Há cerca de 2.500 anos, em Atenas, nascia um política de
Estado que previa o banimento, por longos anos, àqueles que pudessem pôr em
risco a democracia, conquistada a duras penas. Para tanto, eram mandados para o
exílio aqueles que tinham acumulado dinheiro suficiente para ter o poder de
manipular o sistema político em seu favor. Ou seja, os alvos eram os mais ricos
e poderosos da cidade-estado grega. Era basicamente uma política para a
prevenção de tiranos.
Essa política de banimento era chamada de Ostracismo: anualmente
era realizada uma votação, em dois turnos – o voto era facultativo. No primeiro
turno, decidia-se se havia alguém elegível, isto é, que os cidadãos quisessem
ver bem longe. Caso a maioria decidisse que sim, o segundo turno definia o nome
da próxima vítima. Banido, o cidadão deveria ficar 10 anos sem pisar em Atenas.
Seus negócios eram mantidos a salvo, mas a pena deveria ser cumprida.
Uma conhecida vítima da ostracismo foi Aristides, enviado ao
ostracismo em 482 a.C. Antes da eleição, Aristides foi parado por um cidadão na
rua, que pediu veementemente que Aristides votasse pelo banimento de Aristides.
Percebendo que não havia sido reconhecido, Aristides perguntou por que deveria
votar como desejava o cidadão. Ao que o mesmo retorquiu: “Nada, nem o conheço.
Só não agüento mais todo mundo dizendo que ele é ‘o justo’”.
Percebendo que seria inútil lutar aquela luta inglória,
Aristides escreveu o próprio nome no óstraco (cédula de votação da época, que
deu origem ao nome da política) e o entregou ao decidido cidadão.
Embora pareça estranho, essa política pôs fim a um longo
período de luta encarniçada entre os oligarcas, quando as expulsões eram bem mais
violentas e arbitrárias.
A democracia grega nasceu da colaboração de diversos
cidadãos, mas o principal chamava-se Clístenes e havia sido expulso de Atenas
tempos antes, junto com 700 famílias acusadas de serem anti-espartanas quando
Esparta dominava Atenas.
Quando os espartanos foram expulsos, Clístenes foi alçado ao
poder. E ele implantou a democracia direta, cada um com direito a um voto, sem
intermediários políticos. Todos os cidadãos (e aqui esse critério era bem
restrito) poderiam falar, propor e votar leis.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Inveja: Como ela mudou a história do mundo”
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