Rei Filipe II da Espanha, conhecido como Filipe, o Prudente,
governou o maior império do mundo durante a Era dos Descobrimentos. Ele controlou
a Espanha desde 1556 e Portugal, desde
1581, até sua morte, em 1598.
Enquanto consorte de Maria I, foi também rei da Inglaterra e
da Irlanda. O Império espanhol governava as 17 Províncias da Holanda, a maior
parte da América do Sul, toda a América Central e Texas, as Filipinas e partes
da costa africana. Seu reinado inaugurou os Anos Dourados da Espanha, um
período de florescimento artístico, musical e literário. Até o Brasil foi
colônia do Império filipino quando da União Ibérica.
Embora vendo derrotada sua Invencível Armada em 1588, Filipe
manteve unido um império global por meio de sua habilidade administrativa, numa
época em que viagens lentas tornava tal tarefa quase impraticável.
Ele controlou a Espanha e suas colônias por 55 anos,
iniciando em 1543 com sua nomeação à regência por seu pai, o Sacro Imperador
Romano Carlos V. Carlos controlou a Alemanha, partes da Itália, Espanha e
Bélgica, além da maior parte do novo mundo. Seu princípio de governo estava
assentado na “defesa do Império, na disseminação da Fé Sagrada em Jesus Cristo,
e na busca da segurança das pessoas e da paz.”
O Império global de Filipe não tinha cultura, moeda ou
língua comuns. Era um retalho de instituições políticas e de leis. Filipe equilibrava
os pratos rodopiando sobre sua cabeça por meio da mais avançada máquina
burocrática da história moderna. Seu reinado foi mais um capítulo da longa
marcha da Espanha em direção a uma Estado moderno, iniciado por seu bisavôs
Fernando e Isabel. Dentre suas medidas mais importantes, Isabel eliminou toda
uma categoria de conselheiros reais, nomeados em função de boas conexões com os
monarcas. Dessa forma, ela fortaleceu o corpo de administradores profissionais,
nobres e bispos, que desempenhavam tarefas judiciais e burocráticas.
Esse modelo despersonalizado de governança dominou a Europa pelos
séculos seguintes, e permitiu um certo nível de automatismo. Caso a família
real perdesse o controle do trono ou se a rainha não tivesse filhos, o Estado
não desmoronaria.
A despeito de ter vestido o manto de protetor da fé católica
ainda em tenra idade, Filipe tinha uma relação conflituosa com a hierarquia da
Igreja. Em 1556, ele chegou a declarar guerra contra os estados papais e
temporariamente ocupou seus territórios, provavelmente em retaliação ao Papa
anti-Espanha de então.
Quando os nobres ensaiaram movimentos rebeldes em direção a
Filipe, este respondeu criando o Conselho de Estado. Idealmente criado para
auxiliar no governo, de fato Filipe não os ouvia. Desejava apenas que tais
nobres cressem ter algum tipo de poder. O poder de governar e aconselhar estava
nas mãos de advogados com treinamento para tanto.
Parte relevante da administração dos potentados espanhóis
estava em mãos de Vice-Reis. Filipe delegava a eles instruções claras relacionadas
à administração, justiça e rendas patrimoniais da Coroa e do Tesouro. Alguns
locais contavam com Conselhos, igualmente responsáveis pela administração
local. Esse Conselho era o único encarregado de assuntos relacionados à guerra.
Foram exemplos: Conselho da Itália e Conselho da Índia.
Havia 10 “Audiencias”, ou corpos administrativos e
judiciais. Todo esse aparato era o que garantia respostas estatais rápidas,
numa época em que os deslocamentos eram lentos e precários – uma viagem entre
Madri e as Américas durava seis semanas, em média.
Deve-se notar que Filipe foi capaz de desenvolver um sistema
de entrega de correspondências por courier que permitia cobrir 185 quilômetros
por dia. Melhor do que qualquer de seus concorrentes.
Ainda assim o volume de trabalho era abissal. Filipe redigia
mais de 1.600 cartas por mês para se inteirar dos problemas nos seus domínios. Para
auxiliá-lo, Filipe convocava pessoas de sua confiança. Uma das mais memoráveis dói
o Cardeal Diego de Espinosa, que atuava como uma espécie de alter ego de
Filipe. Foi este Cardeal quem deu ordens brilhantes à marinha, que permitiu a
derrota dos Otomanos na Batalha de Lepanto, após longas 5 horas de intenso
conflito.
Filipe se destacava também por ser um soberano que punha os
pés em seus domínios e possessões. Conheceu diversas pessoalmente. Era o mais
bem informado dos soberanos da época.
Seus súditos eram bastante obedientes ao rei, parte em razão
de crerem que seu poder se assentava sobre dispositivos constitucionais, não
apenas no seu “sangue azul”. E estavam corretos. Por diversas vezes se recusava
a assinar ordens que pudessem infringir costumes locais.
Filipe conseguiu adquirir a confiança dos súditos. Viajava
geralmente desarmado – apesar de ter sofrido sete tentativas de assassinato.
Trabalhava em seu gabinete de portas abertas e fazia genuflexão quando passava
um cortejo religioso pelas ruas, como qualquer cidadão.
Filipe se orgulhava em dizer: “O medo é para os tiranos: eu
sempre me conduzi assim, por Deus, depositei minhas maiores forças e proteção
pessoal nos corações leais e na boa vontade de meus súditos.”
Seus maiores adversários foram Inglaterra, França e Império
Otomano – controlavam o Mediterrâneo, Península Balcânica, Ásia menor, Egito e costa
norte da África.
Filipe tentou tomar controle sobre a Inglaterra por meio do
matrimônio. Primeiro, tentou se casar com a Rainha Maria I, em 1554, mas ela
morreu dois anos depois. Após, passou-se a cortejar Elizabeth I, mas encontrou
um ser humano com uma força de vontade igual à sua, profundamente devota do
protestantismo, tanto quanto Filipe o era em relação ao catolicismo, além de
ser uma orgulhosa soberana, ainda que bastante jovem.
Em represália, Elizabeth encorajou as revoltas que grassaram
pelos Países Baixos, que causou grandes transtornos ao império de seu pretendente.
Então Filipe apoiou a causa de Maria, rainha da Escócia, mas
Elizabeth assinou a ordem para sua execução, pondo fim à possibilidade de
insurgência católica contra a Dinastia Tudor – fundadora da Igreja Anglicana.
Coma derrota da Armada espanhola em
1588, corsários ingleses poderiam pilhar colônias da Espanha e até a costa da
Espanha.
Filipe era tenaz, industrioso, sério, devoto dos estudos,
protetor das artes, gentil com os amigos, e pio. Em 1571, ele perdoou
prisioneiros na Espanha e das Índias para celebrar o nascimento de seus filhos.
Seu espírito piedoso só não alcançava a brutalidade que
reservava aos levantes protestantes. Particularmente na Holanda. Usou a
Inquisição espanhola largamente contra hereges de todas as estirpes. Executou
maios de 1.200 cidadãos dos Países Baixos ainda nos anos iniciais das revoltas
holandesas.
Para os protestantes, Filipe era o “demônio do sul” (daemon
meridanius), mas para seus súditos espanhóis, era Filipe, o rei prudente.
Embora fosse o governante mais rico da Europa, devido à
entrada de ouro vinda das Américas, guerras frequentes ameaçavam a Espanha com
uma falência, até o ponto em que Filipe teve de vender as jóias de sua esposa,
em 1588.
Após sua morte, deixou como herança um conglomerado
enfraquecido de estados, divididos por cultura, religião e economicamente
estáveis.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “The most productive people in History”
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