O governo Jango foi derrubado por uma frente ampla, que
exibia um discurso genérico e apelativo: salvar o país da subversão e do
comunismo, da corrupção e do populismo. Além do restabelecimento da democracia.
A amálgama que mantinha um grupo, em princípio diverso,
unido era o medo! Medo de que um processo de distribuição de renda que se
radicalizasse e saísse do controle levassem à desordem, ao caos e à perda do
parco patrimônio amealhado em tempos recentes.
Os interesses dos grupos envolvidos na derrubado do
presidente eleito variavam. Havia os que desejavam a queda de Jango, para
depois buscar a legitimação do golpe pela via jurídica, com o ato final sendo
encenado pelo Parlamento, aprovando tudo.
Passo seguinte, os militares retornariam à caserna, deixando
no seu rastro uma democracia limpa dos elementos indesejados de outrora.
Deve-se ter em mente que grande parte dos políticos e militares aderentes de
última hora assim desejavam que o golpe se desenrolasse.
Mas havia um outro grupo que pensava de maneira diversa.
Estes desejavam dos novos donos do pode atitudes mais duras com relação ao
ambiente político, que julgavam apodrecido, não confiável, ideologicamente diverso
do Hemisfério em que o Brasil se encontra.
Claro estava apenas que o grupo enxotado do Poder não
retornaria via democrática, por ocasião das eleições de 1965/66.
No grupo dos interessados na derrubada do governo e imediato
retorno à democracia estavam políticos tradicionais, em geral líderes civis do
movimento e próximos do espectro ideológico de direita: Ademar de Barros,
Magalhães Pinto, Carlos Lacerda.
Dentre os que desejavam uma mudança mais drástica e
profunda, abortando veleidades democráticas, estavam os grupos que pretendiam
enterrar o passado de políticas nacional-desenvolvimentistas,
intervencionistas, que pregavam uma política externa independente, por uma
alternativa internacional-liberal: abertura para o mercado internacional,
atração de capitais privados, nacionais e estrangeiros. Pregavam uma visão de
Estado regulador.
Logo após o golpe, o novo presidente da Câmara chamava-se
Ranieri Mazzili. Mero rito. O poder se deslocava em direção à junta militar
instalada, o Comando Supremo da Revolução, representada pelos chefes das três Armas.
Essa Junta editou o Ato Institucional nº 1. Cassaram-se mandatos,
suspenderam-se direitos políticos por 10 anos, civis foram aposentados
compulsoriamente, militares foram reformados. Nos demais casos, uma caça às
bruxas à “macartismo” foi deflagrada em todo o país: prisões, censuras e
ameaças de prisão aos montes.
A atitude mais ingênua dos comandantes do golpe foi chamá-lo
de Revolução. Essa expressão denotaria o caráter mais profundo que queriam
imprimir às mudanças em curso no país. Não se tratava de algo temporário, seria
bem duradouro...
A legitimação necessária seria decorrente do nome que
queriam emplacar na presidência. Tomou assim a dianteira o nome de Castelo
Branco. Tinha prestígio nos meios militares e boas conexões do IPES, braço
local da CIA e do Departamento de Estado dos EUA, que financiava grupos
interessados no golpe perpetrado.
Castelo Branco foi eleito, pro forma, pelo Congresso
Nacional, já esvaziado dos políticos indesejados de outrora. Seu vice se
chamava José Maria Alkmin, velho companheiro de JK e posteriormente agregado ao
PSD. Este foi outro aderente de última hora, que também desejava surfar na
política nacional após o golpe.
Seria apenas mais um político macunaímico prontamente descartado pelos
novos residentes no Poder...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Ditadura Militar, Esquerdas e Sociedades”
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