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quarta-feira, 19 de abril de 2017

REVOLUÇÃO DE 1930 – FOI GOLPE?


Em 2 de janeiro de 1930, em comício na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro, o candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas, leu seu programa de governo. Os principais pontos abordados, foram: Reforma Política e instituição do voto secreto; Fortalecimento das liberdades individuais e anistia aos tenentes punidos no âmbito da Revolta dos 18 do Forte; Proteção ao trabalho e aos trabalhadores, via legislação trabalhista; Investimentos pesados na industrialização do país, identificada como única via para o pregresso.   

No dia 1ª de março de 1930, ocorreu uma das eleições mais marcantes da história do Brasil. Dos 1.890.524 eleitores habilitados no país, que correspondiam a pouco democráticos 5,7% da população, 1.091.709 depositaram seus votos no candidato paulista Julio Prestes. Seu maior adversário, Getúlio Vargas, amargou meros 737.000.

O grupo político que apoiava Getúlio, Aliança Liberal, acusou fraudes no pleito. Certamente. Porém, em ambos os lados. No Rio Grande do Sul de Vargas sua vitória ocorreu por indecentes 298.627 votos a 982. Eram tempos de oligarquias, voto de cabresto e roubalheira descarada dentro de casa – que correspondiam a clássicos feudos medievais.

De qualquer maneira, em grande parte decorrente do ambiente político tóxico da época, iniciou-se uma batalha pela revisão dos votos. No entanto, qualquer tipo de disputa mais intensa, desde 1922, ano de fundação do Partido Comunista Brasileiro – PCB – passou a ser mais arriscada. Getúlio e muitos aliados decidiram aceitar o resultado inicial. Contudo, Osvaldo Aranha e muitos outros formaram um movimento conspiracionista.

Embora se opusesse a qualquer movimento de características bélicas, Getúlio terminou por concordar em apoiar armado, coordenado por Aranha, que impedisse a posse de Júlio Prestes, o candidato por São Paulo e apoiado pela Bahia, vitorioso no pleito em questão.

O comando militar foi entregue a nomes que vinham do tenentismo: Juarez Távora, João Alberto e Siqueira Campos. O Estado-Maior ficou sob o comando do tenente-coronel Pedro Aurélio Gois Monteiro. Como se tratava de um movimento armado, Oswaldo Aranha adquiriu 16 mil réis em armamentos da Tchecoslováquia. As províncias aliadas eram Rio Grande do Sul, Minas e Paraíba.

No Congresso, deputados governistas retaliaram deputados das Províncias rebeldes não homologando seus mandatos. Foram expulsos e substituídos por deputados que apoiavam o governo Washington Luís – que apoiava o candidato de São Paulo, Júlio Prestes.

Getúlio veio a público pela primeira vez, vociferando condenações às fraudes eleitorais e sabotagens parlamentares, em 1º de junho. Aos poucos, o movimento iniciado no Rio Grande do Sul convenceu até mesmo mineiros conservadores, como Olegário Maciel e Artur Bernardes, a se porem contra Julio Prestes.
O início do enfrentamento armado dependia agora da concordância de um homem apenas: o próprio Getúlio. No entanto, este parecia não ceder aos impulsos dos mais afoitos. Mas um episódio mudaria tudo.

Em 26 de julho de 1930, o candidato a vice de Getúlio Vargas, João Pessoa, foi assassinado em Recife. O crime não teve qualquer motivação política, mas o assassino era político era do grupo apoiado por Washington Luís. Era o estopim que faltava para a ansiosamente aguardada marcha ao Catete (bairro carioca que abrigava a sede do governo Federal), cuja data inicial foi acertada para o dia 3 de outubro.

Sob o lema “O Rio Grande de pé, pelo Brasil”, as tropas partiram do Sul e do Nordeste. Outros grupos localizados em Minas e em São Paulo também iniciaram atividades locais em favor dos rebeldes. A debandada de tropas do lado governista deixou o governo federal isolado e enfraquecido. Quase não se via resistência no caminho das tropas getulistas.

Segundo o planejamento oposicionista, somente se veria um enfrentamento armado de maiores proporções na fronteira dos estados do Paraná e São Paulo, quando entrassem neste último. Getúlio assumiu o comando das tropas, estabeleceu uma base de comando em Ponta Grossa, Paraná, e esperaram os primeiros tiros. A aguardada Batalha sangrenta e decisiva, conhecida como Batalha de Itararé, de fato, não ocorreu. Ordens emitidas a partir do Catete abortaram a ação das consideráveis tropas governistas estacionadas na região.
Diante das provas límpidas de fraqueza para governar e de incapacidade de comando, os generais Tasso Fragoso e Mena Barreto, além do almirante Isaías de Noronha, exigiram a renúncia de Washington Luís, que se recusava por confiar em sua capacidade de resistência, apoiada nas tropas do Rio de Janeiro e no apoio diplomático prestado pelos EUA.

Em 24 de outubro, o Palácio Guanabara, na época residência oficial da presidência, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro, foi cercado e os militares deram voz de prisão a Washington Luís.
Na sequência, instaurou-se um governo Provisório, composto por Fragoso, Mena Barreto e Noronha, cuja finalidade era preparar o terreno para a posse de Getúlio.

O deputado gaúcho, que dominaria a cena nacional pelas próximas décadas, partiu de Porto Alegre, em direção a São Paulo, a bordo do assim apelidado “Trem da Vitória”. Desembarcou nessa cidade sem hostilidades. Dali seguiu para o Rio, recebeu a faixa presidencial da Junta Militar, no Catete, e viu sua tropa de felizes gaúchos amarrarem seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco.


Rubem L. de F. Auto


Fonte: Livro “Dossiê Getúlio Vargas”

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