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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

DO THE REVOLUTION, BABY BOOMERS!


O fim da segunda guerra mundial foi marcado pela sucessão entre duas gerações diametralmente opostas.
A geração anterior ficou conhecida nos EUA como “geração silenciosa”: pessoas marcadas pela desgraça e pela destruição de duas guerras mundiais e da Crise de 1929. Conviveram com as misérias e o sofrimento. Agora, encerrado o conflito e tendo-se iniciado um período de crescimento econômico incontido, desejavam apenas um lar onde pudessem criar sua ninhada em paz, ao lado de uma esposa dedicada e habilidosa nas tarefas do lar.

Seus filhos, contudo, não poderiam ser mais diferentes. Pertencentes à geração “baby boom”, era conformada por jovens que não tinham memórias de uma guerra total, cresceram em meio à prosperidade econômica. A afluência material do período escancarou as portas das universidades, mesmo aos filhos dos proletários. O ambiente de constante mudança, de transição entre períodos distintos, cunhou em suas mentes que tudo poderia ser transformado. Com uma revolução, poderiam mudar tudo.

Esse foi o cenário que viu o erguimento da bandeira da Revolução Sexual. A popularização das televisões e a expansão do mercado de revistas levaram às massas informações de toda sorte – em 1960, 2/3 das casas nos EUA contavam com ao menos um aparelho de tevê.

Um fato foi fundamental nesse momento. Em 1956, o líder soviético Nikita Kruschev denunciou os crimes políticos do líder anterior, de quem era o braço direito, Joseph Stalin. Esse fato marcou uma debandada muito grande da antiga esquerda comunista. Os desiludidos de outrora fundaram então o que ficou conhecido como nova esquerda, ou New Left: reunidos em universidades dos EUA e da Inglaterra, defendiam a contracultura, o feminismo, o ambientalismo, direitos civis dos negros... e, claro, a libertação sexual.

Bom, a mulher precisava aliviar o peso da maternidade em suas vidas para alcançar a tão propalada libertação sexual. E a solução não tardaria: a pílula anticoncepcional. Lançada nos EUA em 1960, ela deu à geração baby boom a sensação libertadora de fazer sexo sem se preocupar com eventuais filhos daí decorrentes.

Mais do que isso. Aquela geração vivia assombrada com o fantasma da bomba demográfica: o crescimento vegetativo da população mundial alcançara uma aceleração tal que o futuro que se antevia seria marcado pela miséria e pela fome. Nesse contexto, a pílula anticoncepcional seria solução até para as futuras misérias humanas.

Se não foi capaz totalmente de evitar misérias, é algo discutível; mas deve-se reconhecer que ela ajudou a reduzir o hiato que separava os direitos dos homens dos direitos das mulheres, ao menos nas classes médias. A possibilidade do sexo variado sem risco de gravidez levou a 1,2 milhões de norte-americanas fazerem uso da pílula já em 1962. Rapidamente ultrapassou 5 milhões.

Não tardou para que os mais conservadores revelassem medo de que a pilulazinha acabasse com a instituição do casamento, primeiro; depois, o alvo seria a própria família.

Mas o tempo provaria que a maior parte das usuárias eram mulheres casadas que queriam evitar procriar como coelhas. Além disso, a revolução sexual trazida pela pílula demonstrou que agora seria possível planejar melhor a constituição de uma família, postergada para quando a segurança financeira permitisse.

Em 1970, 43% das norte-americanas estavam empregadas. Tanto sucesso rendeu-lhes uma espécie de Playboy feminina: a Cosmopolitan , originalmente de 1886, mas tendo sofrido uma reformulação completa na década de 1960. No Brasil, a revista Nova fez exerceu esse mesmo papel.

  
Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”


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