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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

KINSEY REPORT – QUANDO A MÁSCARA CAI E A VERDADE É EXPOSTA


Em 1948, uma publicação sacudiu abruptamente os norte-americanos. O zoólogo Alfred Kinsey havia publicado o resultado de mais de 10 anos de pesquisas que realizara em sexualidade: Sexual Behaviour in the Human Male, que ficou mais conhecido como Kinsey Report.

Suas mais de 800 páginas traziam toneladas de estatísticas sobre a vida sexual de homens norte-americanos. Dali em diante, a intimidade entre quatro paredes, devassável apenas ao padre confessor e ao médico da família, estava impressa nas mais de 200 mil cópias esgotadas nas livrarias em apenas 2 meses.

Alguns números assombraram as pessoas que confiavam no discurso conservador e cristão de cidadãos orgulhosamente afeitos às tradições:

·         4% se declararam homossexuais; 10% o eram predominantemente;
·         11% haviam feito sexo anal com a esposa;
·         22% se excitavam com sadomasoquismo;
·         29% haviam tido uma parceira extraconjugal e que não era prostituta;
·         37% haviam tido orgasmo com outro homem;
·         46% declararam ter se sentido atraído por outro homem;
·         ¾ ejaculavam antes de terminado o segundo minuto do coito;
·         93% faziam sexo oral como preliminar;

Esses foram alguns dos números que chocaram uma sociedade na qual era crime, em diversos estados dos EUA, praticar sexo antes ou fora do casamento, o sexo anal e o homossexualismo. Tinha-se a sensação de que o discurso apoiado na moral vitoriana era completamente ignorado na vida íntima.

Em 1953, Kinsey soltaria sua segunda bomba: um relatório focado nas mulheres. Por exemplo:

·         14% já tiveram orgasmos múltiplos;
·         21% tiveram um ou mais parceiros extraconjugais;
·         69% confessaram fantasias eróticas com homens;
·         64% se masturbaram com tais fantasias eróticas;
·         Das mulheres que confessaram se masturbas: 84% tocavam o clitóris, 20% penetravam a vagina, 11% estimulavam os mamilos e 10% pressionavam as coxas;
·         91% masturbavam o parceiro nas preliminares, ao passo que 49% faziam sexo oral nele.

Não foram poucos os que criticaram os Relatórios como se fossem ataques puros à religião e à família. Mas a sociedade norte-americana se encontrava em plena mutação. Iniciavam-se as transformações que levariam à libertação sexual da segunda metade do século XX.

A entrada dos EUA na II Guerra Mundial deu fim, finalmente, aos desastres sociais e econômicos causados pela Crise de 1929. A fabricação em larga escala de armas e equipamentos de guerra deu o vigor que, somado ao New Deal de Roosevelt, levou o índice de desemprego a inacreditáveis 1,2% - nesse período, 86% do orçamento federal eram empregados no teatro de batalhas. Mesmo após o fim da II Guerra o gasto militar se manteve em alta: durante a Guerra da Coréia, 67% do orçamento era empregado em despesas militares.

E tudo isso levou à manutenção das mulheres no mercado de trabalho.

A geração dos que cresciam após o fatídico conflito ficou conhecida como “baby boomers” – o nome se devia à altíssima taxa de natalidade, somado à decrescente taxa de mortalidade infantil, que levou a um crescimento populacional inédito na história. O comportamento dessa geração ficou marcado por sua vontade de se opor ao conservadorismo de seus pais: o estilo de vida burgês, segundo o qual o autocontrole e pela moderação deveriam pautar sempre os desejos, deu espaço ao elogio à espontaneidade e à desinibição. O símbolo maior dessa geração era a televisão.

O crescimento econômico, que ficou acima dos 9% ao ano nos EUA, levou a uma afluência econômica que permitia o consumo de artigos de luxo por uma enorme parcela da sociedade. Com o luxo, veio a luxúria. E a luxúria se mostrava um mercado promissor.

Foi o que percebeu o repórter da revista Esquire e escritor Hugh Hefner. Apoiado em empréstimos concedidos por 45 investidores (incluindo sua mãe) e um banco, o jovem visionário fundou a revista Playboy.

Inicialmente, a revista procurava explorar os desejos sexuais que ficaram tão bem expressos nos Relatórios do Sr. Kinsey. Os desejos de consumo, evidentemente, não ficariam de fora: carros, aparelhos de TV, aparelhos de som, comidas industrializadas, bebidas caras... ao lado de uma bela coelhinha. O lema de vida que a revista disseminava entre os homens era: aproveite a vida, consuma e evite os infortúnios do casamento.

Nascia então a figura do solteirão bon vivant.

A primeira edição trazia na capa uma Marylin Monroe descontraída. Vendeu 54 mil cópias. Em 1956 já ultrapassava a vendagem da Esquire. Nos anos 1970 chegaria a vender 5,5 milhões por edição e Hefner viva seu império.

Como o chefão da publicação mesmo dizia: “A vida é curta demais para se viver o sonho de outra pessoa.”
  

Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”

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