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segunda-feira, 10 de abril de 2017

SUÉCIA: JUDICIÁRIO LIMPO E REGRAS CLARAS


Trechos do livro “Suécia: um país sem excelências e mordomias”, de Cláudia Wallin.

“Como todos os juízes e desembargadores da Suécia, Goran Lambertz (um dos 16 magistrados da Suprema Corte sueca) não tem direito a carro oficial com motorista, nem secretária particular. Sem auxílio moradia, todos pagam do próprio bolso por seus custos de moradia. Assim como os políticos do país, magistrados suecos também não têm o privilégio da imunidade ou do foro privilegiado – podem ser processados por qualquer cidadão. Seus salários variam entre cerca de 15 mil e 30,2 mil reais, mas não há benefícios extras: abonos, prêmios, verbas de representação, auxílio transporte, auxílio saúde e auxílio alimentação não existem para juízes.

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Qual é o salário de um juiz da Suécia, incluindo eventuais benefícios extras?
Goran Lambertz: Juízes suecos recebem entre 5 mil euros (cerca de 6,6 mil dólares) e um máximo de 10 mil euros (13,3 mil dólares), que é o salário dos magistrados da Suprema Corte. Isto é o que se ganha, e é um bom salário. Pode-se viver bem com vencimentos deste porte, e é suficiente. Não há nenhum benefício extra.

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Vejo que o senhor não tem secretária particular. Também não conta com assistentes pessoais?
Goran Lambertz: Não temos secretárias particulares, mas contamos com uma equipe de assistentes que trabalha em conjunto para os dezesseis magistrados da Suprema Corte. São mais de trinta jovens profissionais da área de Direito, que auxiliam os juízes em todos os aspectos relacionados a um caso jurídico. Temos ainda uma equipe de cerca de quinze assistentes administrativos, que auxiliem a todos nós. Portanto, nenhum juiz tem secretária ou assistente particular para prestar assistência exclusiva a ele, mas sim profissionais que lidam com aspectos específicos dos casos julgados pela Corte.

(...)

O que faz a Suécia para prevenir a corrupção no sistema judiciário?
Goran Lambertz: Na verdade, não muito. Isto porque existe na Suécia uma longa tradição de que as pessoas, em geral, não são corruptas. Se alguma pessoa oferecesse suborno a um juiz ou se algum juiz pedisse algo, seria um grande escândalo no país. Mas isto simplesmente não acontece.

E qual é a explicação para isso?
Goran Lambertz: Talvez a explicação seja que a sociedade sueca promove a honestidade em primeiro lugar, e expõe a desonestidade sempre que é descoberta. Somos uma sociedade aberta, e a mídia sempre irá denunciar atos corruptos. Atos desonestos não são mantidos no escuro. Essa é a essência do sistema. Todos sabem que, se algum ato impróprio for cometido, ele será denunciado. A polícia saberá, a mídia saberá. E os juízes jamais ousariam. Acho que nenhum juiz sueco jamais aceitaria um suborno. É algo tão proibido, que chega a ser impensável. É distante demais das nossas tradições. E se algum ato irregular for cometido, ele será reportado à polícia. Por isso, mesmo se algum juiz pensar em cometer um ato impróprio, ele não o fará. Porque teria medo de ser reportado à polícia.

Qual é o grau de transparência do Judiciário sueco? Posso checar as despesas de juízes e ter acesso a documentos oficiais dos tribunais?
Goran Lambertz: Sim. Qualquer cidadão pode vir aqui e checar as contas dos tribunais e os ganhos dos juízes. Autos judiciais e processos em andamento são abertos ao público. As despesas dos juízes também podem ser verificadas, embora neste aspecto não exista muita coisa para checar. Juízes usam bem pouco o dinheiro público, e não possuem benefícios como verba de representação. Os juízes suecos recebem seus salários, e é isso que custam ao Estado. As exceções são viagens raras para alguma conferência, quando seus gastos com viagem e hotel são custeados. Com relação às contas bancárias privadas de um juiz, elas só podem ser verificadas se o juiz for suspeito de um crime. Mas tudo o mais é aberto, a não ser os casos em que é preciso proteger a identidade de uma pessoa, como vitimas de casos de estupro.

Quem fiscaliza o juiz e os tribunais?
Goran Lambertz: Não há um órgão específico para isso, mas entidades como o Ombudsman do Parlamento e o Provedor de Justiça têm poderes para fiscalizar de que maneira os tribunais lidam com diferentes casos, quanto dinheiro eles gastam, e se atuam de forma eficiente. Eles não podem interferir nos julgamentos em si, mas podem controlar os gastos e a eficiência das Cortes. Os jornalistas também checam os nossos salários e os rendimentos que recebemos de outras fontes. São rendimentos que recebemos, por exemplo, quando trabalhamos em comitês legislativos e disciplinares, e outros tipos de função que um juiz pode desempenhar. Muitas pessoas acham que os juízes ganham dinheiro demais, e isto gera críticas.



Rubem L. de F. Auto    

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