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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

PURGATÓRIO: O “PUXADINHO” DA BÍBLIA


A regra é clara: se cometer pecado, você irá para o Inferno; se não cometê-lo, Paraíso! Este é o mandamento bíblico inserido no Antigo Testamento e em nenhum outro ponto, nem no Novo Testamento, ele é alterado.

Mas ainda na Idade Média surgiu um questionamento: seria justo enviar direto para as labaredas do Inferno uma pessoa que tenha cometido um pequeno deslize em vida? Não sendo o caso de um pecador contumaz, poderia haver uma espécie de clínica de reabilitação para pecadores? Era necessária uma “terceira via”.

Diante do silêncio bíblico, um poeta florentino nascido no século XIII preencheu essa lacuna, criando o purgatório. Dante Alighieri, em sua obra prima A Divina Comédia, descreveu como seria o local onde pecadores passariam pelos sofrimentos que os tornariam dignos do Paraíso.

A obra é de tirar o fôlego: são mais de cem cantos, escritos ao longo de 14 mil versos. Foi ela quem tirou o dialeto toscano das mãos do povo inculto e o alçou à categoria de língua italiana oficial. Também é um dos primeiros romances da história, ao abordar de maneira quase inédito o tema amor: a história descreve as desventuras de Dante, que teve de cruzar inferno, purgatório e paraíso para encontrar sua amada Beatriz.

O inferno é o local reservado aos glutões, avarentos, ladrões, suicidas, traidores e sodomitas. Esses seriam os pecadores irrecuperáveis. Os tiranos, por exemplo, pagam seus pecados nadando num rio de sangue fervente que alcança-lhes a linha dos olhos. Os perdulários são atacados por cadelas raivosas por toda a eternidade.

O purgatório é uma montanha encintada por sete círculos, que representam cada um dos pecados capitais. O segundo deles, por exemplo, é dedicado aos invejosos, que têm seus olhos costurados com arame, para não cometerem a mesma infração enquanto aguardam a expiação pelo pecado cometido. Também eram obrigados e andarem se apoiando uns nos outros, desfilando dessa forma toda a sua miséria.

A invenção “dantesca” do purgatório foi oficializada como dogma católico no século XVI, no âmbito do Concílio de Trento.

Por sua vez, o ideólogo do Protestantismo, Martinho Lutero, esperneava contra essa decisão da Igreja, pois entendia que o purgatório, enquanto lugar inexistente nas Escrituras, servia apenas para verter mais dinheiro para os cofres de Roma, após a instituição das indulgências: agora um rico pecador poderia deixar uma parte relevante de sua herança para a Igreja e, assim, ser condenado a passar apenas uma temporada desconfortável no purgatório, antes de ser promovido ao Paraíso.

  
Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Inveja: Como ela mudou a história do mundo” 


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