A vida doméstica da Inglaterra do século XIX girava em torno
da dona de casa. Não era uma mulher que exercia precipuamente o papel de
reprodutora, mas alguém que gerenciava o lar, por administrar a criadagem, por
comprar os produtos necessários para a casa. O marido deveria ser ativo, forte,
empreendedor; a esposa deveria ser graciosa, amável, discreta, paciente,
maternal. Esses eram o patrão e a patroa.
Pouco a pouco, o número de empregados que se possuíssem
seria a medida do sucesso do casal. Na virada para o século XX, a Inglaterra
tinha mais de 1,5 milhão de pessoas trabalhando como empregados domésticos, a
maioria residindo na casa dos patrões. Era o segundo maior empregador do país.
A patroa passava seu tempo livre lendo revistas de etiqueta,
novelas sentimentais, estudava piano convidava as amigas para o chá da tarde...
A esposa representava o equilíbrio moral e espiritual do lar: não precisava ser
inteligente, deveria apenas ser uma santa. E essa cobrança causaria diversos
transtornos na mente feminina: todo desejo deveria ser reprimido.
Desde o Egito antigo, toda alteração no comportamento da
mulher que trouxesse desmaios, nervosismo, insônia etc. era chamada de “histeria”
– nome derivado da palavra grega para útero. O tratamento vitoriano para a
histeria surgiria em 1880: o vibrador elétrico.
Na Grécia antiga, acreditava-se que a “hysteria” surgia dos
movimentos do útero pelo corpo da mulher. Em Roma, acreditava-se que os humores
do corpo criavam a hysteria. Somente o contato com o corpo do homem curaria. Na
Idade Média, o exorcismo era o tratamento. Agora os médicos ingleses acreditavam
que o tratamento passava por massagens na genitália da paciente até o paroxismo
histérico, o que nós chamamos de orgasmo.
Pois bem, essas massagens demoravam horas e muitos médicos
chegavam a lesionar as mãos. Daí a invenção do dr. Joseph Mortimer Granville,
que tornou o tratamento mais cômodo aos profissionais dedicados da era
vitoriana.
Não demorou para tomar outros usos mais recreativos, claro.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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