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segunda-feira, 3 de abril de 2017

GOLPE DE 1964: O PÓS-GOLPE E OS ARREPENDIDOS DE PLANTÃO


O governo Jango foi derrubado por uma frente ampla, que exibia um discurso genérico e apelativo: salvar o país da subversão e do comunismo, da corrupção e do populismo. Além do restabelecimento da democracia.

A amálgama que mantinha um grupo, em princípio diverso, unido era o medo! Medo de que um processo de distribuição de renda que se radicalizasse e saísse do controle levassem à desordem, ao caos e à perda do parco patrimônio amealhado em tempos recentes.

Os interesses dos grupos envolvidos na derrubado do presidente eleito variavam. Havia os que desejavam a queda de Jango, para depois buscar a legitimação do golpe pela via jurídica, com o ato final sendo encenado pelo Parlamento, aprovando tudo.

Passo seguinte, os militares retornariam à caserna, deixando no seu rastro uma democracia limpa dos elementos indesejados de outrora. Deve-se ter em mente que grande parte dos políticos e militares aderentes de última hora assim desejavam que o golpe se desenrolasse.

Mas havia um outro grupo que pensava de maneira diversa. Estes desejavam dos novos donos do pode atitudes mais duras com relação ao ambiente político, que julgavam apodrecido, não confiável, ideologicamente diverso do Hemisfério em que o Brasil se encontra.

Claro estava apenas que o grupo enxotado do Poder não retornaria via democrática, por ocasião das eleições de 1965/66.

No grupo dos interessados na derrubada do governo e imediato retorno à democracia estavam políticos tradicionais, em geral líderes civis do movimento e próximos do espectro ideológico de direita: Ademar de Barros, Magalhães Pinto, Carlos Lacerda.

Dentre os que desejavam uma mudança mais drástica e profunda, abortando veleidades democráticas, estavam os grupos que pretendiam enterrar o passado de políticas nacional-desenvolvimentistas, intervencionistas, que pregavam uma política externa independente, por uma alternativa internacional-liberal: abertura para o mercado internacional, atração de capitais privados, nacionais e estrangeiros. Pregavam uma visão de Estado regulador.

Logo após o golpe, o novo presidente da Câmara chamava-se Ranieri Mazzili. Mero rito. O poder se deslocava em direção à junta militar instalada, o Comando Supremo da Revolução, representada pelos chefes das três Armas.    

Essa Junta editou o Ato Institucional nº 1. Cassaram-se mandatos, suspenderam-se direitos políticos por 10 anos, civis foram aposentados compulsoriamente, militares foram reformados. Nos demais casos, uma caça às bruxas à “macartismo” foi deflagrada em todo o país: prisões, censuras e ameaças de prisão aos montes.
A atitude mais ingênua dos comandantes do golpe foi chamá-lo de Revolução. Essa expressão denotaria o caráter mais profundo que queriam imprimir às mudanças em curso no país. Não se tratava de algo temporário, seria bem duradouro...

A legitimação necessária seria decorrente do nome que queriam emplacar na presidência. Tomou assim a dianteira o nome de Castelo Branco. Tinha prestígio nos meios militares e boas conexões do IPES, braço local da CIA e do Departamento de Estado dos EUA, que financiava grupos interessados no golpe perpetrado.

Castelo Branco foi eleito, pro forma, pelo Congresso Nacional, já esvaziado dos políticos indesejados de outrora. Seu vice se chamava José Maria Alkmin, velho companheiro de JK e posteriormente agregado ao PSD. Este foi outro aderente de última hora, que também desejava surfar na política nacional após o golpe.

Seria apenas mais um político macunaímico prontamente descartado pelos novos residentes no Poder...


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Ditadura Militar, Esquerdas e Sociedades”

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