O período seguinte à morte de Luís
XIV ficou conhecido como Regência, de 1715 a 1723. Quem assumiu o trono
provisoriamente foi Felipe, duque de Orléans. Seu nome vinha acompanhado de
epítetos: “fanfarrão de vícios”, “depravação moral que desconcertava e
indignava”. Vivia bêbado, teve uma série de filhos bastardos, blasfemava contra
tudo e contra todos. Foi também acusado de dormir com a filha – tão depravada
quanto o pai, aliás. Seu prazer eram a depravação e as orgias.
Em Paris, surgiam naquele período
diversos grupos e associações que tinham como objeto o prazer: a Ordem da
Felicidade endeusava a galanteria acompanhada de muita safadeza; a Ordem
Hermafrodita se dedicava a organizar orgias.
Também foi nesse período que veio
a público a obra “120 dias de Sodoma”, do marquês e Sade – quem, aliá, estava
preso naquela altura pelo cometimento de uma série de crimes sexuais.
Passados os anos insanos da
Regência, Luís XV assumiu o trono francês. Logo distribuiu cargos oficiais a
suas amantes: madame de La Tournelle; e duas plebéias, madame de Pompadour e
madame du Barry.
Madame de Pompadour foi preparada
desde a infância para ser cortesã: cantava, tocava cravo, atuava. Depois de
conquistar o coração do rei, exibiu o status de quase rainha por mais de 20
anos. Mesmo sendo frígida (ela e o rei não faziam sexo desde 1750), manteve o
posto de amante oficial até sua morte, em 1764. Mantinha o rei entretido
lançando mão de outros artifícios: adornava seus aposentos com flores,
preparava deliciosos pratos, servia ótimos vinhos, contava histórias
divertidas, cantava e tocava no cravo, declamava poemas, tecia observações sobre
novos palácios em construção, mostrava suas descobertas em botânica, obtidas
por meio de experimentos realizados nos jardins de Trianon.
Em 1768, após um luto de quatro
anos, Luís XV nomeou sua nova maîtresse-en-titre: madame du Barry, uma jovem
prostituta. Se esta não tinha um décimo da sofisticação de Pompadour, sobrava-lhe
vigor na cama. Além disso, dominava técnicas de higiene encantadoras para a
época: banhava-se em água perfumada com rosas em diversos dias da semana.
Mas a Corte francesa, acostumada a
mulheres sofisticadas e inteligentes, não aceitava aquela mera prostituta deslumbrada
e extravagante. E seus dias ficaram ainda mais difíceis quando Luís XVI, ainda
príncipe, casou-se com Maria Antonieta, quem tinha apenas 14 anos à época.
Antonieta e Du Barry duelaram abertamente pelo posto de amante oficial (evidentemente
ela não tinha idéia do motivo daquele cargo), o que divertia os membros da
Corte. Ao final da disputa, quando Du Barry entrava em Paris a bordo de sua
carruagem, o povo gritava: “Puta Real”.
Após assumir o trono, Luís XVI
baniu Du Barry da Corte, como sua esposa desejava.
Tantos gastos e privilégios
exorbitantes acabaram por levar o Estado francês à bancarrota. Aquela nobreza
ociosa, que vivia basicamente dos rendimentos provenientes da posse da terra,
pagos pelos pobres camponeses que labutavam no arado diariamente, ou de pensões
e cargos públicos, recebidos sem qualquer contrapartida, estava isenta de
impostos.
Não era difícil supor aonde aquele
estado de coisas levaria o país...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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