Pesquisar as postagens

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

OSTRACISMO: O PAREDÃO DOS PODEROSOS


Há cerca de 2.500 anos, em Atenas, nascia um política de Estado que previa o banimento, por longos anos, àqueles que pudessem pôr em risco a democracia, conquistada a duras penas. Para tanto, eram mandados para o exílio aqueles que tinham acumulado dinheiro suficiente para ter o poder de manipular o sistema político em seu favor. Ou seja, os alvos eram os mais ricos e poderosos da cidade-estado grega. Era basicamente uma política para a prevenção de tiranos.

Essa política de banimento era chamada de Ostracismo: anualmente era realizada uma votação, em dois turnos – o voto era facultativo. No primeiro turno, decidia-se se havia alguém elegível, isto é, que os cidadãos quisessem ver bem longe. Caso a maioria decidisse que sim, o segundo turno definia o nome da próxima vítima. Banido, o cidadão deveria ficar 10 anos sem pisar em Atenas. Seus negócios eram mantidos a salvo, mas a pena deveria ser cumprida.

Uma conhecida vítima da ostracismo foi Aristides, enviado ao ostracismo em 482 a.C. Antes da eleição, Aristides foi parado por um cidadão na rua, que pediu veementemente que Aristides votasse pelo banimento de Aristides. Percebendo que não havia sido reconhecido, Aristides perguntou por que deveria votar como desejava o cidadão. Ao que o mesmo retorquiu: “Nada, nem o conheço. Só não agüento mais todo mundo dizendo que ele é ‘o justo’”.

Percebendo que seria inútil lutar aquela luta inglória, Aristides escreveu o próprio nome no óstraco (cédula de votação da época, que deu origem ao nome da política) e o entregou ao decidido cidadão.

Embora pareça estranho, essa política pôs fim a um longo período de luta encarniçada entre os oligarcas, quando as expulsões eram bem mais violentas e arbitrárias.

A democracia grega nasceu da colaboração de diversos cidadãos, mas o principal chamava-se Clístenes e havia sido expulso de Atenas tempos antes, junto com 700 famílias acusadas de serem anti-espartanas quando Esparta dominava Atenas.

Quando os espartanos foram expulsos, Clístenes foi alçado ao poder. E ele implantou a democracia direta, cada um com direito a um voto, sem intermediários políticos. Todos os cidadãos (e aqui esse critério era bem restrito) poderiam falar, propor e votar leis.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Inveja: Como ela mudou a história do mundo”  

Nenhum comentário:

Postar um comentário