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terça-feira, 17 de outubro de 2017

BRASIL: TIROS E TETAS


Até a década de 1950, as canções de amores brasileiras giravam em torno do sofrimento que emanava das letras tristes do samba-canção. Mas as transformações ocorridas no Norte transformaram a realidade nestas bandas, também. Jovens da Zona do Sul do Rio começaram a cantar músicas que falavam de meninas na praia, de namoradinhas. A mulher não era mais o motivo da fossa do homem; era sensual, era inocente.

No carnaval, até aquela década, as mulheres desfilavam recatadamente, bem vestidas. Mas as poucos os panos foram ficando cada vez mais curtos até que a nudez se tounou lugar-comum na década de 1970.

O movimento contracultural denominado Tropicália ajudou nessa empreitada. O Cinema Novo de Glauber Rocha também. Ruy Guerra, cineastas festejado naqueles anos, produziu a primeira cena de nu frontal com o filme Os Cafajestes.  A Playboy ganhou uma concorrente nacional: a revista Ele & Ela.

A jovem atriz Leila Diniz se tornou representante nacional da filosofia do amor livre – a entrevista que concedeu ao Pasquim foi a edição mais vendida da história do jornal. A repercussão foi tal que o então Ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, emitiu o “Decreto Leila Diniz”, instaurando a censura prévia no Brasil. A atriz foi sumariamente demitida da Globo. Segundo um diretor daquela época: “não tem papel de puta na próxima novela”.

No mesmo clima de “caldo derramado”, Caetano e Gil partiram para o exílio em terras britânicas, em 1969 por, supostamente, desrespeitarem a bandeira e o hino nacionais. Em 1971 foi a vez de Glauber Rocha deixar o país, assim como o poeta Ferreira Gullar.

O fato era: o país era e sempre foi um país excessivamente conservador para viver uma revolução sexual – ou qualquer outra. A Revista Realidade publicou uma pesquisa sobre comportamento sexual. Alguns números desanimadores para os mais progressistas: 6% das moças paulistas e 18,4% das cariocas era a favor do sexo antes do casamento; 8% das paulistas e 12,8% das cariocas disseram ter transado com o namorado. Em outra matéria a mesma revista relatava os assombrosos números de moças que se submetiam à cirurgia de “revirginalização” – era condição para que se casassem.

Em 1970, em São Paulo houve 47 processos de anulação do casamento porque a noiva não era mais virgem. Em 1973, outra matéria abordava o problema do excesso de conservadorismo dos jovens brasileiros, que copiavam a rebeldia dos saxões apenas nos cabelos compridos e nas roupas descoladas.

Os filmes pornográficos soft-core deram início aqui às pornochanchadas. Fizeram bastante sucesso com piadas maliciosas e cenas de eróticas. O local onde se reuniam os estúdios dedicados a esse etilo, em São Paulo, era conhecido como “Boca do Lixo”, a Hollywood brasileira cercada de puteiros. Desse cinema-pornô ainda tímido surgiram grandes nomes nacionais: Vera Fisher, Nuno Leal Maia, Sônia Braga e outros.

A crise econômica da década de 1980, somada à entrada dos bem menos inibidos hard-core americanos levaram a pornochanchada à lona. A solução? Hard-core brasileiro. Em 1981, por emio de um mandado judicial, finalmente estreou o primeiro hard-core nacional: Coisas Eróticas. Nada menos do que 4 milhões de espectadores lotaram as salas de cinema. Resultado: em 1984, 69 dos 105 filmes produzidos no Brasil eram de sexo explícito.

Não demoraram as extensões mais imaginativas: “Meu marido, meu cavalo”; “Um jumento em minha cama”; “A menina e o cavalo” etc etc etc.

Nos anos pós-redemocratização, finalmente a atmosfera cerrada do regime militar deu espaço para ares mais amenos. Agora o orgasmo feminino era tema para uma conversa esclarecedora, num programa de TV, logo pela manhã. Que tal ensinar as meninas a se masturbarem num programa de televisão? Marta Suplicy fez isso tudo no seu programa televisivo TV Mulher.  

A obra “Complexo de Cinderela”, livro de não ficção mais vendido de 1984, atacava a fantasia feminina de esperar pelo príncipe encantado. O segundo mais vendido foi Repressão Sexual, de Marilena Chauí.
O biquíni asa-delta, assim como o fio-dental, ganhou as praias cariocas. O topless chegou a ser tentado, mas a polícia e os conservadores de plantão reprimiram as moças: chegaram ao extremo de arremessar latinhas de cerveja nas garotas.  

Pesquisas da época apontaram um fenômeno interessante: se, por um lado, menos meninas transavam do que meninos, algumas meninas transavam com muito mais freqüência dos que os meninos. À perda da virgindade masculina com prostitutas, se somava agora a menina que desvirginava vários meninos. Já as meninas normalmente transavam pela primeira vez com o namorado – que poderia não ser mais virgem por obra de uma prostituta ou de uma amiga que “enfileirou” os amigos.  

O brasileiro se tornava um pouco mais liberal... bem pouco, de fato.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”


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