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segunda-feira, 2 de outubro de 2017

ANCIEN RÉGIME DO ADULTÉRIO


O período seguinte à morte de Luís XIV ficou conhecido como Regência, de 1715 a 1723. Quem assumiu o trono provisoriamente foi Felipe, duque de Orléans. Seu nome vinha acompanhado de epítetos: “fanfarrão de vícios”, “depravação moral que desconcertava e indignava”. Vivia bêbado, teve uma série de filhos bastardos, blasfemava contra tudo e contra todos. Foi também acusado de dormir com a filha – tão depravada quanto o pai, aliás. Seu prazer eram a depravação e as orgias.

Em Paris, surgiam naquele período diversos grupos e associações que tinham como objeto o prazer: a Ordem da Felicidade endeusava a galanteria acompanhada de muita safadeza; a Ordem Hermafrodita se dedicava a organizar orgias.

Também foi nesse período que veio a público a obra “120 dias de Sodoma”, do marquês e Sade – quem, aliá, estava preso naquela altura pelo cometimento de uma série de crimes sexuais.

Passados os anos insanos da Regência, Luís XV assumiu o trono francês. Logo distribuiu cargos oficiais a suas amantes: madame de La Tournelle; e duas plebéias, madame de Pompadour e madame du Barry.
Madame de Pompadour foi preparada desde a infância para ser cortesã: cantava, tocava cravo, atuava. Depois de conquistar o coração do rei, exibiu o status de quase rainha por mais de 20 anos. Mesmo sendo frígida (ela e o rei não faziam sexo desde 1750), manteve o posto de amante oficial até sua morte, em 1764. Mantinha o rei entretido lançando mão de outros artifícios: adornava seus aposentos com flores, preparava deliciosos pratos, servia ótimos vinhos, contava histórias divertidas, cantava e tocava no cravo, declamava poemas, tecia observações sobre novos palácios em construção, mostrava suas descobertas em botânica, obtidas por meio de experimentos realizados nos jardins de Trianon.

Em 1768, após um luto de quatro anos, Luís XV nomeou sua nova maîtresse-en-titre: madame du Barry, uma jovem prostituta. Se esta não tinha um décimo da sofisticação de Pompadour, sobrava-lhe vigor na cama. Além disso, dominava técnicas de higiene encantadoras para a época: banhava-se em água perfumada com rosas em diversos dias da semana.

Mas a Corte francesa, acostumada a mulheres sofisticadas e inteligentes, não aceitava aquela mera prostituta deslumbrada e extravagante. E seus dias ficaram ainda mais difíceis quando Luís XVI, ainda príncipe, casou-se com Maria Antonieta, quem tinha apenas 14 anos à época. Antonieta e Du Barry duelaram abertamente pelo posto de amante oficial (evidentemente ela não tinha idéia do motivo daquele cargo), o que divertia os membros da Corte. Ao final da disputa, quando Du Barry entrava em Paris a bordo de sua carruagem, o povo gritava: “Puta Real”.

Após assumir o trono, Luís XVI baniu Du Barry da Corte, como sua esposa desejava.

Tantos gastos e privilégios exorbitantes acabaram por levar o Estado francês à bancarrota. Aquela nobreza ociosa, que vivia basicamente dos rendimentos provenientes da posse da terra, pagos pelos pobres camponeses que labutavam no arado diariamente, ou de pensões e cargos públicos, recebidos sem qualquer contrapartida, estava isenta de impostos.

Não era difícil supor aonde aquele estado de coisas levaria o país...  


Rubem L. de F. Auto         

Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”


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