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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

NAZIFASCISMO, A REPRESSÃO DO PRAZER E A CURA GAY


O ambiente intelectual e boêmio fascinante de Berlim no entreguerras produziu feitos notáveis: o expressionismo alemão no cinema, Bertold Brecht no teatro, a escola de arquitetura Bauhaus, o método educacional inovador Waldorf.

Mas agora o fim se avizinhava. Se em meados da década de 1920 os empréstimos americanos tiraram a economia alemã do fundo do poço, agora o crash de 1929 fazia a fonte de recursos secar. OS desempregados que somavam 350 mil em 1930, em 1932 chegavam a 650 mil.

A crise econômica agora levava o centro do espectro político a abraçar a extrema-direita e seu principal líder: Adolf Hitler. Aquele que era chamado jocosamente de “cabo agitador” pelo presidente Paul Von Hindenburg, em 1933 venceu a eleição para chanceler. Declarou-se abertamente guerra a qualquer coisa que pudesse ser chamada de vanguardista.

A ferramenta usada por Hitler para conquistar tamanha vitória foi a mais simples possível: o medo. O líder do partido nacional-socialista inculcava o medo dos comunistas, dizendo que eles iriam destruir os valores tradicionais: família, propriedade e nação. Semeava o ódio aos judeus usando a imagem de judeus odiados naqueles dias: financistas, empresários, líderes comunistas, intelectuais e artistas “degenerados” (nome que usava para artes de vanguarda).

Pequenos comerciantes, empregados públicos, agricultores e toda uma multidão de recentes desempregados abraçaram o discurso do ódio e do medo.

No que se refere à libertação sexual, o nazismo pôs uma pá de cal sobre as aspirações de toda uma geração. Agora a mulher voltava ao trinômio conservador alemão “Kinder, Kuche, Kirche” – filhos, cozinha e igreja.

Segundo o ideário nazista, às mulheres eram proibidos pintar o cabelo, usar cosméticos: era obra de comerciantes judeus que desejavam vulgarizar a pureza das alemãs, transformando-as em prostitutas.
Em 1933, Hitler fez passar a “Lei de Incentivo ao Casamento”, pela qual forneciam-se empréstimos aos recém-casados. Se houvesse filhos, os valores eram incrementados. Obviamente os casamentos não poderiam ser miscigenados e as crianças deveriam ser “arianos” saudáveis. Se a mulher gerasse um quarto filho, o casal estava liberado das dívidas. Se desse à luz oito filhos, recebia uma medalha de ouro.

Mulheres solteiras – e arianas, claro - eram incentivadas a ter filhos de membros arianos puros da SS: elas fariam parte imediatamente de uma “elite” racial nacional. Os atestados de pureza racial deveriam regredir a, pelo menos, 1750. As habilidades mais cobradas das jovens recém-casadas eram habilidades domésticas e instinto maternal. Apesar das regras restritas, mais de 240 mil alemãs foram aceitas como “reprodutoras de arianos” de membros da SS.

Controles de natalidade e clínicas de planejamento familiar foram considerados ilegais. Mulheres judias, prostitutas, ciganas e portadoras de doenças genéticas (incluindo alccolismo e depressão) foram esterilizadas.

Algum resultado surtiu efeito: em 1935 o número de nascimentos chegou a 1,26 milhão, contra cerca de 900 mil em 1933. A profissão feminina mais comemorada era a de parteira e a emancipação feminina se tornou ideia subversiva.

Em 1938 já não havia mais parlamentares alemães no Reichstag. Contudo, o sucesso inicial das blitzkrieg levou à expansão do território, o que abriu espaço para as leais arianas em escolas, hospitais e nos escritórios do Partido. E assim as alemães se tornaram responsáveis por inculcar aquele ideário asqueroso na cabeça dos futuros cidadãos.

No que se refere às práticas sexuais, valia o mais profundo conservadorismo à São Paulo: sexo, só para reprodução. Em 1936, o orgulhosamente homofóbico Heinrich Himmler fundou o Escritório Central do Combate À Homossexualidade e ao Aborto. Iniciava-se uma ofensiva contra os gays e transexuais. O Instituto de Pesquisa da Sexualidade foi atacado pelo bando da Juventude Nazista. O campo de concentração de Fuhlsbuttel pasosu a se especializar na recepção de presos homossexuais: pintavam a letra A neles; mas depois passaram a desenha um triângulo rosa. Com isso, supõe-se que entre 5 e 15 mil homossexuais foram para lá levados para serem “curados”.

A “cura gay” nazista se iniciava com sessões de estuproterapia, no caso dos homens, ocorridas num galpão transformado em bordel; as mulheres eram obrigadas a se prostituírem. Experimentos com hormônios e cirurgias também eram aplicados. Não foram raros os casos de mortes violentas, praticadas por soldados.

E assim a humanidade teria de aguardar pelo fim do segundo grande conflito para poder respirar novamente ares mais liberais.   


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”

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