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quinta-feira, 20 de abril de 2017

MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA DE 1932 –A SECESSÃO PAULISTA


A data de 9 de julho de 1932 marca uma pequena guerra civil pela qual passou o Brasil. O lema mais famoso, inscrito no brasão da cidade, Non Ducor Duco – Não sou conduzido, conduzo -, indica a altivez marcante daquele povo, engasgado pela não posse de seu candidato, Júlio Prestes.

Para completar o quadro desfavorável que se desenhava pós-Revolução de 1930, Getúlio nomeou interventores federal para administrarem o estado, todos de fora do estado. Em 1932, quando os ânimos se acirravam, Getúlio nomeou o paulista Pedro Manuel de Toledo, mas isso não foi suficiente para conter a revolta.

Os paulistas exigiam uma nova Constituição e o fim do Governo Provisório. Do lado revoltoso, os maiores expoentes eram os empobrecidos cafeicultores, que sofriam com a crise de 1929 e seus efeitos sobre as exportações brasileiras, a nova e crescente classe média urbana e os novos poderosos industriais – em geral, descendentes de famílias tradicionalmente oligarcas e rurais, mas que surfavam na nova onda de industrialização do país.

Mas não se pense que algum dos lados nutria preocupação genuína com a democracia e planejava uma Constituição de viés claramente republicano. Tratava-se de uma “guerrilha intra-elites” e, no caso dos paulistas, preocupada com os excessos centralizados de Getúlio e de seus aliados, como Juarez Távora que, de tão poderoso no eixo Norte-Nordeste foi apelidado de “Vice Rei do Norte”.

Para de opor à ditadura varguista, os eternos inimigos PRR – Partido Republicano Paulista – e o Partido Democrático foram capazes de se aliarem momentaneamente: havia agora um inimigo comum a ser enfrentado.

Para que os tiros fossem disparados, falta apenas um estopim. E ele ocorreu em 23 de maio, quando 5 jovens foram assassinados no centro de São Paulo. Os acusados eram partidários da Legião Revolucionária, grupo pró-Vargas. As vítimas, cujos sobrenomes eram Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo deram origem à sigla exibida pelas forças paramilitares da capital paulista: MMDC. Havia ainda Orlando de Oliveira Alvarenga, por algum motivo raramente lembrado.

O interventor do estado, Pedro de Toledo, rompeu relações com o governo federal. Iniciava-se uma guerra civil, que se estendia pela capital, litoral e interior. Ainda que Getúlio tivesse convocado uma Assembléia Constituinte na última hora, o conflito era inevitável.

A Junta Revolucionária foi capaz de reunir 60 mil combatentes e 200 mil voluntários.

Embora o planejamento inicial previsse um enfrentamento de largas proporções, não foi o que ocorreu. Tropas mineiras e gaúchas não se juntaram aos revolucionários. A aguardada marcha do Vale do Paraíba ao Catete terminou por se desarticular em minúsculas frentes isoladas.

As tropas federais cercaram o estado, impedindo que adquirissem armas. Engenheiros da Escola Politécnica foram arregimentados, para que desenvolvessem novos armamentos usando apenas recursos locais, mas isso era insuficiente.

Em meio a esse tumultuado conflito, mais uma vítima marcante. O agricultor Paulo Virgílio, após ser apreendido pelas tropas federais, foi interrogado acerca da localização de trincheiras paulistas. Recusou-se a dar a informação e foi morto. Seu corpo se encontra no mesmo Mausoléu do Ibirapuera, ao lado dos jovens do MMDC.

Pouco a pouco o conflito arrefecia. Após a captura do Porto de Santos, os recursos disponíveis do governo local se reduziram abruptamente.

Em 2 de outubro de 1932, ocorreu a inevitável rendição. O saldo final era de mil mortos. Embora as estatísticas fossem pouco confiáveis, foi o maior conflito do século XX, no Brasil.

Agraciado com os louros da vitória, Getúlio optou por, mais uma vez, conciliar os ânimos mais exaltados. Nomeou novo interventor para o estado, porém dessa feita a escolha recaiu sobre o engenheiro civil Armando Salles de Oliveira, típico membro da elite paulista, casado com a filha de Júlio de Mesquita, fundador do jornal O Estado de SP.

Quanto ao estado, entrou em um processo de industrialização intensa, contando com a formação de excelentes quadros técnicos, em razão da criação da USP, em 1934.

Quanto à nova Constituição, promulgada em 1934, getulistas dizem que era a mesma pronta desde 1932. Por seu turno, os paulistas do pólo oposto dizem ter sofrido alterações importantes, em decorrência da Revolução... Vá saber.         


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Dossiê Getúlio Vargas”   

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