O fim da segunda guerra mundial foi marcado pela sucessão
entre duas gerações diametralmente opostas.
A geração anterior ficou conhecida nos EUA como “geração
silenciosa”: pessoas marcadas pela desgraça e pela destruição de duas guerras
mundiais e da Crise de 1929. Conviveram com as misérias e o sofrimento. Agora,
encerrado o conflito e tendo-se iniciado um período de crescimento econômico
incontido, desejavam apenas um lar onde pudessem criar sua ninhada em paz, ao
lado de uma esposa dedicada e habilidosa nas tarefas do lar.
Seus filhos, contudo, não poderiam ser mais diferentes. Pertencentes
à geração “baby boom”, era conformada por jovens que não tinham memórias de uma
guerra total, cresceram em meio à prosperidade econômica. A afluência material
do período escancarou as portas das universidades, mesmo aos filhos dos
proletários. O ambiente de constante mudança, de transição entre períodos
distintos, cunhou em suas mentes que tudo poderia ser transformado. Com uma
revolução, poderiam mudar tudo.
Esse foi o cenário que viu o erguimento da bandeira da
Revolução Sexual. A popularização das televisões e a expansão do mercado de
revistas levaram às massas informações de toda sorte – em 1960, 2/3 das casas
nos EUA contavam com ao menos um aparelho de tevê.
Um fato foi fundamental nesse momento. Em 1956, o líder
soviético Nikita Kruschev denunciou os crimes políticos do líder anterior, de
quem era o braço direito, Joseph Stalin. Esse fato marcou uma debandada muito
grande da antiga esquerda comunista. Os desiludidos de outrora fundaram então o
que ficou conhecido como nova esquerda, ou New Left: reunidos em universidades
dos EUA e da Inglaterra, defendiam a contracultura, o feminismo, o
ambientalismo, direitos civis dos negros... e, claro, a libertação sexual.
Bom, a mulher precisava aliviar o peso da maternidade em
suas vidas para alcançar a tão propalada libertação sexual. E a solução não
tardaria: a pílula anticoncepcional. Lançada nos EUA em 1960, ela deu à geração
baby boom a sensação libertadora de fazer sexo sem se preocupar com eventuais
filhos daí decorrentes.
Mais do que isso. Aquela geração vivia assombrada com o
fantasma da bomba demográfica: o crescimento vegetativo da população mundial
alcançara uma aceleração tal que o futuro que se antevia seria marcado pela
miséria e pela fome. Nesse contexto, a pílula anticoncepcional seria solução
até para as futuras misérias humanas.
Se não foi capaz totalmente de evitar misérias, é algo
discutível; mas deve-se reconhecer que ela ajudou a reduzir o hiato que
separava os direitos dos homens dos direitos das mulheres, ao menos nas classes
médias. A possibilidade do sexo variado sem risco de gravidez levou a 1,2
milhões de norte-americanas fazerem uso da pílula já em 1962. Rapidamente
ultrapassou 5 milhões.
Não tardou para que os mais conservadores revelassem medo de
que a pilulazinha acabasse com a instituição do casamento, primeiro; depois, o
alvo seria a própria família.
Mas o tempo provaria que a maior parte das usuárias eram
mulheres casadas que queriam evitar procriar como coelhas. Além disso, a
revolução sexual trazida pela pílula demonstrou que agora seria possível
planejar melhor a constituição de uma família, postergada para quando a
segurança financeira permitisse.
Em 1970, 43% das norte-americanas estavam empregadas. Tanto
sucesso rendeu-lhes uma espécie de Playboy feminina: a Cosmopolitan ,
originalmente de 1886, mas tendo sofrido uma reformulação completa na década de
1960. No Brasil, a revista Nova fez exerceu esse mesmo papel.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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