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sexta-feira, 28 de abril de 2017

VOCÊ CONSEGUE IDENTIFICAR O MELIANTE?


Em uma sociedade camponesa, poucos são livres. As pessoas estão presas à terra, que pertence ao senhor. Suas raízes estão fincadas na terra. Em geral, apenas os afiliados ao banditismo podem dizer orgulhosamente que são livres.

No momento em que o homem se casa e passa a laborar no campo, torna-se preso à sua realidade. A partir de então deve se dedicar a semear os campos, colher a produção, consertar cercas danificadas. Por diversas vezes rebeliões e guerras eram interrompidos em favor das colheitas.

De fato, até o ciclo de banditismo segue a lógica do trabalho no campo. O auge dos roubos ocorria na primavera e no verão, tendo seus vales nos meses de outono e inverno.

O estoque de bandidos em potencial era mais repleto nos locais onde havia mais excedentes de mão de obra. Caso a demanda por trabalhadores fosse incapaz de manter empregados todos os trabalhadores disponíveis, os excedentes tendiam a procurar meio de sobrevivência no banditismo.

A mesma lógica valia para os locais em que a produtividade da terra era baixa, o solo era pobre ou a região, muito montanhosa. Algumas sociedades criaram maneiras de lidar com esse excedente, de forma a evitar que se filiem ao banditismo. A Suíça e outras sociedades criaram o alistamento militar, para controlar esse excedente.

Seja como for, o alvo do banditismo sempre foi o jovem, saído da puberdade e antes que se casasse. Poucos naquelas sociedades eram mais livres do que essas pessoas. Após a assunção das responsabilidades familiares e no trato da terra, jamais teriam a autonomia necessária para exercer a atividade de bandido. Após os 30 anos, em geral eram instados a abandonar o banditismo e procurar um ofício tradicional.

Em diversas sociedades, o excedente masculino também inflava as fileiras do banditismo. O infanticídio feminino poderia elevar o excedente masculino a 20% acima do número de homens. Os homens não casados tinham mais autonomia para se filiar a bandos.

O perfil descrito do bandido tradicional, jovens e solteiros, é o mesmo dos guerrilheiros colombianos atuais, em geral, contado entre 15 e 30 anos de idade.

A região da Andaluzia tinha um bandido-herói muito famoso, Diego Corrientes, morto aos 24 anos. Lampião iniciou sua carreira no cangaço entre os 17 e os 20 anos. Don José, bandido que inspirou a peça Carmen, começou aos 18 anos.

Pode-se citar também os bandidos que se lançaram a tais empreitadas em busca de uma maneira de se integrarem à sociedade rural e deixarem a marginalidade a que estavam condenados. Foi o caso dos rasboiniki, que infestavam a velha Rússia. Eles buscavam as áreas ao sul e ao leste. Buscavam aquilo que chamavam de Zemlya i Volya (Terra e Liberdade).      

Outra fonte de braços a serviço do banditismo eram as forças militares. Diversos líderes de salteadores do sul da Itália, por volta de 1860, eram descritos como ex-soldados do exército dos Bourbons; trabalhadores sem terra, ex-soldados.

No entanto, a categoria mais importante de bandido, cuja participação era individual e voluntária. São os homens insubmissos, não dispostos a aceitar o papel dócil e passivo do camponês vilipendiado e extorquido. Eram rebeldes ou, no dizer clássico, “homens que se fazem respeitar.” Não eram tão numerosos quanto se poderia esperar pois, para cada ladrão “nobre” que resiste, dezenas e dezenas aceitam as injustiças contra eles praticadas.

Os bandidos da categoria acima citada eram os “durões”, que faziam ressoar sua fama de valentes, portavam armas ou bastões mesmo quando não tinham o direito de usá-las, vestiam-se maneira própria, de forma a intimidar as pessoas – como que se dissessem “Este homem não é dócil!”.

São exemplos a roupa dos “vaqueros” mexicanos, adotadas pelos cowboys do faroeste. Seus equivalentes sulamericanos eram os gaúchos dos pampas argentinos e sul riograndenses, que usavam trajes mais ou menos parecidos.

Aqueles homens que se encaixavam na categoria acima, mas que não desejavam se lançar ao banditismo poderiam traçar rumos alternativos, servindo como guardas, soldados etc. Foi o caso dos “mafiosi” da Sicília, que formaram um nova burguesia rural.

As categorias mais importantes foram previamente citadas, mas ainda existe uma que, talvez, seja a mais interessante: os robber barons – ou barões ladrões.

Esses eram fidalgos empobrecidos, porém se tornaram em dado momento uma fonte enorme de bandidos. As armas eram privilégios daquela categoria social, enquanto permaneciam vedadas aos camponeses. Lutar, empunhar espada sou rifles, era um elemento que os representava; cresciam cercados por esse mundo de violência e uso da força em seu proveito. Tornavam-se afeitos à violência por meio de esportes como a caça, aprendiam a matar em nome da honra pessoal e familiar, duelos eram freqüentes. O serviço militar e a administração colonial eram a atividades onde extravasavam seus instintos mais sanguinários.

Esse tipo é bem representado na peça Os Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. Oriundos da Gasconha, tradicional berço de cavalheiros despossuídos, eram valentões e tinham licença oficial para matar. Assim eram os conquistadores espanhóis, por exemplo.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Bandits”   

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