A falsa moralidade da classe média exigia que se fizesse
algo com relação às prostitutas, exceto proibi-las, claro. A solução foi
instituir a regulação dos bordeis e submetê-los às fiscalização da polícia. Essa
história teve início na França.
Devido ao contágio de doenças nos campos de guerra, o
retorno dos soldados de Napoleão passou a ser um problema, pois trazia o risco
de uma epidemia em todo o país caso as prostitutas contraíssem doenças venéreas
deles e as disseminassem para a população. A partir de então todas as
prostitutas passaram a se submeter a diagnósticos médicos mensais, pagos por
elas mesmas. Se se verificasse que portavam doenças venéreas, eram logo internadas
em hospitais e submetidas a tratamento médico.
Somente prostitutas autorizadas poderiam trabalhar.
Após o período napoleônico, a monarquia foi restaurada na
França. Com isso, a política direcionada às prostitutas retrocedeu: foram
proibidas de freqüentar as áreas próximas aos Palácios, as praças e espaços
públicos próximos a edifícios oficiais. Em 1830, todas as ruas, avenidas e
jardins públicos estavam vedados às prostitutas. Exporem-se em janelas e portas
também estava proibido.
Restava a prostituição nos bordeis licenciados, que foram beneficiados
pela redução da concorrência. Com o tempo foram também se especializando no
tipo de público que desejavam atrair: havia desde as tavernas até os
estabelecimentos de alto padrão.
Em 1848, quando Napoleão III subiu ao trono, Paris era a
capital mundial dos bordéis e das prostitutas famosas. A transformação da
monarquia católica num império burguês dirigido pelo sobrinho do Terrible
Enfant veio acompanhada de todo um projeto megalomaníaco de reconstrução de
Paris. Aquela aglomeração medieval de edifícios teria de dar lugar a uma
metrópole moderna e o encarregado da transformação foi o barão de Haussmann,
então prefeito da cidade.
Paris agora era a Cidade-Luz, atraindo ricos e poderosos de
todo o mundo, ávidos por desfrutar um pouco da luxúria com que a cidade se
confundia.
Fosse nos cafés, fosse nas Óperas, fosse nos grandes “magasins”
as prostitutas estavam por toda parte. Sempre vestidas em veludo ou penas,
desfilavam pelos salões. A mais famosa de todas se chamava Alphonsine Plessis, referida
como “a Divina Marie Duplessis”.
Tendo trilhado uma carreira meteórica, Duplessis
passoua divertir os ricos freqüentadores
do Jockey Club. O pianista Franz Liszt declarou num jornal, após sua morte: “Ela
era a mais absoluta encarnação da mulher que já existiu”. Foi ela quem inspirou
Alexandre Dumas a escrever A Dama das Camélias e a ópera La Traviata.
As cortesãs mais caras poderiam receber seus clientes em
suas mansões luxuosas, servindo jantares sofisticados.
O período que antecedeu a I Guerra Mundial, A Terceira
República, ficou conhecido também como Belle Époque: relaxamento moral, euforia
cultural e otimismo econômico davam o tom. E nunca até então se buscou tanto o
prazer.
O bordel mais famoso de todos funcionava na rue des Moulins,
24. De tão esplendoroso foi imortalizado nos quadros de Toulouse-Lautrec e
recebia até excursões vindas de outras cidades. Os bordeis de classe média
também eram bastante freqüentados, sendo um deles, Pensão Tellier, descrita num
conto de Guy de Maupassant.
As classes se enfileiravam em frente a bordeis baratos, em
pensões ou cortiços.
Conforme o tempo da monarquia se distanciava, o controle
sobre a prostituição foi se afrouxando e os bordeis passaram a sofrer a
concorrência de prostitutas clandestinas.
Em 1895, entrou em cena o cinema. Apresentado pela primeira
vez pelos irmãos Lumière, poucos anos depois a invenção já divertia freqüentadores
das novas salas em Paris ou Nova York, exibindo mulheres em posições
sujestivas, pelo custo de apenas 1 níquel.
Rapidamente as autoridades perceberam que o tal do “cinematógrafo”
poderia ser usado com fins educativos. Fitas didáticas sobre doenças venéreas e
educação sexual foram produzidas. A indústria pornográfica logo usou a
motivação didática para produzir fitas de sexo explícito. Assim nasceu a
antológica produção “Positions”, em que um sexólogo comentava as posições
sexuais de um casal.
Todo o progresso tecnológico e econômico, resultado de quase
um século de relativa paz entre as grandes potências, criou as bases para o
progresso social que se viu no século XIX. Mas tudo isso desembocaria no
primeiro dos dois conflitos mundiais que marcariam o século XX.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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