhar, seria um prêmio. Se fosse como viver num mundo cercado por pessoas do passado, alegrava-se diante da perspectiva de conhecer Homero, Hesíodo ou Minos.

Sócrates passou mais um mês no cativeiro, onde recebia muitos amigos. Segundo Platão, teve a chance de fugir, mas não se aproveitou dela. Não queira atuar contra a justiça vigente, embora fosse bastante questionável. Bebeu um copo de cicuta ... e partiu ao encontro de seus ídolos do passado.

Demonstrar que a confissão de ignorância acerca de algo é o início da verdadeira aquisição de conhecimento. Sócrates também demonstrou que a coragem com que enfrentou seu destino deixou patentes a injustiça do julgamento, claramente político (voltado a punir alguém que a cidade achava incômodo, com suas observações e críticas sociais), e a falta de fundamentação das acusações que sofreu.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A história do mundo em 50 frases.”




   

LAVO MINHAS MÃOS – COMO PILATOS ENSINOU A TRATAR MANIFESTANTES E DESORDEIROS SOCIAIS


Por volta do ano 30 d.C., celebrava-se em Jerusalém a Semana Santa, época em que os judeus resgatavam a memória da libertação do Egito. Nessa época chegou à cidade um homem chamado Jesus. Ele vinha de Nazaré, na Galiléia. Sua fama, até então, era de curandeiro e pregador.

Consigo, trazia um grupo de discípulos que o seguiam, de sermão em sermão. Chegou a Jerusalém montado num burro. Seria o Messias previsto por Zacarias? Há motivos para crer que a ansiedade com que Jesus foi recebido deve-se muito mais a um bom trabalho prévio dos discípulos junto à população local. De fato, ele chamou muito a atenção dos sumos sacerdotes.

Naquela época, a liderança política do povo judeu era exercida pelos sumos sacerdotes. Estes realizavam o contato político com os governantes romanos. Com o tempo, esses sacerdotes pareciam ter encontrado um modus vivendi com os ocupadores romanos. O resultado foi a perda de prestígio espiritual junto à população, além da perda da força política local.

O povo passou a se sentir atraído por pregadores ambulantes, que ofereciam suas próprias doutrinas. Jesus de Nazaré era um deles. Os judeus aproveitaram a Páscoa para protestar contra a ocupação romana.

Durante sua curta estadia, Jesus causou escândalo ao entrar no Templo. Um enorme tumulto foi provocado pelas críticas feitas ao ponto fraco dos sacerdotes e pela repreensão que Jesus fez à sua secularização.

Não há provas históricas, mas a Bíblia faz menção a uma “assembléia de crise” na casa do Califás. Nessa assembléia ficou decidido matar Jesus. Também não há provas da traição de Judas Iscariotes. O certo é que Jesus foi feito prisioneiro pelos ocupantes romanos.

Pôncio Pilatos ocupava o cargo de prefeito romano desde o ano 26 d.C. Ao mesmo tempo era procônsul da Judeia e da Samaria. Sua fama era de governante duro, sendo defensor intransigente dos interesses romanos. Provocou os judeus ao mandar estender estandartes romanos pelas ruas de Jerusalém. Também desviou recursos dos tesouros do Templo para construir aquedutos. Roma parecia bastante satisfeita com seu trabalho: ocupou o cargo de procônsul por dez anos. Só perdeu o cargo quando agiu com excessos contra os samaritanos, em 36 d.C.

A acusação contra Jesus foi por alta traição e instigação à revolta, crimes cujo julgamento competia exclusivamente ao procônsul. A condenação foi a morte na cruz.

Nos relatos bíblicos mostram um Pilatos hesitante ao anunciar a sentença. Ele teria inquirido a multidão, que pediu a crucificação. Pilatos teria sido acometido de dúvidas. No entanto, terminou cedendo às pressões dos sacerdotes judeus e do povo ali reunido.

Segundo São Mateus, Pilatos mandou trazerem água e lavou suas mãos, dizendo: “Estou inocente deste sangue. Isso é convosco.” O Salmo 26,6 diz: “Lavo as minhas mãos em sinal de inocência e ando à volta do teu altar, Senhor.” O trecho onde esta frase se encontra escrita chama-se “Oração de um inocente.”

“Lavo as minhas mãos” encontra-se na consciência coletiva. Não é possível saber se essa frase foi, de fato, pronunciada, ou se aquela cena ocorreu. Entretanto, é possível afirmar que a condenação foi resultado direto de seus atos, afinal ele não delegou a decisão. Ele a tomou. Se o arrependimento de que fala a Bíblia realmente o acometeu, pode-se acusá-lo também de cinismo e de fraude processual. Pilatos não aprecia disposto a assumir a responsabilidade de condenar aquela pessoa à morte, daí tentou iludi-la.

O que levou Pilatos a agir como agiu? Cálculo político, seria a resposta. Seu protetor junto ao imperador romano era o comandante pretoriano Lúcio Élio Sejano. Sejano fora acusado de conspiração e executado. Se o caso Jesus gerasse tumulto e essa notícia chegasse a Roma, Pilatos poderia ser responsabilizado pelos distúrbios. Deveria resolver rapidamente aquela questão.

O fato de Jesus se apresentar como rei dos judeus permitia acusá-lo de insurgente político. O fato de ser pressionado pelos sacerdotes, permitia jogar sobre eles a responsabilidade pela condenação, caso houvesse ira do povo. Em suma: retirava Jesus, acalmava os sumos sacerdotes e o povo não se aborreceria com ele, pois limitara-se a cumprir a vontade do povo.

Os evangelistas deixaram testemunhos acerca dos sacerdotes e do povo de maneira bem negativa - e tendenciosa. Os cristãos conformavam uma comunidade jovem e pequena, que pretendia se diferenciar dos judeus, comunidade da qual provinham. O judaísmo agora era uma doutrina rival. Não se pode olvidar de que Jesus era judeu e em momento algum manifestou a vontade de ser diferente.

O processo contra Jesus foi viciado de ilegalidades. O juiz o considerou inocente, no entanto o condenou. Porém, ao longo dos anos, o personagem de Pilatos foi descrito de maneira cada vez mais positiva, enquanto os Judeus eram cada vez mais criticados. O ponto alto desta tendência é o Evangelho de Nicodemos, ou Atos de Pilatos, que faz parte dos livros apócrifos, surgidos no século V d.D. Nele, Pìlatos se converte ao cristianismo e é apresentado quase que como um mártir.

A jovem Igreja cristão se volta raivosamente contra aqueles que, na sua opinião, foram os grandes responsáveis pela morte de Jesus de Nazaré: os judeus. Exatamente aqueles que representavam a rivalidade ideológica. Mais que isso: por não centrar o ódio nos sumos sacerdotes, mas no povo judeus, a Igreja cristã acabou por estimular o antissemitismo histórico.

Após mais de 2.000 anos, resta a observação histórica: nenhum julgamento político pode ser justo!


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A história dom mundo em 50 frases”.

     
   





   

domingo, 30 de outubro de 2016

CONHECE-TE A TI MESMO – TALES E O NASCIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO


Os Sete Sábios do Oriente, os grandes cérebros da Grécia Antiga, haviam feito uma longa e cansativa viagem até o Oráculo de Delfos. Para que deixassem um registro para a posteridade, o sacerdote do templo pediu-lhes que deixassem gravada uma frase nas suas pedras.

Quílon, estadista espartano, foi o primeiro: gnothi seauton, ou “conhece-te a ti mesmo”.

Este episódio ainda está envolto em dúvidas e incertezas, no entanto, passados cem anos, Anaxímedes assegurou que esta frase fora de Tales de Mileto e que Quílon apenas a copiara. Outras versões ainda existiram acerca de sua autoria, mas todas parecem apontar Tales como seu provável autor.

A filosofia teve seu início com os pensadores gregos que viveram entre 650 e 450 a.C. São denominados pré-socráticos. Sócrates, em 450 a.C. mudou o rumo da história do pensamento. Os pré-socráticos são também chamados filósofos naturais. Tentaram compreender as relações na natureza. Quase todos escreveram algum livro intitulado Sobre a Natureza.

Tales é normalmente apontado como o primeiro dos filósofos naturais. Para ele, a água era a origem de toda a vida. Argumentava que as plantas – assim como as próprias sementes – eram úmidas. Já os cadáveres, eram secos. Ele chagava ao ponto de ver o mundo como uma balsa que flutuava na água.
Oscar Wilde escreveu, no século XIX: “Nas portas do mundo antigo podia ler-se: ´Conhece-te a ti mesmo´. Nas portas do nosso mundo deveria escrever-se ´Sê tu mesmo´”.

Evidentemente Tales foi favorecido com condições ideais para praticar o pensamento filosófico: vivia em uma Mileto rica e próspera e descendia de família fenícia abastada. Contudo não era dado à ideia de casar-se. Perante a insistência da mãe para que casasse, Tales teria respondido, por anos: “Ainda não chegou o momento”. Até que, por fim, certo dia, pôde responder: “Agora, o momento já passou”.
Tales chegou ao topo do mundo científico da sua época ao antever um eclipse do Sol. Não chegaram ao nós registros dessa observação, porém, segundo Diógenes Laércio, o grande historiador antigo da filosofia, Tales chegou a escrever dois textos sobre questões astronômicas.

Tales morreu contando entre 80 e 90 anos, num estádio, enquanto assistia a um combate. O filósofo da água morreu de desidratação, em função do calor do dia.

Havendo Quílon furtado sua frase, o que teria Tales escolhido para insculpir nas pedras de Delfos? “Pensa nos amigos”, foi sua frase.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A história do mundo em 50 frases”.      
  


sábado, 29 de outubro de 2016

DO COMINHO AO VATAPÁ – COMO AS ESPECIARIAS APIMENTARAM A HISTÓRIA


A ruptura do isolamento continental, quando o intercâmbio de produtos de diferentes continentes, ocorrido no bojo a expansão continental europeia, alterou radicalmente a dieta de quase todos os povos do planeta.

Especiarias asiáticas – como pimenta, canela, cravo, noz-moscada – tornaram-se conhecidas na Europa e em outros continentes. As culturas das Américas – como milho, batata, tomate, amendoim, pimentões – foram espalhadas por todo o globo. Gêneros tropicais – como cana-de-açúcar, chá, café, chocolate – criaram um novo padrão de consumo de bebidas excitantes e calóricas que, ao lado do tabaco, tornaram-se hábitos internacionais.

Produtos típicos da Europa mediterrânea, como trigo, uva, fizeram parte do pacote da colonização e o álcool destilado penetrou em todas as partes.

A chegada de produtos asiáticos, como cana-de-açúcar e algodão) à América, por meio da Europa, e o seu cultivo em grande escala, gerou a monocultura de agroexportação, que submeteu povos inteiros aos ditames das grandes corporações multinacionais, condicionando os preços à oferta e demanda do mercado mundial.

A cultura árabe já vinha sendo a responsável por disseminar produtos asiáticos na Europa, desde a baixa Idade Média. Desde especiarias a arroz, sorgo, algodão, frutas cítricas, mangas, cana-de-açúcar e berinjela. As Cruzadas ajudaram essa difusão. Contudo, eram produtos restritos à nobreza, às classes mais abastadas. Quando deixaram de ser bens de luxo e passaram a ser consumidos pelas classes sociais mais baixas, esses produtos deram origem mercados mundiais sedentos por diversas especiarias, como açúcar, bebidas quentes (chocolate, café, chá).

Esses mercados criaram novas formações socioeconômicas, como as plantations nas Américas, acompanhadas do odiável tráfico de seres humanos, que não foi originado mas foi expandido drasticamente no seu âmbito.

O tráfico triplo – produtos asiáticos vão para a Europa; escravos africanos, para as Amércias; produtos das Américas vã para Europa e África – propiciou a acumulação de capitais necessária para a revolução no sistema de produção artesanal existente na Europa. Demanda crescente, algodão e capitais internos disponíveis deram surgimento à indústria têxtil, que culminou na Revolução Industrial.

A avidez por especiarias tem várias motivações possíveis. Especiarias são alimentos e/ou drogas, de consumo gustativo, medicinal ou afrodisíaco. Foram atribuídas origens paradisíacas: teria se originado no Jardim do Éden, forma carregadas pelos quatro rios que lá nascem e corporificariam as virtudes solares das regiões quentes e desconhecidas do Oriente.

Tais especiarias deram origem a impérios comerciais, sendo o primeiro deles Portugal, também chamado de Império da Pimenta. Os portugueses detiveram o monopólio do comércio até serem expulsos pelos holandeses, que tiveram o mesmo destino pelas mãos dos ingleses
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O consumo de especiarias pode ser traçado até Roma. O termo “pimenta” originou-se de pigmenta, ou pigmento. Também passou a referir o vinho enriquecido na cor e no aroma com especiarias. Depois, passou a denominar qualquer especiaria. A pimenta-do-reino (Peper nigrum), original da Índia, onde é denominada pippali, deu origem ao termo pimenta em diversas línguas europeias.

Inicialmente, o consumo se devia `má qualidade da carne; mas Fernand Braudel fala do “psiquismo olfativo”, que ansiava por sabores e aromas fortes e misturados, muitas vezes incentivado por orientação médica, ou por serem afrodisíacos, estimuladores de calor. Essa demanda por sabores e aromas fortes, na Europa, foi reduzida no século XVII, quando houve o retorno de perfumes florais e alimentos menos temperados.

O contato entre as culturas foi bastante amplo. Batata, milho, tomate, amendoim, pimentão, feijão, cacau das Américas difundiram-se. Assim como o chá da China, o café da Etiópia, a canela do Ceilão, o cravo das Molucas, a pimenta do Malabar, a noz-moscada de Banda; enquanto produtos da dieta europeia, como trigo, vinho, álcool destilado espalharam-se mundialmente.

Perguntem-se: o que seria do espaguete sem o tomate? Ou da polenta sem o milho? O pimentão influenciou a páprica do gulash húngaro. O tomate, cujo nome se origina do asteca “jitomate” foi considerado inicialmente um quase veneno, que deveria ser cozinhado por horas. Mais tarde, das mãos de italianos e franceses recebeu o nome de “pomodoro” (maçã dourada) e pomme d`amour (maçã do amor), obtendo ao fama de afrodisíaco.

Um caso singular é o do Peru, ave sul-americana que adentrou a Europa por via otomana, donde vem seu nome em inglês, Turkey.

Quando os holandeses tomaram as rédeas do comércio mundial de especiarias e transformaram Amsterdam em sede europeia da distribuição de mercadorias, passaram a se dedicar a uma atividade sistemática de extermínio de culturas em regiões indesejadas. As plantas de noz-moscada foram restritas à ilhas Amboíno. As de cravo, à ilha de Banda. As de canela, ao Ceilão.

Em nenhum lugar, a mestiçagem de culturas foi mais completa do que na América. O berço foi o Caribe, e os atores principais, piratas: ou filibusteiros, ou bucaneiros. Antes de se tornarem empregados das Cortes inglesa e francesa, eram marginais vivendo à moda dos índios. Bucan significa defumação da carne com lenha verde. Barbecue vem das ilhas Barbacoa.

Esses atores difundiram a pimenta na África, onde se chamou Guinea Pepper. O amendoim, originário das Antilhas, conhecidos entre os astecas como cacau da terra ou como “pistache das ilhas” pelos europeus, tornou-se típico da África Oriental e, de lá, chegou ao Brasil junto com os escravos. Na Bahia, incorporou-se ao vatapá.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Comida e Sociedade: uma história da alimentação”, Cap. 8.
   

   






    

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

COM A INDUSTRIALIZAÇÃO, NASCEU UM NOVO JEITO DE VIVER


A Revolução Industrial mudou a maneira como o mundo vivia. Afetou todos os  aspectos do dia-a-dia, desde a maneira como nos transportávamos até a maneira como trabalhávamos. Foi uma época muito propícia para novas descobertas e invenções tecnológicas.

A Revolução Industrial teve início na Grã Bretanha, no século XVIII. Logo se espalhara para França, EUA, Canadá, Bélgica, Alemanha e Japão. Iniciou-se com mudanças que levaram uma economia agrícola a outra, baseada em indústrias e bens por elas produzidos.

A economia, durantes esses anos, apresentava bom desempenho. Mais e mais pessoas dispunham de dinheiro para comprar mais e mais produtos.

Durante o século XVIII, grandes latifundiários perceberam que pequenos fazendeiros - na verdade os segundos utilizavam terras disponibilizadas pelos primeiros -, estavam conseguindo ganhar dinheiro vendendo sua lã, e outros produtos, no mercado. Os grandes fazendeiros decidiram retirar as terras que haviam disponibilizado aos pequenos. Para isso, cercaram (enclosed) suas terras. Passaram a usar a rotação de culturas, melhorando a qualidade do solo e disponibilizando alimentos mais variados no mercado.

Contudo, o lado negativo também se fez presente com a expulsão dos pequenos fazendeiros de suas terras. Eles e suas famílias sofreram mudanças drásticas em suas vidas. Foram forçados a deixar seu estilo de vida rural e se mudarem para cidades superpovoadas, fétidas e a procurar empregos em fábricas, em um momento em que a proteção ao trabalhador e com as condições de trabalho era preocupações que demorariam muitos anos para surgir. As máquinas, normalmente, ficavam muito próximas, em lugares pouco iluminados. A superoferta de mão de obra levou os salários a níveis muito baixos. Se, no passado, eles tinham que plantar alimentos para prover sua família, agora eles tinham de comprá-los.

Em função dos rendimentos muito baixos, mulheres e crianças tiveram de procurar trabalho nas fábricas. O pior dos mundos era experimentado pelas crianças, que recebiam os rendimentos mais baixos e executavam os trabalhos mais perigosos, passando por espaços muito estreitos entre as máquinas, em geral para retira pedaços de tecidos que as paralisavam. Acidentes eram comuns.
Inventores como John Kay, Richard Arkwright, Jethro Tull, Eli Whitney, Charles Hargreaves, Josiah Wedgwood, Benjamin Franklin, James Watt e Thomas Edison inventaram máquinas que mudariam drasticamente a história. Algumas partiram da invenção da máquina a vapor. Esta poria em movimento geradores, bombas hidráulicas, locomotivas e navios a vapor. Outras invenções eram novas formas de comunicação, do telégrafo ao telefone. Houve ainda invenções que trouxeram avanços na agricultura como a semeadeira, o descaroçador de algodão, tratores melhores, dentre outras.

A James Watt é atribuído o aperfeiçoamento da máquina a vapor, em 1769. Após isso, Richard Trevitheck, George Stephenson e John Stevens usaram-na como base da locomotiva, que mudou os meios de transporte no século XVIII. Ao pô-la num navio, nasceu o navio a vapor, que transformou o transporte de mercadorias a longas distâncias.

As indústrias têxteis foram as primeiras a surgirem. Produziam algodão, seda, linho e lã. Em geral ficavam próximas a fontes de energia hidráulica, como rios. Logo depois surgiriam fábricas de cerâmica e metalurgia. Surgiram também fábricas de cervejas, vidros.

As fábricas pegavam uma tarefa e a dividiam em tarefas menores, que eram entregues a trabalhadores diferentes. Muitas tarefas eram tediosas e repetitivas e deveria ser repetida por 12 horas por dia, 6 dias por semana.

Essas fábricas poluíam o ar e a água dos rios, esgoto era lançado nos rios e nas ruas. Doenças terríveis se alastravam nessas áreas.

Os trabalhadores demandavam casas e essas, muitas vezes, eram providas pelos empregadores.

Os problemas advindos desse novo estilo de vida levaram à promulgação de leis de proteção ao trabalho e à criação de sindicatos de empregados.


Rubem L. de F. Auto




quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O TAKEOFF JAPONÊS APÓS A II GUERRA MUNDIAL


Em setembro de 1945, o Japão tinha aproximadamente 3 milhões de mortos pela guerra e perdas econômicas equivalentes a ¼ do PIB. Como se tornaram a segunda maior economia do mundo, nos anos 1980? O sucesso da economia japonesa no pós-guerra se deve à variedade de fatores que tinham a ver com as políticas americanas direcionadas ao país, o mercado internacional, mobilização social, capacidade e experiência industrial já existentes, dentre outros fatores.

Entre 1937 e 1945, durante os anos de guerra, a economia japonesa se desenvolveu rapidamente. Os índices de produção cresceram 24% em manufaturas, 46% em aços, 70% em metais não ferrosos e 252% em maquinários. Muitos dos produtos da crescente economia de guerra eram diversificados e sofisticados, de maneira que se facilitou seu aproveitamento no períodos de paz. Na indústria automobilística, por exemplo, das 11 maiores fábricas no Japão pós-guerra, 10 nasceram no período de guerra: apenas a Honda é um produto do período pós-guerra. Três das dez - Toyota, Nissan e Isuzu – prosperaram como fabricantes preferenciais de caminhões para os militares, após a lei de 1936 que proibiram Ford e GM de operarem no país. Outros gigantes corporativos no cenário pós-guerra ganharam vantagens comparativas durante os anso de guerra. Normura Securities, uma das maiores corporação japonesa, foi fundada em 1925 como uma firma especializada em títulos. A Hitachi foi fundada em 1910, mas cresceu muito nos anos 1930 como parte do conglomerado Ayukawa, que inclui a Nissan. A Toshiba é de 1904, mas foi fortalecida em 1939, como parte da estratégia de consolidação de empresas levada a cabo pelo governo.

Após o fim da guerra, muitas das corporações que surgiram durante a guerra e dos produtos surgidos durante o conflito foram convertidos para o desenvolvimento do país no pós-guerra. Companhias privada japonesas se expandiram rapidamente. Fizeram grandes empréstimos bancários. O governo incentivava fusões para que os grupos resultantes, fortalecidos, pudessem competir com as Três Grandes de Detroit. Toyota, Nissan, Isuzu, Toyo Kogio (Mazda) e Mitsubishi decidiram concorrer com suas linhas completas. Uma companhia nova, iniciando a produção de motocicletas, fundada por Honda Soichiro, entrou no mercado em 1963 com grande sucesso.

Em 1953, dois jovens, Morita Akio e Ibuka Masaru, lutaram por meses contra a burocracia para que conseguissem permissão para comprar licenças para fabricar transistores. Começando com um rádio, em 1950, a companhia recém-nascida, Sony, logo emergiu como líder global em qualidade e inovação em produtos eletrônicos.

O nacionalismo e o desejo de alcançar os países líderes persistiram após a II GM, mas agora os esforços estavam focados em objetivos econômicos e industriais. Por exemplo, fabricantes de metralhadoras foram convertidas para fabricantes de máquinas de costuras; fábricas de armas óticas agora produziam câmeras e binóculos.

A grande devastação econômica causada pelo conflito e a necessidade de reconstruir o país do zero levaram à introdução de novas tecnologias e novos estilos gerenciais, os quais deram à companhias uma chance para se atualizarem e ganharem escala de produção. Essas mudanças encontraram um ambiente internacional favorável ao livre comércio, tecnologia barata e matérias-primas também baratas.

Durante a Guerra Fria, o Japão foi cliente e amigo dos EUA, que permitiram que o mercado japonês permanecesse fechado a produtos americanos, enquanto os EUA permaneciam abertos aos produtos japoneses.

Ainda durante a Guerra Fria, interesses estratégicos levaram os EUA a permitirem ao Japão exportar para os EUA, enquanto protegiam seu mercado doméstico, levando à criação de cartéis e de características que não são próprias de mercados livres, além de criar assimetrias na relação comercial entre Japão e EUA. A economia baseada em exportações que o Japão desenvolveu também se beneficiou enormemente das baixas tarifas comerciais então vigentes no mercado internacional – no âmbito do GATT, atual OMC -, baixos preços do petróleo e de outras matérias primas necessárias para o desenvolvimento.

Em razão do art. 9º da Constituição japonesa, que proíbe o Japão de se rearmar, o país tem vivido sob o guarda-chuva militar dos EUA, gastando 1% do PIB em equipamentos de defesa militares (o que representa uma boa quantidade de dinheiro, haja vista o tamanho do PIB do país). Ainda assim, é possível que o país tenha economizado recursos relativamente à recriação de forças militares próprias.

No Japão, existe uma sociedade de bem estar social, em lugar de um Estado de bem estar social. Caracteriza-se pelo pleno emprego, incluindo cartéis compostos por pequenas e médias empresas, visando a evitar a falência e manter o emprego.

A sociedade de bem estar social e o pleno emprego permitiram ao Japão empregar recursos no desenvolvimento industrial, na forma de empréstimos bancários.

Durante os anos de ocupação americana – 1946 a 1949 – a economia japonesa era sustentada por 500 milhões de dólares anuais vindos dos EUA. A despeito dessa ajuda, por causa da devastação dos anos de guerra, a economia japonesa estava em frangalhos.

Como reação, a forças de ocupação japonesas convidaram banqueiros de Detroit para ajudarem a equilibrar a economia japonesa. Eles criaram o Plano Dodge (1949): orçamento equilibrado, inflação reduzida, refinanciamento da dívida pública. Além disso, taxa de câmbio fixa (1:360).

Como a taxa de câmbio estava muito desvalorizada, a inflação aumentou nos anos após 1949. A reação ao Plano foi péssima, o aumento do desemprego foi explosivo.

O Estado reagiu: empréstimos de bancos estatais a companhias privadas foram realizados com o foco de prevenir quebras de empresas. Em 1950, a maior preocupação da economia japonesa era a cumulação de capitais e promoção de exportações; companhias de médio porte também protestaram contra o aumento de impostos. Estas medidas preveniram a formação de um Estado de bem estar porque isso requeriria aumento de impostos. Em vez disso, o Estado promoveu uma sociedade de bem estar por meio de lei. A sociedade de bem estar, por meio da manutenção do pleno emprego via empréstimos estatais liberais, a companhias privadas, dispensaram o pagamento de auxílio desemprego. Pensões de aposentadoria surgiram das poupanças pessoais e compensações pagas por empresas, em vez de serem despesas do Estado.

A sociedade de bem estar poupou o governo japonês de muitas despesas, os quais eram liberalmente emprestados a companhias e garantiam uma fonte de recursos segura, levando algumas empresas à inovação tecnológica de mercado (evidentemente algumas empresas se fiaram muito nos empréstimos facilitados e apresentaram desempenho insatisfatório).      
Sob a sociedade de bem estar, auxílios desemprego limitados existiam de fato, mas eram providos por companhias privadas. Os prêmios de seguro desemprego são suportados por empregadores e empregados meio a meio. O governo paga apenas uma parte dos custos de operação e de gerenciamento e algumas outras poucas despesas.
As grandes corporações são responsáveis por subsidiar a aquisição de imóveis, seguro de saúde, aposentadorias e outros programas, como atividades recreacionais, em um pacote conhecido como “emprego para a vida toda”, praticado após os anos 1960. Obviamente revela-se custo a serem transferidos para o consumidor.

Dos anos de 1950 em diante, os líderes políticos e a burocracia japonesa, trabalhando em cooperação com executivos de grandes corporações, procuraram ativar e desenvolver a economia. Por 23 anos, de 1950 a 1973, o PNB japonês cresceu em torno de uma média anual de mais de 10%, com pequenos períodos abaixo desse patamar. Havia também uma alta taxa de investimentos em tecnologia.    

O Japão criou uma economia voltada para exportações: grande parte dos bens produzidos eram direcionados para o mercado externo; a moeda estrangeira era usada para financiar a aquisição de tecnologias e matérias primas para seu desenvolvimento industrial. O Japão não conta com fontes de matérias primas, com exceção de limitadas reservas de petróleo. Por outro lado, mais de 70% dos bens produzidos são vendidos no mercado internacional. Quando o modelo exportador foi desenvolvido, nos anos 1950, o ambiente era bem mais favorável: mercado internacional sem barreiras e matérias-primas baratas. Licenças para uso de tecnologias alheias também eram mais acessíveis, como transistores ou alto-fornos.

Bancos privados, assim como instituições públicas, como o Banco de Desenvolvimento Industrial, direcionavam as poupanças privadas para capitalizar empresas. Nos anos iniciais do desenvolvimento da economia japonesa, de 1950 a 1960, 1/3 dos empréstimos bancários vinham de poupanças privadas. A taxa de poupança crescia irresistivelmente com o crescimento da economia e alcançou 15% por volta de 1960 e chegou aos 20% por volta de 1970.     

A presença estatal regulatória é tão presente no Japão que este já foi chamado de país do “capitalismo de corretagem” (brokered capitalism), por esse motivo.  O governo foi o responsável por concentrar o mercado bancário do país após a II GM, reduzindo drasticamente a presença de bancos privados e direcionando a poupança nacional massivamente em direção ao desenvolvimento do país. Foi também o Estado quem redirecionou recursos de indústrias tradicionais – como carvão, têxteis – para indústrias com alto potencial de crescimento – como eletrônica, aço, petroquímica e automotiva. Alguns anos depois, redirecionou novamente, tendo agora como alvos: computadores, semicondutores e biotecnologia.

Durante a ocupação americana, uma das decisões de MacArthur foi liberalizar o Japão, eliminando monopólios: os zaibatsus. Contudo, após a ingerência externa, o governo japonês percebeu que a instituição de monopólios no velho estilo aceleraria o processo de criação de companhias capazes de concorrer agressivamente no mercado externo.  Nem mesmo a Fair Trade Commission foi capaz de deter essa decisão estatal.

Um episódio descreve muito bem como atuavam as companhias japonesas, já nos anos 1950. Seis fabricantes japonesas de televisores se juntaram em cartel, em 1956, conseguindo assim controlar os preços dos televisores no mercado doméstico. Utilizaram seu poder para manter os preços elevados, enquanto o governo mantinha o mercado fechado a concorrentes estrangeiros. Com as altas margens de lucros, conseguiram imprimir altas exportações para os EUA. Conseguiram mesmo levar concorrentes à falência, até no mercado americano. Ao lado dessas medidas, figuravam empréstimos facilitados, relaxamento das leis antitruste e outras.

Com o tempo, o modelo dos zaibatsus deu lugar aos keiretsus, semelhantes, porém mais flexíveis. Grupos como Mitsui, Mitsubishi, Sumitomo, Fuyo, Dai-ichi, Kangyo e Sanwa adotaram essa forma, adotando estratégias de horizontais. Cada membro de um grupo de empresas se relaciona com os demais por meio de participações cruzadas. Grandes keiretsus automotivos adotam um perfil vertical (Nissan, Toyota, Hitachi, Matsushita, Sony ...).Este modelo favorece a coordenação de estratégias de mercado e trás sinergias.

Resumindo a estratégia japonesa para abocanhar parte relevante do mercado internacional: grandes grupos econômicos passaram a controlar preços e manter altas margens de lucros, fazendo assim os consumidores japoneses subsidiarem suas companhias nacionais em suas estratégias de expansão internacional, por meio de preços mais elevados no mercado interno.    

Isso é bom? Well, it`s worked!


Rubem L. deF. Auto


NEM CATÓLICOS, NEM PROTESTANTES – COMO O JAPÃO DE TORNOU UMA POTÊNCIA ECONÔMICA E CRIOU UM BNDES NO SÉCULO XIX


Em 1922, O Império do Japão se tornou uma grande potência. Já havia vencido guerras contra a China, o país mais populoso do mundo, em 1895 e contra a Rússia, o país mais extenso do mundo, em 1905. Também esteve do lado vitorioso na I Guerra Mundial.

Por tudo isso, foi-lhe reservado um assento na Conferência de Paz de Paris, em Versailles, ao lado de Grã Bretanha, França, Itália e EUA. O Japão foi a primeira nação não-européia a firmar aliança com a GB, tornar-se uma potência colonial e a primeira asiática a se industrializar.

A entrada do Japão no clube das potências imperiais deu-se com a assinatura do Tratado Naval de Washington, em 1922. Este Tratado buscava classificar as potências de acordo com o limite de tonelagem permitido a cada signatário. A taxa estabelecida foi 5:5:3:1,75:1,75 entre Grã Bretanha, EUA, Japão, França e Itália, respectivamente.Portanto o Japão foi classificado como a terceira potência naval mundial e poderia fabricar navios com o dobro da tonelagem dos franceses e italianos.

Ainda em 1853, o Japão ainda era uma sociedade agrária governada por senhores feudais militares, a quem o Ocidente impôs tratados desiguais. Em apenas 70 anos, a nação pode reverter esses tratados desiguais, sofreu uma transformação política, militar e econômica  completa. Estudiosos contemporâneos normalmente atribuem essa ascensão a uma combinação de ocidentalização, modernização, industrialização e militarização.

Contudo, esse sucesso também pode ser atribuído à criação dos zaibatsu: grupos de grandes conglomerados familiares. Eles contribuíram com a industrialização japonesa por causa de certos princípios microeconômicos e estratégias de expansão. Trata-se de fenômeno distinto na história japonesa.

O propósito da ocidentalização era preencher que o separava dos imperialistas ocidentais.

Os oligarcas Meiji buscavam a igualdade diplomática necessária para anular os tratados desiguais, que permitiriam erguer barreiras tarifárias protecionistas, essenciais para o desenvolvimento industrial.

Em 1868, o Shogunato – espécie de regime militar que governou o país por quase 600 anos – foi derrubado e substituído pelo Imperador do Japão. A este episódio denomina-se Restauração Meiji. Este governo foi responsável por industrializar o Japão.

A estratégia foi oferecer apoio estatal a negócios privados que mostrassem capacidade de alcançar sucesso econômico. Os japoneses recusaram seguir a estratégia sugerida pelas demais potências, de esperar que investimentos externos criassem um bom ambiente de negócios. Este foi o caminho seguido pela China, que se viu sendo fatiada em poucos anos. Também rejeitaram a estratégia de crescimento baseado em companhias estatais, à maneira socialista.

No tempo dos Shoguns, o Estado estava no controle de várias indústrias espalhados por todo o país. Algumas eram grandes, mas a grande maioria eram pequenos negócios. Portanto os Meiji herdaram diversos negócios ao chegarem ao poder. Esse fato levou à tentação de adotar um modelo de industrialização estatal, à moda soviética e com planos qüinqüenais, provavelmente.

Contudo essa trilha foi rejeitada por um motivo menos ideológico do que prático: a nova burocracia japonesa não tinha qualquer experiência em administração industrial. E essa conclusão foi expressa pelos resultados medíocres obtidos em menos de cinco anos de controle estatal.

O modelo de industrialização japonês foi desenhado após a denominada Missão Iwakura, de 1871. Essa jornada ao Hemisfério ocidental convenceu-os da importância da industrialização liderada pela iniciativa privada.

Entretanto a iniciativa privada japonesa estava muito aquém do requerido para confrontar as firmas ocidentais dominantes. A maneira encontrada para superar essa desvantagem – tecnológica e financeira, especialmente – foi uma política de incentivo à acumulação primitiva, que resultou na criação dos zaibatsu. Essa estratégia eliminou a necessidade do período de gestação, necessário para acumular o capital a ser investido no período de expansão futura.

De novo, impunha-se um obstáculo: ausência de pessoas com capacidade empresarial para tanto. Havia, contudo, um grupo de pessoas que traficavam influência política, ainda no período dos Shoguns. Eles obtinham favores comerciais e financeiros por meio de relacionamentos com políticos. Nos anos de 1870, percebeu-se que essas pessoas poderiam liderar a industrialização, pois tinham alguma experiência à frente de negócios de grande vulto.

O apoio governamental consistia em oferecer posições monopolísticas ou de massivos subsídios. Deste momento até 1922, o Japão pavimentou o caminho para o sucesso industrial saindo-se vitorioso em três guerras.

Podem-se dividir os zaibatsu em dois grupos: os Big Four da Mitsui, Mitsubishi, Sumitomo e Yasuda; e no grupo composto por Okura, Fujita, Asano e Furukawa. Existem outros, como a Nissan, zaibatsu mais recente. A expansão desses conglomerados utilizou-se de subsidiárias, muitas com posição oligárquica em seus setores. Não são raros aqueles que controlam bancos.

Algumas características são comuns aos zaibatsu. Uma delas são os benefícios advindos das economias de escala e de escopo. Na economia de escala, há redução de custos de produção conforme os níveis de produção aumentam, no que se refere a um único produto. Na economia de escopo, as reduções de custos são alcançadas lançando-se mão de produtos relacionados. Com sinergias e operações comuns a mais de um produto, a firma consegue tornar seus custos mais atraentes.

Todos os zaibatsu se iniciaram como negócios pequenos que alcançaram o status de grandes conglomerados, com operações bastante diversificadas, por meio dessas duas estratégias.

Um exemplo muito citado é o da Furukawa. O Sr. Furukawa, a partir dos lucros da exploração de duas pequenas minas, adquiriu a Ashio Copper Mine, em 1877. Por meio de empréstimos bastante favorecidos do governo, adquiriu o maquinário necessário para tornar suas coesações crescentemente lucrativas. Torna-se evidente que o fato de que firmas estrangeiras ainda não terem ocupado o mercado, abriu espaço para que novos entrantes japoneses ocupassem o mercado com se se tratasse de um “Green market” – afinal, fora do Japão, grandes firmas já faziam tudo o que as novas firmas japonesas estavam fazendo, embora as japonesas amealhassem lucros típicos de “first movers”.

Este processo descrito acima levou à imagem que os zaibatsu amealharam ao longo dos anos, como ambientes propícios para o desenvolvimento de novas tecnologias. De fato, o papel delas foi o de utilizar-se de seus massivos recursos para trazer processos de produção modernos, como Sistema Bessemer de derretimento de metais. A Furukawa levou a produção de fios de cobre ao Japão.

O caso da Mitsubishi e do mercado de navegação no Japão é emblemático. Nos anos do Shogunato, as frotas de navios japoneses estavam limitadas a 75 pés – ou 150 toneladas. Quando o Sr. Iwasaki adquiriu alguns navios a vapor, em 1871, e iniciou uma companhia de nome Mitsubishi, essa proibição tinha acabado de ser revogada. Utilizou-se de sua iniciativa inédita no seu país para começar um novo zaibatsu. Após seu apoio ao exército japonês, quando da invasão das ilhas Formosa, o próprio governo ajudou a pavimentar seu caminho em direção ao monopólio de diversas linhas costeiras e internacionais de transporte.

De fato, todos os problemas causados pelo monopólio foram notados no Japão. A qualidade dos serviços e os preços cobrados pela Mitsubishi foram alvo de protestos, mesmo nos jornais. Isso levou o governo a criar a Companhia Cooperativa de Transporte (somente o Estado tinha recursos suficientes para encarar os altíssimos custos de oportunidade), que faliu antes que pudesse abrir o mercado da Mitsubishi. Nesse momento, a estratégia de diversificação havia garantido diversas fontes de receita à Mitsubishi, permitindo que ela sobrevivesse ao período de forte concorrência em seu negócio principal.

As estratégias de diversificação dos zaibatsu ocorrem de três maneiras: concêntrica, horizontal ou lateral (ou por conglomeração). Quando a Mitsubishi expandiu suas operações de seguro, de seguro contra incêndio e marítimo para o seguro de vida e mutual, adotou-se a expansão concêntrica. Quando a companhia evoluiu de minas de carvão para minas de cobre, tratou-se de diversificação horizontal. Já a expansão da Mitsubishi indo de transporte marítimo para negócios bancários, exemplifica a diversificação por conglomeração. Todos os zaibatsu adotaram estratégias de diversificação, em algum momento.

As vantagens apontadas ao adotar as estratégias acima descritas são: redução de riscos, criação de fontes internas de acumulação de capital (as quais são agora independentes de favores governamentais ou de criação de campeões nacionais), sinergias, desenvolvimento de novos mercados e o serviço prestado no âmbito de uma política nacional.

Importante notar que a reconstrução do Japão, após a II GM, adotou muitas das estratégias desenhadas no período aqui citado.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Japan, The Great Power”.

  

  
  


      

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

COMO FICOU O MUNDO APÓS A REPAGINADA DA II GUERRA MUNDIAL?


Finalizada a guerra contra a Alemanha, os Aliados se encontraram na cidade de Postdam, Alemanha, em 11 de julho de 1945. Decidiram que o Japão deveria oferecer rendição incondicional, mas as tropas japonesas não obedeceram à decisão em função de discordâncias internas. No mês de agosto, os EUA lançaram duas bombas atômicas, em Hiroshima e em Nagasaki. Em 15 de agosto, o Japão finalmente se rendeu.

O grande conflito revelou, a seu fim, que a Grã Bretanha não era mais a maior potência econômica ou naval do mundo. Os EUA a superaram no teatro das nações. Para conseguir fazer a Índia tomar parte no conflito do lado britânico, a GB teve de prometer a eles sua independência, após dois anos do fim do conflito. Com isso, a GB ficou desfalcada de sua colônia mais rica.

Quanto à Alemanha, esta restou dividida em duas metades, a Ocidental e a Oriental, controladas pelos Aliados e pela URSS, respectivamente. Os crimes de guerra dos nazistas foram julgados em Nuremberg e, não menos importante, a Alemanha viu-se alijada de aproximadamente 25% de seu território pré-guerra.
Em razão do enorme potencial de surgir uma III Guerra Mundial, em 24 de outubro de 1945, foi criada as Nações Unidas, agora com a participação norte-americana. Esta ficou responsável pela ocupação do Japão e de suas ex-ilhas, além da ocupação da Coréia do Sul.

A economia global também sofreu. OS EUA saíram desproporcionalmente mais fortes por a guerra não ter ocorrido em seu solo, além de ter atrasado sua entrada no conflito por anos. A economia britânica patinou por anos. A GB financiou seu esforço de guerra tomando emprestados $ 4.33 bilhões de dólares dos EUA. Os pagamentos se estenderam até 2006. A GB sozinha recebeu mais de ¼ dos recursos do Plano Marshall.
Embora tecnicamente vencedora, a GB não tinha mais recursos para manter seu império. Em vez de fazer como a França, que enterrava fortunas em guerras para manter suas ex-colônias, a GB adotou uma política de desemgajamento, de 1945 a 1965. Durante esses anos, o número de pessoas vivendo no Império britânico, porém fora da GB, foi reduzido de 700 milhões para meros 5 milhões.

Após a independência da Índia, Sri Lanka, Paquistão e Burma também se tornaram independentes. Com exceção de Burma, todos os outros aceitaram o convite para fazer parte do Commonwealth of Nations (espécie de bloco comercial que agrega ex-colônias britânicas).

O mandato britânico na Palestina apresentou o único problema que os britânicos enfrentaram: palestinos nativos e refugiados judeus reclamavam a posse da região. Em 1947, a GB anunciou que renunciaria ao mandato da Palestina no ano seguinte e deixaria à ONU a decisão final. No ano seguinte, a ONU votou por dividir a Palestina em dois Estados, árabe e judeu.

Outro caso mais espinhoso para os britânicos ocorreu na Malásia. O movimento anti-japonês tinha um novo alvo. Os britânicos restabeleceram o controle da colônia, após a II GM. Os rebeldes era especialmente comunistas  sino-malaios, o que fez com que os britânicos se aliassem aos muçulmanos, que eram maioria. Conhecido como Emergência Malaia, esta insurgência durou de 1948 a 1960. Em 1957, os britânicos se decidiram por conceder a independência. Em 1963, A Federação da Malásia, independente, juntou-se à Commonwealth.

Em 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez e levou a GB a planejar uma resposta. Os EUA impediram os britânicos ao ameaçarem vende todo o estoque de libras em seu poder – isso levaria a uma desvalorização trágica da moeda britânica. Após essa ameaça e a intervenção da ONU, a GB teve de aceitar a humilhante nacionalização do Canal.

No que se refere ao Oriente Médio, o ex-Império de sua Majestade ainda conseguiu sustentar intervenções em Omã, em 1957, na Jordânia, em 1958 e no Kuwait, em 1961.

Com a desvalorização da libra, em 1968, os britânicos tiveram de retirar suaS tropas do Oriente Médio. Também abandonaram bases na Malásia, Singapura e a leste do Canal de Suez. Os britânicos também abandonaram Aden, em 1967, Bahrain, em 1971, e Maldivas, em 1976.




Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro "The Rise and Fall of the British Empire"

II GUERRA MUNDIAL – O PASSO A PASSO DO CONFLITO QUE ENTERROU IMPÉRIOS


Em 1º de setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polônia com o pretexto de que a Polônia sabotou alvos alemães. Em 3 de setembro de 1939, a GB emitiu um ultimato para que a Alemanha parasse todas as suas operações militares, mas esse ultimato foi ignorado.

Em decorrência, a GB e a Commonwealth declararam guerra à Alemanha. Os aliados iniciaram o bloqueio naval e os alemães enviaram os U-Boats (submarinos) para atacar os navios aliados.

Após o cessar-fogo assinado com os japoneses, os soviéticos invadiram a Polônia em 17 de setembro de 1939. Esta foi derrotada rapidamente e o país foi dividido entre URSS e Alemanha.

A partir desse ponto da guerra, seguiram-se invasões alemães e posteriores ofertas de paz, todas rejeitadas pelos britânicos.

Em 6 de outubro, Hitler ofereceu paz à França e ao RU, com a condição de que o futuro da Polônia seria decidido por URSS e Alemanha. Os britânicos o rejeitaram. Diante da recusa, Hitler inicia os planos de invasão da França.

Após o Pacto de não-agressão firmado com a Alemanha, a URSS começa a estacionar tropas na Letônia, Estônia e Lituânia. Diante da resistência finlandesa à entrada de tropas soviéticas em seu território, esta é invadida em novembro. Essa invasão foi finalizada em março, com a Finlândia fazendo concessões.

Em abril de 1940, a Alemanha começa a planejar a invasão da Noruega e da Dinamarca. Minérios de ferro eram embarcados da Suécia para os militares alemães, mas esses embarques poderiam ser impedidos pelos Aliados. Essas invasões visavam protegê-los.

Diante de tantos insucessos britânicos, seu primeiro-ministro Neville Chamberlain foi substituído por Winston Churchill, em maio de 1940.

Quando as condições climáticas tornaram-se favoráveis, a Alemanha iniciou o Plano Manstein, em maio de 1940. Esse plano incluía o ataque à Bélgica, França, Holanda e Luxemburgo. Simultaneamente, a GB invadiu as ilhas Faroe e a Islândia, para certificar-se de que tais ilhas não seriam invadidas pelos alemães. Os EUA aceitaram proteger a Groenlândia.

Em dias, a Holanda foi derrotada pela blitzkrieg alemã. Os belgas resistiram muitas semanas. Em junho, a Itália invadiu a França, quatro dias depois os alemães tomaram Paris e a França assinou um armistício apenas oito dias depois.  A França restou dividida entre Alemanha e Itália e esta última declarou guerra oficialmente ao RU.

Em 19 de julho, Hitler volta a oferecer um fim aos conflitos e deixou claro que ele não desejava tomar para si todo o Império britânico. De novo, os britânicos o rejeitaram.

Diante dessa recusa, a Alemanha iniciou uma campanha aérea , conhecida como Batalha da Grã Gretanha, sobre o RU. A Royal Air Force resistiu muito bem e evitou a invasão da ilha no outono. Os planos de invasão aérea foram substituídos por bombardeamento aérea: a Blitz.

Embora a Royal Navy fosse a maior marinha do mundo, os submarinos U-Boat alemães causaram perdas bastante relevantes no Atlântico. EM maio de 1941, os alemães sofreram uma derrota histórica com o afundamento do navio Bismarck.

Por seu lado, os americanos mudaram seu Pacto de Neutralidade para permitir que os Aliados pudessem adquirir suprimentos deles. Com a tomada alemã da França, em 1940, os EUA iniciaram a construção de sua marinha e aceitaram trocar destroyers americanos por bases britânicas. Continuaram neutros, conforme promessa de Franklin Roosevelt, mas iniciaram preparações para uma eventual entrada no conflito, pelos Aliados.

A Itália permanecia ocupada: iniciou o cerco a Malta, em junho de 1940. Os italianos tomaram a Somália dos britânicos dois meses mais tarde e invadiram o Egito, ocupado pelos britânicos, em setembro de 1940. Conforme a Itália começou a lutar contra Grécia, o RU assitia a esta última.

A invasão da Grécia pelo Eixo marcou um momento histórico e inspirador em meio aos conflitos. Até então o Eixo parecia inabalável. Em questão de dias ou semanas invadia e vencia todos os alvos. A exceção ficou por conta da Grécia. Essa pequena nação, sem exército ou marinha significativos, deu uma lição de coragem semana após semana. Quando ficaram sem munições, usaram pedras nos italianos. No final, perderam, mas inspiraram muito os vencedores.

A Alemanha foi sondada para ajudar a Itália na Grécia, mas a Iugoslávia exigia atenção imediata. Os britânicos encorajaram um golpe no país, derrubando o governo que havia assinado um Pacto com a Alemanha. Imediatamente Hitler decidiu eliminar o novo regime. Ele invadiu ambas, Grécia e Iugoslávia, em uma semana.

Hitler se questionava sobre o porquê de o RU recusar-se a aceitar suas ofertas de paz. Supunha que fosse pela esperança de que a URSS se juntasse aos Aliados e de que os EUA entrassem no conflito. Diante dessa suspeita, tentou melhorar relações com os soviéticos e levá-los a assinar o Pacto Tripartite. OS soviéticos pediram concessões para tanto, ao que Hitler as considerou inaceitáveis. A invasão da URSS era inevitável.

Em 22 de junho de 1941, iniciou-se a Operação Barbarossa: Alemanha, Romênia e Itália invadiram a URSS. Tendo como alvos Moscou, região do Báltico e Ucrânia buscava afastar a URSS e garantir os recursos (especialmente petróleo) para que derrotassem os demais inimigos.

Vendo  as tropas alemães e suas forças aéreas desviadas para o leste, a GB passou a contemplar uma grande estratégia para vencer a guerra. Em julho de 1941, o RU se juntou a uma aliança militar com a URSS e planejaram a invasão do Irã. Por volta de agosto, RU e EUA se juntaram para dominarem o Atlântico.

O inverno extremo exauriu as tropas alemães e levaram à suspensão da ofensiva em Moscou. Em dezembro, a URSS mobilizou forças de reserva para que pudessem igualar suas forças à do Eixo. Iniciou-se a contraofensiva. Até então a URSS conseguia manter as tropas alemães à distância de 52 a 155 milhas a oeste.

Após a entrada soviética ao lado dos Aliados, a entrada dos EUA no conflito foi o fator que levou à completa mudança no estado do conflito.

Desde o início de 1941, os EUA tinham estado trabalhando em negociações com o Japão para terminar o conflito na China. O Japão recusou propostas americanas e estes tratavam com holandeses e britânicos para se juntarem aos Aliados. Por fim, Roosevelt avisou aos japoneses de que os EUA atacariam caso ele atacassem quaisquer de seus vizinhos.

Em dezembro de 1941, os japoneses atacaram Pearl Harbor, de surpresa. Segundo a Teoria de Mahon, um grande ataque como aquele poderia derrotar o inimigo. Ocorreu justamente o oposto, com os EUA aproveitando seus imensos recursos, e de sua posição segura.

Juntos, EUA, Austrália, GB e China declararam guerra ao Japão. Como resposta, Alemanha, Itália e Japão declararam guerra contra os EUA. No início de 1942, o Japão tomou controle de Burma, Malásia, Rabaul, Singapura e Índias holandesas orientais. Extremamente autoconfiantes, após vitórias relativamente fáceis, os japoneses estenderam demais suas forças na região do Pacífico. Tentaram invadir Port Moresby, para bloquear as comunicações entre Austrália e EUA. Contudo, os EUA reagiram e venceram essa Batalha.

A Batalha seguinte entre EUA e Japão ocorreu nas ilhas Midway. Com o código de comunicação japonês quebrado, a inteligência dos EUA manobrou suas forças e venceu mais essa batalha.

Em 1943, os japoneses novamente tentaram invadir Port Moresby, mas os EUA novamente os impediram.
A essa altura, a Alemanha conseguia atacar no Atlântico, próximo da costa, pelas pobres condições da marinha americana. Os britânicos auxiliaram, por meio da Operação Crusader, no norte da África. Os alemães reagiram e devolveram os britânicos a suas posições.

Em 1943, britânicos e americanos se juntaram numa operação ofensiva por bombardeamento combinado. Os alvos eram: derrotar a moral e a economia alemães, além de levar a guerra ao território alemão.

Ainda em julho de 1943, os alemães atacaram em Kursk. Exaustos, se retiraram, mesmo antevendo vitória, pois os Aliados invadiram a Sicília e tinham conseguido prender Mussolini naquele mês.

Em 12 de julho de 1943, uma semana após a tentativa alemã, os soviéticos contra-atacaram em Kursk e venceram. Também venceram em Smolensk.

Na sequência, a Itália assinou armistício e foi desarmada. A Alemanha sofreu perdas enormes de submarinos e perdia capacidade naval.

Após três anos de pressão dos soviéticos, os Aliados invadiram o norte da França no Dia D – 6 de junho de 1944. Também atacaram o sul da França e derrotaram os alemães lá estacionados. Em 25 de agosto, Paris foi libertada. Aos poucos, a linha ofensiva alemã era empurrada para seu próprio território. Forças polonesas, empolgadas pelos sucessos soviéticos, resistiam às tropas alemães.

Expulsa de grande parte dos territórios que ocupava, a Alemanha fez uma tentativa desesperada, em dezembro de 1944, de retomá-los. Tentaram dividir as forças aliadas, na região da Bélgica, mas sem sucesso. Do lado oriental, os soviéticos já marchavam sobre Viena.

Em abril de 1945, os Aliados ocupavam a Alemanha ocidental, enquanto os soviéticos entravam em Berlim. Encontraram-se no rio Elba, em 25 de abril. Capturaram o Reichstag em 30 de abril. As tropas alemães finalmente se renderam em 29 de abril e a rendição incondicional data de 7 de maio de 1945.


Rubem L. de F. Auto

  
   
     




   

RUSGAS E ACORDOS QUE LEVARAM À II GUERRA MUNDIAL E AO FIM DO IMPÉRIO BRITÂNICO


A II GM envolveu, no total, 100 milhões de pessoas de 40 nações diferentes. O Holocausto matou 11 milhões, enquanto mortes em ações militares e bombardeios mataram entre 50 e 85 milhões de pessoas.
Na Ásia, os japoneses tinham alvos na República da China e no resto da Ásia. Já em 1941, a Alemanha havia conquista muitas regiões da Europa.

Desde o final de junho de 1940, por quase um ano, o Commonwealth britânico e o Reino Unido eram as únicas forças aliadas lutando contra o Eixo (Japão, Itália e Alemanha).

Tentando defender suas possessões em Singapura e no leste da Ásia, a GB assumiu que deveria basear uma frota em Singapura com a ajuda dos franceses na Indochina (Vietnã, Laos e Cambodja).

Deve-se ter em mente que, até então, a II GM era um ataque da Alemanha à GB na Europa, enquanto Itália e Japão ameaçavam o resto do Império. Note-se que já existia um debate na Inglaterra sobre a forma como esse ataque poderia vir a ocorrer, anos antes de se realizar: os três países atacariam juntos ou seria um ataque isolado de qualquer deles?

Entende-se que a II GM foi uma extensão da I GM, na medida em que, após a derrota da Alemanha e do Império Otomano, a Alemanha sofreu perda significativa de territórios (perdeu todas as suas colônias e território na Europa). Com a perda de 13% dos seus territórios e de todas as suas colônias, o nacionalismo logo tomou conta dos alemães.

A Conferência de Paz de Paris, em 1919, instalou a Liga das Nações (antecessora da ONU). Seu mentor, o presidente dos EUA Woodrow Wilson, não pôde assinar a entrada de seu país na Liga, pois o Congresso americano recusou juntar-se aos demais. O objetivo da Liga era prevenir uma nova Guerra Mundial.

Após a Revolução Alemã, entre 1918 e 1919, foi instalada a República de Weimar. Os nacionalistas italianos ficaram irritados porque Grã Bretanha e França não haviam cumprido suas promessas para o período após I GM.

Do lado Oriental, os japoneses usaram o Incidente Mukden como desculpa para invadir a Manchúria (China), criando o Estado-Marionete de Manchukuo. Como a China não tinha forças suficientes para reagir, pediu auxílio da Liga das Nações. Por sua vez, o Japão se retirou da Liga e continuou em guerra na China.
Hitler tentou tomar o governo da Alemanha por duas vezes. A primeira, em 1923, foi mal sucedida. Em 1933, foi eleito Chanceler da Alemanha e e pôs fim imediatamente na democracia. Seu discurso falava de rearmamento e de alterar a ordem mundial. Em 1935, Hitler repudiou o Tratado de Versailles, iniciou a conscrição de soldados e iniciou o rearmamento.

Em 1936, Hitler militarizou a região a ocidente do rio Reno (sem oposição do resto da Europa), criou o Eixo Roma-Berlim e assinou o Pacto Anticomintern (anticomunismo) com o Japão.

Em 1937, o Japão tomou Pequim, após o Incidente da ponte Marco Polo. Em três meses tomaram Shanghai. Em dezembro, tomaram Nankin.

Ocorreram incidentes de fronteira entre a União Soviética e o Japão, em Manchukuo, território recentemente integrado ao Império japonês. Após ser derrotado na batalha de Khalkin Gol, assinou um Pacto de Neutralidade com os soviéticos em 1941.

Em 1938, a Alemanha anexou a Áustria, sem oposição das outras nações. Após, a Alemanha passou a requerer o retorno da região de Sudetenland, agora Tchecoelováquia, por causa da maioria alemã de sua população. GB e França permitiram que a Alemanha retivesse esse território por meio do Acordo de Munique, sob a promessa alemã de que não mais demandaria novos territórios.

Em seguida, Alemanha e Itália começaram a maquinar como retirar Hungria e Polônia da Tchecoleslováquia. Contudo, a influência dos britânicos fez com que parassem esses planos. Em represália, Hitler começou a fazer discursos acusando britânicos e judeus de serem provocadores de guerras.

Prevendo guerra contra a GB, e conhecedor de seu poder naval, em 1939 Hitler inicia a construção de uma marinha alemã capaz de contra-atacá-la. Ainda em 1939, invade o que restava da Tchecoeslováquia e transforma a região em Bohêmia, Moravia e República Eslovaca.

O estado alarmante dos conflitos europeus levou GB e França a prometerem ajuda à independência de Albania, Grécia, Romênia e Polônia. Tomando conhecimento de tais promessas, Hitler acusou a GB de tentar sitiar a Alemanha e repudiou o Acordo Naval Anglo-Alemão.

Em agosto de 1939, a Alemanha assinou o Pacto Molotov-Ribbentrop com a URSS, o qual garantiu a não-agressão mantinha esferas de influência apartadas. Esse pacto era importante para a causa da Alemanha pois evitava lutar uma guerra em duas frentes.

Em agosto, a Alemanha iniciou a movimentação de tropas ao largo da fronteira com a Polônia. Hitler acreditava que dominar a Polônia era necessário, ou poderia ser usada como linha de assalto no fronte leste, assim que GB ou França resolvessem por atacar.

Começa a Guerra!


Rubem L. de F. Auto
       

    

terça-feira, 25 de outubro de 2016

WEB OF DEBT – COMO A ALEMANHA NAZISTA HUMILHOU A TEORIA ECONÔMICA CLÁSSICA E O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL


“Não somos estúpidos o bastante para tentar fazer uma moeda [lastreada por] ouro, que não temos. Para cada Marco que emitirmos requisitamos o valor equivalente em bens ou serviços ... nós rimos da cara dos banqueiros que financiam nosso país quando dizem que o valor de uma moeda é regulado pelo ouro e pelos títulos existentes nos cofres de um Estado.”
Adolf Hitler, citado em “Sistema Monetário de Hitler,” e Citadels of Chaos (Meador, 1949)

Resolver os problemas de uma Nação por meio de emissões monetárias não é algo raro na história. Um modelo bastante conhecido foi fundado após a I Guerra Mundial , na Alemanha. Quando Hitler chegou ao poder, o país estava completa e quase irreversivelmente destruído.

O Tratado de Versailles tinha imposto pagamentos avassaladores de indenizações sobre o povo alemão, de quem se esperava reembolso dos custos da guerra, sofridos por todos os participantes – tais custos representavam o triplo de toda a riqueza da Alemanha.

Especulações sobre o Marco alemão causaram sua depreciação, precipitando uma das piores inflações dos tempos modernos. No seu pico, um barril cheio com 100 bilhões de notas de Marcos não poderia comprar um pão doce.

O Tesouro Nacional estava vazio, e um grande número de casas e fazendas foram confiscadas pelos bancos e especuladores. Pessoas moravam em barracos e passavam fome. Nada assim acontecera antes – a destruição total da moeda nacional, levando embora a poupança das pessoas, seus negócios, e a economia, por fim. Para piorar ainda mais, no fim da década, a grande depressão chegou.

A Alemanha não tinha mais opções, a não ser sucumbir à escravidão da dívida dos credores internacionais.
Ao menos é o que parecia. Hitler e os Nazistas, chegando ao poder em 1933, derrotaram o cartel dos bancos internacionais ao emitirem seu próprio dinheiro. Para tanto, usaram como inspiração Abraham Lincoln, que financiou a Guerra Civil Americana com papel-moeda emitido pelo governo, chamados “Greenbacks”.

Hitler iniciou seu programa nacional de crédito desenvolvendo um plano de investimentos públicos. Projetos objeto de financiamentos públicos incluíam: controle de enchentes, manutenção de prédios públicos e de residências privadas, construção de novos edifícios, estradas, pontes, canais e instalações portuárias. O custo projetado dos diversos programas foi estabelecido em 1 bilhão de unidades da moeda nacional.

Um bilhão de meios de troca não-inflacionários, chamados Certificados Trabalhistas do Tesouro, foram então emitidos em suporte ao custo dos projetos. Milhões de pessoas foram empregadas nesses projetos e eram pagos com Certificados. Este dinheiro emitido pelo governo não era lastreado em ouro, mas por algo com valor real. Era essencialmente um recibo ao trabalhador e de materiais entregues ao governo. Hitler disse, “para cada Marco que emitido, requisita-se a emissão de valor equivalente em bens ou serviços.” O trabalhador, então, gasta os Certificados em outros bens ou serviços, criando mais trabalho para mais pessoas.

Em dois anos, o problema do desemprego foi  resolvido e o país voltava a crescer. Havia uma moeda sólida e estável, sem dívidas, sem inflação, num momento em que milhões de pessoas nos EUA e em outros países ocidentais estavam ainda desempregadas ou vivendo de auxílio do Estado. A Alemanha até conseguiu recuperar o comércio internacional, embora fosse lhe negado crédito externo e ainda vivesse sob um boicote internacional.

Ela conseguiu fazer isso usando um sistema de escambo: equipamentos e commodities eram trocados diretamente com outros países, dispensando bancos internacionais. Este sistema de trocas diretas ocorria sem criar dívidas e sem déficits comerciais. A experiência econômica alemã, assim como a de Lincoln, teve vida curta; mas deixou alguns monumentos a seu sucesso, incluindo as famosas Autobahn, as primeiras super-rodovias de alta velocidade do mundo.

Hjalmar Schacht, que era o então presidente do Banco Central alemão, é citado com um pouco de humor que resume a versão alemã do milagre das Greenbacks. Um banqueiro americano comentou: “Dr. Schacht, o senhor deveria vir à América. Temos muito dinheiro e isso é um sistema bancário de verdade.” Schacht respondeu: “O senhor deveria vir a Berlin. Não temos dinheiro. E isso é um sistema bancário de verdade.”

Embora Hitler tenha entrada rápida e diretamente para a infâmia nos livros de história, ele era bastante popular entre o povo alemão, ao menos por algum tempo. Stephen Zarlenga sugere em “The Lost Science of Money” que isso se deveu ao fato de que ele temporariamente resgatou a Alemanha da Teoria Econômica inglesa – a teoria de que o dinheiro deve ser emprestado contra uma reserva de ouro de um cartel de bancos privados em vez de ser emitido diretamente pelo governo.

De acordo com o pesquisador canadense Dr. Henry Makow, esta pode ter sido a razão principal pela qual Hitler deveria ser impedido: ele havia deixado de lado os banqueiros internacionais e criou seu próprio dinheiro. Makow citou Rakovsky, um dos fundadores do Bolshevismo soviético e amigo íntimo de Trotsky, e que sofreu um dos julgamentos-show de Stalin.  

De acordo com Rakovsky, Hitler foi realmente financiado pelos banqueiros internacionais, por meio de seu agente Hjalmar Schacht, de maneira a controlar Stalin, que usurpou poderes de seu agente Trotsky. Mas Hitler tornou-se uma ameaça ainda maior do que Stalin quando tomou a decisão de imprimir sua própria moeda. Rakovsky disse:
“Hitler tomou para si o priovilégio de fabricar sua própria moeda e não apenas dinheiro físico, mas também escritural; ele tomou a intocada máquina de falsificação e a pôs a serviço do benefício do Estado ... Você é capaz de imaginar o que aconteceria ... se ele tivesse infectado outros Estados ... se consegue, tente imaginar a resposta contrarrevolucionária.”

O economista Henry C. K. Liu escreveu sobre as transformações marcantes da Alemanha:
“Os Nazis chegaram ao poder na Alemanha em 1933, quando sua economia estava em total colapso, sofrendo reparações de guerra ruinosas e perspectivas zeradas de investimentos ou crédito externos. Ainda assim, por meio de uma política monetária independente de crédito soberano e de um programa de investimentos públicos para geração de empregos, o Terceiro Reich conseguiu transformar uma Alemanha quebrada, destituída de colônias além-mar que pudesse explorar, na economia mais forte da Europa por quatro anos, antes mesmo de iniciar seu programa de rearmamento.”    

Em “Billion for the bankers, Debts for the People”, Sheldom Emry comenta:
“A Alemanha emitiu dinheiro, livre de dívidas e de juros, de 1935 em diante, levando, desde seu sucesso inicial, quando da grande depressão, até se tornar uma potência mundial, 5 anos. A Alemanha financiou suas operações governamentais e de guerra, de 1935 a 1945, sem ouro e sem dívidas, e isso levou o mundo capitalista e o mundo comunista a destruí-la e assim por a Europa de volta no colo dos Banqueiros. Essa história do dinheiro nem mesmo aparece nos livros das escolas públicas, hoje.”

A única coisa que aparece nos livros de hoje é o desastre da hiperinflação sofrida em 1923 pela República de Weimar (governou a Alemanha de 1919 a 1933). A desvalorização radical do Marco alemão é citada com o exemplo textual do que pode dar errado quando ao governo é dado o poder ilimitado de imprimir dinheiro.

Por isso é citado; mas no mundo complexo das economias, as coisas são nem sempre são o que parecem. A crise financeira de Weimar começou com os pagamentos impossíveis das reparações, impostas pelo Tratado de Versailles. Schacht, que era comissário da moeda na República, reclamou:
“O Tratado de Versailles é um modelo de medida genial para a destruição da economia alemã ... O Reich não pode achar um jeito de manter sua cabeça acima da água que não seja a maneira inflacionária de imprimir dinheiro.”

Isso foi o que ele disse inicialmente. Mas Schacht revelou que era o Reichsbank privado, não o governo alemão, quem estava imprimindo as novas moedas. Assim como o Federal Reserve americano, o Reichsbank era supervisionado por burocratas nomeados pelo governo, mas era operado visando a ganhos privados. O que transformou a inflação dos anos de guerra em hiperinflação foi a especulação feita por investidores estrangeiros, que vendiam o Marco em curtíssimo prazo, apostando na sua perda de valor.

Os movimentos especulativos eram alimentados pela injeção freqüente de Marcos, emitidos tanto pelo Reichsbank quanto por outros bancos privados. Dinheiro era criado do nada e emprestado com lucro.

De acordo com Schacht, portanto, não apenas não foi o governo o causador da hiperinflação, mas foi o governo quem resolveu esse problema. O Reichsbank foi posto sob normas estritas de regulação do governo e medidas corretivas imediatas foram tomadas para eliminar a especulação internacional, por meio do impedimento do acesso a empréstimos de dinheiro criado pelos bancos. Depois disso, Hitler pôs o país sob controle ao emitir seus Certificados do Tesouro, no estilo das Greenbacks americanas.

Schacht realmente desaprovou a emissão desses Certificados e foi demitido da chefia do Reichsbank quando se recusou a emiti-las (e isso pode tê-lo salvado no Tribunal de Nuremberg). Mas reconheceu em suas memórias que permitir ao governo emitir todo o dinheiro de que necessitava não havia produzido a inflação de preços prevista pela teoria econômica clássica. Ele supôs que isso se devia ao baixo nível de produção das fábricas e às pessoas desempregadas. Nesse ponto ele concordava com John Maynard Keynes: quando recursos estão disponíveis para aumentar a produtividade, adicionar dinheiro novo à economia não leva a aumento de preços; e se aumenta a oferta de bens e serviços. Oferta e demanda aumentam conjuntamente, não afetando preços.   



Rubem L. de F. Auto