Ainda no século XVI, os portugueses haviam trazido ao Brasil
uma festa popular conhecida como “entrudo”. Ocorria nos três dias anteriores à
Quaresma e era uma oportunidade para moças de família fazerem contato rapazes
que julgassem interessantes.
No século XIX, essa festa ficou dividida em duas: festas
domésticas, quando as moças indicavam que haviam se interessado por um rapaz
jogando nele uma bola de cera cheia de água; e as festas de rua, quando os
pobres e escravos faziam sua própria festa. Estes jogavam baldes de água uns
nos outros, assim como pós, restos de comida, areia etc.
Essa bagunça exigia respeito à hierarquia social vigente na
época: brancos jogavam água nos escravos, mas o contrário era proibido. Estrangeiros
eram atacados por todos, livremente.
O poder público tentou interferir, a Câmara Municipal chegou
a criar restrições à festa, mas a vontade geral era que a festa continuasse.
Em 21 de fevereiro de 1846, um grupo de teatro europeu
organizou no teatro São Januário, no Rio de Janeiro, um baile de máscaras à
moda veneziana, no estilo daquelas de Paris. A elite econômica compareceu em
peso, além de atores e atrizes fantasiados de Pierrô, Arlequim, Colombina.
O sucesso foi estrondoso. Em 1847 a festa ocorreu em outros
teatros, e até no Recife. Todos os jornais disseminavam a idéia de que aquele
carnaval era aceitável e civilizado, ao contrário do estrudo das “turbas”.
Mas foi inútil: o estrudo continuava a todo o vapor junto às
classe inferior. Já o carnaval “afrancesado” se ramificou em uma série de
festas, em que a idéia de um baile de máscaras soou interessante: nasceram as
sociedades Carnavalescas, que desfilavam em carros alegóricos na Terça-Feira
Gorda. Nasceram também os “corsos”: carruagens em que famílias vestidas
luxuosamente se mostravam para o povo. Todo ano era escolhido um tema para os
desfiles.
As sociedades, compostas por banqueiros, profissionais
liberais e fazendeiros, tinham nomes como: Girondinos, União Veneziana,
Estudantes de Heidelberg, sempre inspiradas pela melhor cepa européia.
Assim, o Carnaval se tornou uma disputa entre as mais
diferentes sociedades carnavalescas, com direito a prêmios distribuídos por
jornais, bancos e firmas importantes.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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