Em 1969, uma fazenda nos arredores do Estado de Nova York foi
invadida por mais de 400 mil tresloucados, atraídos por ídolos como Joan Baez,
Ravi Shnkar, Carlos Santana, Grateful Dead, Janes Joplin, The Who, Jimi
Hendrix. Fora dos palco, o público deu um espetáculo de “como viver
intensamente”: sexo livre e drogas lisérgicas (ácido, mescalina, haxixe etc.) fizeram
parte do Festival incessantemente.
Esse Festival foi criado no contexto dos movimentos juvenis
iniciados em 1968 em todo o mundo. Na França, em maio desse ano, estudantes
iniciaram protestos contra uma reforma universitária. Em dado momento, os
líderes da manifestação souberam que haviam conseguido a adesão massiva de sindicatos,
já tendo paralisado 2/3 da mão de obra do país. Julgaram que essa era a hora
perfeita para expandir os alvos dos protestos. Foi quando instituíram os
famosos slogans: “Seja realista: exija o impossível”, e “Abra sua mente e suas
calças”. A Espanha endureceu sua luta contra a ditadura de Franco. A
Tchecoeslováquia se debateu e foi em seguida invadida pela URSS. O México deu
uma exibição indecente de violência, truculência e assassinato de inocentes,
quando soldados abriram fogo contra mais de mil manifestantes na praça Tlatelolco,
às vésperas das Olimpíadas do México. Centenas morreram. Também nesse mesmo
contexto houve a Passeata dos Cem Mil contra a ditadura brasileira.
O choque entre a geração no poder, ao lado de seus apoiadores
velhos e conformados, e os baby boomers chegava ao extremo.
O odioso establishment, além de toda a sua truculência e
autoritarismo, criara a ameaça de trazer o fim do mundo, com a sua estratégia
de Destruição Mútua Assegurada.
Os baby boomers eram uma geração quase única, mo que deu ao
conflito geracional uma aparência única. Aqueles nascidos no pós-II Guerra
viveram um ambiente de prosperidade econômica visto apenas no século XIX. Eram
extremamente bem educados se comparados a seus pais, pois viveram uma época de
investimentos educacionais crescentes; as universidades receberam uma massa de
estudantes nunca imaginada antes. Liam, buscavam informação e se sentiam bem
menos presos às amarras familiares. A religião nunca fora tão ignorada; em seu
lugar entrava a mística oriental. Os alvos de seu inconformismo eram,
resumidamente: os pais, o país, os professores e o padre.
Os heróis daquela juventude eram, claro, jovens: Che Guevara
e Fidel Castro tinham 30 e 32 anos, respectivamente, quando puseram fim à
ditadura de Fulgêncio Batista. Outros ídolos eram representados por jovens
músicos, alguns vitimados por overdose.
Os baby boomers também tentaram acabar com a idéia de
pecado. Sexo voltaria a ser um par junto com o amor, desfazendo o mandamento de
Paulo de Tarso, para quem o celibato era o auge; e sexo sem casamento equivalia
a queimar no inferno. Os jovens agora pregavam que o mal era a guerra, a fome,
a intolerância. O bem era representado pelo amor, e o sexo era apenas uma de
suas manifestações.
Os dogmas cristãos nunca estiveram tão distantes da
juventude. Os negros, atraídos pelas mensagens de tolerância e igualdade do
islã, buscavam a conversão ao novo credo. Outros eram mais atraídos pelos
cantos e vestimentas Hare Krishna. Outros ainda se debatiam contra o
racionalismo, tão próximo do capitalismo, buscando algo novo no tarô, I-Ching, na
astrologia etc. As mulheres buscavam sua redenção vestindo-se de bruxas, em
claro enfrentamento ao cristianismo e a seu passado milenar de perseguição às
mulheres, condenando-as por bruxaria.
O templo sagrado agora era um bom show de rock. E o ídolo
juvenil, um novo Deus.
Aliás, a imagem de Cristo, cabeludo, trazendo mensagens de
amor e tendo sido assassinado jovem por defender suas idéias, combinava
perfeitamente com a atmosfera do final dos 1960 e início dos 1970. Jesus agora
era mais um jovem revolucionários, diferente daquela figurava anacrônica
pregada nas Igrejas. Andrew Lloyd Webber, compositor então nos seus 21 anos
apenas, ao lado de Tim Rice, do alto dos seus 25, lançaram em 1970 o álbum “Jesus
Cristo Superstar”. NMo ano seguinte se tornou musical de sucesso na Broadway.
A libertação sexual abriu mercados: sex shops, filmes e
músicas que davam cordas à sensualidade e ao romantismo, muitos investimentos
aproveitaram aqueles dias de maior liberdade em relação a assuntos do sexo.
Especialmente em sociedades de tradição igualitária entre os
gêneros (como Suécia, Noruega e Dinamarca), a castidade não era mais vista como
a ser preservado até o casamento, sexo na adolescência deixavam de ser um
escândalo doméstico, morar juntos era uma opção real ao casamento e mães
solteiras eram vistas, agora, como mães, apenas.
Os movimentos gays vieram a reboque. Em 1973, os EUA
contavam com mais de 800 organizações de gays e lésbicas. E o mercado
acompanhou: bares gays, igrejas gays, escritórios de advocacia gays, restaurantes
gays surgiam a todo momento.
Em 1974, a Associação Americana de Psiquiatria excluiu o
termo “homossexualismo” de sua lista de doenças mentais. Tratava-se agora de
simples comportamento sexual, dentre tantos possíveis.
Aqueles que não alcançavam sua libertação sexual, mas que
achavam a luxúria algo excitante, tinham uma válvula de escape à disposição: os
filmes pornô. A luxúria estava sempre à disposição, para ser comprada pelos que
não podiam praticá-la. Nessa época, os EUA já contavam com mais de 700 salas de
cinema especializadas em pornô e em filmes B – eram chamadas de grindhouses.
No início, eram os “girly movies”: uma garota fazia strip-tease,
tocava suas partes eróticas etc. Mas a concorrência mercadológica levou o
soft-core, pornô suave, a atingir rapidamente o hard-core. E esse fenômeno
ocorreu, finalmente, em 1972, com o filme “Garganta Profunda”, estrelado por
Linda Boreman e produzido por seu marido, mediante muita coação. A história da
mulher que descobria que seu clitóris estava na garganta foi um sucesso, foi
exibido nas salas de cinema comuns e faturou mais de U$ 100 milhões de dólares.
O cenário do mercado de filmes pornô não parava de crescer e
só foi sacudido nos anos 1980, com a entrada em cena do vídeo cassete. A partir
dali a pornografia ganharia a segurança do lar, dando um espaço imensurável aos
filmes hard-core, que poderiam agora explorar os limites da imaginação
luxuriosa.
Mas os conservadores não se deram por vencidos. Ressuscitar
o pecado da luxúria e condenar o prazer continuava a ser um objetivo. E o
Partido Republicano conseguiu ver essas pessoas e entendê-las, pretendendo usar
seus votos para voltar à cena política no pós-Watergate.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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