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terça-feira, 17 de outubro de 2017

DO WOODSTOCK AOS FILMES PORNÔ


Em 1969, uma fazenda nos arredores do Estado de Nova York foi invadida por mais de 400 mil tresloucados, atraídos por ídolos como Joan Baez, Ravi Shnkar, Carlos Santana, Grateful Dead, Janes Joplin, The Who, Jimi Hendrix. Fora dos palco, o público deu um espetáculo de “como viver intensamente”: sexo livre e drogas lisérgicas (ácido, mescalina, haxixe etc.) fizeram parte do Festival incessantemente.

Esse Festival foi criado no contexto dos movimentos juvenis iniciados em 1968 em todo o mundo. Na França, em maio desse ano, estudantes iniciaram protestos contra uma reforma universitária. Em dado momento, os líderes da manifestação souberam que haviam conseguido a adesão massiva de sindicatos, já tendo paralisado 2/3 da mão de obra do país. Julgaram que essa era a hora perfeita para expandir os alvos dos protestos. Foi quando instituíram os famosos slogans: “Seja realista: exija o impossível”, e “Abra sua mente e suas calças”. A Espanha endureceu sua luta contra a ditadura de Franco. A Tchecoeslováquia se debateu e foi em seguida invadida pela URSS. O México deu uma exibição indecente de violência, truculência e assassinato de inocentes, quando soldados abriram fogo contra mais de mil manifestantes na praça Tlatelolco, às vésperas das Olimpíadas do México. Centenas morreram. Também nesse mesmo contexto houve a Passeata dos Cem Mil contra a ditadura brasileira.

O choque entre a geração no poder, ao lado de seus apoiadores velhos e conformados, e os baby boomers chegava ao extremo.

O odioso establishment, além de toda a sua truculência e autoritarismo, criara a ameaça de trazer o fim do mundo, com a sua estratégia de Destruição Mútua Assegurada.

Os baby boomers eram uma geração quase única, mo que deu ao conflito geracional uma aparência única. Aqueles nascidos no pós-II Guerra viveram um ambiente de prosperidade econômica visto apenas no século XIX. Eram extremamente bem educados se comparados a seus pais, pois viveram uma época de investimentos educacionais crescentes; as universidades receberam uma massa de estudantes nunca imaginada antes. Liam, buscavam informação e se sentiam bem menos presos às amarras familiares. A religião nunca fora tão ignorada; em seu lugar entrava a mística oriental. Os alvos de seu inconformismo eram, resumidamente: os pais, o país, os professores e o padre.

Os heróis daquela juventude eram, claro, jovens: Che Guevara e Fidel Castro tinham 30 e 32 anos, respectivamente, quando puseram fim à ditadura de Fulgêncio Batista. Outros ídolos eram representados por jovens músicos, alguns vitimados por overdose.  

Os baby boomers também tentaram acabar com a idéia de pecado. Sexo voltaria a ser um par junto com o amor, desfazendo o mandamento de Paulo de Tarso, para quem o celibato era o auge; e sexo sem casamento equivalia a queimar no inferno. Os jovens agora pregavam que o mal era a guerra, a fome, a intolerância. O bem era representado pelo amor, e o sexo era apenas uma de suas manifestações.

Os dogmas cristãos nunca estiveram tão distantes da juventude. Os negros, atraídos pelas mensagens de tolerância e igualdade do islã, buscavam a conversão ao novo credo. Outros eram mais atraídos pelos cantos e vestimentas Hare Krishna. Outros ainda se debatiam contra o racionalismo, tão próximo do capitalismo, buscando algo novo no tarô, I-Ching, na astrologia etc. As mulheres buscavam sua redenção vestindo-se de bruxas, em claro enfrentamento ao cristianismo e a seu passado milenar de perseguição às mulheres, condenando-as por bruxaria.

O templo sagrado agora era um bom show de rock. E o ídolo juvenil, um novo Deus.

Aliás, a imagem de Cristo, cabeludo, trazendo mensagens de amor e tendo sido assassinado jovem por defender suas idéias, combinava perfeitamente com a atmosfera do final dos 1960 e início dos 1970. Jesus agora era mais um jovem revolucionários, diferente daquela figurava anacrônica pregada nas Igrejas. Andrew Lloyd Webber, compositor então nos seus 21 anos apenas, ao lado de Tim Rice, do alto dos seus 25, lançaram em 1970 o álbum “Jesus Cristo Superstar”. NMo ano seguinte se tornou musical de sucesso na Broadway.

A libertação sexual abriu mercados: sex shops, filmes e músicas que davam cordas à sensualidade e ao romantismo, muitos investimentos aproveitaram aqueles dias de maior liberdade em relação a assuntos do sexo.

Especialmente em sociedades de tradição igualitária entre os gêneros (como Suécia, Noruega e Dinamarca), a castidade não era mais vista como a ser preservado até o casamento, sexo na adolescência deixavam de ser um escândalo doméstico, morar juntos era uma opção real ao casamento e mães solteiras eram vistas, agora, como mães, apenas.

Os movimentos gays vieram a reboque. Em 1973, os EUA contavam com mais de 800 organizações de gays e lésbicas. E o mercado acompanhou: bares gays, igrejas gays, escritórios de advocacia gays, restaurantes gays surgiam a todo momento.

Em 1974, a Associação Americana de Psiquiatria excluiu o termo “homossexualismo” de sua lista de doenças mentais. Tratava-se agora de simples comportamento sexual, dentre tantos possíveis.

Aqueles que não alcançavam sua libertação sexual, mas que achavam a luxúria algo excitante, tinham uma válvula de escape à disposição: os filmes pornô. A luxúria estava sempre à disposição, para ser comprada pelos que não podiam praticá-la. Nessa época, os EUA já contavam com mais de 700 salas de cinema especializadas em pornô e em filmes B – eram chamadas de grindhouses.

No início, eram os “girly movies”: uma garota fazia strip-tease, tocava suas partes eróticas etc. Mas a concorrência mercadológica levou o soft-core, pornô suave, a atingir rapidamente o hard-core. E esse fenômeno ocorreu, finalmente, em 1972, com o filme “Garganta Profunda”, estrelado por Linda Boreman e produzido por seu marido, mediante muita coação. A história da mulher que descobria que seu clitóris estava na garganta foi um sucesso, foi exibido nas salas de cinema comuns e faturou mais de U$ 100 milhões de dólares.

O cenário do mercado de filmes pornô não parava de crescer e só foi sacudido nos anos 1980, com a entrada em cena do vídeo cassete. A partir dali a pornografia ganharia a segurança do lar, dando um espaço imensurável aos filmes hard-core, que poderiam agora explorar os limites da imaginação luxuriosa.

Mas os conservadores não se deram por vencidos. Ressuscitar o pecado da luxúria e condenar o prazer continuava a ser um objetivo. E o Partido Republicano conseguiu ver essas pessoas e entendê-las, pretendendo usar seus votos para voltar à cena política no pós-Watergate.   


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”


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