No início, havia uma representação singela de um céu estrelado.
Após, um afresco de 1.100 metros quadrados, pintado por um só homem,
dependurado em andaimes a 16 metros do chão (um prédio de 5 andares), deitado
lá em cima, trabalhando com tinta pingando em seus olhos, tudo supervisionado
pelo cliente, que era ninguém menos que o cara mais poderoso da época: o Papa!
Assim o gênio renascentista Michelangelo Buonarroti se
desincumbiu de um de seus maiores desafios - e feitos: a pintura do teto da Capela
Sistina, ao lado da Basílica de São Pedro. Sua vingança é comemorada até hoje:
5 milhões de turistas com torcicolo, todos os anos, após passarem horas a
admirar aquela obra monumental.
Quando convocou o escultor para a obra, o papa Júlio II
ouviu um sonoro “Nem penar!” como resposta. A resposta foi arriscada: o gênio
pensou até em fugir para Constantinopla.
Foi a segunda encomenda daquele papa ao artista. Anos antes,
Michelangelo havia recebido a tarefa de construir o mausoléu do papa. Michelangelo
teve de fazer várias viagens a Carrara, para pesquisar o mármore mais famoso do
mundo, mas a obra terminou sendo cancelada.
Por trás do cancelamento do mausoléu e da encomenda de uma
obra sobre-humana, Michelangelo enxergava uma trama elaborada por Bramante,
arquiteto responsável por projetar a Basílica de São Pedro.
Embora fosse escultor – já havia se notabilizado com a Pietà
e a estátua de Davi -, Michelangelo topou o desafio, cumpriu-o com perfeição e
foi regiamente remunerado pelo feito hercúleo.
Quiçá tenha até matado um arquiteto de inveja...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Inveja: Como ela mudou a história do
mundo”
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