A data de 9 de julho de 1932 marca uma pequena guerra civil
pela qual passou o Brasil. O lema mais famoso, inscrito no brasão da cidade,
Non Ducor Duco – Não sou conduzido, conduzo -, indica a altivez marcante
daquele povo, engasgado pela não posse de seu candidato, Júlio Prestes.
Para completar o quadro desfavorável que se desenhava
pós-Revolução de 1930, Getúlio nomeou interventores federal para administrarem
o estado, todos de fora do estado. Em 1932, quando os ânimos se acirravam,
Getúlio nomeou o paulista Pedro Manuel de Toledo, mas isso não foi suficiente
para conter a revolta.
Os paulistas exigiam uma nova Constituição e o fim do
Governo Provisório. Do lado revoltoso, os maiores expoentes eram os empobrecidos
cafeicultores, que sofriam com a crise de 1929 e seus efeitos sobre as
exportações brasileiras, a nova e crescente classe média urbana e os novos
poderosos industriais – em geral, descendentes de famílias tradicionalmente
oligarcas e rurais, mas que surfavam na nova onda de industrialização do país.
Mas não se pense que algum dos lados nutria preocupação
genuína com a democracia e planejava uma Constituição de viés claramente
republicano. Tratava-se de uma “guerrilha intra-elites” e, no caso dos
paulistas, preocupada com os excessos centralizados de Getúlio e de seus
aliados, como Juarez Távora que, de tão poderoso no eixo Norte-Nordeste foi
apelidado de “Vice Rei do Norte”.
Para de opor à ditadura varguista, os eternos inimigos PRR –
Partido Republicano Paulista – e o Partido Democrático foram capazes de se aliarem
momentaneamente: havia agora um inimigo comum a ser enfrentado.
Para que os tiros fossem disparados, falta apenas um
estopim. E ele ocorreu em 23 de maio, quando 5 jovens foram assassinados no
centro de São Paulo. Os acusados eram partidários da Legião Revolucionária,
grupo pró-Vargas. As vítimas, cujos sobrenomes eram Martins, Miragaia, Dráusio
e Camargo deram origem à sigla exibida pelas forças paramilitares da capital
paulista: MMDC. Havia ainda Orlando de Oliveira Alvarenga, por algum motivo
raramente lembrado.
O interventor do estado, Pedro de Toledo, rompeu relações
com o governo federal. Iniciava-se uma guerra civil, que se estendia pela
capital, litoral e interior. Ainda que Getúlio tivesse convocado uma Assembléia
Constituinte na última hora, o conflito era inevitável.
A Junta Revolucionária foi capaz de reunir 60 mil
combatentes e 200 mil voluntários.
Embora o planejamento inicial previsse um enfrentamento de
largas proporções, não foi o que ocorreu. Tropas mineiras e gaúchas não se
juntaram aos revolucionários. A aguardada marcha do Vale do Paraíba ao Catete
terminou por se desarticular em minúsculas frentes isoladas.
As tropas federais cercaram o estado, impedindo que
adquirissem armas. Engenheiros da Escola Politécnica foram arregimentados, para
que desenvolvessem novos armamentos usando apenas recursos locais, mas isso era
insuficiente.
Em meio a esse tumultuado conflito, mais uma vítima
marcante. O agricultor Paulo Virgílio, após ser apreendido pelas tropas
federais, foi interrogado acerca da localização de trincheiras paulistas.
Recusou-se a dar a informação e foi morto. Seu corpo se encontra no mesmo Mausoléu
do Ibirapuera, ao lado dos jovens do MMDC.
Pouco a pouco o conflito arrefecia. Após a captura do Porto
de Santos, os recursos disponíveis do governo local se reduziram abruptamente.
Em 2 de outubro de 1932, ocorreu a inevitável rendição. O
saldo final era de mil mortos. Embora as estatísticas fossem pouco confiáveis,
foi o maior conflito do século XX, no Brasil.
Agraciado com os louros da vitória, Getúlio optou por, mais
uma vez, conciliar os ânimos mais exaltados. Nomeou novo interventor para o
estado, porém dessa feita a escolha recaiu sobre o engenheiro civil Armando
Salles de Oliveira, típico membro da elite paulista, casado com a filha de
Júlio de Mesquita, fundador do jornal O Estado de SP.
Quanto ao estado, entrou em um processo de industrialização
intensa, contando com a formação de excelentes quadros técnicos, em razão da
criação da USP, em 1934.
Quanto à nova Constituição, promulgada em 1934, getulistas
dizem que era a mesma pronta desde 1932. Por seu turno, os paulistas do pólo oposto
dizem ter sofrido alterações importantes, em decorrência da Revolução... Vá
saber.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: Livro “Dossiê Getúlio Vargas”
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