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quinta-feira, 5 de outubro de 2017

LEIS DE CONTROLE DA PROSTITUIÇÃO – COMO MANTER A SUJEIRA DEBAIXO DO TAPETE


A falsa moralidade da classe média exigia que se fizesse algo com relação às prostitutas, exceto proibi-las, claro. A solução foi instituir a regulação dos bordeis e submetê-los às fiscalização da polícia. Essa história teve início na França.

Devido ao contágio de doenças nos campos de guerra, o retorno dos soldados de Napoleão passou a ser um problema, pois trazia o risco de uma epidemia em todo o país caso as prostitutas contraíssem doenças venéreas deles e as disseminassem para a população. A partir de então todas as prostitutas passaram a se submeter a diagnósticos médicos mensais, pagos por elas mesmas. Se se verificasse que portavam doenças venéreas, eram logo internadas em hospitais e submetidas a tratamento médico.

Somente prostitutas autorizadas poderiam trabalhar.

Após o período napoleônico, a monarquia foi restaurada na França. Com isso, a política direcionada às prostitutas retrocedeu: foram proibidas de freqüentar as áreas próximas aos Palácios, as praças e espaços públicos próximos a edifícios oficiais. Em 1830, todas as ruas, avenidas e jardins públicos estavam vedados às prostitutas. Exporem-se em janelas e portas também estava proibido.

Restava a prostituição nos bordeis licenciados, que foram beneficiados pela redução da concorrência. Com o tempo foram também se especializando no tipo de público que desejavam atrair: havia desde as tavernas até os estabelecimentos de alto padrão.

Em 1848, quando Napoleão III subiu ao trono, Paris era a capital mundial dos bordéis e das prostitutas famosas. A transformação da monarquia católica num império burguês dirigido pelo sobrinho do Terrible Enfant veio acompanhada de todo um projeto megalomaníaco de reconstrução de Paris. Aquela aglomeração medieval de edifícios teria de dar lugar a uma metrópole moderna e o encarregado da transformação foi o barão de Haussmann, então prefeito da cidade.

Paris agora era a Cidade-Luz, atraindo ricos e poderosos de todo o mundo, ávidos por desfrutar um pouco da luxúria com que a cidade se confundia.

Fosse nos cafés, fosse nas Óperas, fosse nos grandes “magasins” as prostitutas estavam por toda parte. Sempre vestidas em veludo ou penas, desfilavam pelos salões. A mais famosa de todas se chamava Alphonsine Plessis, referida como “a Divina Marie Duplessis”.  

Tendo trilhado uma carreira meteórica, Duplessis passoua  divertir os ricos freqüentadores do Jockey Club. O pianista Franz Liszt declarou num jornal, após sua morte: “Ela era a mais absoluta encarnação da mulher que já existiu”. Foi ela quem inspirou Alexandre Dumas a escrever A Dama das Camélias e a ópera La Traviata.

As cortesãs mais caras poderiam receber seus clientes em suas mansões luxuosas, servindo jantares sofisticados.

O período que antecedeu a I Guerra Mundial, A Terceira República, ficou conhecido também como Belle Époque: relaxamento moral, euforia cultural e otimismo econômico davam o tom. E nunca até então se buscou tanto o prazer.

O bordel mais famoso de todos funcionava na rue des Moulins, 24. De tão esplendoroso foi imortalizado nos quadros de Toulouse-Lautrec e recebia até excursões vindas de outras cidades. Os bordeis de classe média também eram bastante freqüentados, sendo um deles, Pensão Tellier, descrita num conto de Guy de Maupassant.

As classes se enfileiravam em frente a bordeis baratos, em pensões ou cortiços.

Conforme o tempo da monarquia se distanciava, o controle sobre a prostituição foi se afrouxando e os bordeis passaram a sofrer a concorrência de prostitutas clandestinas.

Em 1895, entrou em cena o cinema. Apresentado pela primeira vez pelos irmãos Lumière, poucos anos depois a invenção já divertia freqüentadores das novas salas em Paris ou Nova York, exibindo mulheres em posições sujestivas, pelo custo de apenas 1 níquel.

Rapidamente as autoridades perceberam que o tal do “cinematógrafo” poderia ser usado com fins educativos. Fitas didáticas sobre doenças venéreas e educação sexual foram produzidas. A indústria pornográfica logo usou a motivação didática para produzir fitas de sexo explícito. Assim nasceu a antológica produção “Positions”, em que um sexólogo comentava as posições sexuais de um casal.

Todo o progresso tecnológico e econômico, resultado de quase um século de relativa paz entre as grandes potências, criou as bases para o progresso social que se viu no século XIX. Mas tudo isso desembocaria no primeiro dos dois conflitos mundiais que marcariam o século XX.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”


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