A década que antecedeu a Era Vargas foi pontuada por
movimentos difusos e, aparentemente, desconexos. Mas era só aparentemente
mesmo. Havia um fio condutor que os conectava entre si, dando provas de que o
Brasil da República Oligárquica do café-com-leite estava com seus dias
contados.
Arte, poder e política adquiriam feições modernas, embora
não houvesse uma ideologia claramente preferida. A direita surgia representava
por nomes como Cassiano Ricardo e Plínio Salgado. No pólo oposto, os comunistas
militavam ao lado de Patrícia Galvão, a Pagu, e Oswald de Andrade.
Nos quartéis, o ambiente de sublevação deixava de lado um
romantismo quixotesco de outrora e passava a emitir gritos cada vez mais altos
de mudanças. No período de 1922 a 1924, o Movimento Tenentista (ou Tenentismo),
surgia como o farol dos descontentes. O foco das exigências dos tenentes era a
modernização das estruturas de poder. O voto secreto, por exemplo, fazia parte
da lista de reivindicações.
Os Tenentistas protagonizaram uma batalha histórica, chamada
Revolta dos 18 do Forte de Copacabana. Os principais nomes foram o capitão
Euclides Hermes da Fonseca, comandante do Forte de Copacabana e filho do
marechal Hermes da Fonseca. Ao seu lado, o capitão contava com os tenentes
Antonio de Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
Em 4 de julho de 1922, Fonseca mobilizou suas tropas para
que contivessem a arremetida das forças federais contra o Forte que guarnecia.
O conflito inevitável se iniciou no dia seguinte. OS insurgentes do Forte de
Copacabana resistiam atirando seus canhões contra o Forte do Leme, localizado
no extremo oposto da praia de Copacabana. Contaram-se quatro vitimados neste
ultimo Forte.
A resposta das forças legais foi um bombardeio a partir da
Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói. Do lado Tenentista, as tropas se
desesperaram com o contra-ataque e pediram para que pudessem bater em retirada.
O capitão Fonseca consentiu com o pedido e sua tropa ficou reduzida de 301
homens para 18 míseros revoltosos. Esta quantidade motivou o nome da batalha.
Pretendendo uma saída razoável, capitão Fonseca decidiu
negociar com o governo. Para tanto, deixou o Forte de Copacabana e se dirigiu
para o Palácio do Catete, sede do governo federal na época. Chegando ao Catete,
Fonseca recebeu ordem de prisão.
Ao receberem a notícia, seus homens remanescentes saíram em
marcha pela Avenida Atlântica, via que banha a praia de Copacabana, no dia 6 de
julho.
No caminho, rasgaram uma bandeira do Brasil em 29 pedaços,
ficando cada um com alguns retalhos, tendo sido um deles guardado para ser
entregue ao capitão detido.
Ainda durante a marcha, Otávio Correia, engenheiro civil e
amigo de Siqueira Campos, juntou-se à marcha decidida, após pegar sua pistola.
No entanto suas pretensões se mostrariam exorbitantes.
Apenas Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram, ainda que feridos. Todos os
demais foram mortos.
Do episódio, restou a lição. Rarissimamente algum movimento
conseguiu criar reivindicações de massa, que contagiassem a população em nome
de uma causa comum. Seguimos nossa história, quase exclusivamente, de
quartelada em quartelada, de golpe em golpe, assistindo passivamente grupos de
poder disputando pedaços do orçamento público para si e para os seus.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “Dossiê Getúlio Vargas”
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