Até a década de 1950, as canções de amores brasileiras giravam
em torno do sofrimento que emanava das letras tristes do samba-canção. Mas as
transformações ocorridas no Norte transformaram a realidade nestas bandas,
também. Jovens da Zona do Sul do Rio começaram a cantar músicas que falavam de
meninas na praia, de namoradinhas. A mulher não era mais o motivo da fossa do
homem; era sensual, era inocente.
No carnaval, até aquela década, as mulheres desfilavam
recatadamente, bem vestidas. Mas as poucos os panos foram ficando cada vez mais
curtos até que a nudez se tounou lugar-comum na década de 1970.
O movimento contracultural denominado Tropicália ajudou
nessa empreitada. O Cinema Novo de Glauber Rocha também. Ruy Guerra, cineastas
festejado naqueles anos, produziu a primeira cena de nu frontal com o filme Os
Cafajestes. A Playboy ganhou uma
concorrente nacional: a revista Ele & Ela.
A jovem atriz Leila Diniz se tornou representante nacional
da filosofia do amor livre – a entrevista que concedeu ao Pasquim foi a edição
mais vendida da história do jornal. A repercussão foi tal que o então Ministro
da Justiça, Alfredo Buzaid, emitiu o “Decreto Leila Diniz”, instaurando a
censura prévia no Brasil. A atriz foi sumariamente demitida da Globo. Segundo
um diretor daquela época: “não tem papel de puta na próxima novela”.
No mesmo clima de “caldo derramado”, Caetano e Gil partiram
para o exílio em terras britânicas, em 1969 por, supostamente, desrespeitarem a
bandeira e o hino nacionais. Em 1971 foi a vez de Glauber Rocha deixar o país,
assim como o poeta Ferreira Gullar.
O fato era: o país era e sempre foi um país excessivamente
conservador para viver uma revolução sexual – ou qualquer outra. A Revista
Realidade publicou uma pesquisa sobre comportamento sexual. Alguns números
desanimadores para os mais progressistas: 6% das moças paulistas e 18,4% das
cariocas era a favor do sexo antes do casamento; 8% das paulistas e 12,8% das
cariocas disseram ter transado com o namorado. Em outra matéria a mesma revista
relatava os assombrosos números de moças que se submetiam à cirurgia de “revirginalização”
– era condição para que se casassem.
Em 1970, em São Paulo houve 47 processos de anulação do
casamento porque a noiva não era mais virgem. Em 1973, outra matéria abordava o
problema do excesso de conservadorismo dos jovens brasileiros, que copiavam a
rebeldia dos saxões apenas nos cabelos compridos e nas roupas descoladas.
Os filmes pornográficos soft-core deram início aqui às
pornochanchadas. Fizeram bastante sucesso com piadas maliciosas e cenas de
eróticas. O local onde se reuniam os estúdios dedicados a esse etilo, em São
Paulo, era conhecido como “Boca do Lixo”, a Hollywood brasileira cercada de
puteiros. Desse cinema-pornô ainda tímido surgiram grandes nomes nacionais:
Vera Fisher, Nuno Leal Maia, Sônia Braga e outros.
A crise econômica da década de 1980, somada à entrada dos
bem menos inibidos hard-core americanos levaram a pornochanchada à lona. A
solução? Hard-core brasileiro. Em 1981, por emio de um mandado judicial,
finalmente estreou o primeiro hard-core nacional: Coisas Eróticas. Nada menos
do que 4 milhões de espectadores lotaram as salas de cinema. Resultado: em 1984,
69 dos 105 filmes produzidos no Brasil eram de sexo explícito.
Não demoraram as extensões mais imaginativas: “Meu marido,
meu cavalo”; “Um jumento em minha cama”; “A menina e o cavalo” etc etc etc.
Nos anos pós-redemocratização, finalmente a atmosfera
cerrada do regime militar deu espaço para ares mais amenos. Agora o orgasmo
feminino era tema para uma conversa esclarecedora, num programa de TV, logo
pela manhã. Que tal ensinar as meninas a se masturbarem num programa de
televisão? Marta Suplicy fez isso tudo no seu programa televisivo TV Mulher.
A obra “Complexo de Cinderela”, livro de não ficção mais
vendido de 1984, atacava a fantasia feminina de esperar pelo príncipe
encantado. O segundo mais vendido foi Repressão Sexual, de Marilena Chauí.
O biquíni asa-delta, assim como o fio-dental, ganhou as
praias cariocas. O topless chegou a ser tentado, mas a polícia e os
conservadores de plantão reprimiram as moças: chegaram ao extremo de arremessar
latinhas de cerveja nas garotas.
Pesquisas da época apontaram um fenômeno interessante: se,
por um lado, menos meninas transavam do que meninos, algumas meninas transavam
com muito mais freqüência dos que os meninos. À perda da virgindade masculina
com prostitutas, se somava agora a menina que desvirginava vários meninos. Já
as meninas normalmente transavam pela primeira vez com o namorado – que poderia
não ser mais virgem por obra de uma prostituta ou de uma amiga que “enfileirou”
os amigos.
O brasileiro se tornava um pouco mais liberal... bem pouco,
de fato.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Luxúria: como ela mudou a história do mundo”
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