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segunda-feira, 24 de abril de 2017

TRABALHISMO: LEGADO VARGUISTA OU ENTULHO FASCISTA?


A ditadura do Estado Novo tinha um tripé, sobre o qual sustentava suas políticas: ordem-nacionalismo-trabalhismo (este último, a valorização do trabalho). O valor do trabalho era cantado e celebrado pelos propagandistas estatais.

Mas Getúlio também contou com o auxílio de sambistas e de compositores de marchinhas de carnaval. Eram tempos de concursos para escolha dos sambas que seriam cantados em desfiles, cordões, blocos etc.

Os compositores deveriam observar a portaria publicada pelo DIP, que trazia “recomendações” que deveriam ser seguidas na elaboração e na escolha das canções carnavalescas. Por exemplo, a romântica malandragem, sempre associada à boemia e à vadiagem, estava descartada como mote das composições. Agora, o “bom malandro” era trabalhador. Num dos episódios mais famosos desse período, o samba “O Bonde de São Januário”, de Wilson Batista e Ataulfo Alves, sofreu alterações para que pudesse ser gravado: a palavra “otário”, usada para se referir ao trabalhador que pegava o bonde para ir trabalhar foi substituída por “operário”. Mas os populares sabiam dessas interferências e não hesitavam em cantar o samba na sua forma original.

Por falar em São Januário, o estádio lá localizado foi palco de diversos eventos protagonizados por Vargas. Dentre eles, a assinatura do Decreto-Lei n. 5.452, que dava efeitos à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), em 1º de maio de 1943, isto é, no Dia Internacional do Trabalho.

Pela expressão Consolidação, entenda-se que a Código posto em execução trazia diversas leis que já existiam e produziam efeitos, porém promulgadas em separado. A CLT as reunia num só Codex.     
A ideologia do trabalhismo era muito presente nos regimes autoritários de matizes fascistas. Mussolini, Hitler, Franco, Salazar todos empregavam grandes esforços na comunicação com os trabalhadores. É famosa a frase “Arbei macht frei”, ou “O trabalho liberta”, inscrita sobre o portão de entrada do campo de concentração de Auschwitz.

Ciente da tradição que inaugurava em solo brasileiro e desejando se apropriar integralmente da ideologia a que se associava, em 15 de maio de 1945, o Ministro do Trabalho Alexandre Marcondes Filho inaugurava o PTB – Partido Trabalhista Brasileiro -, partido do qual Vargas seria líder e por meio do qual retornaria à política, após o fim de sua ditadura, ainda naquele ano.  


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Dossiê Getúlio Vargas”   

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