A ditadura do Estado Novo tinha um tripé, sobre o qual sustentava
suas políticas: ordem-nacionalismo-trabalhismo (este último, a valorização do
trabalho). O valor do trabalho era cantado e celebrado pelos propagandistas estatais.
Mas Getúlio também contou com o auxílio de sambistas e de
compositores de marchinhas de carnaval. Eram tempos de concursos para escolha
dos sambas que seriam cantados em desfiles, cordões, blocos etc.
Os compositores deveriam observar a portaria publicada pelo
DIP, que trazia “recomendações” que deveriam ser seguidas na elaboração e na
escolha das canções carnavalescas. Por exemplo, a romântica malandragem, sempre
associada à boemia e à vadiagem, estava descartada como mote das composições. Agora, o “bom malandro” era trabalhador. Num dos episódios mais famosos desse
período, o samba “O Bonde de São Januário”, de Wilson Batista e Ataulfo Alves,
sofreu alterações para que pudesse ser gravado: a palavra “otário”, usada para
se referir ao trabalhador que pegava o bonde para ir trabalhar foi substituída
por “operário”. Mas os populares sabiam dessas interferências e não hesitavam
em cantar o samba na sua forma original.
Por falar em São Januário, o estádio lá localizado foi palco
de diversos eventos protagonizados por Vargas. Dentre eles, a assinatura do
Decreto-Lei n. 5.452, que dava efeitos à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho),
em 1º de maio de 1943, isto é, no Dia Internacional do Trabalho.
Pela expressão Consolidação, entenda-se que a Código posto
em execução trazia diversas leis que já existiam e produziam efeitos, porém
promulgadas em separado. A CLT as reunia num só Codex.
A ideologia do trabalhismo era muito presente nos regimes
autoritários de matizes fascistas. Mussolini, Hitler, Franco, Salazar todos empregavam
grandes esforços na comunicação com os trabalhadores. É famosa a frase “Arbei
macht frei”, ou “O trabalho liberta”, inscrita sobre o portão de entrada do
campo de concentração de Auschwitz.
Ciente da tradição que inaugurava em solo brasileiro e
desejando se apropriar integralmente da ideologia a que se associava, em 15 de
maio de 1945, o Ministro do Trabalho Alexandre Marcondes Filho inaugurava o PTB
– Partido Trabalhista Brasileiro -, partido do qual Vargas seria líder e por
meio do qual retornaria à política, após o fim de sua ditadura, ainda naquele
ano.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “Dossiê Getúlio Vargas”
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